ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Quimioterapia para o estágio 4 do câncer de pulmão de células não pequenas – nova atualização das diretrizes da ASCO


Autora: Zosia Chustecka

As diretrizes para a utilização da quimioterapia no tratamento de estágio 4 do câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) foram atualizadas pela American Society of Clinical Oncology (ASCO) e agora incluem detalhes sobre quanto usar as terapias direcionadas.

A atualização, a primeira desde 2003, foi publicada na edição eletrônica do Journal of Clinical Oncology e no web site da ASCO. Ela foi impelida por um grande número de estudos de revisão por pares, dizem os autores, liderados por Christopher Azzoli, médico, do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, na cidade de Nova York.

As novas recomendações são baseadas principalmente em melhorias estatisticamente significativas na sobrevida global documentadas em ensaios randomizados prospectivos e controlados, afirmam os autores. Eles acrescentam que estratégias de tratamento que demonstraram uma melhoria apenas na sobrevida livre de progressão induziram a um escrutínio maior sobre questões como toxicidade e qualidade de vida.

Terapia de primeira linha

As recomendações para o uso de agentes citotóxicos no tratamento de primeira linha não foram modificadas, mas existem várias recomendações adicionais para o uso de agentes direcionados.

As diretrizes estipulam que:

  • Em pacientes com uma capacidade funcional de 0 a 1, uma combinação de 2 drogas citotóxicas, compostas por platina, é recomendada.
  • Em pacientes com capacidade funcional de 2, a quimioterapia com um único agente é recomendada.
  • Pares de agentes citotóxicos não compostos por platina são aceitáveis em pacientes com contra-indicações à terapia com platina.
  • A quimioterapia de primeira linha deve ser interrompida na progressão da doença, ou após 4 ciclos em pacientes que não respondem ao tratamento. Combinações de duas drogas citotóxicas devem ser administradas por não mais do que 6 ciclos.


Os autores explicam que os compostos de platina são preferíveis aos que não contém o metal porque eles são superiores nas taxas de resposta e marginalmente superiores na sobrevida global. A escolha entre a cisplatina (Platinol) e a carboplatina (Paraplatin) é aceitável visto que nenhuma das duas é consistentemente superior, observam eles; a cisplatina pode ser mais eficaz, mas a carboplatina tem toxicidade menor.

Não existem dados suficientes para estreitar a seleção da combinação de pares de agentes compostos por platina com base somente na eficácia, e o clínico muitas vezes deve escolher quais drogas usar com base em outros fatores, incluindo cronogramas de dosagem e eventos adversos, eles acrescentam. A escolha de uma segunda droga do par de agentes compostos por platina pode incluir as seguintes: docetaxel (Taxotere), gemcitabina (Gemzar), irinotecano (Camptosar), paclitaxel (Taxol), pemetrexede (Alimta), ou vinorelbina (Navelbine).

Novas na atualização são as recomendações para o uso de agentes direcionados no tratamento de primeira linha, como as seguintes:

  • A adição do bevacizumabe (Avastin) ao par carboplatina/paclitaxel é recomendada, exceto em pacientes com determinadas características (isto é, aqueles com histologia de carcinoma de células escamosas, metástases cerebrais, hemoptise clinicamente significativa, função orgânica inadequada e capacidade funcional acima de 1, terapia anticoagulante, doença cardiovascular clinicamente significativa ou hipertensão não controlada por medicamentos).
  • A adição do cetuximabe (Erbitux) ao par cisplatina/vinorelbina pode ser considerada em pacientes com tumores com testes positivos para o receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR), conforme medido por imunohistoquímica.
  • O gefitinibe (Iressa) de primeira linha pode ser recomendado para pacientes com mutações ativadoras do EGFR. Contudo, se o estado de mutação do EGFR for negativo ou desconhecido, a quimioterapia citotóxica é preferível.
  • O Erlotinibe (Tarceva) ou o gefitinibe não devem ser utilizados como terapia de primeira linha em combinação com agentes citotóxicos em pacientes não selecionados no estágio 4 do CPCNP.

Tratamento de segunda e terceira linhas

Houve uma mudança nas drogas recomendadas para uso na terapia de segunda linha. Anteriormente, apenas o docetaxel (Taxotere) foi recomendado para uso após a progressão da doença com a terapia de primeira linha com agentes compostos por platina, e o gefitinibe foi recomendado após falha tanto das terapias com compostos de platina quanto com o docetaxel. Agora, as diretrizes alegam que docetaxel, gefitinibe, erlotinibe e pemetrexede são aceitáveis como terapias de segunda linha.

O comitê de diretrizes observa que o pemetrexede foi recentemente aprovado pela US Food and Drug Administration para a terapia de manutenção do câncer de pulmão de células não pequenas, mas isso é baseado em dados recentemente apresentados que estavam “fora do alcance” dos dados da ampla revisão empreendida.

