ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Distúrbios do Olfato e do Paladar


Como os distúrbios do olfato e do paladar raramente constituem uma ameaça à vida, eles podem não receber a atenção médica devida. Entretanto, esses distúrbios podem chegar a ser frustrantes uma vez que afetam a capacidade do indivíduo de desfrutar de comidas, bebidas e aromas agradáveis. Além disso, eles interferem na capacidade do indivíduo de perceber a presença de substâncias químicas e gases potencialmente perigosos, o que pode acarretar graves conseqüências. De qualquer maneira, um distúrbio que compromete o olfato e o paladar pode ser grave. O olfato e o paladar estão intimamente relacionadas. As papilas gustativas da língua identificam o sabor e os nervos do nariz identificam o odor.

As duas sensações são comunicadas ao cérebro, que combina as informações para identificar e apreciar os sabores. Embora alguns sabores (p.ex., salgado, amargo, doce e ácido) possam ser identificados sem o olfato, os sabores mais complexos (p.ex., de framboesa) exigem tanto o paladar quanto o olfato. A perda ou a redução do olfato (anosmia) é o distúrbio mais comum do olfato e do paladar. Como a diferenciação entre dois sabores depende em grande parte do olfato, os indivíduos freqüentemente percebem a redução do olfato quando os alimentos parecem não ter sabor. O olfato pode ser afetada por alterações do nariz, dos nervos que conectam o nariz ao cérebro ou do cérebro. Por exemplo, se as fossas nasais forem obstruídas por causa de um resfriado comum, o olfato pode ser diminuída simplesmente porque os odores não conseguem chegar aos receptores do olfato.

Como o olfato afeta o paladar, os indivíduos resfriados freqüentemen-te acham que os alimentos não possuem o mesmo sabor. As células que detectam o odor podem ser lesadas temporariamente pelo vírus da gripe. Alguns indivíduos não conseguem sentir cheiros ou sabores durante vários dias ou mesmo semanas após um episódio de gripe. Ocasionalmente, a perda do olfato ou do paladar persiste durante meses ou pode inclusive tornar-se permanente. As células que detectam os odores podem ser lesadas ou destruídas por infecções sérias dos seios da face ou pela radioterapia no tratamento do câncer. Contudo, a causa mais comum de perda permanente do olfato é o traumatismo crânio-encefálico, produzido freqüentemente por um acidente automobilístico. As fibras do nervo olfatório (o nervo que contém os receptores do olfato) são seccionadas ao nível da lâmina cribriforme (osso da base do crânio que separa o espaço intracraniano da cavidade nasal). Raramente, uma criança nasce sem o sentido do olfato.

A hipersensibilidade aos odores (hiperosmia) é muito menos comum que a anosmia. O sentido distorcido do olfato, o qual torna os odores inócuos desagradáveis (disosmia) pode ser conseqüência de infecções dos seios da face ou de uma lesão parcial do nervo olfatório. A disosmia também pode ser causada por uma higiene dental inadequada, a qual pode acarretar infecções bucais que produzem um mau odor que é detectado pelo nariz. Algumas vezes, indivíduos com depressão apresentam disosmia. Alguns indivíduos que sofrem de epilepsia originária da parte do cérebro onde os odores são detectados (o centro olfatório) apresentam sensações de odores desagradáveis (alucinações olfatórias) que são muito fortes e de curta duração. Esses odores desagradáveis fazem parte da epilepsia e não uma má interpretação de um odor.

A redução ou a perda do paladar (ageusia) é normalmente causada por condições que afetam a língua. São exemplos a boca muito seca, o tabagismo intenso (especialmente fumar cachimbo), a radioterapia da cabeça e do pescoço e os efeitos colaterais de drogas como a vincristina (um medicamento anticâncer) ou a amitriptilina (um antidepressivo). A distorção do paladar (disgeusia) pode ser conseqüência dos mesmos fatores que acarretam a perda do paladar. As queimaduras da língua podem destruir temporariamente as papilas gustativas, e a paralisia de Bell (uma paralisia unilateral do rosto causada pela disfunção do nervo facial) pode ocasionar a perda do paladar em um lado da língua. A disgeusia também pode ser um sintoma de depressão.

Diagnóstico

Os médicos podem testar o olfato utilizando óleos aromáticos, sabonetes e alimentos (p.ex., café ou alho). O paladar pode ser testada com o uso de substâncias doces (açúcar), ácidas (suco de limão), salgadas (sal) e amargas (aspirina, quinina, aloé). O médico ou o dentista realiza um exame da cavidade bucal em busca de infecção ou ressecamento (salivação escassa). A realização de uma tomografia computadorizada (TC) ou de uma ressonância magnética (RM) do cérebro raramente é necessária.

Tratamento

Dependendo da causa do distúrbio do paladar, o médico recomendará a troca ou a suspensão do medicamento suspeito, o consumo de balas para manter a boca úmida ou simplesmente a espera de várias semanas para observar se o problema desaparece. Foi afirmado que os complementos de zinco, os quais podem ser comprados sem prescrição médica, aceleram a recuperação, especialmente dos distúrbios do paladar que ocorrem após um episódio de gripe. No entanto, esse efeito não foi cientificamente confirmado.

Como as Pessoas Sentem os Sabores

Os sentidos do paladar e do olfato trabalham em conjunto para que seja possível reconhecer e apreciar os sabores. O centro do olfato e do paladar no cérebro combina as informações sensitivas provenientes da língua e do nariz. Milhares de papilas gustativas cobrem a maior parte da superfície da língua. Quando o alimento é colocado na boca, ele estimula os receptores das papilas gustativas. Estas, por sua vez, enviam impulsos nervosos ao centro do olfato e do paladar do cérebro, o qual os interpreta como sabor. As papilas gustativas da ponta da língua detectam os sabores doces; as laterais, os sabores salgados e ácidos; e as da parte posterior da língua, os sabores amargos. As combinações desses quatro sabores básicos produzem um amplo espectro de sabores. Uma pequena área da membrana mucosa nasal (o epitélio olfatório) contém terminações nervosas que detectam odores (nervos olfatórios). Quando as moléculas transportadas pelo ar entram nas vias nasais, elas estimulam diminutas projeções similares a pêlos (cílios) dessas células nervosas. Esse estímulo envia impulsos nervosos, através das projeções existentes na extremidade dos nervos (bulbos olfatórios), ao longo do nervo olfatório, até o centro do olfato e do paladar do cérebro. O centro interpreta esses impulsos nervosos como um odor distinto. Através desse processo, milhares de odores diferentes podem ser diferenciados. Para diferenciar a maioria dos sabores, o cérebro necessita do paladar e do olfato. Por exemplo, para diferenciar o sabor de uma barra de chocolate, o cérebro detecta um sabor doce captado pelas papilas gustativas e um aroma encorpado de chocolate através do nariz.

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INFECÇÕES VIRAIS


Um vírus é um pequeno organismo infeccioso (muito menor que um fungo ou uma bactéria) que necessita de uma célula viva para se reproduzir. O vírus adere a uma célula, freqüentemente um tipo específico de célula. Uma vez no seu interior, o vírus libera seu DNA ou RNA (o qual contém a informação necessária para a criação de novas partículas virais) e assume o controle de alguns aspectos do metabolismo celular. Os componentes do vírus são então produzidos no interior da célula, devendo ser adequadamente reunidos para que o vírus seja liberado e mantenha a sua capacidade de produzir infecção. O que ocorre à célula depende do tipo de vírus.

Alguns vírus matam as células por eles infectadas. Outros alteram a função celular, de modo que a célula perde o controle sobre a divisão celular normal e torna-se cancerosa. Alguns vírus incorporam uma parte ou toda a sua informação genética ao DNA da célula-hospedeira, mas eles permanecem inativos (latentes) até que a célula seja alterada permitindo que o vírus volte a emergir. Geralmente, os vírus possuem um hospedeiro predileto. Alguns (p.ex. vírus da gripe) podem infectar o ser humano e vários outros animais. No entanto, algumas cepas do vírus da gripe adaptaram- se de tal forma que podem infectar uma espécie animal mais eficientemente que outras.

A maioria dos vírus comumente observados nos seres humanos são transmitidos de pessoa a pessoa. Alguns vírus (p.ex., vírus da raiva e os vírus da encefalite) infectam sobretudo os animais e apenas ocasionalmente o ser humano. O organismo possui várias defesas específicas e inespecíficas contra os vírus. As barreiras físicas (p.ex., pele e membranas mucosas) impedem a invasão fácil. As células infectadas também sintetizam interferon (ou interferons), uma família de glicoproteínas capazes de tornar as células não infectadas mais resistentes à infecção produzida por muitos vírus. Quando um vírus penetra no organismo, vários tipos de leucócitos (p.ex., linfócitos) são capazes de atacar e destruir as células infectadas.

Os dois principais tipos de linfócito são o linfócito B e o T. Quando expostos ao ataque viral, os linfócitos T aumentam em quantidade e amadurecem, transformando-se em celulas auxiliares que ajudam os linfócitos B produtores de anticorpos ou em células assassinas (citotóxicas) que podem atacar células infectadas por um vírus específico. Os linfócitos T também produzem substâncias químicas (denominadas citocinas) que aceleram esse processo de amadurecimento. As citocinas das células auxiliares podem ajudar os linfócitos B e seus derivados, os plasmócitos, a produzirem anticorpos que visam vírus específicos e os tornam não infecciosos antes deles conseguirem infectar uma outra célula.

A imunidade pode ser gerada através da vacinação. As vacinas são produzidas de forma tal que se assemelhem a um vírus específico (p.ex. vírus da gripe ou do sarampo) e que possam ser administradas às pessoas sem causar a doença. Em resposta a uma vacina, o organismo aumenta o número de linfócitos T e B que são capazes de reconhecer o vírus específico. Dessa forma, as vacinas podem produzir imunidade contra um vírus específico. Existem muitas vacinas que previnem infecções comuns e graves como a gripe, o sarampo, a parotidite (caxumba), a poliomielite, a varicela (catapora), a raiva, a rubéola, as hepatites A e B, a encefalite japonesa e a febre amarela. No entanto, algumas vezes um vírus muda (sofre mutação) para evitar o anticorpo da vacina e a revacinação torna-se necessária. A proteção imediata contra uma infecção viral pode ser obtida através da administração de uma injeção ou de uma infusão de imunoglobulina.

A injeção de imunoglobulina contém anticorpos que foram produzidos por uma outra pessoa ou por um animal. Por exemplo, um indivíduo que irá viajar para uma área onde existe uma prevalência da hepatite A pode receber uma injeção de imunoglobulina contra este tipo de hepatite. No entanto, quando administrada concomitantemente, a imunoglobulina pode tornar certas vacinas (p.ex., contra o sarampo ou contra a poliomielite) menos eficazes. As drogas que combatem uma infecção viral são denominadas antivirais. Existe um número muito menor de drogas antivirais em comparação com a quantidade de drogas antibacterianas (antibióticos). Comparadas à maioria dos antibióticos, as drogas antivirais geralmente são mais difíceis de serem produzidas, são mais específicas para o organismo-alvo e também são mais tóxicas. Os antibióticos são ineficazes contra as infecções virais, mas quando um indivíduo apresenta uma infecção bacteriana ao mesmo tempo que uma infecção viral, um antibiótico é normalmente utilizado.

Infecções Virais Respiratórias

Provavelmente as infecções virais mais comuns são as pulmonares e as das vias respiratórias. Elas incluem o resfriado comum, a gripe, a infecção da garganta (faringite ou laringite), a crupe em crianças de baixa idade, e a inflamação da traquéia (traqueíte) ou de outras vias respiratórias (bronquiolite, bronquite).

Resfriado Comum

O resfriado comum é uma infecção viral do revestimento do nariz, dos seios da face, da garganta e das grandes vias respiratórias. O resfriado é causado por muitos vírus diferentes. Os picornavírus, assim como os rinovírus, são responsáveis pela maioria dos resfriados que ocorrem na primavera, no verão e no outono. Os vírus da gripe (influenza) e os vírus sinciciais respiratórios, os quais surgem regularmente no final do outono e no inverno, causam uma variedade de doenças, incluindo o resfriado.

Os vírus da gripe disseminam-se facilmente de uma pessoa a outra através de gotículas infectadas que são expelidas através da tosse ou dos espirros. Os rinovírus e os vírus sinciciais respiratórios também são disseminados dessa forma, mas talvez principalmente através do contato direto com secreções infectadas transportadas nos dedos das mãos. O motivo pelo qual um indivíduo apresenta maior probabilidade de infectar-se em um determinado momento que em um outro permanece obscuro. A exposição ao frio em si não causa resfriado nem aumenta a suscetibilidade do indivíduo à infecção por um vírus respiratório.

