ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DOS IDOSOS DE UMA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA DO MUNICÍPIO DE GUARULHOS - SP







MORTE E PROCESSO DE MORTE


Um século atrás, quase todas as pessoas que sofriam lesões traumáticas ou contraíam infecções graves morriam logo em seguida. Aquelas que apresentavam uma cardiopatia ou câncer apresentavam uma pequena expectativa de uma vida longa após a doença ter sido diagnosticada. A morte era uma experiência familiar e quase todas as pessoas esperavam pouco mais do que um tratamento de apoio por parte de seus médicos. Hoje, em muitas partes do mundo, é comum a morte ser considerada um evento que pode ser retardado indefinidamente e não uma parte intrínseca da vida.

As principais causas de morte entre as pessoas com mais de 65 anos são as doenças cardíacas, o câncer, o acidente vascular cerebral, a doença pulmonar obstrutiva crônica, as pneumonias e a demência. Os procedimentos médicos geralmente prolongam a vida dos portadores dessas doenças, possibilitandolhes muitos anos mais, nos quais a qualidade de vida e as funções vitais são bem satisfatórias. Outras vezes, os procedimentos prolongam a vida, mas com declínio das funções e da qualidade de vida.

Muitas vezes, a morte parece ines- perada, mesmo quando a família tem consciência que a pessoa falecida apresentava uma doença grave. Dizer que uma pessoa está morrendo significa que existe uma expectativa de que ela venha a falecer em horas ou dias. Além disso, freqüentemente diz-se que pessoas muito idosas e frágeis ou portadoras de uma doença fatal, como a AIDS, estão morrendo. A maioria das pessoas com doenças crônicas – como as cardiopatias, certos tipos de câncer, o enfisema, a insuficiência hepática ou renal, a doença de Alzheimer e outras demências – vive durante anos, embora apresentem limitações no que diz respeito à atividade física.

Previsão da Morte

Algumas vezes, é necessário se prever a morte de um indivíduo que apresenta uma doença crônica. Geralmente, os seguros de saúde não cobrem o tratamento de apoio de doenças crônicas, excetuando-se os tratamentos hospitalares, e, geralmente, exigem um prognóstico para um período inferior a seis meses – um período de tempo arbitrário, cuja previsão acurada pode ser difícil.

Os médicos podem fazer um prognóstico de curto prazo razoavelmente preciso para um paciente com determinadas patologias baseando- se em análises estatísticas de grandes grupos de pacientes com condições similares. Por exemplo, eles podem estimar com exatidão que 5 em cada 100 pacientes com condições críticas similares irão sobreviver e terão alta hospitalar. No entanto, a previsão de quanto tempo determinada pessoa sobreviverá é muito mais difícil. A melhor previsão que o médico pode fazer baseia-se em probabilidades e no grau de confiabilidade dessas probabilidades.

Se a probabilidade de sobrevivência for de 10%, as pessoas envolvidas devem reconhecer a probabilidade de 90% de morte do paciente, elaborando os planos de acordo com essa realidade. Na ausência de informações estatísticas disponíveis, o médico pode ser incapaz de estabelecer um prognóstico ou pode defini-lo baseando- se em sua experiência pessoal, o qual pode ser menos acurado. Alguns médicos preferem dar esperança, descrevendo recuperações notáveis, sem mencionar a grande probabilidade da maioria das pessoas portadoras de tal doença acabar morrendo.

Entretanto, deve ser fornecido às pessoas gravemente enfermas e às suas famílias as informações mais completas disponíveis e o prognóstico mais realista possível. Freqüentemente, as escolhas possíveis ficam entre morrer mais cedo, mas com conforto, e morrer um pouco mais tarde através da instituição de uma terapia agressiva, a qual pode prolongar o processo agônico, aumentar o desconforto e a dependência e diminuir a qualidade de vida do paciente.

Contudo, muitos pacientes e seus famíliares podem sentir que eles devem tentar essas terapias caso exista alguma probabilidade de sobrevivência, mesmo quando a esperança de cura não é realista. Questões filosóficas, valores e crenças religiosas interferem quando tais decisões são tomadas pelo paciente ou por amigos e parentes do paciente que está morrendo.

Cronologia da Morte

Com o envelhecimento, ocorre uma alteração de vários aspectos perceptíveis do organismo O primeiro sinal de envelhecimento talvez seja quando o olho não consegue focalizar com facilidade objetos próximos (presbiopia). Freqüentemente, em torno dos 40 anos de idade, muitas pessoas acham difícil ler sem usar óculos. A audição também altera com a idade. As pessoas tendem a perder parte da capacidade de ouvir as tonalidades mais agudas (presbiacusia).

Por isso, algumas pessoas idosas acham que a música de um violino já não soa de modo tão emocionante quanto na juventude. Do mesmo modo, como a maioria das consoantes fechadas são emitidas com tonalidades agudas (sons como k, t, s, p e ch), as pessoas mais idosas podem pensar que seus interlocutores estão murmurando. Na maioria das pessoas, a proporção de gordura corpórea aumenta em mais de 30% com o envelhecimento.

A distribuição da gordura também muda: há uma menor quantidade de gordura sob a pele e uma maior quantidade na área abdominal. Conseqüentemente, a pele torna-se mais delgada, enrugada e frágil e a forma do tronco muda. Não é surpreendente que a maioria das funções internas também altere ao longo do tempo. Em geral, essas funções atingem seu ápice um pouco antes dos 30 anos e, em seguida, sofrem um declínio gradual, porém contínuo. Entretanto, mesmo frente a esse declínio, a maioria das funções permanece adequada durante toda a vida, pois quase todos os órgãos possuem uma capacidade funcional consideravelmente superior às necessidades do organismo (reserva funcional).

Por exemplo, mesmo que metade do fígado seja destruída, permanecerá uma quantidade de tecido hepático mais que suficiente para manter o funcionamento normal. Geralmente as doenças são responsáveis pela perda da função nas pessoas idosas, mais do que o envelhecimento normal. Mesmo assim, o declínio na função significa que as pessoas com mais idade estão mais sujeitas a efeitos adversos com o uso de medicamentos, mudanças de ambiente, toxinas e doenças.

Embora o declínio da função de muitos órgãos tenha pouco efeito sobre o modo de vida dos indivíduos, o declínio de certos órgãos pode afetar significativamente a saúde e o bem-estar. Por essa razão, apesar da quantidade de sangue que o coração bombeia em repouso não sofrer grande redução na pessoa idosa, o coração não consegue bombear o suficiente quando forçado ao máximo. Isto significa que atletas idosos não são capazes de apresentar desempenhos tão bons como os atletas mais jovens.

As alterações da função renal podem afetar drasticamente o modo com que as pessoas idosas são capazes de eliminar certas drogas do organismo. É difícil se determinar com exatidão quais alterações estão exclusivamente relacionadas ao envelhecimento e quais são decorrentes do estilo de vida do indivíduo. Um estilo de vida sedentário, uma alimentação inadequada, o fumo e o abuso do álcool e de drogas podem causar danos a muitos órgãos ao longo do tempo, freqüentemente de forma mais intensa que o processo de envelhecimento. Os indivíduos que se expuseram a toxinas podem apresentar uma redução mais importante ou mais rápida da função de alguns órgãos, especialmente os rins, os pulmões e o fígado.

O processo de morte pode caracterizar-se pela deterioração durante um longo período de tempo, a qual é caracterizada por episódios de complicações e efeitos colaterais, como ocorre em algumas pessoas com câncer. Habitualmente, um mês antes da morte, a energia, as funções e o conforto diminuem substancialmente. Percebe-se nitidamente que a pessoa está entrando em falência e o fato de a morte estar próxima torna-se evidente para todos. O processo de morte pode seguir um outro curso.

Às vezes, uma pessoa que está sendo submetida a um tratamento hospitalar intensivo decorrente de doença grave, piora subitamente e, somente algumas horas ou dias antes de seu falecimento, é percebida a iminência da morte. Contudo, é cada vez mais comum que a morte ocorra com um lento declínio das faculdades do paciente durante um longo período, às vezes com episódios de sintomas graves.

As doenças neurológicas, como a doença de Alzheimer, seguem esse padrão, assim como o enfisema, as insuficiências hepática e renal e outras patologias crônicas. A cardiopatia grave incapacita os indivíduos no decorrer do tempo e produz sintomas graves de modo intermitente e, nesses casos, a morte geralmente é súbita, sendo provocada por um distúrbio do ritmo cardíaco (arritmia). O conhecimento da possível evolução de uma doença permite que o paciente e sua família façam planos.

Quando existe a possibilidade de morte em decorrência de uma arritmia, o paciente e sua família devem estar preparados para a sua ocorrência a qualquer momento. No caso de indivíduos com câncer, a piora do quadro que precede a morte serve como advertência de que o paciente encontra-se em seus últimos dias de vida.

Tomada de Decisões

Para a melhor qualidade de vida possível durante uma doença fatal, é fundamental a comunicação aberta e honesta entre o paciente e seu médico sobre as preferências relativas ao tratamento no final da vida.

O médico deve apresentar ao paciente um quadro realista no que diz respeito às possibilidades de recuperação e de incapacitação durante e após várias opções de tratamento e o paciente informará ao médico e a sua família o que ele deseja ou não enfrentar.

O paciente deve definir suas preferências de tratamento e também seus desejos em relação ao local onde ele quer morrer e o que ele espera que seja feito quando a morte chegar. Ao escolher um médico, o paciente deve questionar sobre os cuidados que receberá ao final da vida:

O médico tem experiência suficiente para tratar de pacientes terminais? O médico irá prover atendimento ao paciente em todos os locais – hospital, clínica para pacientes terminais ou domicílio?

O médico tratará de todos os sintomas (tratamento paliativo) no final da vida? O médico está familiarizado com os serviços de tratamento domiciliar, fisioterapia e terapia ocupacional da comunidade? – quem está qualificado para esses serviços, como esses serviços são pagos e como ajudar o paciente e sua família na obtenção de serviços intensivos quando houver necessidade?

