ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Distúrbios dos Lábios, da Boca e da Língua



Quando saudável, o revestimento da boca (mucosa oral) possui uma coloração rósea avermelhada e as gengivas, que ajustam-se firmemente aos dentes, possuem uma coloração rósea mais pálida. O teto da boca (palato) é dividido em duas partes: a parte anterior possui cristas e é dura (palato duro) e a posterior é relativamente lisa e macia (palato mole). Um bordo úmido-seco (bordo vermilhão) delimita claramente a superfície interna e externa dos lábios. A superfície externa é semelhante à pele e a interna é a mucosa úmida. Normalmente, a língua não é lisa, ela é recoberta por pequenas proeminências (papilas), as quais contêm os botões gustativos. A boca pode ser afetada por condições locais (condições que afetam apenas uma área específica do corpo) como, por exemplo, algumas infecções e lesões. Além disso, doenças sistêmicas (doenças que afetam o organismo em geral) como, por exemplo, o diabetes, a AIDS e a leucemia, podem causar alterações na boca. Algumas vezes, os primeiros sinais dessas doenças manifestamse na boca e são identificados por um dentista.

Distúrbios da Boca

Os problemas que podem manifestar-se na boca incluem feridas e tumores variados como, por exemplo, as aftas e os tumores cancerosos. Além disso, o revestimento da boca ou do palato pode sofrer certas alterações de cor. Outros problemas incluem a halitose (mau hálito) e os distúrbios das glândulas salivares.

Ansiedade Induzida por Drogas ou Problemas Médicos

As aftas são pequenas ulcerações dolorosas que aparecem na mucosa bucal. A sua causa é desconhecida, mas parece que o estresse tem um papel importante. Por exemplo, um estudante universitário pode apresentar aftas durante a semana de exames finais. Uma afta é uma mancha esbranquiçada, redonda e com uma borda avermelhada. A lesão quase sempre forma-se sobre um tecido mole e frouxo, sobretudo no interior do lábio ou na bochecha, sobre a língua ou no palato mole e, algumas vezes, na garganta. As aftas pequenas (com menos de 1 centímetro de diâmetro) freqüentemente ocorrem em grupos de duas ou três. Geralmente, elas desaparecem espontaneamente em dez dias, não deixando cicatrizes. As aftas grandes são menos comuns. Elas podem apresentar uma forma irregular, podem levar várias semanas para cicatrizar e, freqüentemente, deixam cicatrizes.

Sintomas

O principal sintoma de uma afta é a dor, que é geralmente muito mais intensa do que seria de se esperar de algo tão pequeno. A dor dura de quatro a dez dias, piora quando a língua roça a lesão ou quando o indivíduo ingere alimentos quentes ou condimentados. As aftas graves podem causar febre, aumento das glândulas do pescoço e uma sensação de mal-estar generalizado. Muitas pessoas apresentam aftas repetidamente (uma ou mais vezes por ano).

Diagnóstico e Tratamento

O médico ou o dentista identifica a afta pelo seu aspecto e pela dor que ela produz. No entanto, as lesões causadas pelo vírus do herpes simples podem ser semelhantes às aftas. O tratamento consiste no alívio da dor até que as lesões curem espontaneamente. Um anestésico (p.ex., lidocaína viscosa) pode ser aplicado sobre as aftas ou pode ser utilizado como colutório (para enxágüe bucal). Esse anestésico alivia a dor durante vários minutos e pode tornar a alimentação menos dolorosa, apesar dele também poder comprometer o paladar. A carboximetilcelulose, um revestimento protetor, também pode ser aplicada para aliviar a dor. Se o indivíduo apresentar muitas aftas, o médico ou dentista pode receitar um colutório contendo tetraciclina. Aqueles com recidivas de aftas graves podem utilizar esse colutório assim que surgir uma nova afta. Uma outra opção terapêutica é a cauterização com nitrato de prata, o qual destrói os nervos localizados a afta. Ocasionalmente, o médico ou dentista prescreve uma pomada de corticosteróide, que é aplicada diretamente sobre as aftas mais graves. Nos casos graves, o enxágüe bucal com dexametasona ou comprimidos de prednisona podem ser prescritos.