A saúde geral ou os hábitos alimentares do indivíduo também parecem não ter qualquer influência. E tampouco influi a existência de uma anormalidade do nariz ou da garganta, como tonsilas ou adenóides aumentadas de volume. No entanto, os indivíduos que apresentam fadiga ou que se encontram sob tensão emocional, aqueles que apresentam alergias do nariz ou da garganta e as mulheres que se encontram no meio do ciclo menstrual são mais propensos a perceber os sintomas de um resfriado.

Sintomas e Complicações

Os sintomas do resfriado comum começam 1 a 3 dias após a infecção. Normalmente, os sintomas iniciais são um desconforto no nariz ou na garganta. Posteriormente, o indivíduo começa a espirrar, apresenta coriza e uma sensação discreta de malestar. Em geral, o indivíduo não apresenta febre, mas, algumas vezes, ele apresenta uma febre discreta quando os sintomas começam a se manifestar. A secreção nasal é aquosa e transparente e pode ser muito abundante durante os dois primeiros dias.

A seguir, ela torna-se mais espessa, opaca, com uma coloração amarelo-esverdeada e menos abundante. Muitos indivíduos também apresentam tosse. Normalmente, os sintomas desaparecem em 4 a 10 dias, embora a tosse, produtiva ou não, freqüentemente persista até a segunda semana. As complicações podem prolongar os sintomas. A infecção da traquéia, juntamente com uma certa pressão no peito e uma sensação de queimação, é mais provável em alguns indivíduos e com determinados vírus.

Os indivíduos com asma ou bronquite persistente podem apresentar uma maior dificuldade respiratória durante e após um resfriado. Após um resfriado, pode ocorrer uma infecção bacteriana de ouvido, dos seios da face, da traquéia e das vias respiratórias (infecção traqueobrônquica) que exige um tratamento com antibióticos.

Diagnóstico

A maioria dos resfriados pode ser prontamente diagnosticados a partir dos sintomas típicos. Contudo, as infecções bacterianas, as alergias e outros distúrbios podem causar sintomas semelhantes. Os mesmos vírus que causam o resfriado também produzem sintomas similares aos da gripe. Uma febre alta sugere que a infecção não é um simples resfriado. Geralmente, não é necessária a realização de exames para se diagnosticar um resfriado, exceto quando ocorrem complicações.

Tratamento

Um indivíduo com um resfriado deve permanecer aquecido e confortável e deve tentar evitar a transmissão da infecção aos outros. Isto é freqüentemente melhor realizado nas fases iniciais da infecção. Qualquer indivíduo com febre e sintomas intensos deve manter um repouso domiciliar. A ingestão de líquidos ajuda a manter as secreções líquidas e mais fáceis de serem expelidas. Os remédios contra o resfriado são populares, mas a maioria de seus benefícios são duvidosos. A aspirina pode inclusive aumentar a difusão do vírus, enquanto melhora apenas discretamente os sintomas.

Quando houver necessidade de uma droga para aliviar a dor ou a febre em crianças ou adolescentes, o uso do acetaminofeno ou do ibuprofeno é preferível, pois a aspirina está relacionada a um aumento do risco de síndrome de Reye, um distúrbio potencialmente letal. Um descongestionante nasal provê apenas um alívio temporário e limitado. Os anti-histamínicos podem ajudar a eliminar a coriza, mas foi demonstrado que eles são eficazes somente para os indivíduos com um antecedente de alergia e eles podem causar sonolência e outros efeitos colaterais, particularmente em idosos.

A inalação de vapor quente ou de névoa de um vaporizador é um método que alguns consideram válido para liberar as secreções e reduzir a pressão no peito. A lavagem das vias nasais com uma solução salina isotônica pode ajudar na remoção de secreções muito viscosas. Como a tosse pode ser a única maneira para se eliminar secreções e resíduos das vias aéreas durante uma infecção viral, é preferível não tratar a tosse, exceto quando ela interfere no sono ou produz um grande desconforto. Uma tosse intensa pode ser tratada com um supressor de tosse (antitussígeno). Os antibióticos não são eficazes contra um resfriado; eles só devem ser utilizados quando ocorre uma infecção bacteriana concomitante.

Prevenção do Resfriado Comum

Como muitos vírus diferentes causam o resfriado e como o número de anticorpos produzidos contra o vírus do resfriado diminui no decorrer do tempo, a maioiria dos indivíduos continua a apresentar resfriados durante toda a vida. Ainda não existe uma vacina eficaz contra todos os vírus respiratórios, mas uma vacina contra a gripe é atualizada anualmente contra cepas novas do vírus da influenza e estão sendo desenvolvidas vacinas contra outros vírus (p.ex.,vírus sincicial respiratório e vírus da parainfluenza). As melhores medidas preventivas envolvem uma boa higiene. Como muitos vírus do resfriado são disseminados através do contacto com secreções infectadas, a lavagem freqüente das mãos, a eliminação cuidadosa de tecidos utilizados e a limpeza de objetos e superfícies podem ajudar a reduzir a sua disseminação. Muitos tratamentos que visam prevenir o resfriado foram propostos e testados, mas nenhum revelou ser confiavelmente eficaz. Não foi demonstrado que grandes doses de vitamina C (até 2.000 miligramas por dia) reduzem o risco de contrair o resfriado nem que elas diminuem a quantidade de vírus eliminados por um indivíduo infectado. Quando aplicado ao nariz sob a forma de aerossol, o interferon (uma droga que aumenta a capacidade das células de resistir às infecções) pode evitar a infecção causada por alguns tipos de vírus do resfriado (em especial, os rinovírus). Contudo, o interferon não apresenta resultados após a infecção já ter se estabelecido. Além disso, ele pode causar inflamação e epistaxe (sangramento nasal) e tem um efeito limitado contra certos vírus, como os da gripe ( influenza) e da parainfluenza.

Gripe

A gripe (influenza) é uma infecção viral que produz febre, coriza, tosse, cefaléia, uma sensação de mal-estar generalizado e inflamação do revestimento do nariz e das vias aéreas. Anualmente, epidemias disseminadas de doenças respiratórias causadas pelo vírus da gripe ocorrem no final do outono ou no início do inverno.

A doença ocorre em todo o mundo. Embora muitos vírus respiratórios possam causar os sintomas da gripe, o vírus da influenza A ou o da influenza B é normalmente o responsável pela epidemia que ocorre no final do outono ou no inverno. O vírus dissemina-se através da inalação de gotículas infectadas que foram expelidas pela tosse ou pelo espirro de um indivíduo infectado ou pelo contato direto com as secreções de alguém infectado. Algumas vezes, a manipulação dos objetos domésticos infectados é responsável pela infecção.

Sintomas

A gripe é diferente do resfriado comum. Os sintomas iniciam 24 a 48 horas após a infecção e podem iniciar abruptamente. Os calafrios ou uma sensação de frio pode ser a indicação inicial da gripe. A febre é comum durante os primeiros dias e a temperatura pode atingir 39 °C ou 40 °C. Muitos indivíduos sentem-se muito doentes e permanecem no leito. Eles apresentam dores por todo o corpo, mais pronunciadas nas costas e nas pernas. Freqüentemente, a cefaléia é muito intensa com uma sensação de dor em torno e atrás dos olhos.

A luz intensa pode piorar a cefaléia. Inicialmente, os sintomas respiratórios podem ser relativamente leves, com uma dor de garganta tipo irritativa, uma sensação de queimação no peito, tosse seca e coriza. Mais tarde, a tosse pode tornar-se muito intensa, produzindo escarro. A pele pode tornar-se quente e avermelhada, especialmente a da face. A boca e a garganta também podem ficar avermelhadas, os olhos lacrimejantes e a esclera discretamente inflamada.

O doente, especialmente quando for uma criança, pode apresentar náusea e vômito. Após 2 a 3 dias, a maioria dos sintomas desaparecem rapidamente e a febre normalmente desaparece, embora ela possa durar por até 5 dias. Contudo, a bronquite e a tosse podem persistir por 10 dias ou mais e as alterações das vias aéreas podem levar 6 a 8 semanas para desaparecer completamente. A fraqueza e a fadiga podem persistir por vários dias ou, ocasionalmente, por semanas.

Diagnóstico

Como a maioria dos indivíduos está familiarizada com os sintomas da gripe e como ela ocorre em epidemias, a gripe é freqüentemente diagnosticada corretamente pelo indivíduo que a apresenta ou por um familiar. A gravidade da enfermidade e a presença de febre alta diferenciam a gripe de um resfriado comum. Embora nem sempre seja necessário ou esteja disponível, um exame de sangue pode identificar uma infecção pelo vírus da gripe. Ainda melhor para estabelecer o diagnóstico de gripe é a identificação do vírus em uma cultura de secreções respiratórias.

Prevenção

Um individuo exposto a um vírus da gripe produz anticorpos, que o protegem contra a reinfecção por esse vírus em particular. No entanto, a vacinação anual contra a gripe é a melhor maneira de se prevenir. As vacinas contra a gripe contêm cepas do vírus (ou partículas virais) da gripe inativadas (ou “mortas”). A vacina pode ser monovalente (uma cepa) ou polivalente (habitualmente três cepas).

A vacina monovalente permite a administração de uma dose maior contra uma nova cepa viral e a vacina polivalente reforça a resistência contra mais de uma cepa. Anualmente, é introduzida uma vacina diferente, com base nas previsões das cepas que mais provavelmente causarão a gripe. A vacinação é particularmente importante para os indivíduos que podem tornar-se muito doentes quando infectados. Nos Estados Unidos, a vacinação deve ser realizada durante o outono, de modo que a concentração de anticorpos será maior durante os meses de pico da gripe (novembro a março).

Para a maioria dos indivíduos, são necessárias aproximadamente 2 semanas para que a vacina forneça proteção. No entanto, as crianças e outras pessoas que nunca foram expostas ao vírus da gripe devem receber duas doses da vacina, com um intervalo de um mês, para adquirir uma imunidade adequada. A amantadina ou a rimantadina, duas drogas antivirais, podem proteger contra o vírus da influenza A, mas não contra o vírus da influenza B. Elas são utilizadas durante epidemias de influenza A para proteger aqueles que se encontram em contato íntimo com pessoas infectadas e aqueles que apresentam um alto risco e que não foram vacinados.

A administração da droga pode ser suspensa 2 a 3 semanas após o indivíduo ser vacinado. Quando uma vacina não pode ser administrada, a amantadina ou a rimantadina é utilizada durante todo o período da epidemia, geralmente 6 a 8 semanas. Essas drogas podem causar nervosismo, insônia e outros efeitos colaterais, especialmente em idosos e naqueles com doença cerebral ou renal. A rimantadina tende a causar menos efeitos colaterais que a amantadina.

Complicações da Gripe

Embora a gripe seja uma enfermidade grave em qualquer pessoa, a maioria dos indivíduos sadios voltam a sentir-se bem após 7 a 10 dias. As complicações da gripe podem tornar a gripe mais séria. As crianças muito jovens, os idosos e aqueles com doenças cardíacas, pulmonares ou nervosas apresentam um alto risco de complicações e inclusive de morte. Casos raros de gripe evoluem para a bronquite hemorrágica (inflamação grave das vias aéreas com expectoração de secreção sanguinolenta). A pneumonia viral é a complicação mais grave. Ela pode evoluir rapidamente e causar a morte em menos de 48 horas. Não se sabe ao certo o que determina o desenvolvimento de uma pneumonia, mas ela tem maior chance de ocorrer durante uma epidemia causada por uma cepa do vírus da influenza A contra a qual poucos indivíduos são imunes e que afeta indivíduos com alto risco. A pneumonia bacteriana também pode complicar a gripe, pois ela afeta a capacidade dos pulmões de eliminar ou de controlar as bactérias do trato respiratório. Muito raramente, o vírus da influenza foi relacionado à encefalite (inflamação do cérebro), à miocardite (inflamação do músculo cardíaco) ou à miosite (inflamação dos músculos). A encefalite pode provocar sonolência, confusão mental ou inclusive o coma. A miocardite pode produzir sopros cardíacos ou acarretar a insuficiência cardíaca. A síndrome de Reye é uma complicação grave e potencialmente letal que ocorre mais comumente em crianças durante epidemias do vírus da influenza B, particularmente quando elas são medicadas com aspirina ou com algum medicamento que a contém.

Tratamento

O principal tratamento da gripe é o repouso ao leito ou o repouso adequado, a hidratação através da ingestão de grandes quantidades de líquidos e evitar os esforços. O ideal é que isto seja feito a partir do momento em que os sintomas iniciam até 24 a 48 horas após a temperatura corpórea retornar ao normal. Os indivíduos com sintomas graves mas sem complicações podem fazer uso do acetaminofeno, da aspirina, do ibuprofeno ou do naproxeno. Devido ao risco de síndrome de Reye, as crianças não devem fazer uso de aspirina.