Um sistema de assistência médica inclui um sistema de financiamento, como as apólices de seguro e o managed care, e um sistema de prestação de serviços como, por exemplo, um hospital, uma clínica para pacientes terminais e serviços de home care. Formular questões aos médicos, enfermeiros, outros pacientes e famílias, assistentes sociais e demais profissionais envolvidos ajuda o indivíduo a encontrar um bom sistema de assistência médica.

• Quais tratamentos são cobertos pelo sistema?
• Quais são as informações disponíveis sobre os méritos dos tratamentos possíveis? Como o paciente pode entrar em contato com outros pacientes (e famílias) que foram tratados na instituição?

• Quais são os tratamentos experimentais disponíveis? Quais foram as reações de outros pacientes a esses tratamentos? Como esses tratamentos são pagos? Tendo formulado essas questões, o paciente e sua família devem avaliar:
• Eles sentiram que as respostas às suas questões foram honestas?
• Nesse sistema, eles receberão apoio médico, emocional e financeiro?
• Esse sistema atenderá as suas preferências e os planos específicos?


Procuração Permanente para Assuntos de Saúde

O paciente deve nomear uma pessoa de confiança como procurador ou representante por meio de um documento legal denominado Procuração Permanente para Assuntos de Saúde. O procurador fica autorizado a tomar decisões concernentes à saúde do paciente no caso dele tornar-se incapaz de fazê-lo. Se o paciente não nomear um procurador, o parente mais próximo habitualmente tomará essas decisões.

No entanto, em algumas jurisdições e para algumas decisões, o parente mais próximo deve ser autorizado juridicamente. A existência de um procurador nomeado evita os gastos e a demora judiciais, sendo especialmente importante quando o parente mais próximo não é a melhor escolha como procurador ou quando a relação com o procurador não é legalmente reconhecida.

Orientações Antecipadas e Testamento em Vida

O paciente pode estabelecer orientações em relação aos tipos de tratamentos que deseja antes de necessitá-los. Essas orientações médicas antecipadas são importantes para o caso do paciente tornar-se incapaz de tomar decisões. As orientações podem ser declarações gerais de objetivos e filosóficas, as quais devem tornar- se mais específicas à medida que a doença avança. As orientações antecipadas podem ser documentadas como testamentos em vida. No entanto, é suficiente uma carta escrita pelo paciente ou a documentação das orientações do paciente no prontuário médico.

Ao tomar decisões sobre orientações antecipadas, o paciente deve entender completamente suas circunstâncias e escolhas. É essencial ter uma conversa com o médico para que tais orientações sejam específicas e úteis. Além disso, as orientações devem ser passadas aos profissionais envolvidos em todas as fases do tratamento.

Decisões ponderadas para uma instituição de pacientes terminais são irrelevantes se médicos e enfermeiros locais nada souberem acerca delas. A pessoa que deseja morrer na própria casa e não quer ser submetida a procedimentos de ressuscitação deve pedir ao médico para emitir uma ordem aos outros profissionais envolvidos para não executarem a sua transferência para o hospital e para não tentarem a sua ressuscitação.

Planejamento Terapêutico

O paciente e sua família podem se sentir impotentes frente à doença e aos tratamentos, como se não pudessem fazer nada em relação ao que está ocorrendo. Às vezes, é preferível essa sensação de não controle do que a responsabilidade de pensar sobre o que mais poderia ser feito. Os pacientes e os familiares diferem em seu interesse por informações e em sua participação nas tomadas de decisão.

O importante é que eles se sintam satisfeitos por ter feito o possível para manter o bem-estar e a dignidade do paciente até a sua morte. O paciente, a família e os profissionais da saúde devem ser realistas no que diz respeito à possibilidade da morte, devendo discutir as prováveis complicações e elaborar um plano de como enfrentá-las.

No entanto, analisar essas possibilidades de modo objetivo pode ser difícil quando ocorrem eventos inesperados. Além disso, as respostas emocionais influeciam as decisões. Algumas resoluções como, por exemplo, a autorização de ressuscitação – o único tratamento realizado automaticamente no hospital – são menos menos significativas do que parecem. Uma ordem contra a tentativa de ressuscitação faz sentido para a maioria dos pacientes que certamente morrerão e a família não sente tanto o fardo dessa decisão.

É improvável que o paciente venha a se beneficiar com a tentativa de ressuscitação. A ressuscitação pode ser proibida nas orientações antecipadas do paciente. A alimentação e a água administradas através de tubos (nutrição e hidratação artificiais) freqüentemente são inúteis para um paciente terminal e também podem ser proibidas nas orientações antecipadas. No entanto, outras decisões afetam o paciente e a família de forma mais significativa e, por essa razão, merecem uma maior atenção. Por exemplo, pode ser desejo da família manter o paciente em casa – um ambiente familiar e confortante – e não em um hospital.

Os membros da família devem insistir para que os médicos e demais profissionais da saúde ajudem na elaboração de planos específicos relativos a essas preferências e as respeitem. A hospitalização pode ser recusada de forma explícita.

Às vezes, o paciente terminal é persuadido a tentar um último tratamento, o qual, em geral, sacrifica seus últimos dias em decorrência de efeitos colaterais, sem oferecer ganhos efetivos na qualidade de vida. O paciente e a família devem ser céticos em relação a esses tratamentos. À medida que a morte se aproxima, o centro dos cuidados deve ser direcionado totalmente ao conforto do paciente, assegurando o não sofrimento.

Serviços que Devemos Conhecer


Home care é o tratamento supervisionado por um médico e ministrado na casa do paciente por profissionais da saúde, os quais podem ajudar administrando medicamentos, avaliando o estado do indivíduo e prestando serviços pessoais, como dar banho.

Cuidados para o paciente terminal são os cuidados ministrados no fim da vida do paciente, enfatizando o alívio dos sintomas, e que proporcionam apoio psicológico e social para o doente terminal e sua família. O local pode ser a casa do paciente, uma instituição para doentes terminais ou um hospital. Em geral, para ter acesso a esses cuidados, o paciente deve ter um prognóstico de menos de seis meses de vida.

Cuidados domiciliares de enfermagem é o tratamento realizado por uma instituição autorizada, com enfermeiras e pessoal de apoio.

Cuidados temporários que consistem em cuidados prestados em casa ou numa instituição de pacientes crônicos ou de pacientes terminais, permitindo que os membros da família do paciente ou profissionais da saúde viajem, repousem ou dêem atenção a outros assuntos. Esses cuidados podem se prolongar por dias ou semanas, dependendo das normas do sistema de tratamento e do plano de saúde. Organizações voluntárias fornecem uma série de serviços de suporte financeiro e de auxílio a pessoas enfermas e às suas famílias. Comumente, essas organizações ocupam-se de indivíduos portadores de uma determinada doença.

Suicídio

Muitos pacientes terminais e suas famílias chegam a considerar a possibilidade do suicídio, sobretudo atualmente, em razão do aumento do debate público sobre essa questão. As pessoas que defendem o suicídio são em grande parte motivadas pela solidão, pela sensação de inutilidade ou por sintomas incontroláveis. Uma discussão sobre o assunto com o médico poderá ser útil; o profissional pode aumentar os esforços para controlar a dor, assegurar ao paciente e à família o afeto necessário e ajudá-los na busca de um significado. Apesar disso, alguns pacientes e suas famílias optam pelo suicídio, seja em busca de alívio para uma situação intolerável, seja como um exercício de autonomia determinando precisamente quando e como eles desejam morrer. Em geral, os pacientes recusam tratamentos que podem prolongar a vida, como a alimentação parenteral e a respiração artificial. Esse tipo de decisão não é considerada suicídio.

Aceitação da Morte

É comum os indivíduos apresentarem uma reação de negação ao serem informados que eles provavelmente morrerão em decorrência de sua doença. Eles podem tornar-se confusos, perturbados, irritados ou tristes e podem se isolar. Quando essas reações amenizam, os indivíduos iniciam o processo de aceitação da morte – o que, com freqüência, significa terminar o trabalho de toda uma vida, colocar em ordem os assuntos com os familiares e os amigos e aceitar o inevitável. Os aspectos espirituais e religiosos são importantes para alguns pacientes e suas famílias.

Em algumas instituições para pacientes terminais e hospitais, membros do clero participam da equipe terapêutica e os profissionais da saúde podem auxiliar as pessoas envolvidas a encontrar o apoio espiritual apropriado, caso não tenham contato com um padre ou outro líder espiritual. A preparação para a morte é uma tarefa difícil, repleta de altos e baixos emocionais. Contudo, para a maioria das pessoas esse é um momento de uma nova compreensão e de crescimento. Através da solução de mágoas do passado e de relações abaladas, um indivíduo em fase terminal e sua família podem sentir uma profunda sensação de paz.

Sintomas Durante uma Doença Fatal

Muitas doenças fatais produzem sintomas semelhantes como, por exemplo, dor, dificuldade respiratória, problemas gastrointestinais, úlceras de decúbito e fadiga. Também é comum a ocorrência de depressão, ansiedade, confusão mental, delírio, inconsciência e invalidez.

Dor

A maioria das pessoas teme a dor ao se defrontarem com a morte. No entanto, ela pode ser controlada, permitindo que o indivíduo permaneça consciente, sinta-se integrado no mundo e confortável. A radiação pode controlar certos tipos de dor produzidos pelo câncer. A fisioterapia ou analgésicos, como o acetaminofen e a aspirina, são utilizados para controlar a dor leve. Para algumas pessoas, a hipnose ou o biofeedback – métodos que não produzem efeitos adversos importantes – aliviam a dor de modo eficaz.

No entanto, a necessidade do uso de narcóticos, como a codeína e a morfina, é freqüente. Os narcóticos administrados por via oral podem aliviar eficazmente a dor por muitas horas e os narcóticos mais fortes podem ser administrados sob a forma injetável. A dependência medicamentosa não deve ser levada em consideração e medicamentos adequados devem ser administrados desde o início e não se deve aguardar que a dor se torne insuportável. Não há uma dose padrão: alguns necessitam de pequenas doses enquanto outros precisam de doses muito maiores.