Infecção Oral por Herpes

A infecção oral primária por herpes (gengivoestomatite herpética primária) é uma infecção primária causada pelo vírus do herpes simples . Ela pode causar lesões dolorosas de desenvolvimento rápido nas gengivas e em outras partes da boca. O herpes secundário (herpes labial recidivante) é uma reativação local do vírus que produz uma úlcera nos lábios.

Causa e Sintomas

É comum um lactente contrair o vírus do herpes simples de um adulto com herpes labial. A infecção primária do lactente (herpes primário) causa inflamação generalizada das gengivas e uma dor generalizada na boca. Ele pode apresentar febre, aumento dos linfonodos do pescoço e mal-estar generalizado. Além disso, a criança pode ficar irritadiça. A maioria dos casos é leve e passa desapercebida. Os pais freqüentemente confundem o problema com a eclosão de dentes ou com uma outra doença. Em dois a três dias, ocorre a formação de bolhas muito pequenas (vesículas) na boca da criança. Essas vesículas podem passar desapercebidas porque elas rompem rapidamente e deixam a boca em carne viva e dolorida. A dor pode ser sentida em qualquer parte da boca, mas sempre inclui as gengivas. Apesar da criança melhorar em aproximadamente uma semana, o vírus do herpes simples nunca mais deixará o seu corpo e a infecção apresenta novos episódios em um outro momento da vida (herpes secundário).

Os indivíduos que não apresentam herpes oral na infância mas contraem a infecção na vida adulta geralmente apresentam sintomas mais graves. Ao contrário da infecção original, que causa lesões disseminadas na boca, os episódios subseqüentes comumente causam o herpes labial (bolhas febris) e, em geral, são desencadeados por queimaduras solares nos lábios, pelo resfriado, pela febre, por alergias alimentares, por lesões bucais, por um tratamento odontológico ou pela ansiedade. Um ou dois dias antes do surgimento de uma vesícula, o indivíduo pode sentir um formigamento ou um incômodo (pródromo) no local onde irá ocorrer a erupção.

Essa sensação é difícil de ser descrita, mas ela é facilmente identificada por aqueles que já apresentaram herpes anteriormente. Uma ferida aberta e em carne viva surge sobre a superfície externa do lábio e, em seguida, ocorre a formação de crosta. No interior da boca, a ferida é mais comum no palato. As feridas da boca começam como pequenas vesículas que rapidamente coalescem e formam uma úlcera vermelha e dolorosa. Apesar de ser meramente um incômodo doloroso para a maioria das pessoas, os episódios de herpes simples podem colocar em risco a vida de indivíduos que apresentam um sistema imune comprometido por doenças (p.ex., AIDS) ou pela quimioterapia, pela radioterapia ou por um transplante de medula óssea. Nesses casos, as ulcerações grandes e persistentes na boca podem interferir na alimentação e a disseminação do vírus ao cérebro pode ser fatal.

Tratamento

O objetivo do tratamento do herpes primário é o alívio da dor, de modo que o indivíduo possa dormir, alimentar-se e beber normalmente. A dor pode impedir que a criança coma e beba e isto, combinado com a febre, pode levar rapidamente à desidratação. Portanto, a criança deve ingerir o máximo possível de líquidos. Os adultos ou as crianças maiores devem fazer bochechos com um anestésico (p.ex., lidocaína) prescrito pelo médico para aliviar a dor. O bochecho com bicarbonato de sódio também pode ser útil. O tratamento do herpes secundário é mais eficaz quando iniciado antes do surgimento das lesões, isto é, assim que o indivíduo apresenta o pródromo do episódio. O uso de vitamina C durante o pródromo pode acelerar o desaparecimento das ulcerações.

