ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Depressão e Mania



A depressão e a mania representam os dois pólos principais dos distúrbios do humor. Os distúrbios do humor são doenças psiquiátricas nas quais os distúrbios emocionais consistem em períodos prolongados ou excessivos de depressão ou de euforia. Os distúrbios do humor também são denominados distúrbios afetivos. Afeto significa estado emocional expresso através de expressões faciais e gestos. A tristeza e a alegria são uma parte das experiências normais da vida cotidiana e são diferentes da depressão e da mania graves que caracterizam os distúrbios do humor. A tristeza é uma resposta natural a uma perda, uma derrota, um desapontamento, um traumatismo ou uma catástrofe. Ela pode ser psicologicamente benéfica, pois permite que o indivíduo afaste-se de situações ofensivas ou desagradáveis, o que pode ajudá-lo a se recuperar. O pesar ou a desolação é a reação normal mais comum frente a uma perda ou separação, como a morte de um ente querido, um divórcio ou uma desilusão amorosa.

A desolação e a perda geralmente não causam uma depressão persistente e incapacitante, exceto nos indivíduos que apresentam predisposição aos distúrbios do humor. O êxito e a realização normalmente produzem sentimentos de exaltação. No entanto, em determinados casos, a exaltação pode algumas vezes ser uma defesa contra a depressão ou uma negação da dor decorrente de uma perda. Algumas vezes, os indivíduos moribundos apresentam períodos curtos de exaltação e de atividade incansável e alguns indivíduos que sofreram uma perda ou uma privação recente podem ficar exultantes em vez de desconsoladas, o que seria a reação normal. Nos indivíduos com predisposição aos distúrbios do humor, essas reações podem ser o prelúdio da mania. Ainda que 25 a 30% dos indivíduos apresentem alguma forma de distúrbio excessivo do humor durante a vida, apenas cerca de 10% apresentarão um distúrbio suficientemente grave a ponto de exigir atenção médica. Desses, um terço apresenta uma depressão prolongada (crônica) e a maioria dos restantes apresenta episódios recorrentes de depressão. As depressões crônicas e recorrentes são denominadas unipolares. Aproximadamente 2% da população apresentam um distúrbio denominado doença maníaco-depressiva ou distúrbio bipolar, na qual os períodos de depressão alternam-se com períodos de mania (ou com períodos de mania menos grave denominados hipomania).

Depressão

A depressão é uma sentimento de tristeza intensa. Ela pode ocorrer após uma perda recente ou um outro evento triste, mas é desproporcional em relação à magnitude do evento e persiste além de um período de tempo justificável. Depois da ansiedade, a depressão é o distúrbio psiquiátrico mais comum. Estima-se que 10% dos indivíduos que consultam um médico acreditando apresentar um problema físico, na realidade, apresentam depressão. A depressão geralmente começa entre os 20 e os 50 anos de idade. Os nascidos nas últimas décadas do século XX parecem apresentar uma maior incidência de depressão que as gerações anteriores, em parte por causa das maiores taxas de uso abusivo de drogas. Um episódio de depressão normalmente dura de seis a nove meses, mas, em 15 a 20% dos casos, ele dura dois anos ou mais. Em geral, os episódios tendem a recorrer várias vezes ao longo da vida.

Causas

As causas da depressão não são totalmente conhecidas. Diversos fatores podem justificar a propensão a esse distúrbio como, por exemplo, a tendência familiar (hereditariedade), os efeitos colaterais de certos medicamentos, a personalidade introvertida e eventos emocionalmente desagradáveis, em especial aqueles que envolvem uma perda. A depressão também pode surgir ou piorar sem qualquer estresse existencial evidente ou significativo. As mulheres apresentam uma probabilidade duas vezes superior a dos homens de apresentar depressão, embora as razões para isso não estejam totalmente esclarecidas. Estudos psicológicos revelaram que as mulheres tendem a responder às adversidades fechando-se em si mesmas e autoculpando-se. Os homens, ao contrário, tendem a negar as adversidades e a mergulhar em suas atividades. Dos fatores biológicos, os hormônios são os mais implicados. As alterações dos níveis hormonais, as quais podem produzir alterações do humor logo antes da menstruação (tensão pré-menstrual) e após o parto (depressão do pós-parto), desempenham um papel importante no humor das mulheres. Podem ocorrer alterações hormonais similares em decorrência do uso de contraceptivos orais por mulheres com depressão.