Dificuldade Respiratória

A dificuldade respiratória é uma das piores formas de se viver ou de morrer e também pode ser evitada. Vários métodos podem facilitar a respiração como, por exemplo, a diminuição da produção de secreção, a mudança da posição do paciente, a administração de oxigênio suplementar ou a diminuição do volume de um tumor que esteja obstruindo as vias respiratórias decorrente da radiação ou de corticosteróides.

Os narcóticos ajudam os pacientes com dificuldade respiratória leve e persistente a respirar com maior facilidade, mesmo que eles não estejam sentindo dor. O uso de narcóticos na hora de dormir permite um sono confortável, evitando que o paciente desperte freqüentemente em conseqüência do esforço respiratório.

Quando esses tratamentos são ineficazes, é consenso quase geral entre os médicos que trabalham em instituições para pacientes terminais a administração de um narcótico em dose suficientemente alta para aliviar a falta de ar, mesmo que isso provoque a inconsciência do paciente. O paciente que deseja evitar a dificuldade respiratória ao final da vida deve certificar- se de que o médico tomará todas as providências necessárias, mesmo que o tratamento provoque inconsciência ou acelere de alguma forma a morte.

Problemas Gastrointestinais

Esses problemas, incluindo a boca seca, a náusea, a constipação, a obstrução intestinal e a perda de apetite, são comuns em doentes graves. Alguns dos problemas são causados pela própria doença. Outros, como a constipação, são efeitos colaterais de medicamentos. A boca seca pode ser aliviada por algodão ou gazes umedecidos que são aplicados sobre os lábios ou por balas. Além disso, existem produtos adequados para as fissuras labiais.

Para evitar problemas dentais, os dentes devem ser escovados ou devem ser utilizadas esponjas bucais para a limpeza de dentes, da boca e da língua. É indicada a utilização de uma solução para a higiene bucal que contenha pouco ou nenhum álcool, uma vez que produtos que contêm álcool e que são derivados do petróleo podem produzir um grande ressecamento. A náusea e o vômito podem ser causados por medicamentos, obstrução intestinal ou doença avançada.

O médico pode ter que alterar a medicação ou receitar um medicamento antiemético (antináusea). A náusea causada por uma obstrução intestinal também pode ser tratada com antieméticos, e podem ser tomadas outras medidas para o conforto do paciente. A constipação traz muito desconforto. A ingestão limitada de alimentos, a falta de atividade física e certos medicamentos produzem diminuição dos movimentos intestinais. Podem ocorrer cólicas abdominais. Muitas vezes, é necessário um regime com emolientes de fezes, laxantes e enemas para o alívio da constipação, especialmente quando o problema é causado por narcóticos. Em quase todos os casos, o alívio da constipação é benéfico, mesmo nos estágios finais da doença. A obstrução intestinal pode exigir cirurgia.

Contudo, dependendo do estado geral do paciente, do provável tempo de vida que lhe resta e da causa da obstrução, pode ser preferível o uso de medicamentos que paralisem o intestino, em alguns casos com aspiração nasogástrica concomitante para manter o estômago vazio. Para o alívio da dor, os narcóticos podem ajudar. A perda do apetite é comum na maioria dos pacientes terminais. É natural que ocorra uma diminuição do apetite e isso não acarreta problemas físicos adicionais, embora possa angustiar o paciente e sua família.

Os pacientes não manterão sua força obrigando-se a comer, mas podem sentir algum conforto comendo pequenas porções de seus pratos caseiros favoritos. Se não houver expectativa da morte em horas ou dias, a nutrição ou a hidratação – administradas por via intravenosa ou por uma sonda passada através de uma narina até o estômago –, pode ser administrada durante um tempo limitado para se observar se uma melhor nutrição traz o conforto, a lucidez ou a energia do paciente.

O paciente e sua família devem entrar em um acordo explícito com o médico em relação aos objetivos dessas medidas e ao momento ideal de sua interrupção, caso elas não estejam ajudando. A redução da ingestão de alimentos ou de líquidos não causa sofrimento. Na verdade, à medida que o coração e os rins começam a falhar, a ingestão normal de líquidos freqüentemente provoca dificuldade respiratória à medida que ocorre um acúmulo de líquido nos pulmões.

A redução da ingestão de alimentos e líquidos pode diminuir a necessidade de aspiração por causa da menor quantidade de líquido acumulado na garganta e pode reduzir a dor causada pela menor pressão sobre os tumores. Essa medida muitas vezes ajuda o organismo a liberar maiores quantidades das substâncias químicas naturais que aliviam a dor (endorfinas). Por essa razão, os pacientes não devem ser forçados a comer ou a beber, especialmente nos casos em que há necessidade de meios de contenção, tubos intravenosos ou hospitalização.

Solução de Continuidade da Pele

Os pacientes terminais podem apresentar soluções de continuidade (lesões) da pele que acarretam desconforto. Os pacientes com mobilidade limitada, permanecendo sobretudo confinados ao leito ou sentados, apresentam maior risco. A pressão sobre a pele decorrente da permanência na posição sentada ou do movimento sobre lençóis pode produzir lacerações ou lesões cutâneas. Devem ser feitos todos os esforços possíveis para proteger a pele e o médico deve ser imediatamente comunicado caso ocorra hiperemia (rubor) ou lesão.

Fadiga

A maioria das doenças fatais causa fadiga. Um indivíduo em fase terminal pode tentar poupar energia para a realização de atividades realmente importantes. Freqüentemente, não é essencial a ida a uma consulta médica ou a continuação da prática de exercícios que não produzem mais efeitos benéficos, principalmente se isso consumir a energia necessária para atividades que causam mais satisfação.

Depressão e Ansiedade

A sensação de tristeza ao contemplar o fim da vida é uma resposta natural, mas esse sentimento não deve ser confundido com a depressão. O indivíduo deprimido perde o interesse pelo que ocorre à sua volta, enxerga apenas o lado triste da vida ou não sente emoções. O paciente e sua família devem conversar com o médico sobre esses sentimentos para que a depressão seja diagnosticada e tratada. Com freqüência, o tratamento – o qual combina medicamentos e aconselhamento – é eficaz, mesmo nas últimas semanas de vida, e melhora a qualidade de vida durante o tempo que resta ao paciente.

A ansiedade é caracterizada por uma preocupação excessiva e ela ocorre quando a preocupação e o temor são tão grandes que passam a interferir nas atividades cotidianas. A sensação de não estar sendo devidamente informado ou de estar sendo sobrepujado pode causar ansiedade. Essa situação pode ser aliviada quando o paciente solicita informações mais precisas ou ajuda às pessoas responsáveis pelo seu tratamento.

Os indivíduos que costumam ficar ansiosos durante períodos de estresse são mais propensos à ansiedade frente à proximidade da morte. Estratégias que foram úteis no passado como, por exemplo, o estímulo à confiança, o uso de medicamentos e a canalização da preocupação para atividades produtivas, podem ser úteis para o paciente, inclusive nos últimos dias de vida. Um indivíduo terminal que apresenta ansiedade deve receber o apoio de conselheiros e pode necessitar de medicamentos ansiolíticos.

Confusão Mental, Delírio e Inconsciência

Os pacientes gravemente doentes freqüentemente apresentam confusão mental. Esse estado pode ser desencadeado por um medicamento, uma infecção pouco importante ou mesmo pela alteração do ritmo de vida. Algumas vezes, a tranqüilização e a reorientação podem aliviar a confusão mental, mas o médico sempre deve ser informado sobre o sintoma para que sejam aventadas as possíveis causas tratáveis. O paciente muito confuso pode exigir atenção constante ou apenas uma sedação leve. O indivíduo no estado terminal que apresenta delírio ou incapacidade mental não percebe a eminência da morte.

No entanto, nos momentos finais da vida, ele pode apresentar períodos de lucidez surpreendente. Esses episódios podem ser muito significativos para os membros da família, mas também podem ser equivocadamente interpretados como uma melhora do quadro.

A família deve estar preparada para esses episódios, mas não deve esperar que eles ocorram. Nos últimos dias de vida, aproximadamente metade das pessoas que estão morrendo permanece inconsciente. Se os membros da família acreditarem que a pessoa nesse estado ainda é capaz de ouvir, eles poderão se despedir como se a pessoa efetivamente as estivesse ouvindo. A morte ocorrida durante um período de inconsciência é uma forma muito tranqüila de morrer, especialmente quando o indivíduo e sua família estiverem em paz e tiverem elaborado todos os planos.

Invalidez

Freqüentemente, a incapacidade progressiva acompanha as doenças fatais. As pessoas afetadas tornam-se gradualmente incapazes de administrar o lar, preparar a comida, tratar dos assuntos financeiros, andar ou realizar os cuidados pessoais. Quase todas as pessoas que estão morrendo precisam de ajuda nas últimas semanas.

Essa invalidez deve ser prevista e devem ser implementadas medidas como, por exemplo, a escolha de uma moradia com acesso a cadeira de rodas e próxima da moradia dos familiares que cuidam do paciente. Serviços como o de terapia ocupacional, de fisioterapia e de atendimento domiciliar de enfermagem ajudam a pessoa a permanecer em seu domicílio, mesmo se a invalidez progredir. Algumas pessoas preferem permanecer em casa mesmo sabendo que a segurança é menor, preferindo uma morte mais precoce à internação.

Quando a Morte é Iminente

A perspectiva da morte levanta dúvidas acerca da natureza e do significado da vida e das razões para o sofrimento e a morte. Não existem respostas fáceis para essas dúvidas fundamentais. Na busca por respostas, os pacientes gravemente enfermos e suas famílias podem fazer uso de seus próprios recursos, religião, conselheiros e amigos. Eles podem falar e participar de rituais religiosos ou familiares ou de atividades significativas.