Contudo, para as crianças, a administração de acetominofeno é aceitável quando houver necessidade. Outras medidas utilizadas contra o resfriado comum, como os descongestionantes nasais e a inalação de vapor quente, podem aliviar os sintomas. Quando utilizada no início de uma infecção não complicada causada pelo vírus da influenza A, a amantadina (ou a rimantadina) ajuda a reduzir a duração e a gravidade da febre e dos sintomas respiratórios. Nenhuma dessas drogas reduz a gravidade da pneumonia viral, mas qualquer uma delas pode ser administrada na tentativa de aumentar a possibilidade de recuperação.

Foi demonstrado que a ribavirina, a qual pode ser inalada sob a forma de aerossol ou administrada pela via oral, abrevia a duração da febre e afeta a capacidade de reprodução do vírus, mas a sua utilização ainda se encontra em estágio experimental. No entanto, a ribavirina pode ser administrada para aliviar os sintomas da pneumonia viral. Uma infecção bacteriana secundária é tratada com antibióticos. A pneumonia bacteriana causada pela bactéria pneumococo pode ser evitada com uma vacina polivalente contendo os tipos comuns de pneumococos. Contudo, a vacina não deve ser aplicada a alguém que já esteja gripado.

Infecções Causadas por Herpesvírus

Os dois tipos principais de herpesvírus que causam infecções que produzem vesículas na pele são o herpes simples e o herpes zoster. Um outro herpesvírus, o vírus de Epstein-Barr, causa a mononucleose infecciosa. O citomegalovírus, também um herpesvírus, pode produzir uma doença indistinguível da mononucleose infecciosa. Um herpesvírus mais recentemente identificado (herpesvírus 6) causa uma doença infantil denominada roséola infantil (roseola infantum). Até o momento, o herpesvírus 7 humano não foi definitivamente relacionado a qualquer doença. Em alguns estudos, o herpesvírus 8 foi interpretado como a causa do sarcoma de Kaposi em indivíduos com AIDS.

Herpes Simples

A infecção causada pelo herpes simples produz episódios recorrentes de pequenas vesículas dolorosas e cheias de líquidos sobre a pele ou sobre as membranas mucosa. O herpes simples produz uma erupção sobre a pele ou sobre as membranas mucosas. A erupção desaparece, embora o vírus permaneça em um estado inativo (latente) no interior dos gânglios (um grupo de corpos de células nervosas) que suprem os nervos sensoriais da área infectada. Periodicamente, o vírus é reativado e começa a replicar, causando freqüentemente erupções cutâneas com vesículas no mesmo local da infecção precedente.

No entanto, o vírus pode estar presente na pele sem causar a formação de uma vesícula evidente. O vírus neste estado pode servir como fonte de contágio para outras pessoas. As erupções podem ser desencadeadas pela exposição excessiva à luz solar, pela febre, pelo desgaste físico ou pelo estresse emocional, pela supressão do sistema imunológico ou por certos alimentos ou drogas. No entanto, os fatores desencadeadores freqüentemente são desconhecidos.

Os dois tipos de vírus do herpes simples que infectam a pele são o HSV-1 e o HSV-2. O HSV- 1 é a causa habitual de úlceras labiais (herpes labial) que ocorrem após a exposição ao frio nos lábios e de úlceras da córnea do olho (ceratite por herpes simples) . Geralmente, a infecção é transmitida através do contato com secreções da boca ou em torno da boca. O HSV- 2 normalmente causa o herpes genital e é transmitido sobretudo através do contato direto com as úlceras, mais freqüentemente durante o contato sexual.

Sintomas e Complicações

Uma recorrência do herpes simples tem como prenuncio um formigamento, um desconforto ou um prurido que precede o surgimento das vesículas em várias horas até 2 a 3 dias. As vesículas circundadas por uma borda avermelhada podem ocorrer em qualquer local da pele ou das membranas mucosas, mas ocorrem mais freqüentemente no interior e em torno da boca, nos lábios e nos órgãos genitais.

As vesículas (as quais podem ser dolorosas) tendem a formar aglomerados, os quais fundem-se e transformam-se em uma única zona afetada. Após alguns dias, as vesículas começam a secar, formando uma crosta fina e amarelada e úlceras rasas. A cura começa 1 a 2 semanas após o surgimento e, em geral, se completa em 21 dias. No entanto, as vesículas localizadas em áreas úmidas do corpo curam mais lentamente. Pode ocorrer alguma formação de cicatrizes quando as erupções continuam a ocorrer no mesmo local ou quando ocorre uma infecção bacteriana secundária.

A primeira infecção por herpes em lactentes ou crianças de baixa idade pode causar lesões dolorosas e inflamação na boca e nas gengivas (gengivoestomatite) ou uma inflamação dolorosa na vulva e na vagina (vulvovaginite). Essas condições também causam irritabilidade, perda de apetite e febre. Nos lactentes e, menos freqüentemente, em crianças maiores, a infecção pode disseminar-se através do sangue e afetar órgãos internos, inclusive o cérebro (uma infecção que pode ser fatal). Uma mulher que teve uma infecção causada pelo HSV-2 pode transmitir a infecção ao feto, especialmente quando ela apresentar um episódio nos últimos três meses de gestação. No feto, o vírus do herpes simples pode causar uma inflamação discreta das meninges (meningite) ou, ocasionalmente, uma inflamação cerebral grave(encefalite).

Quando lactentes ou adultos apresentam uma doença cutânea denominada eczema atópico são infectados pelo vírus do herpes simples, eles podem desenvolver uma doença potencialmente letal denominada eczema herpético. Por essa razão, os indivíduos com eczema atópico devem evitar permanecer próximos de qualquer um que apresente uma infecção herpética ativa. Nos indivíduos com AIDS, as infecções herpéticas da pele podem ser particularmente graves e persistentes. A inflamação do esôfago e do intestino, as úlceras em torno do ânus, a pneumonia ou as alterações de nervos também ocorrem mais freqüentemente em indivíduos com AIDS.

O panarício herpético é uma condição caracterizada por uma ponta de dedo avermelhada, edemaciada e vermelha causada pela penetração do vírus do herpes simples através de uma solução de continuidade da pele. Ele ocorre mais freqüentemente em profissionais da saúde que nunca tiveram o herpes simples e que entram em contato com líquidos corpóreos contaminados.

Diagnóstico

Algumas vezes, o herpes simples é difícil de ser reconhecido. Ele pode ser confundido com uma reação alérgica, com outras infecções virais ou inclusive com uma reação cutânea a determinadas medicações. A localização das vesículas no corpo pode, algumas vezes, ser útil para o estabelecimento do diagnóstico. Se o médico suspeita que um indivíduo apresenta o herpes simples ele pode examinar raspados de vesículas ao microscópio. Quando o indivíduo apresenta uma infecção pelo herpes simples, esses raspados revelarão a presença de grandes células infectadas.

As culturas para o vírus, os exames de sangue para a detecção de concentrações elevadas de anticorpos e as técnicas de biópsia podem confirmar o diagnóstico. Contudo, esses exames raramente são necessários. O diagnóstico pode ser possível em um estágio muito inicial utilizando-se técnicas mais modernas como, por exemplo, a reação da cadeia de polimerase, a qual pode ser utilizada para se identificar o DNA do vírus do herpes simples em tecidos ou líquidos corpóreos.

O Que é a Neuralgia Pós-Herpética?

A dor em áreas da pele inervadas pelos nervos infectados é denominada neuralgia pós-herpética. Esta dor pode persistir durante meses ou anos após um episódio de herpes zoster. A neuralgia pósherpética não indica que o vírus continua a replicar ativamente. A dor da neuralgia pós-herpética pode ser constante ou intermitente e pode piorar à noite ou em resposta ao calor ou ao frio. Algumas vezes, a dor chega a ser incapacitante. A neuralgia pós-herpética ocorre mais freqüentemente em indivíduos idosos: 25% a 50% dos indivíduos com mais de 50 anos com herpes zoster também apresentam alguma neuralgia pós-herpética. No entanto, apenas aproximadamente 10% dos indivíduos com herpes zoster apresentam neuralgia pós-herpética. Poucos apresentam uma dor intensa. Na maioria dos casos, a dor desaparece em 1 a 3 meses, mas, em 10 a 20% dos casos, a dor pode persistir por mais de um ano e é raro que ela dure mais do que 10 anos. Embora tenham sido tentados diversos tratamentos contra a neuralgia pósherpética, nenhum deles revelou ser eficaz em todos os casos. Na maioria dos casos, a dor é leve e não exige um tratamento específico.

Tratamento

Para a maioria dos indivíduos, o único tratamento necessário para o herpes labial é a manutenção da área infectada limpa através da lavagem delicada com água e sabão. A seguir, a área deve ser cuidadosamente seca. Manter as vesículas úmidas pode piorar a inflamação, retardar a cicatrização e facilitar uma a instalação de uma infecção bacteriana. Para prevenir ou tratar uma infecção bacteriana, pode ser utilizada uma pomada antibiótica (p.ex., de neomicina-bacitracina), a qual é aplicada sobre a pele. Quando a infecção bacteriana parece estar progredindo ou causando novos sintomas, o médico pode prescrever antibióticos orais ou injetáveis.

Algumas vezes, os cremes antivirais contendo idoxuridina, trifluridina e aciclovir são eficazes quando aplicados diretamente sobre as vesículas. O aciclovir ou a vidarabina, administrados pela via oral, podem ser utilizados pelo paciente com uma infecção herpética generalizada. Algumas vezes, o uso diário do aciclovir é necessário para suprimir as erupções de repetição, sobretudo quando existe envolvimento genital. Medidas terapêuticas específicas podem ser necessárias para a ceratite por herpes simples ou o herpes genital.

Herpes-zoster

O herpes-zoster (cobreiro) é uma infecção que causa erupção cutânea caracterizada por vesículas cheias de líquido e extremamente dolorosa. O herpes-zoster é causado pelo mesmo herpesvírus, o vírus da varicela-zoster, que causa a varicela (catapora). A infecção inicial causada pelo vírus da varicela-zoster, a qual pode ser sob a forma da varicela, termina com a penetração do vírus nos gânglios (um aglomerador de células nervosas) dos nervos espinhais ou cranianos que lá permanecem em estado de latência. O herpes-zoster sempre é limitado à distribuição da raiz ou raízes nervosas afetadas (dermátomos).

O vírus do herpes-zoster pode nunca mais causar sintomas ou pode ser reativado muitos anos depois. O herpes-zoster ocorre quando o vírus é reativado. Algumas vezes, a reativação ocorre quando a imunidade do organismo encontra-se reduzida por um outro distúrbio (p.ex., AIDS ou doença de Hodgkin) ou por medicamentos que comprometem o sistema imunológico. Mais freqüentemente, a causa da reativação é desconhecida. A ocorrência do herpes-zoster geralmente não significa que existe uma doença grave subjacente. O herpes-zoster pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais freqüente após os 50 anos.

Sintomas e Complicações

Alguns indivíduos sentem-se mal e apresentam calafrios, febre, náusea, diarréia ou dificuldade miccional nos 3 ou 4 dias que antecedem o surgimento do herpes-zoster. Outros apresentam dor ou apenas uma sensação de formigamento ou um prurido em uma determinada área da pele. Ocorre a formação de aglomerados de pequenas vesículas cheias de líquido circundadas por uma pequena área vermelha. As vesículas ocupam apenas uma parte limitada de pele suprida pelos nervos afetados.

Mais freqüentemente, as vesículas formam-se no tronco e, normalmente, somente em um lado. Entretanto, também pode ocorrer a formação de algumas vesículas em outros locais. A área afetada do corpo geralmente torna-se sensível a qualquer estímulo, incluindo o toque muito suave, e pode ser extremamente dolorosa. As vesículas começam a secar e a formar crosta aproximadamente 5 dias após o seu surgimento. Até que ocorra a formação de crosta, as vesículas contêm o vírus do herpes-zoster, podendo causar a varicela quando transmitidos a indivíduos suscetíveis. As vesículas que recobrem grandes áreas da pele ou que persistem por mais de 2 semanas normalmente indicam que o sistema imunológico do indivíduo não está funcionando adequadamente.

Geralmente, um episódio de herpes-zoster provê uma imunidade permanente contra outros episódios. Menos de 4% dos indivíduos apresentam outros episódios. A maioria dos indivíduos recupera- se sem apresentar efeitos permanentes. No entanto, a formação de cicatrizes cutâneas, que podem ser extensas, pode ocorrer mesmo quando o indivíduo não apresenta uma infecção bacteriana secundária. O envolvimento do ramo ocular do nervo facial pode ser muito grave.