A alteração da função tireoidiana, bastante comum em mulheres, também pode representar um outro fator contribuinte. A depressão que ocorre após um evento traumático (p.ex., morte de um ente querido) é denominada depressão reativa. Existem indivíduos que apresentam depressão temporária como uma reação a determinados feriados (feriados tristes) ou datas significativas (p.ex., aniversário de morte de um ente querido). A depressão se causa aparente é denominada depressão endógena. No entanto, essas distinções não são muito importantes, uma vez que os efeitos e o tratamento das depressões são similares. A depressão também pode ocorrer com ou ser causada por diversas doenças ou distúrbios. Os distúrbios físicos podem causar uma depressão diretamente (como aquela que ocorre quando uma disfunção da tireóide afeta os níveis hormonais e pode levar à depressão) ou indiretamente (como quando a artrite reumatóide causa dor e incapacitação, as quais podem levar à depressão).

Freqüentemente, a depressão resultante de um distúrbio físico apresenta tanto causas diretas quanto indiretas. Por exemplo, a AIDS pode causar depressão diretamente quando o vírus da imunodeficiência humana (HIV), o qual causa a AIDS, lesa o cérebro. A AIDS pode causar depressão indiretamente quando ela tem um impacto global negativo sobre a vida do indivíduo. Vários medicamentos de receita obrigatória, sobretudo os utilizados no tratamento da hipertensão arterial, podem causar depressão. Por razões desconhecidas, os corticosteróides freqüentemente causam depressão quando produzidos em grandes quantidades na evolução de uma doença (p.ex., síndrome de Cushing). No entanto, quando utilizados como medicação, os corticosteróides tendem a causar euforia. Vários distúrbios psiquiátricos podem predispor um indivíduo à depressão, incluindo determinados distúrbios da ansiedade, o alcoolismo e outras dependências de drogas, a esquizofrenia e a fase inicial da demência.

Sintomas

Geralmente, os sintomas desenvolvem-se de forma gradual ao longo de dias ou semanas. Um indivíduo que está entrando em depressão pode parecer lento e triste ou irritadiço e ansioso. Um indivíduo que tende a se isolar, que fala pouco, para de se alimentar e dorme pouco está apresentando um quadro denominado depressão vegetativa. Um indivíduo que, além disso, é muito agitado (torce as mãos e fala continuamente), apresenta um quadro denominado depressão agitada. Muitos indivíduos com depressão não conseguem sentir emoções (p.ex., pesar, alegria e prazer) normalmente. Nos casos extremos, o mundo parece para os indivíduos sem graça, sem vida e morto. O raciocínio, a fala e a atividade geral podem tornar-se mais lentos até todas as atividades voluntárias cessarem. Os indivíduos deprimidos podem apresentar preocupação com sentimentos profundos de culpa e com idéias de autodifamação e podem apresentar incapacidade de se concentrar satisfatoriamente. Freqüentemente, eles são indecisos e retraídos, têm um sentimento progressivo de desesperança e de desamparo e pensam na morte e no suicídio.

Distúrbios Físicos que Podem Causar Depressão


Efeitos colaterais das drogas
Anfetaminas (abstinência)
Drogas antipsicóticas
Beta-bloqueadores
Cimetidina
Contraceptivos (orais)
Cicloserina
Indometacina
Mercúrio
Metildopa
Reserpina
Tálio
Vinblastina
Vincristina

Infecções
AIDS
Gripe
Mononucleose
Sífilis (estágio avançado)
Tuberculose
Hepatite viral
Pneumonia viral


Distúrbios hormonais
Doença de Addison
Doença de Cushing
Níveis elevados do hormônio da paratireóide
Níveis baixos e altos de hormônios da tireóide
Níveis baixos de hormônios da hipófise
(hipopituitarismo)