Com a proximidade da morte, o antídoto mais importante para o desespero é, na maioria dos casos, se sentir amado. Não se deve permitir que a enorme quantidade de diagnósticos e tratamentos clínicos acabe ocultando as questões maiores e a importância das relações humanas. Normalmente, é difícil prever o momento exato da morte.

As famílias são orientadas a não insistir no estabelecimento de previsões exatas e a não confiar totalmente nas previsões fornecidas. Às vezes, pacientes muito frágeis sobrevivem além do que seria de se esperar. Outros pacientes morrem rapidamente. Se o paciente exprimir o desejo de que uma determinada pessoa permaneça ao seu lado no momento da morte, devem ser tomadas providências para acomodar essa pessoa por um tempo indefinido. Freqüentemente, existem sinais característicos que indicam a iminência da morte.

A consciência pode diminuir, os membros tornam-se frios e podem apresentar uma coloração azulada ou um moteamento e a respiração pode tornar-se irregular. As secreções na garganta ou o relaxamento dos músculos dessa região levam à produção de uma respiração ruidosa, às vezes denominada “estertor agônico”.

A mudança de posição do paciente ou o uso de medicamentos para eliminar as secreções pode minimizar o ruído. Esse tratamento tem como objetivo o conforto da família ou das pessoas que estão tratando do paciente terminal, pois a respiração ruidosa ocorre em uma fase em que o paciente não tem consciência do que está ocorrendo. Esse tipo de respiração pode persistir por horas.

No momento da morte, podem ocorrer algumas contrações musculares e o tórax pode movimentar-se como se o paciente estivesse respirando. O coração pode bater durante alguns minutos após a cessação da respiração e o paciente pode apresentar uma crise convulsiva de curta duração.

A menos que o paciente terminal seja portador de uma doença infecciosa rara, deve ser assegurado aos membros da família que tocar, acariciar ou abraçar o organismo de uma pessoa moribunda, mesmo um pouco após o óbito, são atitudes aceitáveis. Em geral, ver o corpo após o óbito conforta as pessoas mais íntimas do morto. Essa atitude parece afastar o medo irracional de que o indivíduo não tenha morrido realmente.

Após o Falecimento

A morte deve ser declarada por uma pessoa investida da autoridade para fazê-lo – normalmente um médico – e a causa e as circunstâncias da morte devem ser atestadas oficialmente. O atendimento dessas exigências varia substancialmente de país para país ou mesmo de uma região a outra. Se o paciente planejar morrer em casa, a família deve saber previamente o que esperar e quais providências tomar.

Quando um indivíduo encontra- se hospitalizado, o enfermeiro responsável geralmente explica todos esses detalhes. Se houver necessidade de chamar a polícia ou outras autoridades, elas devem ser notificadas com antecedência que a pessoa está morrendo em casa e que sua morte está sendo aguardada. Freqüentemente, as instituições para pacientes terminais e os programas de home care têm rotinas para notificar as autoridades, poupando assim a família dessas situações desconfortáveis.

Caso o paciente não esteja sendo tratado por alguma instituição, a família deve entrar em contato com um médico legista ou um agente funerário para tomar conhecimento das medidas cabíveis. A obrigatoriedade de um atestado de óbito costuma ser subestimada. Esse documento legal é necessário para as reivindicações junto às seguradoras, para o acesso a contas bancárias, para a transferência dos bens materiais que pertenciam ao falecido e para o estabelecimento da herança.

A família deve providenciar uma quantidade de cópias suficientes. A família pode demonstrar relutância em solicitar ou aprovar a realização de uma autópsia. Apesar dela não ser útil ao falecido, ela pode ser de valia para a família e outros portadores da mesma doença, pois revela maiores detalhes a respeito do processo patológico. Após a autópsia, o corpo pode ser preparado pela agência funerária ou pela família para o enterro ou cremação. Comumente as incisões efetuadas durante a autópsia são ocultas pelas roupas.

Efeitos Sobre a Família

A família e os amigos íntimos são companheiros de viagem do paciente terminal e também sofrem. Durante o processo de agonia do paciente, a família deve ser informada sobre o que está ocorrendo e sobre o que provavelmente irá ocorrer.

A família também deve procurar se inteirar sobre os custos da morte de um membro da família. Parentes próximos, em geral mulheres de meia-idade ou mais idosas, cuidam voluntariamente do enfermo em seus dias finais. Eles devem investigar como os profissionais da saúde podem auxiliá-los para tornar essa carga suportável.

Existem os custos do afastamento do emprego, assim como as despesas com medicamentos, o tratamento domiciliar e os deslocamentos. Um estudo demonstrou que um terço das famílias despende a maior parte de suas economias ao tratar de um parente moribundo.

A família deve discutir francamente sobre os custos com o médico, insistindo para que seja dada uma razoável atenção a esse aspecto e planejando antecipadamente para limitar ou se preparar para tais gastos. Mesmo antes da morte, a família e as pessoas mais íntimas iniciam o processo de perda.

A reconstrução da vida após o período de luto depende da tipo de relação existente com o falecido, de sua idade, do modo como a morte ocorreu e dos recursos emocionais e financeiros disponíveis. Do mesmo modo, a família necessita sentir que ela fez tudo que foi possível. Uma conversa com o médico algumas semanas após o óbito pode ajudar a dissipar dúvidas remanescentes.

A solidão, a desorientação e a sensação de irrealidade experimentadas durante o período próximo da morte diminuem ao longo do tempo, mas a sensação de perda persiste. As pessoas não “superam” uma morte, mas conseguem aceitá-la e dão prosseguimento à vida. Após a morte, a família deve estabelecer a herança. Embora trate-se de uma tarefa difícil, a discussão sobre os bens e as questões financeiras no período que antecede a morte é uma boa medida. Com freqüência, esse tipo de procedimento revela documentos que podem ser assinados ou questões que podem ser decididas pelo paciente, reduzindo a carga sobre a família.

FONTE: MANUAL MERCK


ENVELHECIMENTO DO CORPO


A expectativa média de vida aumentou significativamente nos Estados Unidos. Uma criança do sexo masculino nascida em 1900 apresentava uma expectativa de vida de apenas 46 anos, enquanto que uma criança do mesmo sexo nascida hoje pode viver mais de 72 anos. Uma criança do sexo feminino nascida em 1900 apresentava uma expectativa de vida de aproximadamente 48 anos, enquanto que uma nascida atualmente pode esperar viver cerca de 79 anos. Apesar do aumento da expectativa média de vida, o período máximo de vida – a idade mais avançada alcançada pelas pessoas – alterou pouco desde que esse tipo de registro vem sendo realizado. Apesar do maior conhecimento sobre a constituição genética e da melhoria dos cuidados médicos, ninguém parece ter vivido além dos 120 anos.

Teorias do Envelhecimento

Todas as espécies envelhecem e sofrem alterações notáveis desde o nascimento até a morte. Os cientistas desenvolveram teorias tentando explicar a razão pela qual as pessoas envelhecem, embora nenhuma delas tenha sido comprovada. Em última instância, podem ser extraídas de cada teoria explicações da razão das pessoas envelhecerem e morrerem. No caso da teoria do envelhecimento programado, a velocidade com que uma espécie envelhece é predeterminada por seus genes. Os genes determinam quanto tempo as células viverão.

À medida que as células morrem, os órgãos começam a apresentar um mal funcionamento e, finalmente, não conseguem manter as funções biológicas necessárias para a manutenção da vida. O envelhecimento programado ajuda na preservação da espécie; os membros mais idosos morrem em uma velocidade que permite o espaço para os mais jovens. A teoria dos radicais livres propõe que as células envelhecem em decorrência de danos acumulados devidos às reações químicas que ocorrem no interior das células.

Durante essas reações, são produzidas toxinas denominadas radicais livres. Os radicais livres terminam lesando as células e fazendo com que o indivíduo envelheça. Com o passar do tempo, mais e mais lesões são causadas, até muitas células não funcionarem normalmente ou morrerem. Quando isso acontece, o organismo também morre. Espécies diferentes envelhecem em velocidades diferentes, dependendo de como as células produzem e respondem aos radicais livres.

Alterações Corpóreas

Com o envelhecimento, ocorre uma alteração de vários aspectos perceptíveis do organismo O primeiro sinal de envelhecimento talvez seja quando o olho não consegue focalizar com facilidade objetos próximos (presbiopia). Freqüentemente, em torno dos 40 anos de idade, muitas pessoas acham difícil ler sem usar óculos. A audição também altera com a idade. As pessoas tendem a perder parte da capacidade de ouvir as tonalidades mais agudas (presbiacusia).

Por isso, algumas pessoas idosas acham que a música de um violino já não soa de modo tão emocionante quanto na juventude. Do mesmo modo, como a maioria das consoantes fechadas são emitidas com tonalidades agudas (sons como k, t, s, p e ch), as pessoas mais idosas podem pensar que seus interlocutores estão murmurando. Na maioria das pessoas, a proporção de gordura corpórea aumenta em mais de 30% com o envelhecimento.

A distribuição da gordura também muda: há uma menor quantidade de gordura sob a pele e uma maior quantidade na área abdominal. Conseqüentemente, a pele torna-se mais delgada, enrugada e frágil e a forma do tronco muda. Não é surpreendente que a maioria das funções internas também altere ao longo do tempo. Em geral, essas funções atingem seu ápice um pouco antes dos 30 anos e, em seguida, sofrem um declínio gradual, porém contínuo. Entretanto, mesmo frente a esse declínio, a maioria das funções permanece adequada durante toda a vida, pois quase todos os órgãos possuem uma capacidade funcional consideravelmente superior às necessidades do organismo (reserva funcional).

Por exemplo, mesmo que metade do fígado seja destruída, permanecerá uma quantidade de tecido hepático mais que suficiente para manter o funcionamento normal. Geralmente as doenças são responsáveis pela perda da função nas pessoas idosas, mais do que o envelhecimento normal. Mesmo assim, o declínio na função significa que as pessoas com mais idade estão mais sujeitas a efeitos adversos com o uso de medicamentos, mudanças de ambiente, toxinas e doenças.