A proteção dos lábios contra a luz solar direta, usando um chapéu com aba ou um bálsamo labial contendo filtro solar, poderá diminuir as incidência dos episódios de herpes simples. Além disso, o indivíduo deve evitar atividades e alimentos que sabidamente desencadeiam os episódios. Qualquer pessoa que apresenta episódios graves e freqüentes pode beneficiar-se com o uso prolongado de lisina (disponível em lojas de alimentos naturais). Uma pomada contendo aciclovir reduz a gravidade de um episódio e acelera o desaparecimento das lesões. Bálsamos labiais (p.ex., de vaselina) impedem que os lábios rachem, reduzindo o risco de disseminação do vírus às áreas vizinhas. Os adultos com lesões graves devem ser tratados com antibióticos para prevenir as infecções bacterianas. No entanto, esses medicamentos não afetam o vírus. Para os casos graves e para aqueles que apresentam deficiências do sistema imune, podem ser prescritas cápsulas de aciclovir. Os corticosteróides não são utilizados contra o herpes simples, pois esses medicamentos podem permitir a disseminação da infecção.

Outras Lesões e Tumores Bucais

Qualquer lesão que dure duas ou mais semanas deve ser examinada por um dentista ou médico, especialmente quando ela não for dolorosa. As lesões dolorosas na parte interna do lábio ou da bochecha geralmente possuem causas menos sérias. Elas pode ser aftas ou podem ser resultantes de mordidas acidentais do lábio ou da bochecha. Freqüentemente, as lesões no interior da boca são brancas e, algumas vezes, com bordas vermelhas. Pode ocorrer uma lesão quando o indivíduo mantém um comprimido de aspirina entre a bochecha e a gengiva, em um esforço inadequado para aliviar uma dor de dente. As úlceras bucais podem ser um sinal da síndrome de Behçet, que também pode causar ulcerações oftálmicas e genitais.

No primeiro estágio da sífilis, o indivíduo pode apresentar uma lesão branca e indolor (cancro) na boca ou nos lábios, entre a 1a e a 13a semana após a prática de sexo oral. Geralmente, a lesão desaparece após algumas semanas. Após 1 a 4 meses, o indivíduo pode apresentar um sinal tardio da sífilis não tratada, uma lesão branca (placa mucosa), no lábio ou, mais freqüentemente, no interior da boca. Nesses estágios, tanto o cancro quanto a placa mucosa são tão contagiosos que mesmo um beijo pode disseminar a doença. O assoalho da boca é uma área comum de localização do câncer, particularmente em indivíduos de meia-idade, idosos alcoolistas ou tabagistas. Além disso, vários tipos de cistos também podem desenvolver-se no assoalho da boca.

Freqüentemente, esses cistos são removidos cirurgicamente por serem incômodos. Grandes vesículas cheias de líquido podem formar- se em qualquer local da boca. Comumente, elas são decorrentes de alguma lesão, mas podem estar relacionadas a doenças como, por exemplo, o pênfigo. Algumas doenças virais (p.ex., sarampo) também podem causar anomalias temporárias no interior das bochechas, especialmente em crianças. As infecções que se disseminam a partir de dentes cariados da arcada inferior podem ser graves. Uma infecção muito grave, denominada angina de Ludwig, causa edema intenso do assoalho da boca, chegando mesmo a forçar a língua para cima, bloqueando as vias aéreas.

Quando isto ocorre, são necessárias medidas emergenciais para manter o indivíduo respirando. Quando um indivíduo morde o lado interno da bochecha com freqüência ou lesa o interior da boca repetidamente de alguma outra maneira, pode ocorrer a formação de um fibroma por irritação. Essa pequena tumefação indolor e firme pode ser removida cirurgicamente. Verrugas podem infectar a boca se o indivíduo chupar uma verruga que cresce em um dedo. Um tipo diferente de verruga (condiloma acuminado) também pode ser transmitido através do sexo oral. O médico utiliza vários métodos para tratar verrugas.