Diagnóstico

O médico pode ter problemas para diagnosticar o herpes-zoster antes do surgimento das vesículas, mas a localização da dor inicial em faixa imprecisa e em um lado do corpo pode ser um indício útil. Dependendo dos nervos envolvidos, a dor pode assemelhar-se à causada pela apendicite, por um cálculo renal, por um cálculo biliar ou por uma inflamação do intestino grosso. As vesículas produzidas pelo herpes-zoster podem ser quase idênticas às produzidas pelo herpes simples.

Entretanto, as vesículas do herpes simples tendem a ocorrer em um padrão diferente, mais restrito sobre a pele. Elas tendem a ser menos em umerosas e podem retornar repetidamente no mesmo local. Caso seja necessário, exames laboratoriais podem ser solicitados para confirmar o diagnóstico.

Tratamento

Ainda não se sabe com certeza qual é o melhor tratamento para o herpes-zoster. Nem os corticosteróides nem um antisoro com concentrações elevadas de anticorpos contra o vírus têm efeito sobre a doença após ela haver começado. Nenhum medicamento consegue eliminar o vírus. No entanto, drogas antivirais (p.ex., aciclovir ou fanciclovir) podem ser administradas para reduzir a duração da erupção cutânea, sobretudo em indivíduos com comprometimento do sistema imunológico. A manutenção da pele limpa é importante para se evitar a ocorrência de infecções bacterianas secundárias. A aspirina ou a codeína podem aliviar a dor temporariamente e podem ser úteis quando a dor impede as atividades ou o sono. A aspirina deve ser evitada em crianças devido ao risco de síndrome de Reye.

Mononucleose Infecciosa

A mononucleose infecciosa é uma doença caracterizada pela febre, inflamação da garganta e aumento do tamanho dos linfonodos, que é causada pelo vírus de Epstein-Barr (um herpesvírus). Após invadir as células que revestem o nariz e a garganta, o vírus de Epstein-Barr dissemina-se até os linfócitos B (leucócitos responsáveis pela produção de anticorpos). A infecção pelo vírus de Epstein-Barr é muito comum, afetando igualmente crianças, adolescentes e adultos. Aproximadamente 50% de todas as crianças dos Estados Unidos apresentaram uma infecção pelo vírus de Epstein-Barr antes dos 5 anos de idade. No entanto, o vírus não é muito contagioso.

Os adolescentes e os adultos jovens geralmente contraem a mononucleose infecciosa através do beijo ou de outro contato íntimo com alguém infectado pelo vírus de Epstein-Barr. Este vírus está associado ao linfoma de Burkitt, um tipo de câncer que ocorre principalmente na África tropical. O vírus também pode ter algum papel em certos tumores dos linfócitos B em indivíduos com comprometimento do sistema imunológico como, por exemplo, aqueles submetidos a transplantes de órgãos ou com AIDS ou com alguns tipos de câncer de nariz ou de garganta. Embora o papel exato do vírus de Epstein- Barr nesses cânceres seja desconhecido, acredita-se que partes específicas do material genético do vírus alteram o ciclo de crescimento das células infectadas.

Síndrome da Fadiga Crônica

A síndrome da fadiga crônica é uma doença que ocorre principalmente entre adultos com 20 a 40 anos de idade. O número de mulheres que apresentam a síndrome da fadiga crônica é duas vezes maior que o de homens. Os sintomas incluem a fadiga debilitante, a interferência na capacidade de concentração e, algumas vezes, uma febre baixa e o aumento de tamanho dos linfonodos. Inicialmente, suspeitou-se que o vírus de Epstein-Barr era a causa da síndrome, mas existem poucas evidências que sustentem esta teoria.

Sintomas e Complicações

Na maioria das crianças com menos de 5 anos, a infecção não produz sintomas. Em adolescentes e adultos, ela pode ou não causar sintomas. Acredita-se que o seu período de incubação usual seja de 30 a 50 dias. Os quatro principais sintomas são a fadiga, a febre, a inflamação da garganta e o aumento de tamanho dos linfonodos. Nem todas os indivíduos apresentam os quatro sintomas juntos. Normalmente, a infecção começa com uma sensação de mal-estar generalizado que dura de alguns dias até uma semana.

A seguir, o indivíduo apresenta febre, inflamação da garganta e linfonodos aumentados de volume. Geralmente, a febre atinge um máximo de 39,5 °C ao entardecer ou no início da noite. A garganta pode estar muito inflamada e um material semelhante ao pus pode ser produzido na parte posterior da garganta. Qualquer linfonodo pode ter seu volume aumentado, mas os do pescoço são geralmente os mais afetados. Em geral, a fadiga é mais pronunciada nas primeiras 2 a 3 semanas. Em mais de 50% dos indivíduos com mononucleose infecciosa, o baço aumenta de volume. O fígado pode aumentar discretamente.

Em poucos casos, pode ocorrer icterícia e edema em torno dos olhos. Erupções cutâneas são incomuns, mas, em um estudo realizado, praticamente todos os indivíduos infectados pelo vírus de Epstein-Barr que usaram o antibiótico ampicilina apresentaram erupção cutânea. Outras complicações incluem a encefalite (inflamação do cérebro), convulsões, diversas alterações nervosas, meningite (inflamação do revestimento do cérebro) e alterações comportamentais. O baço pode tornar-se mais suscetível a lesão. A sua ruptura é uma complicação possível, apesar de incomum.

Quando ela ocorre, é necessária uma cirurgia de emergência para a remoção do órgão. Geralmente, o número de leucócitos no sangue está elevado, mas as contagens leucocitárias, eritrocitárias e de plaquetas podem diminuir, podendo ser normalizadas sem tratamento. Em poucos casos, os linfonodos do pescoço comprimem as vias aéreas. Pode ocorrer congestão pulmonar, mas, freqüentemente ela é assintomática.

Diagnóstico

O médico estabelece o diagnóstico da mononucleose infecciosa baseando-se nos sintomas. No entanto, os sintomas são inespecíficos e podem assemelhar-se aos sintomas de outras infecções. A infecção pelo citomegalovírus, por exemplo, causa uma síndrome difícil de ser diferenciada da mononucleose infecciosa.

Outros vírus e a toxoplasmose também podem causar sintomas similares aos da mononucleose infecciosa, assim como os efeitos colaterais produzidos por algumas drogas e algumas doenças não infecciosas. Um exame de sangue pode confirmar o diagnóstico de mononucleose infecciosa. Com o exame, o médico pode detectar a presença de anticorpos contra o vírus de Epstein-Barr. O organismo também produz novos linfócitos B para eliminar os infectados.

Esses linfócitos possuem um aspecto característico ao microscópio e estão presentes em grande quantidade no sangue dos indivíduos com mononucleose infecciosa. A infecção estreptocócica da garganta, que pode assemelhar- se à mononucleose infecciosa, é identificada através de uma cultura de material coletado da garganta e deve ser tratada com antibióticos para evitar a formação de abcessos e reduzir as chances de ocorrência da moléstia reumática.

Prognóstico e Tratamento

A maioria dos indivíduos com mononucleose infecciosa recuperam-se completamente. A duração da doença varia. A fase aguda dura cerca de 2 semanas, após a qual a maioria dos indivíduos é capaz de retomar as atividades habituais. Contudo, a fadiga pode persistir por várias semanas e, ocasionalmente, por meses. Raramente ocasiona a morte (em menos de 1% das infecções).

As fatalidades são conseqüência de complicações, como a encefalite, a ruptura do baço ou a obstrução das vias respiratórias. Além disso, uma má evolução é particularmente possível nos indivíduos com comprometimento do sistema imunológico. Os indivíduos com mononucleose infecciosa são aconselhados a repousar até o desaparecimento da febre, da inflamação da garganta e do mal-estar. Devido ao risco de ruptura do baço, o levantamento de grandes pesos e os esportes de contato devem ser evitados por 6 a 8 semanas, mesmo quando o baço não apresenta um aumento perceptível.

O médico pode prescrever o acetaminofeno ou a aspirina para reduzir a febre e a dor. No entanto, a aspirina deve ser evitada em crianças devido à possibilidade mínima de ocorrência da síndrome de Reye, a qual pode ser fatal. Algumas complicações, como o edema intenso das vias aéreas, podem ser tratadas com corticosteróides. Embora o aciclovir reduza a produção do vírus de Epstein-Barr, ele tem pouco efeito sobre os sintomas da mononucleose infecciosa.

nfecções Virais do Sistema Nervoso Central

As infecções virais do sistema nervoso central são causadas por vários vírus que afetam principalmente o cérebro e a medula espinhal e, algumas vezes, as meninges (as membranas que envolvem essas estruturas.

Raiva

A raiva é uma infecção viral do cérebro que causa irritação e inflamação do cérebro e da medula espinhal. O vírus da raiva está presente na saliva de animais infectados. Um animal com raiva transmite a infecção para outros animais ou para seres humanos mordendo e, às vezes, lambendo.

A partir do local da inoculação inicial, o vírus desloca- se ao longo dos nervos até a medula espinhal e o cérebro, onde ele multiplica-se. Posteriormente, ele descende através dos nervos até as glândulas salivares e para o interior da saliva. Vários diferentes animais podem transmitir raiva para o ser humano. Embora os cães sejam freqüentemente a fonte de infecção, também os gatos, os morcegos, os guaxinins, as jaritacas, as raposas e outros animais podem ser responsáveis. É incomum que camundongos, ratos ou outros pequenos mamíferos transmitam a raiva, em parte porque a mordida de um outro animal pode lhes ser mortal.

Nos Estados Unidos, a vacinação praticamente eliminou a raiva em cães. No entanto, ela continua a ser razoavelmente comum na maioria dos países da América Latina, na África e na Ásia, onde nem sempre os animais de estimação são vacinados contra a doença. Os animais infectados podem apresentar a raiva furiosa ou a raiva muda. Na raiva furiosa, o animal torna-se agitado e apresenta um comportamento anormal. Posteriormente, ele apresenta paralisia e morre. Na raiva muda, a paralisia localizada ou generalizada é predominante desde o início. Nos Estados Unidos, a maioria dos casos de raiva humana durante os últimos trinta anos foi causada por mordidas de animais selvagens infectados.

Estes podem apresentar um comportamento furioso, mas é mais provável que apresentem alterações comportamentais menos evidentes. Os animais noturnos (morcegos, jaritacas, guaxinins e raposas) infectados pelo vírus da raiva podem aparecer durante o dia e não demonstrar o medo habitual frente aos seres humanos. Apesar de ser extremamente raro, a raiva pode ser adquirida através da respiração do ar infectado. Dois casos ocorreram quando exploradores respiraram o ar de uma caverna infestada de morcegos.

Sintomas

Geralmente, os sintomas começam 30 a 50 dias após a infecção, mas o período de incubação varia de 10 dias a mais de um ano. O período de incubação costuma ser mais curto em indivíduos que foram mordidos na cabeça ou no tronco ou que sofreram muitas mordidas. Em 20% dos indivíduos, a raiva começa com a paralisia de membros inferiores que se estende a todo o corpo. Contudo, na maioria dos casos a doença começa com um curto período de depressão mental, agitação, sensação de mal-estar e febre.

A agitação aumenta até uma excitação incontrolável e o indivíduo produz uma grande quantidade de saliva. Os espasmos dos músculos da garganta e do aparelho vocal podem ser extremamente dolorosos. Esses espasmos são causados pela irritabilidade da área do cérebro responsável pela deglutição e pela respiração. Uma brisa leve ou a tentativa de beber água podem desencadear esses espasmos. Conseqüentemente, o indivíduo com raiva não consegue beber e, por essa razão, a doença é algumas vezes denominada hidrofobia (medo da água).

Diagnóstico

Quando um indivíduo é mordido por um animal doente ou selvagem, a maior preocupação é a raiva. Em geral, para se determinar que o animal apresenta raiva, é exigido o exame de uma amostra de tecido cerebral. O animal deve ser capturado e observado. Normalmente, o animal deve ser sacrificado para que seu cérebro seja examinado. No entanto, quando um gato ou cão assin-tomático morde um indivíduo, o veterinário pode confinar e observar o animal durante 10 dias. Se o animal permanecer sadio, o veterinário pode concluir com segurança que o animal não apresentava raiva no momento da mordida.

Quando um indivíduo é mordido por um animal e apresenta sintomas de encefalite (inflamação progressiva do cérebro), a causa provável é a raiva. O exame viral do indivíduo não é útil até o surgimento dos sintomas. Uma biópsia de pele, na qual uma amostra da pele é coletada (geralmente do pescoço) para exame microscópcio, pode revelar o vírus.