Embora o declínio da função de muitos órgãos tenha pouco efeito sobre o modo de vida dos indivíduos, o declínio de certos órgãos pode afetar significativamente a saúde e o bem-estar. Por essa razão, apesar da quantidade de sangue que o coração bombeia em repouso não sofrer grande redução na pessoa idosa, o coração não consegue bombear o suficiente quando forçado ao máximo. Isto significa que atletas idosos não são capazes de apresentar desempenhos tão bons como os atletas mais jovens.

As alterações da função renal podem afetar drasticamente o modo com que as pessoas idosas são capazes de eliminar certas drogas do organismo. É difícil se determinar com exatidão quais alterações estão exclusivamente relacionadas ao envelhecimento e quais são decorrentes do estilo de vida do indivíduo. Um estilo de vida sedentário, uma alimentação inadequada, o fumo e o abuso do álcool e de drogas podem causar danos a muitos órgãos ao longo do tempo, freqüentemente de forma mais intensa que o processo de envelhecimento. Os indivíduos que se expuseram a toxinas podem apresentar uma redução mais importante ou mais rápida da função de alguns órgãos, especialmente os rins, os pulmões e o fígado.

As pessoas que trabalham em ambientes altamente ruidosos podem apresentar redução da capacidade auditiva. Algumas alterações podem ser evitadas com a mudança para um estilo de vida mais saudável. A interrupção do tabagismo, mesmo aos 80 anos de idade, ajuda a melhorar o funcionamento pulmonar e reduz a chance de desenvolver câncer pulmonar. Exercícios com sustentação do peso ajudam a manter a força dos músculos e ossos, independentemente da idade do indivíduo.

Como o Corpo Altera com a Idade


  • Diminução do fluxo sangüíneo para os rins, fígado e o cérebro
  • Diminuição da capacidade dos rins de eliminar toxinas e medicamentos
  • Diminuição da capacidade do fígado de eliminar toxinas e metabolizar a maioria dos medicamentos
  • Diminuição da freqüência cardíaca máxima, mas sem alteração da freqüência cardíaca em repouso
  • Diminuição do débito cardíaco (saída de sangue do coração) máximo
  • Diminuição da tolerância à glicose
  • Diminuição da capacidade pulmonar demobilização do ar
  • Aumento da quantidade de ar retido nos pulmões depois de uma expiração
  • Diminuição da função celular de combate às infecções

Implicações da Doença

A geriatria é a especialidade médica que se ocupa das pessoas idosas e suas doenças. A gerontologia é o estudo do envelhecimento. Não há idade específica na qual uma pessoa tornase “idosa”, embora, tradicionalmente, ela tenha sido estabelecida como sendo de 65 anos, pelo fato de ser quando os trabalhadores adultos costumam aposentar.

Diversos distúrbios, às vezes denominados síndromes geriátricas ou doenças geriátricas, ocorrem quase que exclusivamente em adultos idosos. Outros distúrbios afetam pessoas de todas as idades, sendo, no entanto, mais graves ou causando sintomas ou complicações diferentes nas pessoas idosas. Com freqüência, as pessoas idosas padecem de uma doença de forma diferente à das pessoas mais jovens.

Uma doença pode causar sintomas diferentes em pessoas idosas. Por exemplo, uma glândula tireóide hipoativa habitualmente faz com que pessoas mais jovens ganhem peso e tornem-se mais lentas. Em uma pessoa idosa, a tireóide hipoativa também pode provocar confusão mental, a qual pode ser confundida com a demência. Já uma tireóide hiperativa faz com que as pessoas mais jovens tornem-se agitadas e apresentem perda de peso, enquanto que, nos idosos, ela pode causar sonolência, isolamento, depressão e confusão mental.

Em geral, a depressão faz com que adultos jovens tornem-se propensos ao choro, à retração e demonstrem tristeza. Nas pessoas idosas, a depressão algumas vezes acarreta confusão mental e perda de memória, podendo ser equivocadamente interpretado como demência. Antigamente, as doenças agudas, como o infarto do miocárdio, as fraturas do quadril e as pneumonias, quase sempre resultavam na morte de idosos. Hoje, essas doenças são tratáveis e controláveis, mesmo que elas não sejam curáveis. Por sua vez, uma doença crônica não significa necessariamente incapacidade.

Atualmente, muitas pessoas com diabetes, problemas renais, cardiopatias e outras doenças crônicas perceberam que podem manter-se funcionais, ativas e independentes. Fatores sociológicos e econômicos costumam influenciar a forma com que as pessoas idosas procuram e recebem cuidados médicos.

Muitos idosos tendem a ocultar pequenos problemas de saúde e não procuram ajuda médica até que estes se tornem realmente graves. As pessoas idosas tendem a apresentar mais de uma doença concomitantemente, sendo que uma pode exercer influência sobre a outra. Por exemplo, a depressão pode piorar a demência e o diabetes pode agravar uma infecção. Outros fatores sociológicos complicam a doença nas pessoas idosas. Quando a doença causa alguma perda temporária ou permanente da independência, a pessoa idosa pode tornar-se deprimida, passando a necessitar de auxílio psicológico e de um serviço social.

Por essas razões, é comum os geriatras recomendarem o tratamento multidisciplinar. Com esse tipo de tratamento, a equipe clínica, a qual pode ser formada por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas, farmacêuticos e psicólogos, planeja e implementa o tratamento sob a liderança do médico principal.

Distúrbios que Afetam Principalmente as Pessoas Idosas


Moléstia ou Distúrbio
Explicação
Moléstia ou Distúrbio
Explicação

Doença de Alzheimer e outras demências
Distúrbios cerebrais que acarretam a perda progressiva da memória e de outras funções intelectuais
Osteoartrite
Degeneração da cartilagem que reveste as articulações, causando dor

Úlceras de decúbito
Lesões da pele em decorrência da pres-
são prolongada
Osteoporose
Perda de cálcio dos ossos, que os tornam frágeis e pode acarretar fraturas

Hiperplasia benigna da próstata
Aumento da próstata (nos homens), que bloqueia o fluxo urinário
Doença de Parkinson
Doença cerebral degenerativa e lentamente progressiva que acarreta tremores, rigidez muscular, dificuldade nos movimentos e instabilidade postural

Catarata
Opacificação do crista-lino, com comprometi-mento da visão
Câncer de próstata
Câncer da glândula prostática (nos homens)

Leucemia linfocítica crônica
Tipo de leucemia
Herpes zoster
Reativação do vírus da catapora latente, produzindo uma erupção cutânea e podendo acarretar dor prolongada

Diabetes tipo 2 (início na vida adulta)
Tipo de diabetes que pode não exigir o tratamento com insu-
lina
Acidente Vascular Cerebral

Obstrução ou sangramento de um vaso sangüíneo do cérebro, acarretando fraqueza, perda de sensibilidade, dificuldade para falar ou outros problemas neurológicos

Glaucoma
Aumento da pressão
em uma das câmaras
do olho, podendo re-duzir a visão e causar cegueira
Incontinência urinária
Incapacidade de controlar a micção

Gamopatias monoclonais
Grupo de doenças diversas caracteriza-
das pela proliferação anormal de um mes-
mo tipo de célula que produz níveis elevados de uma imunoglobulina

GENÉTICA


O material genético do organismo está contido no interior do núcleo de cada uma de suas células. Esse material consiste nas espirais de DNA (ácido desoxirribonucléico) dispostas em um arranjo complexo para formar os cromossomos.

As células humanas contêm 46 cromossomos dispostos em pares, incluindo um par de cromossomos sexuais. A molécula de DNA é uma dupla hélice longa que se assemelha a uma escada em espiral. Os degraus da escada, os quais determinam o código genético da pessoa, consistem em pares de quatro tipos de moléculas, denominadas bases. Nos degraus, a adenina faz par com a timina, e a guanina faz par com a citosina.

O código genético é escrito em tripletos, de modo que cada grupo de três degraus da escada codifica a produção de um dos aminoácidos, os quais são os componentes que formam as proteínas. Quando uma parte da molécula de DNA controla ativamente alguma função da célula, a hélice do DNA divide-se, abrindo-se no sentido longitudinal. Um filamento da hélice aberta é inativo; o outro filamento funciona como um padrão contra o qual forma-se um filamento complementar de RNA (ácido ribonucléico).

As bases do RNA estão dispostas na mesma seqüência que as bases do filamento inativo do DNA, exceto pelo fato do RNA conter uracil e o DNA conter timina. A cópia do RNA, denominada RNA mensageiro (mRNA), separa-se do DNA, deixa o núcleo e passa para o citoplasma da célula. No citoplasma, ele fixa-se aos ribossomos, onde ocorre a síntese de proteínas.

O RNA mensageiro transmite aos ribossomos as informações sobre a seqüência de aminoácidos necessária para a produção de uma proteína específica. Os aminoácidos são levados até o ribossomo por um RNA de transferência (tRNA), um tipo de RNA muito menor. Cada molécula de RNA de transferência carrega um aminoácido que deve ser incorporado à cadeia de proteína que está sendo sintetizada. Um gene consiste no código necessário para a produção de uma proteína.

Os genes variam de tamanho, de acordo com o tamanho da proteína. Os genes estão dispostos em uma seqüência precisa nos cromossomos. A localização de um determinado gene é conhecida como locus. Os dois cromossomos sexuais determinam se o feto será do sexo masculino ou feminino. Os meninos possuem um cromossomo sexual X e um Y; as meninas possuem dois cromossomos X, sendo que apenas um deles é ativo.

O cromossomo Y contém relativamente poucos genes, um dos quais determina o sexo. Nos homens, praticamente todos os genes no cromossomo X se expressam, sejam eles dominantes ou recessivos. Os genes no cromossomo X são conhecidos como genes ligados ao sexo, ou ligados ao X.

Inativação do Cromossomo X

Pelo fato de possuir dois cromossomos X, a mulher apresenta o dobro de genes do cromossomo X que o homem. A princípio, isso poderia produzir um excesso de alguns genes. No entanto, acredita-se que um dos dois cromossomos X seja inativado no início da vida do feto em todas as células da mulher – exceto nos óvulos contidos nos ovários.