Palato

A sialometaplasia necrosante é uma ruptura súbita da superfície do palato, criando uma lesão aberta ao cabo de um ou dois dias. A sialometaplasia necrosante é indolor, apesar da lesão geralmente ser extensa e poder ser alarmante. Freqüentemente, esse distúrbio ocorre após uma lesão da área (p.ex., um procedimento odontológico) e desaparece em dois meses. No meio do palato, pode ocorrer a formação de uma proeminência óssea de crescimento lento (toro). Trata-se de uma tumoração dura comum e inofensiva. Ela aparece durante a puberdade e persiste por toda a vida.

Mesmo uma tumoração grande não deve ser tratada, exceto quando a mucosa que reveste o toro é lesada durante a ingestão de alimentos ou se uma prótese dentária cobrir a região. Os tumores do palato, tanto os cancerosos quanto os não cancerosos, ocorrem com maior freqüência em indivíduos com idade entre quarenta e sessenta anos. Nos estágios iniciais, os sintomas são poucos, embora, às vezes, seja observado um edema do palato ou um desajuste da prótese dentária superior. A dor ocorre muito mais tarde. Nos estágios mais avançados da sífilis, é comum ocorrer a formação de um tumor no palato (goma).

Alterações da Cor

Se um indivíduo apresenta anemia, o revestimento bucal torna-se pálido, deixando de apresentar a sua coloração róseo-avermelhada saudável e normal. Se a anemia for tratada, a cor normal retornará. O médico ou o dentista deve examinar as áreas da boca que apresentam uma alteração recente da coloração, pois elas podem indicar uma doença das adrenais ou um câncer (melanoma). Um indivíduo pode apresentar áreas brancas que aparecem em qualquer local da boca que são simplesmente resíduos alimentares que podem ser fácilmente removidos. No entanto, se a área estiver em carne viva, for dolorosa e sangrar após a limpeza, o problema poderá ser uma infecção fúngica (monilíase, candidíase ou “sapinho”).

Além disso, as áreas brancas na boca também podem ser causadas pelo espessamento da camada de queratina. Essas áreas são denominadas leucoplasia. A queratina é uma proteína resistente que normalmente protege a camada mais externa da pele. No entanto, ela também é encontrada em pequenas quantidades no revestimento bucal. Algumas vezes, a queratina pode acumular-se na boca, particularmente em indivíduos tabagistas ou naqueles que têm o hábito de cheirar rapé ou de mascar fumo. Podem ocorrer áreas avermelhadas na boca (eritroplasia) quando o revestimento bucal torna- se mais fino e os vasos sangüíneos tornam-se mais evidentes que o habitual.

As áreas brancas ou vermelhas podem ser não cancerosas (benignas), pré-cancerosas ou cancerosas (malignas). Essas áreas devem ser examinadas sem demora por um dentista ou um médico. Quando um indivíduo apresenta uma malha delicada de linhas brancas (líquen plano) no interior das bochechas ou no lado da língua, ele também pode apresentar uma erupção cutânea pruriginosa. O líquen plano causa lesões dolorosas, mas, na maioria das vezes, ele não causa desconforto. O primeiro sinal do sarampo podem ser manchas semelhantes a pequenos grãos de areia branca circundados por um anel vermelho (manchas de Koplik), localizadas na parte interna das bochechas e opostas aos dentes posteriores.

Palato

As alterações da cor do palato podem ser decorrentes de irritação ou de infecção. O palato de um indivíduo que fuma cachimbo há muito tempo apresenta um aspecto branco, granuloso, duro e com muitas manchas vermelhas (palato do fumante). Caso determinadas lesões persistirem por um período superior a duas semanas, um médico ou um dentista deve ser consultado. Após a prática de sexo oral intenso com uma pessoa do sexo masculino, podem surgir no palato pequenas manchas vermelhas, como cabeças de alfinetes, decorrentes da ruptura de vasos sangüíneos (petéquias).