Doenças do tecido conjuntivo
Artrite reumatóide
Lúpus eritematoso sistêmico

Distúrbios neurológicos
Tumores cerebrais
Lesão craniana
Esclerose múltipla
Doença de Parkinson
Apnéia do sono
Acidente vascular cerebral (derrame)
Epilepsia do lobo temporal

Distúrbios nutricionais
Pelagra (deficiência de vitamina B6)
Anemia perniciosa (deficiência de vitamina B12)

Cânceres
Cânceres abdominais (ovário, cólon)
Cânceres disseminados por todo o organismo

A maioria dos indivíduos depressivos apresentam dificuldade para conciliar o sono e despertam repetidas vezes, particularmente no início da manhã. É comum uma perda do prazer ou do desejo sexual. A perda de apetite e a perda de peso algumas vezes levam à emaciação e, nas mulheres, pode ocorrer interrupção dos períodos menstruais. Por outro lado, nas depressões mais leves, a ingestão excessiva de alimentos e o ganho de peso também são comuns. Em cerca de 20% dos indivíduos deprimidos, os sintomas são mais leves, mas a doença dura anos ou, muitas vezes, décadas. Essa variante distímica da depressão freqüentemente começa precocemente e é associada a alterações características da personalidade. Aqueles que sofrem desse distúrbio são indivíduos melancólicos, pessimistas, não possuem senso de humor ou são incapazes de se alegrar; são passivos e letárgicos, introvertidos, céticos, hipercríticos ou queixamse constantemente; e autocríticos e plenos de auto-reprovação. Eles demonstram preocupação em relação à inadequação, ao fracasso e a eventos negativos, algumas vezes a ponto de terem um prazer mórbido de seus próprios fracassos.

Alguns indivíduos deprimidos queixam-se de uma doença física, com dores em várias regiões, ou referem temor em relação a uma calamidade ou de enlouquecer. Outros acreditam apresentar uma doença incurável ou vergonhosa (p.ex., câncer ou doenças sexualmente transmissíveis ou a AIDS) e que estão infectando outras pessoas. Cerca de 15% dos indivíduos deprimidos, em especial os casos graves, apresentam delírios (falsas crenças) ou alucinações, vendo ou ouvindo coisas que não existem. Eles podem crer que cometeram pecados ou crimes imperdoáveis ou ouvem vozes que os acusam de diversos delitos ou que os condenam à morte. Em casos raros, eles podem imaginar que vêem ataúdes ou parentes mortos. Os sentimentos de insegurança e inutilidade podem levar os indivíduos gravemente deprimidos a acreditar que estão sendo vigiados e perseguidos. Essas depressões acompanhadas de delírios são denominadas depressões psicóticas. Os pensamentos de morte estão entre os sintomas mais graves da depressão. Muitos indivíduos deprimidos desejam morrer ou acreditam que são tão inúteis que merecem morrer. Até 15% dos casos de depressão grave estão associados a um comportamento suicida. Uma idéia de suicídio representa uma situação de emergência e o indivíduo que a apresenta deve ser hospitalizado e mantido sob supervisão até que o tratamento reduza o risco.

Diagnóstico

Geralmente, o médico é capaz de diagnosticar a depressão a partir dos sinais e sintomas. Uma história prévia de depressão ou uma história familiar de depressão ajuda a confirmar o diagnóstico. Às vezes, são utilizados questionários padrões para ajudar a mensurar o grau de depressão. Dois desses questionários são a Escala de Classificação da Depressão de Hamilton, o qual é realizado verbalmente por um entrevistador, e o Inventário de Depressão de Beck, o qual o paciente deve responder. Os exames laboratoriais, geralmente exames de sangue, ajudam o médico a determinar a causa de algumas depressões. Eles são particularmente úteis para as mulheres, nas quais os fatores hormonais podem contribuir para a depressão. Em casos difíceis de serem diagnosticados, o médico pode realizar outros exames para confirmar o diagnóstico de depressão. Por exemplo, como os problemas de sono representam um importantíssimo sinal de depressão, o médico especializado no diagnóstico e no tratamento dos distúrbios do humor pode utilizar um eletroencefalograma realizado durante o sono para mensurar o tempo que o indivíduo leva para atingir o sono com movimento rápido dos olhos (REM ou o período durante o qual ocorrem os sonhos) após adormecer. Normalmente, esse período é de 90 minutos. Em um indivíduo deprimido, essa fase do sono pode ser atingida em menos de 70 minutos.