O cromossomo X inativo (corpúsculo de Barr) é visível ao microscópio como uma protuberância no núcleo da célula. A inativação do cromossomo X explica certas observações. Por exemplo, a presença adicional de cromossomos X causa muito menos anormalidades de desenvolvimento que a de cromossomos não-sexuais (autossômicos), porque, não importa quantos sejam os cromossomos X que a pessoa possua, apenas um parece permanecer ativo.

Geralmente, as mulheres com três cromossomos X (síndrome do triplo X) são normais, tanto física como mentalmente. Em contraste, um cromossomo autossômico adicional pode ser fatal durante a fase inicial do desenvolvimento fetal. Um recém-nascido com um cromossomo autossômico adicional (uma trissomia) geralmente apresenta muitas anormalidades físicas e mentais graves. De modo similar, a ausência de um cromossomo autossômico é invariavelmente fatal ao feto, enquanto a ausência de um cromossomo X acarreta anormalidades relativamente menos graves (síndrome de Turner).

Anormalidades Genéticas

Anormalidades de um ou mais genes, particularmente de genes recessivos, são bem freqüentes. Cada indivíduo possui de seis a oito genes recessivos anormais. No entanto, esses genes não fazem com que as células funcionem de modo anormal, a não ser que dois genes recessivos similares estejam presentes. Na população geral, a probabilidade de uma pessoa apresentar dois genes recessivos similares é muito pequena, mas ela é mais elevada em filhos de parentes próximos.

A probabilidade também é alta nos grupos fechados cujos membros casam entre si, como as comunidades Amish ou Menonita. A constituição genética de uma pessoa é chamada genótipo. A resposta do organismo à presença desses genes – isto é, a expressão do genótipo – é denominada fenótipo. Todas as características herdadas (traços) são codificadas pelos genes. Algumas características, como a cor dos cabelos, simplesmente diferenciam as pessoas umas das outras e não são consideradas anormais. Entretanto, uma doença hereditária pode ser resultado de características anormais que se manifestam como expressão de um gene anormal.

Estrutura do DNA

O DNA (ácido desoxirribonucléico) é o material genético da célula, encontrado em filamentos espiralados frouxamente entrelaçados denominados cromatina no núcleo de cada célula. A molécula de DNA é uma dupla hélice longa e espiralada que se assemelha a uma escada. No DNA, dois filamentos, compostos de moléculas de um açúcar (desoxirribose) e de fosfato, são conectados por pares formados de quatro moléculas, denominadas bases, as quais formam os degraus da escada. Nos degraus, a adenina faz par com a timina, e a guanina com a citosina. Cada par de bases é unido por uma ligação de hidrogênio. Um gene é um segmento de DNA que possui uma função específica e consiste em uma seqüência específica de bases.

Anormalidades Produzidas por um Único Gene

Os efeitos de uma anormalidade produzida por um único gene dependem dele ser dominante ou recessivo ou dele estar ou não localizado em um cromossomo X (ligado ao X). Como cada gene controla a produção de uma determinada proteína, um gene anormal produz uma proteína anormal ou uma quantidade anormal de proteína, podendo acarretar uma anormalidade na função celular e, em última instância, no aspecto físico ou na função corpórea.

Genes Não Ligados ao X

O efeito (traço) produzido por um gene dominante anormal sobre um cromossomo autossômico pode ser uma deformidade, uma doença ou uma tendência ao desenvolvimento de certas doenças.

Geralmente, os princípios seguintes são aplicados aos traços determinados por um gene dominante:

• As pessoas com o traço possuem pelo menos um dos pais com o traço, exceto se ele for causado por uma nova mutação.
• Traços genéticos anormais freqüentemente são causados por novas mutações genéticas ao invés de serem herdados dos pais.
• Quando apenas um dos pais possui um traço anormal, cada filho apresenta uma probabilidade de 50% de herdar o traço anormal e 50% de não herdá-lo. Contudo, se o genitor possuidor do traço anormal possuir duas cópias do gene anormal – uma ocorrência rara – todos os filhos apresentarão o traço anormal.
• Uma pessoa que não possui o traço anormal, embora seus irmãos o possuam, não é portador do gene e não pode transmitir o traço a seus filhos.
• A probabilidade de ser afetado é a mesma para homens e mulheres.
• A anormalidade pode ocorrer, e geralmente acontece, em todas as gerações.

De maneira geral, os princípios seguintes são aplicados aos traços determinados por um gene recessivo:

• Teoricamente, ambos os genitores das pessoas portadoras do traço apresentam o gene. No entanto, pode ocorrer que nenhum deles apresente o traço.
• É muito improvável que mutações acarretem a expressão do traço.
• Quando um dos pais possui o traço e o outro possui um gene recessivo, mas não apresenta o traço, é provável que metade dos filhos apresente o traço e que os demais filhos sejam portadores, com um gene recessivo. Se o genitor sem o traço não possuir o gene recessivo anormal, nenhum dos filhos apresentará o traço, mas todos os filhos herdarão um gene anormal, o qual poderá ser transmitido para seus descendentes.
• É provável que uma pessoa que não apresenta o traço anormal, mas cujos irmãos comprovadamente o possuem, seja portadora de um gene anormal.
• A probabilidade de ser afetado é igual para homens e mulheres.
• A anormalidade pode manifestar-se em qualquer geração, mas, em geral, isso só ocorre quando os dois pais possuem o traço.

Os genes dominantes causadores de doenças graves são raros. Eles tendem a desaparecer, pois os indivíduos que os apresentam freqüentemente apresentam uma doença grave que impossibilia a procriação. No entanto, existem algumas exceções, como a doença de Huntington, a qual produz deterioração severa da função cerebral e, em geral, inicia após os 35 anos de idade. No momento em que surgem os sintomas, o indivíduo já pode ter tido filhos.

Genes recessivos manifestam-se apenas quando o indivíduo possui dois desses genes. A pessoa com um gene recessivo não apresenta o traço correspondente, mas é portadora e pode transmitir o gene para seus filhos.

Exemplos de Distúrbios Genéticos


Gene Dominante Recessivo
Não ligado a X Síndrome de Marfan, doença de Huntington Fibrose cística, anemia falciforme
Ligado a X Raquitismo familiar, nefrite hereditária Daltonismo (cegueira para as cores vermelho e verde), hemofilia

Genes Ligados ao X

Como o cromossomo Y, nos homens, possui muito poucos genes, praticamente todos os genes do único cromossomo X (genes ligados ao X ou ligados ao sexo) não são pareados e, portanto, se expressam, não importando se são dominantes ou recessivos. No entanto, como as mulheres possuem dois cromossomos X, os mesmos princípios aplicados aos genes ligados ao X são aplicados aos genes dos cromossomos autossômicos.

A não ser que os dois genes de um par sejam recessivos, apenas os genes dominantes se expressam. Se um gene anormal ligado ao X for dominante, os indivíduos do sexo masculino afetados transmitem a anormalidade a todas as filhas, mas a nenhum de seus filhos. Os filhos de um homem afetado recebem seu cromossomo Y, o qual não possui o gene anormal. As mulheres afetadas com apenas um gene anormal transmitem a anormalidade a metade de seus filhos (sejam do sexo masculino ou do sexo feminino). Se um gene anormal ligado ao X for recessivo, quase todos os indivíduos com o traço serão do sexo masculino.

Os homens transmitem o gene anormal apenas às filhas e todas elas tornam-se portadoras. As mães portadoras não apresentam o traço, mas transmitem o gene à metade de seus filhos, os quais geralmente apresentam o traço. Nenhuma de suas filhas apresentará o traço, mas metade delas será portadora. O daltonismo (cegueira para as cores vermelha e verde), causado por um gene recessivo ligado ao X comum, afeta cerca de 10% dos homens, mas é incomum entre as mulheres. Nos homens, o gene do daltonismo é originário de uma mãe daltônica ou que possui visão normal mas é portadora do gene. O gene nunca é originário do pai, o qual contribui com o cromossomo Y. Filhas de homens com daltonismo raramente apresentam essa deficiência, mas são sempre portadoras do gene causador.

Herança de Genes Recessivos Anormais

Algumas doenças são devidas a um gene recessivo anormal. Para ser portador da doença, a pessoa deve receber dois genes, um de cada genitor. Se os pais forem portadores de um gene anormal e de um gene normal, eles não apresentam a doença, mas podem transmitir o gene anormal para seus filhos. Para cada filho, a probabilidade de herdar dois genes anormais (e, assim, apresentar a doença) é de 25%, a de herdar dois genes normais é de 25%, e a de herdar um gene normal e um gene anormal (tornando-se portadores da doença, como seus pais) é de 50%

Herança Codominante

A herança codominante é caracterizada pela expressão de ambos os genes. Um exemplo é a anemia falciforme: se o indivíduo possuir um gene normal e um gene anormal, ele apresentará produção de um pigmento (hemoglobina) normal e de um pigmento anormal eritrócitos (hemácias).

Genes Mitocondriais Anormais

No interior de cada célula existem mitocôndrias – estruturas diminutas que fornecem energia à célula. Cada mitocôndria contém um cromossomo circular. Várias doenças raras são causadas por genes anormais contidos no cromossomo existente no interior da mitocôndria. Quando um óvulo é fertilizado, somente as mitocôndrias do óvulo farão parte do feto em desenvolvimento; todas as mitocôndrias do espermatozóide são descartadas. Por essa razão, as doenças causadas por genes mitocondriais anormais são transmitidas pela mãe. Um pai com genes mitocondriais anormais não pode transmitir essas moléstias a seus descendentes.

Genes Causadores de Câncer

As células cancerosas podem conter oncogenes, que são genes causadores de câncer, também chamados genes tumorais. Às vezes, os oncogenes são versões anormais dos genes responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento antes do nascimento, os quais, geralmente, são desativados após o nascimento. Esses oncogenes podem ser reativados mais tarde na vida da pessoa e causar câncer, mas ainda não se sabe como esse processo ocorre.