Essas manchas desaparecem em poucos dias, mas também podem ser sinal de uma alteração sangüínea ou da mononucleose infecciosa. As áreas avermelhadas e aumentadas de volume sobre o palato são mais freqüentemente resultantes de próteses dentárias mal ajustadas ou que são mantidas na boca durante muito tempo. Geralmente, todas as próteses dentárias removíveis, excetuando-se os aparelhos ortodônticos, devem ser retiradas na hora de dormir, devem ser limpas e colocadas em um copo com água. Um indivíduo com AIDS pode apresentar manchas arroxeadas no palato causadas pelo sarcoma de Kaposi. Para aliviar o desconforto e melhorar o aspecto do palato, o médico pode tratar essas manchas.

Halitose

A halitose (mau hálito) pode ser real ou imaginária. A causa real mais comum é a combinação de resíduos alimentares alojados entre os dentes e a má higiene bucal que acarreta doenças e infecções gengivais. A escovação e o uso de fio dental adequados podem eliminar o problema. Os odores provenientes de alimentos que contêm óleos voláteis (p.ex., cebola e alho) passam da circulação sangüínea aos pulmões e são eliminados na expiração. Esses odores não podem ser eliminados pela higiene bucal. Certas doenças também causam halitose. A insuficiência hepática confere à respiração um odor muito desagradável; a insuficiência renal faz com que o hálito tenha um odor de urina; e o diabetes grave e descontrolado confere ao hálito um odor de acetona. Um abcesso pulmonar causa uma halitose muito intensa.

Distúrbios das Glândulas Salivares

As duas maiores glândulas salivares estão localizadas logo atrás do ângulo da mandíbula, em frente às orelhas. Dois pares menores situam-se na parte mais profunda do assoalho da boca. Outras glândulas salivares minúsculas estão distribuídas por toda a boca. Quando o fluxo de saliva é insuficiente, a boca resseca. Como a saliva oferece uma certa proteção natural contra as cáries dentárias, uma menor quantidade de saliva pode acarretar um maior número de cáries. A boca seca pode ser decorrente da ingestão de uma quantidade muito pequena de líquido, da respiração pela boca ou de certos medicamentos ou doenças que afetam as glândulas salivares (p.ex., síndrome de Sjögren). A boca também resseca à medida que o indivíduo envelhece.

O acúmulo de cálcio, formando um cálculo, pode bloquear o ducto de drenagem de uma glândula salivar. Esse bloqueio causa um refluxo de saliva e provoca aumento de volume da glândula. Infecções bacterianas também podem ocorrer. Se o aumento de volume piorar imediatamente antes das refeições ou sobretudo quando o indivíduo come um picles, ele é seguramente decorrente do bloqueio do ducto. A razão é que a antecipação do sabor ácido do picles estimula o fluxo da saliva, mas, se o ducto estiver bloqueado, a saliva não tem como drenar. Algumas vezes, um dentista pode extrair o cálculo pressionando o ducto bilateralmente. Se essa manobra não for bem sucedida, é utilizado um instrumento de arame fino para extrair o cáculo.

Como último recurso, será realizada a remoção cirúrgica do mesmo. Uma lesão no lábio inferior – por exemplo, em decorrência de uma mordida – pode lesionar uma diminuta glândula salivar, bloqueando o fluxo de saliva. Em decorrência, a glândula pode aumentar de volume e formar um pequeno tumor tenro (mucocele) com um aspecto azulado. No decorrer de algumas semanas, o tumor geralmente desaparece por si, mas ele pode ser facilmente removido através de uma cirurgia dentária se ele tornar-se incômodo ou apresentar recorrência freqüente.

