ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

ARTROSE

Artrose (do grego artros - articulação e do latim ose - desgaste), também chamada de osteoartrose, é um processo e não uma doença. Trata-se de um fenômeno absolutamente natural - o desgaste da cartilagem que reveste nossas articulações ou juntas - que faz parte do envelhecimento global do organismo humano. Pode ser também chamada de osteoartrose.
É do senso comum que fiquemos com cabelos brancos, com rugas ou que apareçam as chamadas manchas senis em nossas mãos. Mas é surpreendente como não conseguimos encarar fatos simples como o engrossamento das articulações dos dedos das mãos, o aumento de nossas articulações do dedão dos pés, o aparecimento de bicos-de-papagaio em uma radiografia de rotina. A confusão logo se instala: devo estar com reumatismo:
preciso procurar um Reumatologista.
Aí se inicia a confusão: reumatismo (do grego reuma - fluido) não é uma doença, mas um termo genérico que significa apenas dor nas juntas. A confusão piora quando traduzimos textos do inglês: na língua de Shakespeare, reumatismo (rheumatism) é sinônimo de arthritis. Nos textos em inglês, a artrose ou osteoartrose é chamada osteoarthritis e está formada a bagunça semântica.
Numa primeira consulta, salta aos olhos a falta de clareza: qual a diferença entre artrite e artrose? Esta é a pergunta infalível, fruto de uma confusão primariamente semântica: artrite (do grego artros - articulação e do latim ite - inflamação) denota a presença de uma das três características definidas por Galeno (século III d.C): dor, calor e rubor.
A artrite é sempre um evento patológico, que denota uma doença. Existem mais de cem causas de artrite ou inflamação articular: a mais comum e temida é a Artrite Reumatóide, doença de origem autoimune que provoca grave acometimento das articulações, com grande destruição das mesmas. Mas existe também a artrite psoriática, associada a formas graves de psoríase cutânea, a artrite gotosa ou gota, causada pelo depósito de cristais de ácido úrico (urato), a artrite reativa, causada por infecções, a artrite que acompanha doenças sistêmicas como o Lúpus Eritematoso, entre muitas mais.
Quando falamos de artrose ou osteoartrose, estamos falando de um reumatismo, mas de um reumatismo diferente: aquele que todos vamos ter (se já não temos). É o reumatismo causado pelo desgaste articular, também chamado de degenerativo. Este caráter de desgaste é muito mal compreendido e associado a doença de velhos.
Não se trata de doença, apesar do mau uso da língua e do sensacionalismo da imprensa leiga que, traduzindo textos do inglês, anuncia: o mundo tem uma epidemia de artrite (tradução equivocada de osteoarthritis ou arthritis).
A proposta deste texto é tentar aclarar o significado deste processo pelo qual todos haveremos de passar, se vivermos o suficiente: a artrose.

Quando atingimos o auge do nosso desenvolvimento músculo-esquelético (algo em torno dos 28 anos), já se inicia um silencioso processo de desgaste articular. Se submetermos alguma de nossas articulações a um estresse precoce, como esportes em nível competitivo ou traumas, este processo pode ser ainda mais precoce. Todos conhecemos jogadores de futebol, tenistas e nadadores com desgaste precoce de joelhos, quadris ou ombros.
O desgaste da cartilagem articular se deve a uma particularidade do tecido que reveste as articulações: os condrócitos, células formadoras do tecido cartilaginoso, não se regeneram (faz parte do senso comum a compreensão de que apenas os neurônios, células do tecido nervoso, não podem se regenerar). Assim, uma vez destruído um condrócito, não há peças sobressalentes para reparar a cartilagem. Além disso, a cartilagem articular não é vascularizada, ou seja não recebe seus nutrientes através de vasos sanguíneos, mas se nutre apenas por embebição (como uma esponja) a partir do osso situado logo abaixo da cartilagem, chamado osso subcondral.

A partir do nosso pico de desenvolvimento osteo-articular, começa um lento, insidioso e inicialmente assintomático processo de desgaste, desidratação e afilamento da cartilagem: a chamada artrose.
Apesar de ser um fenômeno universal (todos vamos ter), nem todos teremos uma artrose igual à de nosso vizinho: por fatores genéticos, algumas pessoas têm artrose um pouco mais precoce; umas têm artrose nas mãos (como suas mães ou avós), outras nos joelhos (em função de excesso de peso ou de joelhos em valgo - em xis - ou varo - pernas tortas à Garrincha), outras nos quadris, outras na coluna (bicos de papagaio). Em algumas pessoas, a artrose pode se comportar mais agressivamente, com um componente inflamatório local, gerando a artrose erosiva, muitas vezes confundida com a Artrite Reumatóide. Felizmente, esta é uma minoria dos casos.
Um fato cruel para as mulheres é que a artrose, já iniciada silenciosamente, apresenta uma grande exacerbação após a menopausa. Assim, é frequente que os sintomas da artrose se iniciem próximo desta fase nem sempre fácil da vida da mulher. Os homens também têm artrose, mas o processo costuma ser mais lento, exceto naqueles onde a herança genética é mais intensa.

Assim, o processo de desgaste da cartilagem articular, fenômeno universal entre aqueles que passam dos 40 ou 45 anos, fica mais simples de ser compreendido e aceito. Não devemos apenas menosprezá-lo e fazer como os médicos de antigamente, dizendo: isso é assim mesmo, você precisa conviver com a dor. A artrose muitas vezes não causa dor, mas quando isto acontece, devemos tratá-la da melhor maneira possível.
Como ainda não descobrimos como regenerar o tecido cartilaginoso, devemos tratar os sintomas da artrose com analgésicos (sempre) e antiinflamatórios (somente nas crises). Há medicamentos capazes de retardar o processo e amenizar seus sintomas: a glucosamina (associada ou não à condroitina), os chamados insaponificáveis do abacate, entre outros. O uso de medicamentos como a hidroxicloroquina pode ser útil nas artroses erosivas.
Mas a medicação é apenas uma pequena parte do tratamento da artrose. Perder peso, fortalecer globalmente a musculatura, utilizar técnicas como a hidroterapia e outras formas de tratamento fisioterapêutico, associar acupuntura como aliada no combate à dor; tudo isto constitui um conjunto de medidas capazes de melhorar muito os sintomas da artrose.
Assim, compreendendo melhor o significado desse processo, podemos ajudar os pacientes a tomar consciência da necessidade de uma mudança de hábitos de vida, cuidando melhor dessas preciosas dobradiças que garantem todos os nossos movimentos: as articulações.
Fonte: http://www.hospitalsiriolibanes.org.br/hospital/especialidades/Nucleo-Avancado-Reumatologia/Paginas/artrose.aspx