A terapia de terceira linha com o erlotinibe pode ser recomendada para pacientes com uma capacidade funcional de 0 a 3 que apresentaram progressão da doença ou após a terapia de segunda linha e que não tinham recebido previamente o erlotinibe ou o gefitinibe. Não existem evidências suficientes para recomendar a favor ou contra a utilização de uma droga citotóxica como terapia de terceira linha, explicam os autores.

Existem evidências insuficientes para recomendar o uso de rotina de marcadores moleculares para selecionar o tratamento sistêmico em pacientes com CPCNP metastático. “Contudo, dados emergentes sugerem que este paradigma está mudando”, escrevem os autores. Alguns agentes parecem ser mais efetivos ou menos tóxicos em determinados subtipos histológicos, e estudos recentes evidenciaram que a terapia pode ser melhorada ao selecionar drogas com base em marcadores moleculares.

Além disso, as diretrizes atualizadas consideraram o tratamento de pacientes idosos, mas concluem que a idade não deve determinar qual tratamento um paciente deve receber. O comitê também reconhece que existem disparidades, ressaltando que um estudo recente que concluiu que apenas 36% dos pacientes afro-americanos com câncer de pulmão de células não pequenas em estágio 4 recebem a quimioterapia de primeira linha.

“As minorias étnicas e raciais experimentam desfechos piores [do que] os brancos em todos os estágios do câncer de pulmão, e essas disparidades devem-se frequentemente às barreiras de comunicação entre os médicos e seus pacientes”, disse o Dr. Azzoli em uma declaração. “Quando os pacientes recebem um tratamento clínico uniforme, essas disparidades são minimizadas”, ele acrescentou.

“A sobrevida dos pacientes no estágio 4 do CPCNP continua ruim, e todos os pacientes elegíveis devem ser encorajados a participar de ensaios de pesquisa clínica em qualquer momento do curso de suas doenças”, concluem os autores.

Grandes diferenças nos custos

Uma análise de custo-efetividade está “fora do alcance desta diretriz e não exerceu impacto nas recomendações”, explicam os autores, mas eles observam que os custos das drogas variam, e fornecem algumas estimativas em uma tabela, reproduzida, em parte, abaixo. As estimativas de custo se baseiam em dados dos Centers for Medicare and Medicaid Services.

Custo estimado de 2 ciclos de terapia

Medicamento

Custo estimado (U$)

Bevacizumabe

14.040

Carboplatina

146

Cetuximabe

18.981

Cisplatina

68

Docetaxel

5.060

Erlotinibe

9.114

Gefitinibe

4.255

Gemcitabina

6.914

Irinotecano

527

Paclitaxel

201

Pemetrexede

9.682

Vinorelbina

257

O Dr. Azzoli declara ter recebido financiamento à pesquisa da Allos Therapeutics, Sanofi-Aventis e da Genentech BioOncology. As relações financeiras de vários de seus co-autores estão detalhadas no trabalho.


J Clin Oncol. Published online November 16, 2009.

Informação sobre a autora: Zosia Chustecka é editora de notícias da Medscape Hematology-Oncology e anteriormente foi editora de notícias da jointandbone.org, um website adquirido pela WebMD. Jornalista médica veterana em Londres, Reino Unido, ela ganhou um prêmio da British Medical Journalists Association e é graduada em farmacologia. Escreveu para uma ampla variedade de publicações destinadas a profissionais médicos e da área de saúde.

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Fumo, hipertensão arterial e diabetes podem levar à demência


Fumo, hipertensão arterial e diabetes podem levar à demência


Autora: Allison Gandey

Pesquisadores reportam que o controle dos fatores de risco cardiovascular na meia-idade pode prevenir a demência na idade adulta.

Um novo estudo mostra que pessoas na meia-idade que fumam ou tem hipertensão arterial ou diabetes são mais propensas a desenvolver demência no futuro. Em um artigo publicado na edição eletrônica do Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry, pesquisadores sugerem que o controle dos fatores de risco cardiovascular na meia-idade pode prevenir a demência no futuro.

“Nossa população de estudo incluiu tanto brancos quanto afro-americanos”, o autor principal, Álvaro Alonso, médico, da University of Minnesota, em Mineápolis, contou à Medscape Neurology. “Pudemos, pela primeira vez, evidenciar que os fatores de risco cardiovascular na meia-idade estão associados à demência no futuro em grupos étnicos e raciais”.

Ao todo, os negros apresentaram uma taxa 2,5 vezes mais alta de demência do que os brancos. Mulheres negras, em particular, apresentaram as taxas mais altas.


