ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Distúrbios do Ouvido Externo


O ouvido externo é formado pela parte externa do ouvido (orelha, pavilhão auricular) e pelo canal auditivo (meato auditivo externo). Os distúrbios do ouvido externo incluem obstruções, infecções, lesões e tumores.

Obstruções

O cerume (cera de ouvido) pode obstruir o canal auditivo, causando prurido (coceira), dor e perda auditiva temporária. O médico pode remover o cerume lavando delicadamente o canal auditivo com água morna (irrigação). No entanto, quando um indivíduo já apresentou anteriormente secreção pelo ouvido, ruptura da membrana timpânica ou infecções recorrentes do ouvido externo, a irrigação não deve ser realizada. Quando a membrana timpânica está perfurada, a água pode penetrar no ouvido médio, podendo piorar uma infecção crônica. Nessas situações, o médico pode remover o cerume com o auxílio de instrumento rombo, um instrumento com uma alça na extremidade ou um dispositivo de aspiração. Esses procedimentos geralmente são menos complicados e mais cômodos que a irrigação. Normalmente, o médico não utiliza dissolventes de cerume porque, freqüentemente, eles irritam a pele do canal auditivo, provocam reações alérgicas e não dissolvem o cerume de adequadamente.

As crianças podem colocar qualquer tipo de objeto estranho no interior do canal auditivo, sobretudo bolinhas, borrachas de apagar e sementes. Comumente, o médico remove esses objetos com o auxílio de um gancho sem ponta. A remoção de objetos que penetraram profundamente no canal é mais difícil em decorrência do risco de lesão da membrana timpânica e dos ossículos do ouvido médio. Algumas vezes, as bolinhas de metal e de vidro podem ser removidas através da irrigação, mas a água faz com que alguns objetos (p.ex., feijões), aumentem de volume, dificultando a sua remoção. Quando a criança não coopera ou quando a remoção é particularmente difícil, o médico pode submeter o paciente a uma anestesia geral. Insetos podem penetrar no canal auditivo. Encher o canal auditivo com óleo mineral mata o inseto e provê um alívio imediato, além de ajudar na remoção.

Otite Externa

A otite externa é uma infecção do canal auditivo.

A infecção pode afetar todo o canal, como na otite externa generalizada, ou apenas uma pequena área (p.ex., um furúnculo). A otite externa, freqüentemente denominada ouvido do nadador, é mais comum durante o verão, quando a natação é praticada.

Causas

Várias bactérias ou, raramente, fungos podem causar a otite externa generalizada. O Staphylococcus comumente produz furúnculos. Determinadas pessoas, incluindo aquelas com alergias, psoríase, eczema ou dermatite do couro cabeludo, apresentam uma tendência especial à otite externa. A lesão do canal auditivo durante uma limpeza ou a penetração de água ou de substâncias irritantes (p.ex., spray de cabelo) no interior do canal freqüentemente
acarretam a otite externa.

O canal auditivo limpa a si mesmo mobilizando as células cutâneas mortas desde a membrana timpânica até o exterior, como se elas estivessem sobre uma esteira rolante. A tentativa de limpar o canal com cotonetes interrompe esse mecanismo de autolimpeza e pode empurrar os resíduos em direção à membrana timpânica, onde eles acumulam-se. Os resíduos acumulados e o cerume tendem a reter a água que penetra no canal auditivo durante uma ducha ou durante a natação. Como resultado, a pele úmida e amolecida do canal auditivo é mais facilmente infectada por bactérias ou fungos.

Sintomas

Os sintomas da otite externa generalizada são o prurido, a dor e uma secreção fétida. Quando o canal auditivo inflama ou enche de pus e resíduos, a audição é comprometida. Geralmente, o canal auditivo torna-se sensível e dói quando a orelha é puxada ou quando é aplicada uma pressão sobre a prega cutânea localizada em frente ao canal auditivo. Ao exame do canal auditivo com o auxílio de um otoscópio (um instrumento que permite a visualização do canal auditivo e da membrana timpânica), o médico observa uma pele do canal hiperemiada e edemaciada e a presença de pus e resíduos no interior do canal. Os furúnculos causam uma dor muito intensa. Quando eles rompem, pode ocorrer a saída de uma pequena quantidade de sangue e de pus pelo ouvido.

Tratamento

Para tratar uma otite externa generalizada, o médico primeiramente remove os resíduos infectados do canal através da aspiração ou utilizando cotonetes. Após a limpeza do canal auditivo, a audição freqüentemente retorna ao normal. Normalmente, é prescrita a instilação de gotas contendo antibióticos no ouvido várias vezes ao dia durante um período máximo de uma semana. Algumas gotas também contêm um corticosteróide para reduzir a inflamação. Algumas vezes, o médico prescreve gotas que contêm ácido acético para ajudar na restauração da acidez do canal auditivo. Os analgésicos (p.ex., acetaminofeno ou codeína) podem ajudar a reduzir a dor nas primeiras 24 a 48 horas, até que a inflamação começar a reduzir. Uma infecção que se disseminou além do canal auditivo (celulite) pode ser tratada com um antibiótico oral. O médico permite que os furúnculos drenem espontaneamente, pois a sua incisão pode disseminar a infecção. As gotas otológicas contendo antibióticos não são eficazes. Uma compressa quente aplicada durante um breve período e os analgésicos podem aliviar a dor e acelerar a cura.