Prognóstico e Tratamento

Uma depressão não tratada pode durar seis meses ou mais. Embora os sintomas leves persistam em muitos indivíduos, as funções tendem a retornar ao normal. Apesar disso, a maioria dos indivíduos com depressão apresenta episódios repetidos de depressão, em uma média de quatro a cinco vezes durante a vida. Atualmente, a depressão é geralmente tratada sem hospitalização. Entretanto, algumas vezes o indivíduo necessita de internação, especialmente se ele demonstra um alto risco de suicídio ou se ele encontra-se muito debilitado devido à perda de peso ou apresenta risco de problemas cardíacos devido à agitação intensa. No momento, os medicamentos são a base do tratamento da depressão. Outros tratamentos incluem a psicoterapia e a terapia eletroconvulsivante. Algumas vezes, uma combinação dessas duas terapias é utilizada.

Tratamento Medicamentoso

Existem disponíveis vários tipos de medicamentos – antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação da serotonina, inibidores da monoamino oxidase e psicoestimulantes, mas eles devem ser tomados de modo regular durante pelo menos algumas semanas antes de começarem a atuar. As possibilidades de um antidepressivo específico ser eficaz no tratamento de um indivíduo são de 65%. Os efeitos adversos variam de acordo com o tipo de medicamento. Os antidepressivos tricíclicos freqüentemente causam sedação e acarretam aumento de peso. Esses medicamentos também podem produzir aumento da freqüência cardíaca, queda da pressão arterial quando o indivíduo coloca-se em pé, visão borrada, boca seca, confusão mental, constipação, dificuldade para iniciar a micção e orgasmo retardado. Esses efeitos são denominados efeitos anticolinérgicos e, freqüentemente, são mais pronunciados nos idosos.

Os antidepressivos que são similares aos antidepressivos tricíclicos produzem outros efeitos adversos. A venlafaxina pode elevar ligeiramente a pressão arterial. A trazodona foi associada à ereção dolorosa (priapismo). A maprotilina e a bupropiona tomadas em doses rapidamente aumentadas podem provocar convulsões. Contudo, a bupropiona não causa sedação, não afeta a função sexual e, freqüentemente, ela é útil para os indivíduos com depressão e raciocínio lento. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) representam um importante avanço no tratamento da depressão, pois eles tendem a causar menos efeitos adversos que os antidepressivos tricíclicos. Além disso, eles geralmente são muito seguros para os indivíduos com depressão e um distúrbio físico concomitante. Embora eles possam causar náusea, diarréia e dor de cabeça, esses efeitos adversos são leves ou desaparecem com a continuação do uso.

Por essas razões, os médicos freqüentemente escolhem os ISRSs para tratar a depressão. Esses medicamentos são particularmente úteis no tratamento da distimia, a qual depende de uma terapia medicamentosa prolongada. Além do mais, os ISRSs são muito eficazes nos casos de distúrbio obsessivo-compulsivo, de sídrome do pânico, de fobia social e de bulimia (um distúrbio alimentar), os quais freqüentemente coexistem com a depressão. A principal desvantagem dos ISRSs é que eles comumente causam disfunção sexual. Os inibidores da monoamino oxidase (IMAOs) representam outra classe de medicamentos antidepressivos. Contudo, aqueles que utilizam IMAOs devem seguir uma série de restrições dietéticas e também devem tomar cuidados especiais. Por exemplo, eles não devem consumir alimentos e bebidas contendo tiramina, como o chope, os vinhos tintos (inclusive xerez), os licores, os alimentos demasiadamente maduros, o salame, os queijos curados, as vagens, os extratos de levedura e o molho de soja.