Alto risco

Fumantes foram 70% mais propensos, em comparação àqueles que nunca fumaram, a desenvolver demência. Pessoas com hipertensão arterial foram 60% mais propensas, em comparação àquelas sem, a desenvolver demência, e pessoas com diabetes, em comparação àquelas sem, foram duas vezes mais propensas a experimentar comprometimento cognitivo.

Os pesquisadores também demonstraram que os fatores de risco cardiovascular medidos precocemente na vida foram preditores melhores de demência do que os fatores de risco medidos em uma idade mais avançada. “Esses resultados, novamente, apóiam a necessidade de prestar especial atenção aos fatores de risco cardiovascular na meia-idade”, afirmou o Dr. Alonso.

Os pesquisadores estudaram mais de 11.000 pessoas que fizeram parte do estudo Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC). Os participantes apresentavam idades entre 46 a 70 anos e se submeteram a um exame físico e teste cognitivo. Os pacientes foram acompanhados por mais de uma década para verificar quantos desenvolveriam demência mais tarde.

Os pesquisadores identificaram 203 pacientes hospitalizados com demência. Fumo, hipertensão arterial e diabetes foram todos fortemente associados a este diagnóstico.


Fatores de risco cardiovascular associados à demência

Fator de risco

Hazard Ratio

Intervalo de confiança de 95%

Fumo

1,7

1,2 a 2,5

Hipertensão

1,6

1,2 a 2,2

Diabetes

2,2

1,6 a 3,0

Em análises que incluíram informações atualizadas sobre os fatores de risco durante o acompanhamento, o hazard ratio de demência nos participantes hipertensos vs não hipertensos foi de 1,8 aos 55 anos de idade comparado a 1,0 aos 70 anos de idade ou mais.

Os pesquisadores observaram resultados semelhantes para o diabetes, com um hazard ratio de 3,4 aos 55 anos de idade e de 2,0 naqueles com mais de 70 anos. Para o fumo, o hazard ratio foi de 4,8 aos 55 anos de idade e de 0,5 em pacientes com 70 anos ou mais.

“Nós só pudemos identificar os indivíduos com demência que compareceram a um hospital”, apontou o Dr. Alonso. “Portanto, é muito provável que estejamos perdendo algumas pessoas com demência. Ainda, fizemos algumas análises adicionais para determinar se isso poderia enviesar nossos resultados. Ao todo, estamos confiantes que esta limitação não tem um grande impacto em nossas conclusões globais”.

Os autores apontam para outra crítica que poderia explicar os resultados do estudo. “Um fator não mensurado em nossa população poderia ser associado à presença de fatores de risco cardiovascular e também aumentar o risco de demência”, acrescentou o Dr. Alonso. Por exemplo, um marcador genético que aumenta tanto o risco de hipertensão quanto o de demência poderia estar em jogo.

“Isso é uma possibilidade”, disse ele, “mas em nossa análise, nós ajustamos as variáveis mais importantes associadas aos fatores de risco cardiovascular e demência, incluindo alguns fatores genéticos como a apolipoproteína E”.


Ruim para o coração e para o cérebro

Na edição de agosto de Dementia and Geriatric Cognitive Disorders, os pesquisadores chegaram a uma conclusão semelhante e reportaram que o colesterol elevado na meia-idade pode aumentar o risco de demência (Dement Geriatr Cogn Disord. 2009;28:75–80).

Como anteriormente divulgado pela Medscape Neurology, a autora principal Alina Solomon, médica, da University of Kuopio, na Finlândia, utilizou dados do Kaiser Permanente Northern California Medical Group para investigar a relação entre o colesterol e a demência e concluiu que até mesmo níveis de colesterol de 200 a 239 mg/dL podem aumentar o risco.

A Dra. Solomon afirmou: “tanto médicos quanto pacientes precisam saber que o colesterol elevado aumenta o risco não apenas de doença cardíaca como também de demência”.

Durante uma entrevista quando o estudo de Solomon foi divulgado pela primeira vez, Robert Stewart, médico, do King’s College London, no Reino Unido, afirmou que os dados são convincentes e consistentes com aqueles de outros estudos que rastrearam populações comunitárias para este transtorno.

“Em geral”, disse o Dr. Stewart, “há no momento um grande corpo de evidência que indica que o que é ruim para o coração também é ruim para o cérebro – isso é, que fatores de risco bem conhecidos para doença cardíaca coronariana e acidente vascular encefálico também são fatores de risco para demência”.


O estudo ARIC foi financiado pelo
National Heart, Lung and Blood Institute. Os pesquisadores não declararam quaisquer relações financeiras relevantes.


J Neurol Neurosurg Psychiatry. Published online August 19, 2009.

Informações sobre a autora: Allison Gandey é jornalista da Medscape. Ela é ex-analista de assuntos científicos do Canadian Medical Association Journal, possui mestrado em jornalismo especializado em ciências da Carleton University, já editou várias publicações para associações médicas e trabalho no rádio e na televisão.

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