Prevenção e Tratamento

Para prevenir a raiva, devem ser tomadas certas medidas antes da exposição ao vírus ou logo após a mesma. Por exemplo, a vacina pode ser aplicada em indivíduos com alto risco de exposição ao vírus como, por exemplo, veterinários, técnicos laboratoriais que manipulam animais potencialmente infectados, indivíduos que vivem ou permanecem mais de 30 dias em países em desenvolvimento (onde a raiva canina é disseminada) e indivíduos que realizam explorações em cavernas de morcegos.

A vacinação provê algum grau de proteção permanente à maioria dos indivíduos. No entanto, as concentrações de anticorpos diminuem no decorrer do tempo e os indivíduos com alto risco de novas exposições devem receber um reforço da vacina a cada 2 anos. Os indivíduos mordidos por um animal raivoso raramente apresentam raiva quando são instituídas imediatamente as medidas preventivas adequadas. Aqueles mordidos por coelhos e roedores (p.ex., esquilos, ratos e camundongos) não necessitam de qualquer tratamento, exceto quando existe uma suspeita definida de raiva. Esses animais raramente são infectados. Contudo, os indivíduos mordidos por animais selvagens (p.ex., jaritacas, guaxinins, raposas e morcegos) necessitam de tratamento adicional, exceto quando o animal pode ser capturado e for confirmado que ele não está infectado pelo vírus da raiva.

O tratamento imediato de um ferida produzida pela mordida de um animal é a melhor medida de prevenção. A área contaminada é minuciosamente limpa com sabão. Os ferimentos puntiformes profundos são lavados com água e sabão. Após a limpeza da ferida, os indivíduos que não foram imunizados previamente contra a raiva recebem uma injeção de imunoglobulina anti-rábica e metade da dose é administrada no local da mordida. Para os indivíduos que não foram previamente imunizados, são aplicadas injeções de vacina anti-rábica no dia da exposição e no 3º, 7º, 14º e 28º dia. Em geral, a dor e o edema no local da injeção são pouco importantes. É raro ocorrerem reações alérgicas graves durante a série de cinco injeções. Menos de 1% dos indivíduos apresentam febre após a vacina.

Quando o indivíduo que foi mordido já foi vacinado, o risco dele contrair a raiva é menor, mas de qualquer modo a ferida deve ser lavada imediatamente e devem ser aplicadas duas doses da vacina, no dia do evento e 2 dias depois. Antes da disponibilidade do tratamento atual, era comum a morte em 3 a 10 dias. A maioria dos indivíduos infectados morria devido a uma obstrução das vias respiratórias (asfixia), a convulsões, à exaustão ou à paralisia generalizada. Embora a morte devida à raiva fosse considerada inevitável, alguns indivíduos sobreviviam. A sobrevivência nessas circunstâncias pode ser atribuída ao tratamento intensivo para controlar os sintomas pulmonares, cardíacos e cerebrais. Após a manifestação dos sintomas, nenhuma vacina ou imunoglobulina contra a raiva parece ter efeito.

Doença de Creutzfeldt-Jakob

A doença de Creutzfeldt-Jakob (encefalopatia espongiforme subaguda) é uma infecção progressiva e inevitavelmente fatal que produz espasmos musculares e a perda progressiva da função mental. A doença de Creutzfeldt-Jakob ocorre no mundo todo. Pouco se sabe sobre a sua transmissão. Alguns poucos indivíduos adquiriram a doença de Creutzfeldt-Jakob ao receberem transplantes de córnea ou possivelmente de outros tecidos contaminados, de doadores infectados ou de instrumentos contaminados utilizados durante uma cirurgia de cérebro.

O hormônio do crescimento obtido a partir de hipófises de cadáveres também pode ser uma fonte de infecção. (Atualmente, existe um hormônio do crescimento sintético.) O risco da doença aumenta discretamente em indivíduos submetidos a uma cirurgia cerebral. Alguns patologistas adquiriram a doença de Creutzfeldt-Jakob, presumivelmente a partir do contato com cadáveres. A doença de Creutzfeldt-Jakob afeta principalmente os adultos, sobretudo aqueles com idade próxima dos 60 anos. O microrganismo causador é de difícil identificação porque não foi descoberto qualquer RNA ou DNA estranho associado à doença. Contudo, existem evidências indicando a presença de uma proteína específica, denominada príon, naqueles que apresentam a doença.

Uma doença similar à doença de Creutzfeldt- Jakob ocorre em ovinos ( scrapie) e bovinos (doença da vaca louca). A infecção é transmitida aos descendentes e existem especulações de que ela pode ser adquirida através do consumo de tecidos infectados. A transmissão entre espécies distintas de animais não está clara, mas suspeita- se que a incidência da doença da vaca louca aumentou quando o gado começou a ser alimentado com vísceras de carneiros e os casos humanos podem ter ocorrido devido ao consumo de carne bovina contaminada.

Sintomas

Durante meses ou anos após a exposição, não ocorrem sintomas. Lentamente, a lesão cerebral aumenta e a demência (perda da capacidade intelectual) torna-se evidente. No início, os sintomas assemelham-se aos das outras demências (negligência com a higiene pessoal, apatia, irritabilidade, esquecimento e confusão mental). Alguns indivíduos apresentam fadiga fácil, sonolência, insônia ou outros distúrbios do sono.

Posteriormente, os sintomas pioram, geralmente muito mais rapidamente que na doença de Alzheimer, até o indivíduo atingir um estado de demência profunda. Geralmente, o indivíduo apresenta espasmos musculares nos primeiros 6 meses após o início dos sintomas. Ele também pode apresentar tremores, atitudes desajeitadas e movimentos corpóreos peculiares. A visão pode tornar-se borrada ou pouco nítida. A maioria dos indivíduos morre, freqüentemente de pneumonia, aproximadamente depois de 3 a 12 meses de doença. Cerca de 5 a 10% dos indivíduos sobrevivem 2 anos ou mais.

Diagnóstico

O médico considera o diagnóstico da doença de Creutzfeldt-Jakob ao examinar um indivíduo com demência. Para a maioria dos indivíduos com demência, a doença de Creutzfeldt-Jakob é uma causa improvável, exceto quando ocorre uma deterioração rápida da função mental ou quando ela é acompanhada por espasmos musculares.

O diagnóstico da doença de Creutzfeldt- Jakob geralmente não é confirmado enquanto a pessoa está viva, pois ele exige a coleta de um pedaço do tecido cerebral para testagem específica. Essa testagem é segura, mas somente é realizada quando a doença de Creutzfeldt-Jakob é considerada muito provável.

Prevenção e Tratamento

A doença de Creutzfeldt-Jakob não tem cura e a sua evolução não pode ser retardada. O médico tenta prover conforto e tratar dos sintomas do paciente. Como trata-se de uma doença transmissível, devem ser evitados os transplantes ou o consumo de tecidos humanos ou animais infectados.

Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva

A leucoencefalopatia multifocal progressiva é uma rara manifestação de infecção cerebral causada pelo poliomavírus que com freqüencia evolui rapidamente uma vez iniciados os sintomas. A doença afeta o cérebro e a medula espinhal, sendo causada pelo vírus JC, o qual é um poliomavírus. A leucoencefalopatia multifocal progressiva tornou-se mais comum em indivíduos que apresentam comprometimento da função (imunológica) dos linfócitos T como, por exemplo, aqueles com leucemia, linfoma ou AIDS. Os homens são mais freqüentemente afetados que as mulheres.

Sintomas e Diagnóstico

Muitos indivíduos são infectados pelo vírus JC sem apresentar sintomas aparentes. Como ocorre com os herpesvírus, o vírus JC parece ficar latente até que algum fator (p.ex., comprometimento do sistema imunológico) provoque a sua reativação. Por essa razão, a leucoencefalopatia multifocal progressiva normalmente manifestase apenas anos após a infecção inicial. Os sintomas podem começar gradualmente ou abruptamente. Uma vez iniciados, os sintomas comumente pioram rapidamente e variam de acordo com a parte do cérebro afetada. A cefaléia e as convulsões são raras.

Uma perda progressiva da capacidade intelectual (demência) é observada em aproximadamente 2 em cada 3 indivíduos. Além disso, pode ocorrer aumento da dificuldade de fala e cegueira parcial. A morte é muito comum entre o primeiro e o sexto mês após o início dos sintomas, mas alguns indivíduos já viveram mais. O médico baseia o diagnóstico nos sintomas progressivamente piores. As técnicas diagnósticas invasivas, como a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM), podem auxiliar no diagnóstico. Entretanto, um diagnóstico definitivo em geral pode ser estabelecido somente após a morte do indivíduo, quando o tecido cerebral pode ser examinado.

Tratamento

Não existe um tratamento comprovadamente eficaz para a leucoencefalopatia multifocal progressiva. Os pesquisadores suspeitam que certas funções do sistema imunológico possam ter sido responsáveis pela interrupção da infecção ou da destruição do tecido cerebral nos indivíduos que sobreviveram.

Paraparesia Espástica Tropical

A paraparesia espástica tropical é uma infecção viral lentamente progressiva da medula espinhal que causa enfraquecimento dos membros inferiores. A infecção é causada pelo vírus do linfoma/ leucemia de células T humano tipo I (HTLV-I, também denominado vírus linfotrópico T humano). Este vírus (um retrovírus) também pode causar um tipo de leucemia. A paraparesia espástica tropical pode ser transmitida através do contato sexual ou de agulhas contaminadas. Ela também pode ser transmitida da mãe para o filho, seja por meio da placenta ou do leite materno.

Os sintomas podem manifestar-se anos após a infecção inicial. Em sua resposta à infecção pelo HTLV-I, o sistema imunológico pode lesar o tecido nervoso, causando os sintomas. O enfraquecimento e a rigidez muscular dos dois membros inferio-res começam de forma gradual e pioram lentamente. Pode ocorrer uma perda parcial da sensibilidade dos pés. Embora não exista uma cura disponível, indivíduos tratados com corticosteróides (os quais podem suprimir a resposta imune) apresentaram uma melhoria acentuada. A plasmaferese também tem produzido uma melhoria temporária.

Infecções Causadas por Arbovírus

Arbovírus é um termo utilizado para um vírus que é transmitido aos seres humanos através de picadas de insetos (p.ex., carrapatos e mosquitos), os quais são infectados ao picarem animais infectados (p.ex., animais e pássaros domésticos).

Encefalite Causada por Arbovírus

A encefalite causada por arbovírus é uma infecção grave do cérebro causada por um dos vários vírus deste grupo. Os tipos mais comuns de encefalite viral transmitidos através de picadas de insetos nos Estados Unidos são a encefalite eqüina do oeste, a encefalite eqüina do leste, a encefalite de St. Louis e a encefalite da Califórnia. O vírus responsável por cada uma dessas infecções é transmitido por um tipo específico de mosquito encontrado em uma determinada área geográfica. As doenças são zoonoses endêmicas da região, mas ocorrem surtos periódicos quando a população de animais infectados aumenta. As infecções em seres humanos são ocasionais e não aumentam a disseminação do vírus.

A encefalite eqüina do oeste ocorre por todos os Estados Unidos e atinge todas as faixas etárias, mas afeta particularmente as crianças com menos de 1 ano de idade. A encefalite eqüina do leste, como o nome sugere, ocorre predominantemente no leste dos Estados Unidos, sobretudo em crianças de pouca idade e em indivíduos com mais de 55 anos de idade e pode provocar a morte mais freqüentemente que o tipo do oeste. Os dois tipos tendem a ser graves em crianças com menos de 1 ano de idade, causando lesão nervosa ou cerebral permanente. Surtos de encefalite de St. Louis têm ocorrido em todo os Estados Unidos, sobretudo no Texas e em alguns estados do meio-oeste.

O risco de morte é maior para os indivíduos idosos. Existem vários vírus relacionados do grupo de vírus Califórnia, como o vírus Califórnia (mais comum no oeste dos Estados Unidos) e o vírus do Jamestown Canyon (mais comum a partir do oeste de Nova York). Todos os vírus do grupo Califórnia afetam principalmente as crianças.

Sintomas e Tratamento

Os sintomas iniciais mais comuns incluem a cefaléia, a sonolência e a febre. O vômito e a rigidez do pescoço são sinais menos comuns de uma infecção do cérebro e da medula espinhal. Rapidamente, podem ocorrer tremores musculares, confusão mental, convulsões e coma. Ocasionalmente, ocorre paralisia dos membros superiores e inferiores. Ao contrário da encefalite causada pelo vírus do herpes simples, não existe um tratamento específico para a encefalite causada pelo arbovírus. O tratamento é geralmente suportivo. O médico tenta manter a função cardíaca e a pulmonar enquanto a infecção segue sua evolução.