Tecnologia Genética

Um grande avanço tecnológico vem melhorando a detecção das moléstias genéticas, tanto antes como após o nascimento. O conhecimento vem se expandindo e de forma particularmente rápida na área da tecnologia do DNA. Um grande esforço em andamento, denominado Projeto Genoma Humano, tem como objetivo a identificação e o mapeamento de todos os genes dos cromossomos humanos. Genoma é o conjunto genético de um indivíduo. Em cada locus de um cromossomo, existe um gene. A função exercida por esse locus, por exemplo a cordos olhos, é a mesma para todos os indivíduos.

No entanto, o gene preciso que se encontra nesse local varia de pessoa para pessoa, fornecendo a cada um de nós características próprias. Há vários modos de se produzir cópias suficientes de um gene para o seu de estudo. Cópias de um gene humano podem ser produzidas em laboratório através da clonagem genética. Geralmente, o gene a ser copiado é introduzido no DNA do interior de uma bactéria. Cada vez que ela se reproduz, a bactéria produz uma cópia exata de todo seu DNA, inclusive do gene introduzido.

As bactérias multiplicam-se com muita rapidez e, dessa forma, bilhões de cópias do gene original podem ser produzidos em pouquíssimo tempo. Outra técnica de cópia do DNA utiliza a reação de cadeia de polimerase (PCR, polymerase chain reaction). Em um laboratório, um segmento específico do DNA, incluindo um gene específico, pode ser copiado (amplificado) mais de 200.000 vezes em questão de horas.

O DNA de uma única célula é suficiente para iniciar uma reação de cadeia de polimerase. Uma sonda genética pode ser utilizada para localizar um gene específico em um determinado cromossomo. Um gene clonado ou copiado torna- se uma sonda marcada quando recebe um átomo radioativo. A sonda irá buscar a imagem complementar do segmento do DNA e se ligará a ele. A sonda radioativa pode então ser detectada através de técnicas fotográficas sofisticadas.

Com as sondas genéticas, várias doenças podem ser diagnosticadas antes ou após o nascimento. No futuro, é provável que as sondas genéticas sejam capazes de testar pessoas em relação a muitas doenças genéticas importantes.

Contudo, nem toda pessoa que possui o gene para determinada doença irá realmente desenvolvê-la. Uma técnica, conhecida como Southern blot, é amplamente utilizada para identificar o DNA. Extraído das células do indivíduo que está sendo estudado, o DNA é cortado em fragmentos precisos através de uma enzima denominada endonuclease de restrição. Os fragmentos, separados em um gel por meio da técnica da eletroforese, são colocados em um papel de filtro e cobertos com uma sonda marcada. Como a sonda liga-se apenas à sua imagem complementar, ela irá identificar o fragmento de DNA.

Herança de Genes Ligados a X Recessivos Anormais

Quando um gene é ligado ao cromossomo X, ele aparece no cromossomo X e não no cromossomo Y. Doenças resultantes de um gene recessivo ligado a X anormal geralmente afetam apenas os indivíduos do sexo masculino. Isso ocorre porque os homens possuem somente um cromossomo X. As mulheres, as quais possuem dois cromossomos X, comumente recebem um gene normal no segundo X.

O gene normal é dominante e impede que as mulheres desenvolvam a doença.
Se o pai tiver um gene recessivo anormal em seu cromossomo X e a mãe possuir dois genes normais, todas as filhas receberão um gene anormal e um gene normal, o que as tornará portadoras.

Nenhum de seus filhos receberá o gene anormal. Se a mãe for portadora e o pai tiver o gene normal, qualquer filho apresenta a probabilidade de 50% de receber o gene anormal da mãe. Qualquer filha apresenta uma probabilidade de 50% de receber um gene anormal e um gene normal (tornando-se portadora) ou de receber dois genes normais.

FONTE: MANUAL MERCK

CÉLULAS, TECIDO0S E ÓRGÃOS


A biologia engloba o estudo da anatomia e da fisiologia dos organismos vivos. A anatomia é o estudo das estruturas e a fisiologia é o estudo das funções do organismo. Devido à complexidade da estrutura dos organismos vivos, a anatomia é organizada por níveis, desde os menores componentes das células até os órgãos maiores e suas relações com outros órgãos. A anatomia geral é o estudo dos órgãos do organismo através da sua observação a olho nu durante a inspeção visual e a dissecção. A anatomia celular é o estudo das células e de seus componentes e requer instrumentos especiais, como microscópios e técnicas especiais para sua observação.

Células

Embora existam diferentes tipos de células, quase todas apresentam os mesmos componentes. A célula é composta por um núcleo e pelo citoplasma e é envolta por uma membrana celular, a qual controla o que entra e sai. O núcleo controla a produção de proteínas. Ele contém os cromossomos, os quais representam o material genético da célula, e um nucléolo, o qual produz ribossomos.

O citoplasma é formado por um material líquido e organelas, as quais podem ser consideradas os órgãos da célula. O retículo endoplasmático transporta materiais no interior da célula. Os ribossomos produzem proteínas, as quais são acondicionadas pelo aparelho de Golgi, de forma que possam deixar a célula. As mitocôndrias geram energia para as atividades celulares. Os lisossomos contêm enzimas que são capazes de degradar partículas que entram na célula. Por exemplo, determinados leucócitos ingerem bactérias, as quais, em seguida, são destruídas por enzimas existentes nos lisossomos. Os centríolos participam na divisão celular.

Dentro da Célula

Embora existam diferentes tipos de células, quase todas apresentam os mesmos componentes. A célula é composta por um núcleo e pelo citoplasma e é envolta por uma membrana celular, a qual controla o que entra e sai. O núcleo controla a produção de proteínas.

Ele contém os cromossomos, os quais representam o material genético da célula, e um nucléolo, o qual produz ribossomos. O citoplasma é formado por um material líquido e organelas, as quais podem ser consideradas os órgãos da célula. O retículo endoplasmático transporta materiais no interior da célula.

Os ribossomos produzem proteínas, as quais são acondicionadas pelo aparelho de Golgi, de forma que possam deixar a célula. As mitocôndrias geram energia para as atividades celulares. Os lisossomos contêm enzimas que são capazes de degradar partículas que entram na célula. Por exemplo, determinados leucócitos ingerem bactérias, as quais, em seguida, são destruídas por enzimas existentes nos lisossomos. Os centríolos participam na divisão celular.

Ela possui receptores que identificam a célula a outras células. Os receptores também reagem a substâncias produzidas no organismo e a medicamentos nele introduzidos, permitindo, de modo seletivo, que essas substâncias ou medicamentos entrem e saiam da célula.

As reações que ocorrem nos receptores, com freqüência alteram e controlam as funções celulares. Dentro da membrana celular, existem dois compartimentos importantes: o citoplasma e o núcleo. O citoplasma contém estruturas que consomem e transformam a energia e que desempenham as funções celulares; o núcleo contém o material genético da célula e as estruturas que controlam a sua divisão e reprodução.

O organismo é constituído por muitos tipos diferentes de células, cada qual com estrutura e função próprias. Algumas, como os leucócitos (glóbulos brancos), movimentam-se livremente, não estando unidas a outras células. Outras, como as células musculares, estão firmemente unidas entre si. Algumas células, como as da pele, dividem-se e reproduzem-se com rapidez e, por outro lado, as células nervosas nunca se reproduzem.

Algumas células, sobretudo as glandulares, têm como função principal a produção de substâncias complexas, como um hormônio ou uma enzima. Por exemplo, as células da mama produzem leite; as do pâncreas, insulina; as do revestimento pulmonar, muco; e as da boca, saliva. Outras células desempenham funções que não estão relacionadas com a produção de substâncias como, por exemplo, as células dos músculos e do coração que têm como ação principal a contração. As células nervosas conduzem impulsos elétricos, permitindo a comunicação entre o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal) e o resto do organismo.

Tecidos e Órgãos

É denominado tecido o conjunto de células semelhantes unidas entre si. As células de um tecido não são idênticas, mas atuam em conjunto para realizar funções específicas. Uma amostra de tecido removida para exame em microscópio (biópsia) contém muitos tipos de células, apesar do médico poder estar interessado apenas em um tipo específico de célula.

O tecido conjuntivo é o tecido resistente e freqüentemente fibroso que une as estruturas do organismo, provendo sua sustentação. O tecido conjuntivo está presente em quase todos os órgãos, representando uma grande parte da constituição da pele, dos tendões e dos músculos. As características do tecido conjuntivo e os tipos de células nele contidos variam, dependendo da sua localização no organismo.

As funções corpóreas são realizadas por órgãos. Cada órgão é uma estrutura reconhecível que desempenha funções específicas como, por exemplo, o coração, os pulmões, o fígado, os olhos e o estômago. Um órgão é composto por vários tipos de tecidos e, conseqüentemente, por vários tipos de células. Por exemplo, o coração contém um tecido muscular, que se contrai para bombear o sangue; um tecido fibroso que formam as válvulas cardíacas e células especiais que mantêm a freqüência e o ritmo dos batimentos cardíacos.

O olho contém células musculares que abrem e fecham a pupila; células transparentes, que formam o cristalino e a córnea; células que produzem o líquido existente no interior do olho; células sensíveis à luz; e células nervosas que transmitem impulsos até o cérebro. Mesmo um órgão aparentemente tão simples como a vesícula biliar contém tipos diferentes de célula como, por exemplo, as do revestimento interior que são resistentes aos efeitos irritativos da bile; células musculares que contraem para expelir a bile; e células que formam a parede fibrosa externa que contém a vesícula.

Sistemas Orgânicos

Embora um determinado órgão desempenhe funções específicas, existem órgãos que também fazem parte de um grupo, o qual é denominado sistema orgânico. O sistema orgânico é a unidade organizacional na qual se baseia o estudo da medicina, a classificação das doenças e o planejamento dos tratamentos. Em grande parte, este livro foi elaborado baseando-se no conceito do sistema orgânico. Um exemplo de sistema é o cardiovascular, o qual é composto pelo coração (cardio) e pelos vasos sangüíneos (vascular). Ele é responsável pelo bombeamento e pela circulação do sangue.