A parotidite, determinadas infecções bacterianas e outras patologias podem provocar aumento de volume das principais glândulas salivares. O aumento de volume também pode ser resultante de tumores neoplásicos ou não neoplásicos das glândulas salivares; habitualmente essa tumefação é mais firme que a causada por uma infecção. Se o tumor é canceroso, a glândula poderá estar com uma dureza de pedra. Inflamação e infecção das glândulas salivares, freqüentemente causadas por um cálculo (pedra) que está bloqueando o ducto salivar, ocorrem mais amiúde que os tumores. Apesar disso, qualquer inchaço de glândula salivar justifica atenção médica. Para determinar a causa do inchaço, o dentista ou médico retira uma amostra (biópsia) de tecido de glândula salivar.

Alterações dos Lábios

Os lábios podem sofrer alterações de tamanho, de cor e de superfície. Algumas dessas alterações são inofensivas. Por exemplo, quando um indivíduo envelhece, os seus lábios podem tornar-se mais finos. Outras alterações podem indicar problemas de saúde.

Tamanho dos Lábios

Uma reação alérgica pode fazer com que os lábios aumentem de volume. A reação pode ser causada pela sensibilidade a determinados alimentos, medicações, cosméticos ou irritantes existentes no ar. No entanto, em pelo menos cinqüenta por cento das vezes, a causa permanece sendo um mistério. Várias outras condições podem fazer com que os lábios aumentem de volume. Uma doença hereditária, o angioedema, causa episódios recorrentes de inchaço. Doenças não hereditárias (p.ex., eritema multiforme, queimadura solar ou traumatismos) também causam inchaço labial. Certos tipos de aumento intenso do volume dos lábios podem ser reduzidos com injeções de esteróides. Para outros tipos, para melhorar o aspecto, o tecido labial excessivo pode ser removido cirurgicamente. Com a idade, os lábios podem tornar-se mais finos. Por razões estéticas, eles podem ser aumentados com injeções de colágeno ou de gordura retirada de outra parte do corpo. Contudo, a cirurgia dos lábios apresenta algum risco de distorcer as bordas externas lisas dos lábios.

Cor e Superfície dos Lábios

A descamação labial pode ser acarretada pelos raios solares ou pelo tempo frio e seco, assim como por uma reação alérgica a batons, cremes dentais, alimentos ou bebidas. Após a eliminação da causa, os lábios geralmente retornam ao normal. Algumas vezes, o médico pode prescrever uma pomada de corticosteróide para interromper a descamação. A lesão solar em particular pode tornar os lábios duros e secos, especialmente o lábio inferior. Pontos vermelhos ou uma película esbranquiçada indicam uma lesão que aumenta a chance de um câncer subseqüente. Esse tipo de lesão solar grave pode ser reduzido pela proteção dos lábios com um bálsamo labial que contenha filtro solar ou pela proteção do rosto contra os raios solares perigosos com um chapéu com aba.

As sardas e as áreas acastanhadas de formas irregulares (máculas melanóticas) são comuns em torno dos lábios e podem durar vários anos, mas não são preocupantes. No entanto, as manchas de cor castanho escuro, pequenas e espalhadas podem ser um sinal de uma doença intestinal hereditária, na qual ocorre a formação de pólipos no estômago e nos intestinos (síndrome de Peutz-Jeghers). A síndrome de Kawasaki pode causar ressecamento e rachaduras nos lábios e hiperemia (inflamação) do revestimento da boca. Na inflamação dos lábios (queilite), os cantos da boca tornam-se dolorosos, irritados, vermelhos, rachados e descamativos. Pode ocorrer o desenvolvimento de uma monilíase (“sapinho”) nos cantos da boca, acarretando a persistência das lesões.

A queilite pode ser decorrente de deficiência de riboflavina (uma vitamina do complexo B) na dieta. No Brasil, a deficiência de riboflavina está associada à desnutrição, principalmente em crianças de condição socio-econômica menos favorecida. Se próteses dentárias totais não afastam os maxilares adequadamentes, pode ocorrer a formação de pregas cutâneas verticais e a irritação da pele dos cantos da boca. O tratamento consiste no ajuste ou na substituição das próteses dentárias. Uma área elevada ou uma lesão com bordas duras sobre o lábio pode ser uma forma de câncer labial.