Outras Infecções Causadas por Arbovírus

Em outras partes do mundo, a natureza transmite ao ser humano vários arbovírus diferentes que causam encefalite. Estas doenças incluem a encefalite eqüina venezuelana, a encefalite japonesa, a encefalite russa da primavera-verão e outros tipos de encefalite que recebem o nome da região geográfica onde eles ocorrem. Uma das infecções por arbovírus mais conhecidas e historicamente importantes é a denominada febre amarela. Ela é transmitida por mosquitos e produz febre, hemorragia e icterícia. Pode ser fatal. A doença é mais comum na África Central e nas Américas Central e do Sul.

A dengue é uma das infecções por arbovírus mais freqüentes, ocorrendo em todo o mundo, nas regiões tropicais e subtropicais. A infecção, transmitida por mosquitos produz febre, aumento de tamanho dos linfonodos e hemorragia. Ela produz dores articulares e musculares intensas e, por essa razão, é também denominada “febre quebra-ossos”. A dengue pode ser fatal. Ela ocorre mais freqüentemente em crianças com menos de 10 anos de idade e, nos anos subseqüentes, são comuns as infecções recorrentes com tipos de vírus diferentes.

Infecções Causadas por Arenavírus

Os arenavírus e alguns vírus relacionados aos arbovírus são vírus que podem ser transmitidos aos seres humanos através da exposição a roedores ou a aerossóis originados de seus excrementos.

Coriomeningite Linfocítica

A coriomeningite linfocítica é uma doença causada por arenavírus que geralmente produz uma doença semelhante à gripe. O arenavírus causador da coriomeningite linfocítica é comum em roedores, especialmente no rato cinzento doméstico e no hamster. Estes animais normalmente são infectados pelo vírus durante toda a vida, excretando-o por urina, fezes, sêmen e secreções nasais. A exposição à poeira ou ao alimento contaminado é geralmente responsável pela infecção nos seres humanos. A doença comumente ocorre no inverno, quando os roedores silvestres procuram abrigo em habitações.

Sintomas

Uma a três semanas após a infecção, o indivíduo apresenta uma doença semelhante à gripe. A maioria dos indivíduos sintomáticos apresenta uma febre de 38 °C a 40 °C, a qual pode ser acompanhada por tremores. Outros sintomas incluem o mal-estar generalizado, náusea, tontura, fraqueza, dores musculares, dor atrás dos olhos, que é exacerbada pela luz intensa, e inapetência. O indivíduo pode apresentar dor de garganta, dores articulares e vômito. A doença também pode causar edema nas articulações dos dedos das mãos e inflamação dos testículos. Também pode ocorrer perda de cabelo.

Freqüentemente, a doença ocorre em duas fases: uma inflamação das membranas que revestem o cérebro (meningite), que se manifesta 1 a 2 semanas após a doença semelhante à gripe. Os indivíduos com meningite apresentam cefaléia e rigidez do pescoço. Geralmente, eles recuperam-se totalmente. Algumas vezes, os indivíduos apresentam uma encefalite (inflamação do cérebro), a qual produz cefaléia e sonolência. A lesão permanente de nervos é incomum, mas pode ocorrer.

Diagnóstico e Tratamento

Durante a primeira semana da doença, os sintomas assemelham-se aos da gripe ou de uma infecção viral similar e, por essa razão, normalmente não são realizados exames. Quando eles o são, uma radiografia torácica pode revelar alguma inflamação pulmonar e os exames de sangue revelam uma baixa contagem leucocitária e de plaquetas. Quando os sintomas sugerem uma meningite, é realizada uma punção lombar para a coleta do líquido cefalorraquidiano (líquido que circunda o cérebro e a medula espinhal).

Quando o indivíduo apresenta coriomeningite linfocítica, o líquido cefalorraquidiano geralmente contém muitos leucócitos, principalmente linfócitos. A doença é diagnosticada através da identificação do vírus no líquido cefalorraquidiano ou através da detecção de uma concentração elevada do anticorpo contra o vírus. Não existe um tratamento específico disponível. O médico tenta aliviar os sintomas até o desaparecimento da infecção.


Vírus Ebola e Marburg

O Ebola e o Marburg são dois vírus africanos complexos classificados como filovírus. Eles causam graves febres hemorrágicas nos seres humanos. O vírus Ebola provavelmente é originário dos macacos. Freqüentemente, ele é transmitido entre os seres humanos através da exposição ao sangue ou a tecidos infectados. A infecção produz febre, diarréia, hemorragia e perda da consciência. A infecção costuma ser fatal, mas podem existir cepas menos virulentas do vírus. O Ebola ocorre principalmente na África Oriental, Meridional e Central. O vírus Marburg é adquirido através da exposição a tecidos de primatas infectados. Ele é altamente infeccioso e causa uma doença grave que afeta muitos órgãos. A morte é quase sempre inevitável. A sua presença parece estar limitada à África Central.

Febres Hemorrágicas

Em várias partes do mundo, infecções normalmente encontradas em animais (zoonoses) são prevalentes nos seres humanos. Essas infecções estão relacionadas ao habitat local e aos vetores dos vírus para a transmissão. Alguns vírus causam uma infecção grave, normalmente fatal, caracterizada por uma febre hemorrágica, hemorragia disseminada e falência de múltiplos órgãos.

Essas infecções são as febres hemorrágicas boliviana e argentina e a febre de Lassa. A febre de Lassa é uma infecção causada por arenavírus e transmitida de roedores aos seres humanos ou de uma pessoa a outra, produzindo febre, vômito e hemorragia. Ela é altamente fatal e exige um isolamento rigoroso dos casos. A febre de Lassa ocorre principalmente na África Ocidental.

Infecção Causada por Hantavírus

A infecção causada por hantavírus é uma doença viral que se é transmitida por roedores aos seres humanos e causa infecções pulmonares e renais graves. Os hantavírus são buniavírus distantemente aparentados com o grupo de vírus Califórnia, da encefalite. Os hantavírus estão presentes no mundo todo, na urina, nas fezes e na saliva de vários roedores, inclusive de camundongos e ratos de campo e de laboratório. O ser humano adquire a infecção ao inalar partículas virais no ar.

Não existem evidências de que ocorra o contágio entre as pessoas. Recentemente, ocorreram surtos de infecção causada por hantavírus envolvendo os pulmões na região sudoeste dos Estados Unidos. No entanto, os mesmos vírus ou vírus relacionados foram encontrados em outros locais dos Estados Unidos e é possível que existam em todos os lugares onde existe um animal hospedeiro característico.

Sintomas

A infecção pulmonar causada pelo hantavírus começa com febre e dor muscular. O indivíduo também pode apresentar dor abdominal, diarréia ou vômito. Após 4 a 5 dias, o indivíduo pode apresentar tosse e dificuldade respiratória, a qual pode tornar-se grave em horas. Pode ocorrer uma queda acentuada da pressão arterial potencialmente letal (choque) devido à perda líquida para o interior dos pulmões. A morte quase invariavelmente ocorre após o choque. A infecção pulmonar é letal na maioria dos casos. Aqueles que sobrevivem podem recuperar-se totalmente. A infecção renal pode ser leve ou grave. A forma leve começa subitamente, com febre alta, cefaléia, dor lombar e dor abdominal. No terceiro ou quarto dia, pequenas manchas semelhantes a equimoses aparecem nas escleras (branco dos olhos) e no palato (céu da boca) concomitantemente com uma erupção cutânea no abdômen. Aproximadamente 20% dos indivíduos tornamse gravemente doentes e sonolentos. A função renal deteriora e, conseqüentemente, ocorre um acúmulo de substâncias tóxicas no sangue, acarretando náusea, perda de apetite e fadiga. A erupção cutânea desaparece em aproximadamente 3 dias.

O débito urinário torna-se maior que o normal e o indivíduo recupera-se após algumas semanas. A forma grave da infecção renal começa de forma semlhante, mas a febre é mais elevada entre o terceiro e o quarto dia. Um sintoma inicial típico é uma hiperemia (rubor) disseminada na face, semelhante a uma queimadura solar. Uma pressão suave sobre a pele produz uma marca vermelha persistente. Entre o terceiro e o quinto dia, ocorrem petéquias (hemorragias puntiformes), inicialmente no palato e, em seguida, em qualquer área da pele submetida à pressão. Ao mesmo tempo, ocorre hemorragia da esclera. Em torno do quinto dia, pode ocorrer uma queda abrupta da pressão arterial, a qual acarreta o choque. Por volta do oitavo dia, a pressão arterial retorna ao normal, mas o débito urinário diminui e volta a aumentar em torno décimo-primeiro dia. Nesse momento, a hemorragia, sobretudo a cerebral, pode levar à morte. A infecção renal causada pelo hantavírus é fatal em aproximadamente 5% dos indivíduos. Alguns dos que sobrevivem apresentam uma lesão renal permanente.

Tratamento

Geralmente, o médico provê um tratamento suportivo. A ribavirina, uma droga antiviral, pode ajudar quando administrada precocemente. Para a infecção pulmonar, a administração de oxigênio e a monitorização da pressão arterial parecem ter um papel fundamental na recuperação. Para a infecção renal, a diálise pode ser necessária e pode salvar a vida do paciente.

FONTE: http://www.msd-brazil.com/msdbrazil/patients/manual_Merck




PNEUMONIA


A pneumonia é uma infecção dos pulmões que envolve seus diminutos sacos aéreos (alvéolos) e os tecidos circunjacentes. Anualmente, nos Estados Unidos, cerca de 2 milhões de indivíduos desenvolvem um quadro de pneumonia, e 40.000 a 70.000 deles morrem. Freqüentemente, a pneumonia é a doença terminal de indivíduos portadores de outras doenças crônicas graves. A pneumonia é a sexta causa mais comum de morte e a infecção hospitalar fatal mais comum. Nos países em desenvolvimento, a pneumonia é a primeira ou a segunda causa principal de morte, sendo apenas suplantada pela desidratação causada pela diarréia grave.

Causas

A pneumonia não é uma doença única, mas muitas doenças diferentes, cada uma sendo causada por um microrganismo diferente. Geralmente, a pneumonia inicia após a inalação de microrganismos para o interior dos pulmões, mas, algumas vezes, a infecção é levada aos pulmões através da circulação sangüínea ou migra aos pulmões diretamente a partir de uma infecção próxima. Nos adultos, as causas mais comuns são as bactérias (p.ex., Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus, Legionella e Haemophilus influenzae). Os vírus (p.ex., da gripe e o da varicela) também podem causar pneumonia.

O Mycoplasma pneumoniae, microrganismo semelhante às bactérias, é uma causa particularmente comum de pneumonia em crianças maiores e em adultos jovens. Alguns fungos também causam pneumonia. Alguns indivíduos são mais suscetíveis à pneumonia que outros. O alcoolismo, o tabagismo, o diabetes, a insuficiência cardíaca e a doença pulmonar obstrutiva crônica são condições que, sem exceção, predispõem à pneumonia. Os indivíduos muito jovens e os muito idosos também apresentam maior risco do que a média. Isto também é verdadeiro para os indivíduos que apresentam supressão do sistema imune pelo uso de determinadas drogas (como as utilizadas no tratamento do câncer e para evitar a rejeição de um órgão transplantado).

Os indivíduos debilitados, acamados, paralisados, inconscientes ou que apresentam uma doença que compromete o sistema imune (p.ex., AIDS) também correm risco. A pneumonia pode ocorrer após uma cirurgia, principalmente após uma cirurgia abdominal, ou após um traumatismo, sobretudo um traumatismo torácico, em decorrência da respiração superficial resultante, do comprometimento da tosse e da retenção de muco. Freqüentemente, os agentes causadores da pneumonia são o Staphylococcus aureus, os pneumococos, o Haemophilus influenzae ou uma combinação desses microrganismos.

Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas comuns da pneumonia são a tosse produtiva, a dor torácica, os calafrios, a febre e a dificuldade respiratória. Entretanto, esses sintomas podem variar de acordo com a extensão da doença e com o microrganismo causador. Quando um indivíduo parece apresentar pneumonia, o médico realiza a ausculta pulmonar com o auxílio de um estetoscópio para avaliar o seu estado. Geralmente, a pneumonia produz alterações características na transmissão dos sons, que podem ser detectadas através do estetoscópio.

Na maioria dos casos, o diagnóstico da pneumonia é confirmado por uma radiografia torácica, que também auxilia na determinação do microrganismo causador da doença. Também são examinadas amostras de escarro e de sangue com o objetivo de se identificar o microrganismo responsável. No entanto, em 50% dos indivíduos com pneumonia, a identificação do microrganismo responsável é impossível.