Eles devem evitar drogas, como a fenilpropanolamina e o dextrometorfano, encontradas em muitos remédios contra a tosse e o resfriado que são vendidos sem prescrição médica e que provocam a liberação de adrenalina e podem causar uma elevação súbita e acentuada da pressão arterial. Os indivíduos que utilizam IMAOs também devem evitar outros medicamentos, como os antidepressivos tricíclicos, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina e a meperidina (um analgésico). Os indivíduos que utilizam IMAOs geralmente são orientados a carregar constantemente um antídoto (p.ex., clorpromazina ou nifedipina). Se ocorrer uma cefaléia latejante e intensa, eles devem tomar imediatamente o antídoto e dirigir- se ao serviço de emergência mais próximo. Devido às restrições dietéticas difíceis e às precauções necessárias, os IMAOs raramente são prescritos, exceto para os indivíduos deprimidos que não apresentam melhora com o uso de outros antidepressivos.

Os psicoestimulantes (p.ex., metilfenidato) são geralmente reservados aos indivíduos deprimidos que se encontram ensimesmados, lentos e cansados ou que não apresentaram melhoria do quadro com as demais classes de antidepressivos. A possibilidade de uso abusivo desse tipo de droga é alta. Como os psicoestimulantes tendem a agir rapidamente (em 24 horas) e facilitam a deambulação, eles algumas vezes são prescritos para os indivíduos idosos com depressão que estão convalescendo de uma cirurgia ou de uma doença prolongada. Psicoterapia A psicoterapia utilizada juntamente com os antidepressivos pode melhorar muito os resultados da medicação. A psicoterapia individual ou em grupo pode auxiliar o indivíduo a reassumir gradualmente as antigas responsabilidades e a adaptar-se às pressões normais da vida, melhorando os resultados obtidos pelo tratamento medicamentoso. No caso da psicoterapia interpessoal, o indivíduo recebe uma orientação de apoio para ajustar-se às aos diferentes papéis da vida.

A terapia cognitiva pode ajudar a mudar a desesperança e os pensamentos negativos do indivíduo. Nos casos de depressão leve, a psicoterapia isoladamente pode ser tão eficaz quanto a terapia medicamentosa. Terapia Eletroconvulsivante A terapia eletroconvulsivante (TEC) é utilizada no tratamento da depressão grave, particularmente quando o indivíduo apresenta uma psicose, ameaça suicidar-se ou recusa a alimentação. Esse tipo de terapia costuma ser muito eficaz e é capaz de aliviar rapidamente a depressão, ao contrário da maioria dos antidepressivos, os quais podem levar semanas para começarem a atuar. A rapidez da ação da terapia eletroconvulsivante pode salvar vidas. Na terapia eletroconvulsivante, eletrodos são fixados na cabeça do paciente e é aplicada uma corrente elétrica para induzir uma convulsão no cérebro. Por razões desconhecidas, a convulsão alivia a depressão. Habitualmente, são realizadas cinco a sete sessões em dias alternados. Como a corrente elétrica pode causar contrações musculares e dor, o indivíduo é submetido a uma anestesia geral durante a sessão. A terapia eletroconvulsivante pode causar uma perda de memória temporária (raramente permanente).

Mania

A mania é caracterizada por uma atividade física excessiva e sentimentos de euforia extremos que são muito desproporcionais em relação a qualquer evento positivo. A hipomania é uma forma mais leve de mania. Embora um indivíduo possa apresentar depressão sem episódios de mania (distúrbio unipolar), a mania mais comumente ocorre como parte de uma doença maníaco-depressiva (distúrbio bipolar). Os poucos indivíduos que parecem apresentar apenas mania podem, na realidade, apresentar episódios depressivos leves ou de curta duração. A mania e a hipomania são menos comuns que a depressão e também são menos facilmente reconhecidas, pois enquanto a tristeza intensa e prolongada pode levar o indivíduo a consultar um médico, a euforia o faz com uma freqüência muito menor (pois os indivíduos com mania não têm consciência de que algo está errado em relação ao seu estado mental ou ao seu comportamento). O médico deve descartar a possibilidade de uma doença física subjacente em um indivíduo que apresenta mania pela primeira vez e que não tem uma história de um episódio depressivo prévio.

Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas típicos de mania surgem rapidamente, em poucos dias. Nos primeiros estágios (mais leves) da mania, o indivíduo sente-se melhor que o habitual e, freqüentemente, parece mais alegre, rejuvenescido e com mais energia. O indivíduo maníaco geralmente é eufórico, mas também pode ser irritadiço, desagradável ou francamente hostil. Normalmente, ele acredita que está muito bem. A não percepção de sua condição, juntamente com a enorme capacidade para as atividades, pode fazer com que ele se torne impaciente, inadequado, intrometido e irritável, com tendência à agressão, quando alguém se aproxima dele. A atividade mental acelera (uma condição chamada fuga de idéias). Ele distrai-se facilmente e muda constantemente de um tema ou objetivo para outro.

O indivíduo pode apresentar falsas convicções de riqueza pessoal, poder, inventividade e genialidade e pode assumir temporariamente uma identidade grandiosa, algumas vezes acreditando ser Deus. O indivíduo pode acreditar que está sendo ajudado ou perseguido por outras pessoas ou pode ter alucinações, ouvindo e vendo coisas que não existem. A sua necessidade de sono diminui. O indivíduo maníaco envolve-se em várias atividades de modo infatigável, excessivo e impulsivo (p.ex., empreendimentos comerciais arriscados, jogo ou comportamento sexual perigoso), sem reconhecer os perigos sociais inerentes a tais atividades.

Tipos de Antidepressivos


Antidepressivos tricíclicos e similares
Amitriptilina
Amoxapina
Bupropiona
Clomipramina
Desipramina
Doxepina
Imipramina
Maprotilina
Nefazodona
Nortriptilina
Protriptilina
Trazodona
Trimipramina
Venlafaxina

Inibidores seletivos da recaptação da serotonina
Fluoxetina
Fluvoxamina
Paroxetina
Sertralina

Inibidores da monoamina oxidase Isocarboxazida
Pargilina
Fenelzina
Tranilcipromina

Psicoestimulantes
Dextroanfetamina
Metilfenidato

Em casos extremos, a atividade mental e física torna-se tão frenética que qualquer relação clara entre o humor e o comportamento perde-se em um tipo de agitação sem sentido (mania delirante). Nesses casos, é necessária a instituição imediata de um tratamento, pois o indivíduo pode morrer de exaustão física. Em casos de mania menos hiperativa, a hospitalização pode ser necessária para proteger o doente e sua família de um comportamento financeiro ou sexual destrutivo. A mania é diagnosticada através de seus sintomas, os quais normalmente são evidentes para o observador. No entanto, como os indivíduos maníacos caracterizam-se pela negação de todo problema existente, os médicos geralmente têm que obter informações junto aos membros da família. Os questionários não são tão utilizados como nos casos de depressão.

Distúrbios Físicos que Podem Causar Mania


Efeitos colaterais das drogas
Anfetaminas
Antidepressivos (a maioria)
Bromocriptina
Cocaína
Corticosteróides
Levodopa
Metilfenidato

Infecções
AIDS
Encefalite
Gripe
Sífilis (estágio avançado)

Distúrbios hormonais
Níveis elevados de hormônio tireoidiano
Doença do tecido conjuntivo
Lúpus eritematoso sistêmico

Distúrbios neurológicos
Tumores cerebrais
Traumatismo crânio-encefálico
Coréia de Huntington
Esclerose múltipla
Derrame
Coréia de Sydenham
Epilepsia do lobo temporal

Tratamento

Os episódios de mania não tratados terminam de forma mais abrupta que os de depressão e, tipicamente, são mais curtos, durando de algumas semanas a vários meses. Como a mania é uma emergência médica e social, o médico deve lançar mão de todos os meios para tratar o paciente em um hospital. Uma droga denominada lítio pode reduzir os sintomas de mania. Como o lítio leva de quatro a dez dias para agir, é mais comum a administração de uma droga cuja ação é mais rápida (p.ex., aloperidol), ao mesmo tempo que o lítio para controlar a excitação do pensamento e da atividade. Entretanto, o aloperidol pode causar rigidez muscular e movimentos anormais e, por essa razão, ele deve ser administrado em pequenas doses, combinado com um benzodiazepínico (p.ex., lorazepam ou clonazepam), o qual aumenta os efeitos antimaníacos do aloperidol e também reduz os seus efeitos colaterais desagradáveis.