Alterações da Língua

O traumatismo é a causa mais comum de afecções da língua, que possui muitas terminações nervosas para a dor e o tato e, por essa razão, é muito mais sensível à dor que a maioria das outras partes do corpo. Freqüentemente, a língua é mordida acidentalmente, mas ela cicatriza rapidamente. Um dente ou uma restauração pontiaguda ou quebrada pode lesar consideravelmente esse tecido delicado. Um aumento excessivo das proeminências normais da língua pode lhe conferir um aspecto piloso. Esses “pêlos” podem mudar de cor quando o indivíduo fuma ou masca fumo, consome determinados alimentos ou quando ocorre proliferação de determinadas bactérias sobre a língua. A língua também pode apresentar um aspecto peludo após uma febre ou uma antibioticoterapia ou quando o indivíduo realiza enxágües muito freqüentes com peróxido.

A parte superior da língua pode tornar-se preta quando o indivíduo toma medicações contendo bismuto para um distúrbio gástrico. A escovação da língua com uma escova de dentes pode eliminar essa coloração. O desenvolvimento de uma malha de linhas brancas ou de um material semelhante ao coalho sobre os lados da língua, que ao serem eliminados deixam uma superfície sangrante, pode ser um indício de monilíase (“sapinho”). A hiperemia (cor avermelhada) da língua pode ser um sinal da anemia perniciosa ou de uma deficiência vitamínica. A anemia ferropriva (por deficiência de ferro) confere à língua um aspecto pálido e liso (devido a perda de suas proeminências normais). O primeiro sinal de escarlatina pode ser uma alteração da cor normal da língua para uma cor de morango e, em seguida, para a cor de amora.

Manchas esbranquiçadas, similares àquelas que são algumas vezes observadas no interior das bochechas, podem acompanhar a febre, a desidratação, o segundo estágio da sífilis, a monilíase, o líquen plano, a leucoplasia ou a respiração pela boca. A língua vermelha e lisa e a dor na boca podem indicar a pelagra, um tipo de desnutrição causada por uma deficiência de niacina na dieta. Na língua geográfica, algumas áreas são brancas, enquanto outras são vermelhas e lisas. As áreas com a coloração alterada mudam de local ao cabo de alguns anos ou ao longo da vida. Geralmente, a afecção é indolor e não requer qualquer tratamento. Apesar da presença de pequenas protuberâncias em ambos os lados da língua geralmente ser inofensiva, a presença de uma protuberância em apenas um dos lados pode indicar um câncer.

Áreas vermelhas ou brancas, lesões ou proeminências sobre a língua sem explicação plausível (particularmente quando for indolor) podem ser sinais de câncer e devem ser examinadas por um médico. A maioria dos cânceres bucais localizam-se nos lados da língua ou no assoalho da boca. O câncer quase nunca localiza-se na parte superior da língua. O vírus do herpes simples, a tuberculose, infecções bacterianas ou a sífilis (estágio inicial) podem causar lesões na língua. Elas também podem ser causadas por alergias ou doenças do sistema imune. A glossite é a inflamação (rubor, dor, edema) da língua. A glossodinia é uma sensação de queimação ou de dor na língua. Geralmente, ela não tem um aspecto característico ou uma causa evidente. No entanto, a pressão exercida pela língua sobre os dentes, uma reação alérgica ou substâncias irritantes (p.ex., álcool, temperos ou tabaco) podem causar essa sensação. A mudança da marca do dentifrício, do líquido para higiene bucal ou da goma de mascar pode prover algum alívio. Algumas vezes, a glossodinia é um sinal de distúrbio emocional ou de doença mental. Medicamentos ansiolíticos em doses baixas podem ser úteis. Independentemente da causa, esse problema freqüentemente desaparece com o tempo.

Fonte: Manual Merck