Tratamento

Os exercícios de respiração profunda e a terapia para eliminar secreções são úteis na prevenção da pneumonia em indivíduos de alto risco, como os debilitados ou submetidos a uma cirurgia torácica. Os indivíduos com pneumonia também precisam eliminar as secreções. Freqüentemente, os indivíduos que não se encontram muito doentes podem utilizar antibióticos pela via oral e permanecer em casa.

Os idosos e aqueles que apresentam dificuldade respiratória ou uma doença cardíaca ou pulmonar preexistente geralmente são hospitalizados e medicados com antibióticos administrados pela via intravenosa. Esses indivíduos também podem necessitar de suplementação de oxigênio, da administração de líquidos pela via intravenosa e de suporte ventilatório mecânico.


Pneumonia Pneumocócica

O Streptococcus pneumoniae (pneumococo) é a causa bacteriana mais comum de pneumonia. O indivíduo infectado com um dos oitenta tipos conhecidos de pneumococos adquire uma imunidade parcial contra a reinfecção desse tipo, mas não se torna imune aos demais tipos. Geralmente, a pneumonia pneumocócica inicia após uma infecção viral do trato respiratório superior (resfriado, faringite ou gripe) ter lesado suficientemente os pulmões, a ponto de permitir que pneumococos infectem a área.

O paciente apresenta tremores e calafrios, acompanhados por febre, tosse produtiva, dificuldade respiratória e dor torácica (no lado do pulmão afetado). Também são comuns a náusea, o vômito, a fadiga e as dores musculares. Freqüentemente, o escarro apresenta uma cor de ferrugem devido à presença de sangue. Existe uma vacina que protege até 70% dos indivíduos contra infecções pneumocócicas graves.

A vacinação é recomendável para os indivíduos com alto risco de pneumonia pneumocócica, como aqueles que apresentam uma doença pulmonar ou cardíaca, um comprometimento do sistema imune ou diabetes, e aqueles com mais de 65 anos de idade. A proteção decorrente da vacinação quase sempre se prolonga por toda a vida, embora os indivíduos com risco máximo algumas vezes sejam revacinados após cinco ou dez anos. Em aproximadamente 50% das vezes, as vacinações produzem rubor e dor no local da injeção. Apenas 1% dos indivíduos apresentam febre e dores musculares após a vacinação. Um número ainda menor de vacinados apresenta reação alérgica grave.

A pneumonia pneumocócica pode ser tratada com qualquer um dos diversos antibióticos existentes, inclusive a penicilina. Os indivíduos alérgicos à penicilina são medicados com eritromicina ou um outro antibiótico. Os pneumococos resistentes à penicilina podem ser combatidos com outras drogas. Entretanto, esses pneumococos também vêm se tornando mais resistentes às demais drogas.

Aumento da Resistência aos Antibióticos

Um número cada vez maior de bactérias causadoras de pneumonia vem desenvolvendo resistência a antibióticos. Por exemplo, muitos estafilococos produzem enzimas (penicilinases) que impedem a ação da penicilina contra eles. Os pneumococos também vêm se tornando mais resistentes à penicilina, mas através de um mecanismo diferente. A resistência aos antibióticos é um problema sério, particularmente no caso de infecções hospitalares. As infecções causadas por estafilococos resistentes podem ser tratadas com antibióticos eficazes mesmo na presença da penicilinase. No entanto, alguns estafilococos estão se tornando resistentes também a essas drogas. Para esses estafilococos, normalmente é utilizada uma droga denominada vancomicina. A pneumonia estafilocócica tende a responder lentamente aos antibióticos e o período de convalescença é longo.

Pneumonia Estafilocócica

O Staphylococcus aureus é responsável por apenas 2% dos casos de pneumonia adquirida fora do ambiente hospitalar, mas é a causa de 10 a 15% dos casos adquiridos no ambiente hospitalar enquanto os indivíduos são tratados de uma outra doença. Esse tipo de pneumonia tende a desenvolver-se em indivíduos muito jovens, muito idosos ou debilitados por outras doenças. Ela também tende a ocorrer em alcoolistas. A taxa de mortalidade varia entre 15 e 40% – em parte porque aqueles que desenvolvem a pneumonia estafilocócica geralmente apresentam-se gravemente enfermos.

O Staphylococcus produz os sintomas típicos da pneumonia, mas os calafrios e a febre são mais persistentes na pneumonia estafilocócica que na pneumocócica. O Staphylococcus pode produzir abcessos (coleções purulentas) nos pulmões e cistos pulmonares cheios de ar (pneumatoceles), sobretudo nas crianças. As bactérias podem ser transportadas dos pulmões pela corrente sangüínea e podem produzir a formação de abcessos em outras regiões do corpo. O acúmulo de pus no espaço pleural (empiema) é relativamente comum. Essa coleção purulenta é drenada com o auxílio de uma agulha ou de um tubo torácico.

Pneumonia Causada por Bactérias Gram-negativas

As bactérias são classificadas como Grampositivas ou Gram-negativas de acordo com o seu aspecto após serem coradas em uma lâmina e examinadas ao microscópio. A maioria dos casos de pneumonia é causada por pneumococos e estafilococos, que são bactérias Grampositivas. As bactérias Gram-negativas, como a Klebsiella e a Pseudomonas, causam pneumonias que tendem a ser extremamente graves.

As bactérias Gram-negativas raramente infectam pulmões de indivíduos sadios. Mais comumente, essas bactérias infectam bebês, idosos, alcoolistas e indivíduos com doenças crônicas, sobretudo aqueles que apresentam anomalias do sistema imune. Freqüentemente, as infecções Gram-negativas são adquiridas em um hospital ou em uma clínica de repouso. As bactérias Gram-negativas podem destruir rapidamente o tecido pulmonar e, por essa razão, a pneumonia causada por uma bactéria Gram-negativa tende a se tornar grave rapidamente. A febre, a tosse e a dificuldade respiratória são comuns.

O escarro expectorado pode ser espesso e com uma coloração vermelha (cor e consistência de uma geléia de groselha). Devido à gravidade da infecção, o paciente é hospitalizado para ser submetido a um tratamento intensivo que inclui a administração de antibióticos, a suplementação de oxigênio e a administração de líquidos intravenosos. Em alguns casos, o paciente necessita de ventilação mecânica. Apesar de receberem um tratamento excelente, aproximadamente 25 a 50% dos indivíduos com pneumonia causada por bactérias Gramnegativas morrem.

Pneumonia Causada pelo Haemophilus influenzae

O Haemophilus influenzae é uma bactéria. Apesar de seu nome, não se trata do vírus da influenza responsável pelo resfriado. As cepas do tipo b de Haemophilus influenzae são as mais virulentas e são responsáveis por doenças graves, como a meningite, a epiglotite e a pneumonia, normalmente em crianças com menos de 6 anos de idade. Entretanto, devido ao uso disseminado da vacina contra o Haemophilus influenzae do tipo b, a doença grave causada por esse microrganismo vem se tornando menos comum.

Esse tipo de pneumonia é mais comum entre os índios norte-americanos, os esquimós, os indivíduos da raça negra e aqueles com anemia falciforme ou com imunodeficiência. Contudo, a maioria desses casos é produzida por outras cepas, distintas das utilizadas na vacina contra o Haemophilus influenzae do tipo b. Os sinais da infecção são os espirros e a coriza, acompanhados pelos sintomas típicos da pneumonia, como a febre, a tosse produtiva e a dificuldade respiratória. O derrame pleural (acúmulo de líquido no espaço pleural) é uma complicação comum.

A vacinação contra cepas do tipo b do Haemophilus influenzae é recomendável para todas as crianças. A vacina é administrada em três doses: aos 2, 4 e 6 meses de idade. Os antibióticos são utilizados no tratamento da pneumonia causada pelo Haemophilus influenzae do tipo b.

Doença do Legionário

A doença do legionário, causada pela bactéria Legionella pneumophila e por outras espécies de Legionella, é responsável por 1 a 8% de todas as pneumonias e por cerca de 4% das pneumonias fatais adquiridas no ambiente hospitalar. A doença do legionário tende a ocorrer no final do verão e no início do outono. As bactérias do gênero Legionella vivem na água e a epidemia ocorre quando as bactérias propagam-se pelos de sistemas de condicionamento de ar em hotéis e hospitais.

Em 1976, ocorreu uma epidemia de uma doença respiratória entre os membros da “American Legion” que participavam de uma convenção em um hotel, que levou à descoberta e à denominação da bactéria. Não foram descritos casos de infecção direta de um indivíduo a outro. Embora a doença do legionário possa ocorrer em qualquer idade, os indivíduos de meiaidade e os idosos são os mais freqüentemente afetados. Os tabagistas, os alcoolistas ou aqueles que fazem uso de corticosteróides parecem apresentar um maior risco. A doença do legionário pode produzir sintomas relativamente leves ou pode ser letal.

Os primeiros sintomas, que se manifestam de dois a dez dias após a transmissão da infecção, são: fadiga, febre, cefaléia e dores musculares. Em seguida, o indivíduo apresenta uma tosse seca, que, posteriormente, se torna produtiva. Os indivíduos com infecções graves podem apresentar uma grande dificuldade respiratória e, comumente, apresentam diarréia. A confusão mental e outros distúrbios mentais são menos comuns. Para a confirmação diagnóstica, são realizados exames de escarro, sangue e urina. Como os indivíduos infectados pela Legionella pneumophila produzem anticorpos para combater a doença, os exames de sangue revelam um aumento da concentração desses anticorpos.

No entanto, os resultados desses exames geralmente tornam-se disponíveis somente após a pneumonia já ter iniciado. A eritromicina (um antibiótico) é a medicação de primeira escolha para o tratamento desse tipo de pneumonia. Em casos menos graves, a eritromicina pode ser administrada pela via oral, enquanto nos casos mais graves o antibiótico é administrado pela via intravenosa. Cerca de 20% dos indivíduos que apresentam essa doença morrem. A taxa de mortalidade é muito mais elevada entre os indivíduos que contraem a doença em hospitais ou que apresentam uma imunodeficiência. Quase todos os indivíduos tratados com eritromicina melhoram, mas a recuperação pode ser prolongada.

Pneumonias Atípicas

As pneumonias atípicas são pneumonias causadas por microrganismos que não as chamadas bactérias típicas, vírus ou fungos. As causas mais comuns são o Mycoplasma e a Chlamydia – dois microrganismos semelhantes às bactérias. O Mycoplasma pneumoniae é a causa mais comum de pneumonia em indivíduos com idade entre 5 e 35 anos, mas é uma causa incomum nas outras faixas etárias. As epidemias ocorrem especialmente em grupos confinados, como os de estudantes, de militares e os de familiares. A epidemia tende a disseminar-se lentamente, pois o período de incubação é de dez a catorze dias.

É mais comum esse tipo de pneumonia ocorrer na primavera. Geralmente, os sintomas iniciais da pneumonia causada pelo Mycoplasma são a fadiga, a dor de garganta e a tosse seca. Os sintomas pioram lentamente. As crises de tosse intensa podem produzir escarro. Cerca de 10 a 20% dos indivíduos afetados apresentam uma erupção cutânea. Ocasionalmente, o indivíduo apresenta anemia, dores articulares ou problemas neurológicos. Geralmente, os sintomas persistem por uma ou duas semanas. Em seguida, o quadro melhora lentamente. Alguns indivíduos ainda sentem-se fracos e cansados após várias semanas.

Apesar de a pneumonia causada pelo Mycoplasma poder ser grave, normalmente ela é leve e a maioria dos indivíduos recupera-se sem tratamento. A Chlamydia pneumoniae é outra causa comum de pneumonia em indivíduos com idade entre 5 e 35 anos. Ela também afeta alguns indivíduos idosos. A doença é transmitida de pessoa para pessoa através de gotículas expelidas com a tosse. Os sintomas são semelhantes aos da pneumonia causada pelo Mycoplasma. Na maioria dos casos, os indivíduos não apresentam um quadro grave, embora a taxa de mortalidade dos idosos seja de 5 a 10%.

O diagnóstico desses dois tipos de pneumonia é confirmado com os exames de sangue, que têm por objetivo verificar a presença de anticorpos contra o microrganismo suspeito, e de radiografias torácicas. Os antibióticos eritromicina e tetraciclina são eficazes, mas a resposta ao tratamento é mais lenta nos casos de pneumonia causada por clamídias que nos de pneumonia causada por micoplasmas. Se o tratamento for interrompido muito precocemente, os sintomas tendem a recidivar.

Psitacose

A psitacose (febre do papagaio) é uma pneumonia rara causada pela Chlamydia psittaci, uma bactéria encontrada principalmente em pássaros como papagaios e periquitos. A C. psittaci também é encontrada em outras aves, como pombos, galinhas e perus. Normalmente, os indivíduos são infectados através da inalação da poeira da plumagem ou do excremento de aves contaminadas.