O sistema digestivo, o qual se estende da boca ao ânus, é responsável pela recepção e digestão dos alimentos e também pela excreção de resíduos. Além do estômago, do intestino delgado e do intestino grosso, os quais transportam o alimento, esse sistema inclui órgãos relacionados, como o pâncreas, o fígado e a vesícula biliar, os quais produzem enzimas digestivas, removem toxinas e armazenam substâncias necessárias para a digestão.

O sistema musculoesquelético, constituído por ossos, músculos, ligamentos, tendões e articulações, provê sustentação e movimento ao organismo. Evidentemente, os sistemas orgânicos não funcionam isoladamente. Por exemplo, após a ingestão de uma refeição, o sistema digestivo necessita de uma maior quantidade de sangue para desempenhar suas funções. Por isso, ele solicita o auxílio dos sistemas cardiovascular e nervoso. Os vasos sangüíneos do sistema digestivo dilatam para transportar mais sangue. Impulsos nervosos são transmitidos ao cérebro, notificando-o sobre o aumento de trabalho.

O sistema digestivo estimula o coração de modo direto através de impulsos nervosos e substâncias químicas liberadas na corrente sangüínea. O coração responde, bombeando mais sangue. O cérebro também responde detectando menor fome, maior plenitude e menor interesse por atividades vigorosas. A comunicação entre órgãos e sistemas orgânicos é vital. Essa comunicação permite que o organismo ajuste a função de cada órgão às necessidades de todo o organismo.

O coração deve saber quando o organismo encontra-se em repouso, para reduzir o ritmo cardíaco, e quando os órgãos necessitam de mais sangue, para acelerar. Os rins devem saber quando o organismo apresenta excesso de líquido, para excretar mais urina; e quando ele está desidratado, para conservar água. Por meio dessa comunicação, o organismo mantém o equilíbrio. Este conceito é conhecido como homeostasia. Através da homeostasia, os órgãos não apresentam uma produção excessiva nem uma produção deficiente e cada órgão facilita as funções dos outros.

A comunicação para a manutenção da homeostasia pode ocorrer através do sistema nervoso ou da estimulação química. Em grande parte, o sistema nervoso autônomo controla a complexa rede de comunicação que regula as funções corpóreas. Essa parte do sistema nervoso funciona sem que a pessoa tenha consciência, ou seja, sem que haja indicação perceptível de sua ação. As substâncias químicas utilizadas na comunicação são denominadas transmissores.

Os transmissores produzidos por um órgão e que se deslocam até outros órgãos através da corrente sangüínea são denominados hormônios. Os transmissores que conduzem mensagens entre partes do sistema nervoso são denominados neurotransmissores. Um dos transmissores mais conhecidos é o hormônio epinefrina (adrenalina). Quando uma pessoa defronta-se a uma situação súbita de estresse ou de medo, o cérebro envia instantaneamente uma mensagem até as glândulas adrenais, as quais imediatamente liberam adrenalina. Em instantes, essa substância química coloca todo o organismo em estado de alerta, uma resposta que, às vezes, é denominada “preparação de luta ou fuga”.

O coração bate mais rápido e intensamente, os olhos dilatam para permitir maior entrada de luz, a respiração acelera e a atividade do sistema digestivo diminui para permitir que maior volume de sangue seja enviado aos músculos. O efeito é rápido e intenso. Outras comunicações químicas são menos espetaculares, mas igualmente eficazes. Por exemplo, quando o organismo fica desidratado e precisa de mais água, o volume de sangue circulante no sistema cardiovascular diminui.

Essa redução do volume sangüíneo é detectada por receptores localizados nas artérias da região do pescoço. Esses receptores respondem enviando impulsos, através de nervos, até a hipófise, (localizada na base do cérebro), a qual então produz o hormônio antidiurético. Este hormônio sinaliza aos rins para que eles produzam menos urina e retenham mais água. Simultaneamente, o cérebro detecta a sede e estimula a ingestão líquida.

O organismo também possui um grupo de órgãos – o sistema endócrino – cuja função principal é produzir hormônios que regulam a função de outros órgãos. Por exemplo, a glândula tireóide produz o hormônio tireoidiano, o qual controla a taxa metabólica (velocidade com que ocorrem as funções químicas do organismo); o pâncreas produz insulina, a qual controla o consumo de açúcar; e as glândulas adrenais produzem adrenalina, a qual estimula vários órgãos a preparar o organismo para enfrentar o estresse.

Barreiras Externas e Internas

Por mais estranho que pareça, definir o que é “externo” e o que é “interno” no organismo nem sempre é fácil, pois o organismo apresenta muitas superfícies. A pele que, na realidade, é um sistema orgânico, é uma superfície óbvia, e forma uma barreira que impede a entrada de muitas substâncias nocivas no organismo. Apesar de revestido por uma fina camada de pele, o canal auditivo é em geral considerado interno por penetrar profundamente na cabeça.

O sistema digestivo é um tubo longo que inicia na boca, serpenteia ao longo do corpo e termina no ânus. O alimento parcialmente absorvido ao passar através desse tubo encontra-se dentro ou fora do corpo? Na realidade, os nutrientes e líquidos não se encontram no interior do organismo até serem absorvidos para o interior da corrente sangüínea.

O ar passa através do nariz e da garganta até a traquéia e, em seguida, até as vias respiratórias e as ramificações das vias respiratórias pulmonares (os brônquios). Em que ponto esse sistema de condução do ar deixa de ser “externo” e passa a ser “interno”? O oxigênio nos pulmões não tem utilidade para o organismo até entrar na corrente sangüínea. Para fazê-lo, o oxigênio precisa atravessar uma fina camada de células que reveste os pulmões. Essa camada funciona como uma barreira contra vírus e bactérias (p. ex., bacilo da tuberculose), os quais podem ser transportados até o interior dos pulmões juntamente com o ar.

A não ser que penetrem nas células ou na corrente sangüínea, esses organismos não causam doença. Em razão dos pulmões possuírem muitos mecanismos de proteção – como os anticorpos, os quais combatem infecções, e os cílios, os quais eliminam os detritos das vias respiratórias – a maioria dos organismos infecciosos nunca causam doença. As superfícies do corpo não só separam o “exterior” do “interior”, mas, também, mantêm as estruturas e as substâncias no local adequado, de modo que elas possam funcionar satisfatoriamente. Por exemplo, os órgãos internos não flutuam no sangue; o sangue normalmente é confinado no interior dos vasos sangüíneos.

Se ocorrer extravasamento de sangue, com invasão de outras partes do organismo (hemorragia), não ocorre somente a falha de fornecimento de oxigênio e nutrientes aos tecidos, mas também pode ocorrer a produção de lesões graves. Uma hemorragia cerebral, mesmo que pequena, destrói o tecido cerebral, pois não existe espaço livre que permita a expansão do sangue dentro dos limites do crânio.

Por outro lado, um volume similar de sangue extravasando para o interior da cavidade abdominal não causa destruição do tecido. A saliva, tão importante na boca, pode causar problemas sérios quando aspirada pelos pulmões.

O ácido clorídrico produzido pelo estômago raramente causa danos a esse órgão, mas pode queimar e lesar o esôfago, no caso de haver refluxo, ou lesar outros órgãos, caso extravase através da parede do estômago. As fezes – parte não digerida dos alimentos que é expelida através do ânus – podem causar infecções potencialmente letais quando ocorre extravasamento através da parede intestinal para o interior da cavidade abdominal.

Anatomia e Doença

O corpo humano é admiravelmente bem planejado. Quase todos os seus órgãos possuem grande reserva ou capacidade extra, o que lhes permite funcionar adequadamente, mesmo quando parcialmente lesados. Por exemplo, é necessário uma destruição superior a dois terços do fígado antes que ocorram graves conseqüências e uma pessoa possa sobreviver à remoção cirúrgica de um pulmão inteiro, desde que o outro pulmão apresente uma função normal.

Outros órgãos podem suportar pequenas lesões antes de apresentarem uma disfunção (mal funcionamento). Por exemplo, se um acidente vascular cerebral (derrame cerebral) destruir uma pequena quantidade de tecido cerebral vital, o indivíduo pode apresentar incapacidade para falar, mover um membro ou manter o equilíbrio. Um infarto do miocárdio (ataque cardíaco), o qual destrói tecido cardíaco, pode prejudicar apenas discretamente a capacidade de bombeamento de sangue ou pode acarretar a morte.

A doença afeta a anatomia, e alterações da anatomia podem causar uma doença. Crescimentos anormais, como o câncer, podem destruir diretamente o tecido normal ou podem produzir uma pressão, a qual, em última instância, provoca destruição. Se o suprimento sangüíneo a um tecido for bloqueado ou interrompido, o tecido morre (infarto), como no infarto do miocárdio (ataque cardíaco) ou no acidente vascular cerebral (derrame cerebral). Devido à relação entre a doença e a anatomia, os métodos de exame do interior do organismo tornaram-se a base do diagnóstico e do tratamento de doenças.

O primeiro grande avanço ocorreu com a radiografia, a qual permitiu aos médicos examinar o interior do organismo e os órgãos sem cirurgia. Um outro avanço importante foi a tomografia computadorizada (TC), na qual os raios X são associados a um computador. A TC produz imagens bidimensionais detalhadas do interior do organismo.

Outros métodos de produção de imagens de estruturas internas são a ultra-sonografia, a qual utiliza ondas sonoras; a ressonância magnética (RM), a qual detecta o movimento dos átomos em um campo magnético; e os estudos imagenológicos com radionuclídeos, os quais utilizam substâncias químicas radioativas injetadas no organismo. Tratam-se de técnicas não-invasivas que examinam o interior do organismo. A cirurgia, ao contrário, é um procedimento invasivo.

FONTE: MANUAL MERCK