Doença Maníaco-Depressiva

A doença maníaco-depressiva, também chamada distúrbio bipolar, é um distúrbio no qual ocorre uma alternância de períodos de depressão com períodos de mania ou com graus menores de excitação. A doença maníaco-depressiva afeta em um certo grau pouco menos que 2% da população. Acredita- se que ela seja hereditária, embora o defeito genético exato ainda seja desconhecido. A doença maníaco-depressiva afeta igualmente os homens e as mulheres e costuma iniciar na adolescência ou na segunda ou terceira década de vida.

Sintomas e Diagnóstico

Geralmente, a doença maníaco-depressiva começa com depressão e inclui pelo menos um período de mania em algum momento durante a doença. Os episódios de depressão geralmente duram três a seis meses. Na forma mais grave da doença, denominada distúrbio bipolar I, a depressão alterna com a mania intensa. Na forma menos grave, denominada distúrbio bipolar II, episódios curtos de depressão alternam com a hipomania. Os sintomas do distúrbio bipolar II freqüentemente reaparecem em determinadas estações. Por exemplo, a depressão ocorre no outono e no inverno e a euforia leve ocorre na primavera ou no verão.

Em uma forma ainda mais leve, denominada distúrbio ciclotímico, os períodos de euforia e de depressão são menos graves, costumam durar apenas alguns dias e retornam com razoável freqüência em intervalos irregulares. Embora o distúrbio ciclotímico possa acabar evoluindo para a doença maníaco-depressiva, em muitos indivíduos ele nunca leva a uma depressão ou uma mania grave. Um distúrbio ciclotímico pode contribuir para o êxito de um indivíduos nos negócios, na liderança, no alcance de objetivos e na criatividade artística. Entretanto, ele também pode acarretar resultados irregulares no trabalho e na escola, mudanças freqüentes de residência, repetidos desenganos amorosos e separações matrimoniais e uso abusivo de bebidas alcóolicas e drogas.

Sintomas de Mania


Humor

• Elação, irritabilidade ou hostilidade
• Choro momentâneo

Outros sintomas psicológicos
• Auto-estima excessiva; a pessoa vangloriase;
comportamento grandioso
• Pensamentos muito rápidos, novos
pensamentos disparados pelos sons das
palavras, não pelo seu significado, tendência a
distrair-se com facilidade
• Interesse aumentado em novas atividades,
maior envolvimento com pessoas (que
freqüentemente são alienadas, em virtude do
comportamento intruso e intrometido da
pessoa), compras compulsivas, imprudências
sexuais, investimentos irrefletidos nos negócios

Sintomas psicóticos
• Ilusões de talento excepcional
• Ilusões de preparo físico excepcional
• Ilusões de riqueza, ascendência aristocrática,
ou outra identidade grandiosa
• Tem visões ou ouve vozes (alucinações)
• Paranóia

Sintomas físicos
• Aumento do nível de atividade
• Possível perda de peso pelo aumento da
atividade e falta de cuidado com a dieta
• Diminui a necessidade de sono
• Aumento do desejo sexual


Em aproximadamente um terço dos indivíduos com doença maníaco- depressiva, esses sintomas podem levar a um distúrbio do humor que exige tratamento. O diagnóstico da doença maníaco-depressiva é baseado na sintomatologia característica. O médico determina se o paciente está apresentando um episódio maníaco ou depressivo com o objetivo de instituir o tratamento correto. Aproximadamente um em cada três indivíduos com distúrbio bipolar apresenta simultaneamente sintomas de mania (ou de hipomania) e de depressão. Essa condição é conhecida como estado bipolar misto.