Pericondrite

A pericondrite é uma infecção da cartilagem do ouvido externo.

A pericondrite pode ser causada por lesões, por picadas de insetos ou por um furúnculo aberto com um bisturi. O pus acumula-se entre a cartilagem e a camada de tecido conjuntivo ao seu redor (pericôndrio). Algumas vezes, o pus interrompe o suprimento sangüíneo à cartilagem, destruindo-a e, finalmente, acarretando deformação da orelha. Apesar de ser destrutiva e de longa duração, a pericondrite tende a produzir apenas sintomas leves. O médico realiza uma incisão para drenar o pus, permitindo que o sangue atinja novamente a cartilagem. Antibióticos orais são administrados para as infecções leves e injetáveis, para as infecções graves. A escolha do antibiótico depende do grau de gravidade da infecção e da bactéria responsável.

Irrigação do Canal Auditivo

A ponta de uma seringa cheia de água é introduzida logo no início do canal auditivo e um jato de água é instilado no seu interior para remover o cerume. Este procedimento deve ser realizado por um médico ou por um enfermeiro.

Eczema

O eczema de ouvido é uma inflamação da pele do ouvido externo e do canal auditivo caracterizada por prurido (coceira), hiperemia (rubor), descamação, fissuras e uma secreção pelo ouvido. Esta doença pode acarretar uma infecção do ouvido externo e do canal auditivo. O tratamento consiste na aplicação de uma solução contendo acetato de alumínio (solução de Burow) diretamente sobre a área. Um creme ou uma pomada de corticosteróide pode reduzir o prurido e a inflamação. Quando a área inflamada torna-se infectada, antibióticos podem ser aplicados diretamente sobre a pele afetada. Esta doença tende a recorrer.

Lesões

Uma lesão (p.ex., um golpe violento contra o ouvido externo) pode causar a formação de equimose entre a cartilagem e a camada de tecido conjuntivo à sua volta (pericôndrio).

Quando ocorre um acúmulo de sangue nessa área, o ouvido externo converte-se em uma massa disforme e de cor vermelho púrpura. O sangue acumulado (hematoma) pode interromper o suprimento sangüíneo à cartilagem, acarretando a deformação da orelha. Esta deformação, denominada orelha em couveflor, é comum entre lutadores e boxeadores. Geralmente, o médico recorre à aspiração para remover o hematoma e esta é continuada até o desaparecimento de qualquer evidência de hematoma, normalmente em um prazo de 3 a 7 dias. O tratamento faz com que a pele e o pericôndrio retornem às suas posições normais, permitindo que o sangue atinja a cartilagem novamente. Quando um corte (laceração) atinge toda a orelha, a pele será suturada e a cartilagem é imobilizada para permitir a cicatrização.

Um golpe violento contra a mandíbula pode fraturar os ossos que circundam o canal auditivo e também pode deformar a sua forma, geralmente produzindo um estreitamento. A forma pode ser corrigida com cirurgia sob anestesia geral.

Tumores

Os tumores de ouvido podem ser não cancerosos (benignos) ou cancerosos (malignos).

Os tumores não cancerosos podem desenvolver-se no canal auditivo, obstruindo-o e causando acúmulo de cerume e perda auditiva. Esses tumores incluem os cistos sebáceos (pequenas bolsas cheias de secreções cutâneas), os osteomas (tumores ósseos) e os quelóides (produção excessiva de tecido cicatricial após uma lesão). O melhor tratamento é a remoção do tumor. Após o tratamento, a audição comumente retorna ao normal.

O ceruminoma (câncer das células que produzem o cerume) localiza-se no terço externo do canal auditivo e pode disseminar-se. O tratamento consiste na remoção cirúrgica do câncer e do tecido circunvizinho.

Os carcinomas basocelulares e os epitelióides são cânceres de pele comuns que freqüentemente ocorrem no ouvido externo após a exposição repetida e prolongada à luz solar. Quando esses cânceres surgem pela primeira vez, eles podem ser tratados com sucesso através de sua ressecção ou da radioterapia. Os cânceres mais avançados podem exigir a remoção cirúrgica de uma área maior do ouvido externo. Quando o câncer já invadiu a cartilagem da orelha, a cirurgia é mais eficaz que a radioterapia. Os carcinomas basocelulares e os epidermóides também podem ocorrer no interior do canal auditivo ou podem disseminar-se até ele. O tratamento consiste na remoção cirúrgica do câncer, juntamente com uma ampla margem do tecido circunvizinho, seguida pela radioterapia.