O microrganismo também pode ser transmitido pela bicada de uma ave infectada e, raramente, de pessoa para pessoa através de gotículas expelidas com a tosse. A psitacose é sobretudo uma doença ocupacional de indivíduos que trabalham em lojas de animais de estimação ou em granjas avícolas. Aproximadamente uma a três semanas após ter sido infectado, o indivíduo apresenta febre, calafrios, fadiga e perda de apetite. Em seguida, ele apresenta tosse, que é inicialmente seca e, posteriormente, torna-se produtiva com uma expectoração esverdeada.

A febre persiste por duas a três semanas e, em seguida, desaparece lentamente. A doença pode ser leve ou grave, dependendo da idade do indivíduo e da extensão do envolvimento do tecido pulmonar. A pesquisa de anticorpos no sangue representa o método mais confiável para a confirmação do diagnóstico. Os criadores de aves podem proteger-se evitando a poeira proveniente da plumagem e das gaiolas de aves doentes. É exigido dos importadores importadores que eles tratem as aves suscetíveis com tetraciclina durante um período de 45 dias, o que geralmente elimina o microrganismo.

A psitacose é tratada com tetraciclina durante pelo menos dez dias. A recuperação pode ser longa, especialmente nos casos graves. A taxa de mortalidade pode atingir 30% nos casos graves não tratados.

Pneumonia Viral

Muitos vírus podem infectar os pulmões, causando pneumonia viral. Em lactentes e crianças, o vírus sincicial respiratório, o adenovírus, o vírus da parainfluenza e o vírus da influenza são as causas mais comuns. O vírus do sarampo também pode causar pneumonia, especialmente em crianças desnutridas. Nos adultos sadios, dois tipos de vírus da influenza, denominados tipos A e B, causam pneumonia.

O vírus da varicela também pode causar pneumonia em adultos. Nos indivíduos idosos a pneumonia viral pode ser causada pelos vírus da influenza, da parainfluenza ou sincicial respiratório. Os indivíduos imunodeficientes de qualquer idade podem apresentar uma pneumonia grave causada pelo citomegalovírus ou pelo vírus da herpes simples. Quase todas as pneumonias virais não são tratadas com medicamentos. Entretanto, determinadas pneumonias virais graves podem ser tratadas com drogas antivirais.

Por exemplo, a pneumonia causada pelo vírus da varicela ou pelo vírus da herpes simples pode ser tratada com aciclovir. A vacinação anual contra a gripe é recomendada para os indivíduos que trabalham em ambientes hospitalares, para os idosos e para aqueles que apresentam doenças crônicas, como o enfisema, o diabetes, uma doença cardíaca ou renal.

Pneumonia por Fungos

Freqüentemente, três tipos de fungos produzem pneumonia: o Histoplasma capsulatum, que causa a histoplasmose, o Coccidioides immitis, que causa a coccidioidomicose, e o Blastomyces dermatitidis, que causa a blastomicose. A maioria dos indivíduos infectados apresenta apenas sintomas mínimos e não sabe que foi infectada. No entanto, alguns tornam-se gravemente doentes. A histoplasmose ocorre no mundo todo, mas prevalece nos vales fluviais e nas zonas de climas temperados e tropicais.

Nos Estados Unidos, a histoplasmose ocorre mais comumente nos vales dos rios Mississippi e Ohio e nos vales dos rios da região leste. Mais de 80% dos indivíduos que vivem nos vales dos rios Mississippi e Ohio são expostos ao fungo. Após ser inalado, o fungo não causa sintomas em muitos deles. De fato, muitos indivíduos ficam sabendo que foram expostos apenas após a realização de um teste cutâneo. Outros podem apresentar tosse, febre, dores musculares e dor torácica. A infecção pode causar pneumonia aguda ou pode evoluir para uma pneumonia crônica com sintomas que persistem durante meses.

Raramente, a infecção dissemina-se a outras áreas do corpo, especialmente à medula óssea, ao fígado, ao baço e ao trato digestivo. Essa forma disseminada da doença tende a ocorrer em indivíduos com AIDS e outros distúrbios do sistema imune. Geralmente, o diagnóstico é realizado identificando- se o fungo em uma amostra de escarro ou da pesquisa de determinados anticorpos no sangue. Entretanto, o exame de sangue simplesmente comprova a exposição ao fungo, não servindo como prova de que o fungo seja o causador da doença. Tipicamente, o tratamento consiste na administração de uma droga antifúngica como, por exemplo, o itraconazol ou a anfotericina B. A coccidioidomicose ocorre principalmente em climas semi-áridos, sobretudo no sudoeste dos Estados Unidos e em certas regiões da América do Sul e da América Central.

Após ser inalado, o fungo pode não causar sintomas ou pode causar uma pneumonia aguda ou crônica. Em alguns casos, a infecção dissemina-se além do sistema respiratório – atingindo a pele, os ossos, as articulações e as meninges (membranas que recobrem o cérebro). Essa complicação é mais comum entre indivíduos do sexo masculino, especialmente os filipinos e os da raça negra, e em indivíduos com AIDS e outros distúrbios do sistema imune. O diagnóstico é estabelecido identificando-se o fungo em uma amostra de escarro ou em uma amostra de uma outra área infectada ou com a identificação de determinados anticorpos no sangue. Tipicamente, o tratamento consiste na administração de uma droga antifúngica como, por exemplo, o fluconazol ou a anfotericina B.

A blastomicose ocorre principalmente nas regiões sudeste, centro-sul e no meio-oeste dos Estados Unidos e nas regiões próximas dos Grandes Lagos. Após ser inalado, o fungo causa infecção, sobretudo no pulmão. No entanto, ela geralmente não produz sintomas. Alguns indivíduos apresentam um quadro semelhante ao do resfriado. Ocasionalmente, os sintomas de uma infecção pulmonar crônica persistem durante meses.

A doença pode disseminar-se a outras partes do corpo, especialmente à pele, aos ossos, às articulações e à próstata. O diagnóstico costuma ser realizado com a identificação do fungo no escarro. Tipicamente, o tratamento consiste da administração de uma droga antifúngica como o itraconazol ou a anfotericina B. Outras infecções fúngicas ocorrem principalmente com uma imunodepressão importante. Essas infecções incluem a criptococose, causada pelo Cryptococcus neoformans; a aspergilose, causada pelo Aspergillus; a candidíase, causada pela Candida; e a mucormicose. Todas essas infecções ocorrem em todo o mundo. A criptococose, a mais freqüente, pode ocorrer em indivíduos saudáveis, e geralmente é grave apenas nos indivíduos que apresentam distúrbios do sistema imune (p.ex., AIDS).

A criptococose pode disseminar-se especialmente às meninges, onde ela produz uma meningite criptocócica. O Aspergillus causa infecções pulmonares em indivíduos com AIDS ou naqueles submetidos a um transplante. Infecção rara, a candidíase pulmonar ocorre mais freqüentemente em pacientes com leucemia e naqueles submetidos à quimioterapia. A mucormicose, uma infecção fúngica relativamente rara, ocorre com maior freqüência em indivíduos com diabetes grave ou com leucemia. As quatro infecções são tratadas com drogas antifúngicas (p.ex., itraconazol, fluconazol e anfotericina B). No entanto, os indivíduos com AIDS e outros distúrbios do sistema imune podem não se recuperar.

Pneumonia por Pneumocystis carinii

O Pneumocystis carinii é um microrganismo comum, o qual pode residir inofensivamente em pulmões normais, causando doença apenas quando as defesas do organismo diminuem em decorrência de um câncer, de um tratamento antineoplásico (contra o câncer) ou da AIDS. Mais de 80% dos pacientes com AIDS que não são submetidos ao tratamento profilático padrão apresentam, em um determinado momento, uma pneumonia causada pelo Pneumocystis. Freqüentemente, ela é a primeira indicação de que um indivíduo infectado pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) desenvolveu a AIDS.

A maioria das indivíduos afetados apresenta febre, dificuldade respiratória e tosse seca. Normalmente, esses sintomas manifestam-se ao longo de várias semanas. Os pulmões podem ser incapazes de fornecer uma quantidade suficiente de oxigênio ao sangue, causando uma dificuldade respiratória grave. O diagnóstico é estabelecido no exame microscópico de uma amostra de escarro obtida por uma das duas técnicas seguintes: a indução do escarro (na qual se utiliza água ou vapor de água para estimular a tosse) ou a broncoscopia (na qual a amostra é coletada com o auxílio de um instrumento que é inserido nas vias aéreas). O antibiótico comumente utilizado no tratamento da pneumonia causada pelo Pneumocystis é o trimetoprim-sulfametoxazol.

Os efeitos colaterais, particularmente comuns nos indivíduos com AIDS, são erupções cutâneas, redução da concentração dos leucócitos que combatem a doença e febre. Os tratamentos medicamentosos alternativos são a dapsona e o trimetoprim, a clindamicina e a primaquina, o trimetrexato e a leucovorina, a atovaquona e a pentamidina. Os indivíduos que apresentam concentrações baixas de oxigênio no sangue também podem receber corticosteróides. Mesmo quando a pneumonia causada pelo Pneumocystis é tratada, a taxa de mortalidade global é de 10 a 30%. Os pacientes com AIDS cuja pneumonia por Pneumocystis foi tratada com sucesso geralmente tomam medicamentos como o trimetoprim-sulfametoxazol ou a pentamidina em aerossol para impedir a recorrência da doença.

Pneumonia por Aspiração

Partículas minúsculas provenientes da boca freqüentemente migram até as vias aéreas, mas, normalmente, elas são eliminadas pelos mecanismos normais de defesa antes de chegar aos pulmões ou de causar inflamação ou infecção. No entanto, quando não são eliminadas, essas partículas podem causar pneumonia. Os indivíduos debilitados, aqueles que apresentam intoxicação alcoólica ou medicamentosa ou que se encontram inconscientes devido à anestesia ou à uma doença, apresentam um maior risco de contrair esse tipo de pneumonia. Até mesmo um indivíduo sadio que aspira uma grande quantidade de partículas, como pode ocorrer durante um episódio de vômito, pode desenvolver uma pneumonia.

A pneumonite química ocorre quando o material aspirado é tóxico para os pulmões. O problema deve-se mais ao resultado da irritação que da infecção. Um material tóxico comumente aspirado é o ácido gástrico. O resultado imediato é a dificuldade respiratória súbita e o aumento da freqüência cardíaca. Outros sintomas incluem a febre, o escarro com espuma cor-de-rosa e a cianose (coloração azulada da pele), a qual é causada pelo sangue pouco oxigenado. Uma radiografia torácica e a dosagem das concentrações de oxigênio e de dióxido de carbono no sangue arterial podem auxiliar o médico a estabelecer o diagnóstico. No entanto, o diagnóstico geralmente torna-se evidente pela seqüência de eventos.

O tratamento inclui a oxigenoterapia e, quando necessário, a ventilação mecânica. A traquéia pode ser aspirada para se eliminar as secreções e as partículas aspiradas das vias aéreas. Algumas vezes, são prescritos antibióticos para prevenir a infecção. Geralmente, os indivíduos com pneumonite química recuperam-se rapidamente, evoluem para a síndrome da angústia respiratória aguda ou apresentam uma infecção bacteriana. Aproximadamente 30 a 50% dos indivíduos com pneumonite química morrem. A aspiração de bactérias é a forma mais comum de pneumonia por aspiração. Geralmente, a sua causa é a deglutição e a conseqüente aspiração de bactérias para o interior dos pulmões.

A obstrução mecânica das vias aéreas pode ser causada pela aspiração de partículas ou objetos. As crianças de baixa idade são as que apresentam maior risco, pois elas colocam objetos na boca com freqüência e podem aspirar pequenos objetos ou partes de brinquedos. A obstrução também pode ocorrer em adultos, principalmente quando um pedaço de carne é aspirado durante uma refeição. Se um objeto ficar retido na porção alta da traquéia, o indivíduo pode ser incapaz de respirar ou falar. Se o objeto não for removido de imediato, ele pode morrer rapidamente.

A manobra de Heimlich, realizada para desalojar o objeto, pode salvar a vida do indivíduo. Se um objeto ficar retido na porção baixa das vias aéreas, o indivíduo pode apresentar uma tosse crônica irritante e infecções recorrentes. Normalmente, o objeto é removido durante uma broncoscopia (procedimento que utiliza um instrumento que permite a visualização das vias aéreas, a coleta de material e a remoção de corpos estranhos).

FONTE: http://www.msd-brazil.com/msdbrazil/patients/manual_Merck