Prognóstico e Tratamento

A doença maníaco-depressiva recorre em praticamente todos os casos. Algumas vezes, os episódios podem passar da depressão para a mania ou vice-versa, sem qualquer período de humor normal entre as mudanças. Alguns indivíduos mudam mais rapidamente que outros entre episódios de depressão e de mania. Até 15% dos indivíduos maníaco-depressivos, sobretudo as mulheres, apresentam quatro ou mais episódios por ano. Os que apresentam ciclos mais rápidos são mais difíceis de tratar. Os episódios de mania ou de hipomania da doença maníaco-depressiva podem ser tratados como a mania aguda. Os episódios de depressão são tratados da mesma forma que a depressão. No entanto, a maioria dos antidepressivos pode causar mudanças da depressão para a hipomania ou para a mania e, em alguns casos, provocam mudanças rápidas de ciclo entre as duas situações.

Portanto, esses medicamentos são utilizados apenas durante períodos curtos e o seu efeito sobre o humor deve ser cuidadosamente monitorizado. Ao primeiro sinal de mudança para a hipomania ou mania, o antidepressivo é interrompido. Os antidepressivos com menor probabilidade de causar alteração do humor são a bupropiona e os inibidores da monoamino oxidase. O ideal é tratar a maioria dos casos com medicamentos estabilizadores do humor, como o lítio ou um medicamento anticonvulsivante. O lítio não tem efeito sobre o humor normal, mas ele reduz a tendência para alterações do humor em cerca de 70% dos casos da doença maníaco- depressiva. O médico controla o nível de lítio no sangue através de exames laboratoriais adequados.

Os efeitos adversos possíveis do lítio incluem o tremor, os espasmos musculares, a náusea, o vômito, a diarréia, a sede, a micção excessiva e o ganho de peso. O lítio pode piorar a acne ou a psoríase, pode causar uma queda nos níveis sangüíneos do hormônio tireoidiano e, raramente, pode causar micção excessiva. Um nível muito elevado de lítio no sangue pode produzir cefaléia persistente, confusão mental, sonolência, convulsões e arritmias cardíacas. A ocorrência desses efeitos colaterais é mais provável nos indivíduos idosos. As mulheres que estão tentando engravidar devem interromper o uso do lítio, pois ele pode (raramente) causar defeitos cardíacos no feto em desenvolvimento. Nos últimos anos, foram desenvolvidos novos tratamentos medicamentosos. Eles incluem a utilização dos anticonvulsivantes carbamazepina e divalproex.

Entretanto, a carbamazepina tende a reduzir seriamente o número de eritrócitos (glóbulos vermelhos) e de leucócitos (glóbulos brancos) e o divalproex pode causar lesão hepática (principalmente em crianças). Com um controle médico rigoroso, esses problemas são raros e a carbamazepina e divalproex são alternativas úteis para o lítio, sobretudo para os pacientes que apresentam formas mistas ou com ciclos rápidos que não responderam a outros tratamentos. A psicoterapia é freqüentemente recomendada para aqueles que tomam medicamentos estabilizadores do humor, principalmente para ajudálos a continuar com o tratamento.

Alguns indivíduos que utilizam o lítio sentem-se menos alertas, menos criativos e com menor controle sobre as coisas que nas condições habituais. Entretanto, a diminuição real da criatividade é pouco freqüente, principalmente porque o lítio permite que os indivíduos com doença maníaco- depressiva levem uma vida mais regular, me- lhorando seu desempenho global no trabalho. A terapia em grupo freqüentemente é útil para ajudar os doentes e seus cônjuges ou familiares a compreender a doença e enfrentá-la de modo mais adequado.

Algumas vezes, a fototerapia é utilizada no tratamento da doença maníaco-depressiva, especialmente aqueles que apresentam uma depressão mais leve e sazonal: depressão do outono e do inverno e a hipomania da primavera e do verão. Para a fototerapia, o indivíduo é colocado em um quarto fechado iluminado por luz artificial. A luz é controlada para simular a estação do ano que o terapeuta está tentando criar: dias mais longos para o verão e dias mais curtos para o inverno. Se a dose de luz for excessiva, o indivíduo pode sofrer uma mudança para a hipomania ou, em alguns casos, ele pode sofrer uma lesão oftálmica. Portanto, a fototerapia deve ser supervisionada por um médico especializado no tratamento dos distúrbios do humor.