ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quinta-feira, 17 de março de 2011

CANCRO MOLE


ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS
Descrição - Doença de transmissão exclusivamente sexual, maisfrequente nas regiões tropicais. Caracteriza-se por apresentar lesõesmúltiplas (podendo ser única), tipoúlceras, habitualmente dolorosas,de borda irregular, com contornos eritemato-edematosos e fundo irregular,cobertas por exsudato necrótico, amarelado e de odor fétido,que quando removido revela tecido de granulação que apresenta sangramentofácil quando submetidos a traumatismos. No homem, as localizaçõesmais frequentes são no frênulo e no sulco bálano prepucial;na mulher, na fúrcula e na face interna dos grandes lábios. No colouterino e na parede vaginal, podem aparecer lesões que produzemsintomatologia discreta. Nas mulheres, as infecções podem ser assintomáticas.Lesões extragenitais têm sido assinaladas. Em 30 a 50% dospacientes, os linfonodos são atingidos, geralmente, os inguino-crurais(bulbão), sendo unilaterais em 2/3 dos casos, observados quase queexclusivamente no sexo masculino pelas características anatômicasda drenagem linfática. No início, ocorre tumefação sólida e dolorosa,evoluindo para liquefação e fistulização em 50% dos casos, tipicamente por orifício único.

Sinonímia - Cancro de Ducrey, cancróide, cancro venéreo simples. Agente etiológico - Haemophilus ducrey, bacilo gram-negativo intracelular. Reservatório - O homem. Modo de transmissão - Sexual. Período de incubação - De 3 a 5 dias, podendo atingir 14 dias. Período de transmissibilidade - Semanas ou meses quando na ausência de tratamento, enquanto durarem as lesões. Com antibioticoterapia, 1 a 2 semanas. O risco de infecção em um intercurso sexual é de 80%. Diagnóstico - Suspeita clínica, epidemiológica e laboratorial. Essa última é feita por: Exame direto - Pesquisa em coloração, pelo método de Gram, em esfregaços de secreção da base da úlcera ou do material obtido por aspiração do bulbão. Observam-se, mais intensamente, bacilos gram-negativos intracelulares, geralmente aparecendo em cadeias paralelas, acompanhados de cocos gram-positivos (fenômeno de satelitismo).
Cultura - É o método diagnóstico mais sensível, porém de difícil realização em vista das características do bacilo. PCR - É o padrão-ouro, embora ainda de custo elevado, apenas disponível em alguns laboratórios de referência, para pesquisa. Biopsia - Não é recomendada, pois não confirma a doença.

Diagnóstico diferencial - Cancro duro, herpes simples, linfogranuloma venéreo, donovanose e erosões traumáticas infectadas. Não é rara a ocorrência do cancro misto de Rollet (multietiologia com o cancro duro da sífilis).

Tratamento - Azitromicina, 1g, VO, dose única; Ciprofloxacina, 500mg, VO, 12/12 horas, por 3 dias; Eritromicina (estereato), 500mg, VO, de 6/6 horas, por 7 dias; Ceftriaxona, 250mg, IM, dose única. O tratamento sistêmico deve ser acompanhado de medidas de higiene local.

Recomendações - O acompanhamento do paciente deve ser feito até a involução total das lesões. É indicada a abstinência sexual até a resolução completa da doença. O tratamento dos parceiros sexuais está recomendado mesmo que a doença clínica não seja demonstrada, em razão da existência de portadores assintomáticos, principalmente entre mulheres. É muito importante excluir a possibilidade da existência de sífilis associada, pela pesquisa de Treponema pallidum na lesão genital
e/ou por reação sorológica para sífilis, no momento e 30 dias após o aparecimento da lesão. A aspiração, com agulhas de grosso calibre, dos gânglios linfáticos regionais comprometidos pode ser indicada para alívio de linfonodos tensos e com flutuação. É contra-indicada a incisão com drenagem ou excisão dos linfonodos acometidos.

Características epidemiológicas - Ocorre, principalmente, nas regiões tropicais, em comunidades com baixo nível de higiene.
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Objetivos - Interromper a cadeia de transmissão por meio da detecção e tratamento precoce dos casos e dos seus parceiros (fontes de infecção); prevenir novas ocorrências por meio de ações de educação em saúde. Notificação Interrupção da cadeia de transmissão pela triagem e referência dos pacientes - Não é doença de notificação compulsória nacional. Os profissionais de saúde devem observar as normas e procedimentos de notificação e investigação de estados e municípios. com DST e seus parceiros para diagnóstico e terapia adequados.

Aconselhamento - Orientações ao paciente, fazendo com que observe as possíveis situações de risco presentes em suas práticas sexuais e desenvolva a percepção quanto à importância do seu tratamento e de seus parceiros sexuais e a promoção de comportamentos preventivos.
Promoção do uso de preservativos - Método mais eficaz para a redução do risco de transmissão do HIV e outras DST. Convite aos parceiros para aconselhamento e promoção do uso de preservativos (deve-se obedecer aos princípios de confiabilidade, ausência de coerção e proteção contra a discriminação). Educação em saúde, de modo geral.
Observação: As associações entre diferentes DST são frequentes, destacando-se, atualmente, a relação entre a presença de DST e o aumento do risco de infecção pelo HIV, principalmente na vigência de úlceras genitais. Desse modo, se o profissional estiver capacitado a realizar aconselhamento, pré e pós-teste para a detecção de anticorpos anti-HIV, quando do diagnóstico de uma ou mais DST, essa opção deve ser oferecida ao paciente. Portanto, toda doença sexualmente transmissível constitui evento sentinela para busca de outra DST e possibilidade de associação com o HIV. É necessário, ainda, registrar que o Ministério da Saúde preconiza a “abordagem sindrômica” aos pacientes com DST, visando aumentar a sensibilidade no diagnóstico
e tratamento dessas doenças, o que resultará em maior impacto na redução das mesmas.