ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sábado, 1 de agosto de 2015

Dermatozoonoses



 ESCABIOSE
É uma doença contagiosa causada por ácaros, afetando seres humanos e outros mamíferos (porcos, vacas, cavalos, gatos e cães). Quando afeta seres humanos, o agente é o Sarcoptes scabiei, var. hominis (transmitida exclusivamente de ser humano para ser humano). Em cães, o agente é o Sarcoptes scabiei, var. canis (transmitida exclusivamente de cão para cão). Dessa forma, é um mito de que a escabiose humana é transmitida ao homem por meio dos animais. É importante alertar os médicos sobre esse mito para que orientem o paciente corretamente, colaborando assim, para a “posse responsável” de animais de estimação. Caso o indivíduo entre em contato com o Sarcoptes scabiei, var. canis, ele poderá apresentar algumas lesões papulosas, as quais desaparecerão espontaneamente e não evoluirão para a clássica da escabiose humana. As fêmeas dos ácaros penetram na epiderme, depositam seus ovos e morrem após 1 mês. O ácaro e suas fezes causam prurido intenso.
O início da doença é insidioso, com aparecimento de lesões papulovesiculares eritematosas e pruriginosas. O prurido piora à noite e geralmente os familiares também são contaminados. É possível visualizar sulcos lineares (trajeto do ácaro) e pápulas pruriginosas nos espaços interdigitais das mãos, punhos, face extensora dos cotovelos, axilas, abdome, genitais, regiões glúteas e coxas. Nódulos eritematosos podem ocorrer, assim como vesículas, sem a presença do ácaro. É uma reação de hipersensibilidade, comum na escabiose. Em lactentes, a localização preferencial é nas palmas e plantas, geralmente associada à infecção secundária, lesões na cabeça podem ser observadas nas crianças que estão sendo amamentadas.
Tratamento
Todas as pessoas que moram na mesma casa com os doentes devem ser tratadas.
1. Enxofre (precipitado a 5 a 8%): em creme, loção cremosa, vaselina sólida, líquida ou pasta d’água. É a medicação de escolha para crianças e gestantes; deve-se aplicar 1 vez/dia durante 3 dias. Descansar 7 dias e repetir por mais 3 dias. Apresentação: manipulação. Não é necessário aplicar na face. O enxofre a 10% ungüento é seguro e eficaz para o tratamento de escabiose em lactentes.
2. Permetrina (combinação de piretróides sintéticos): loção a 5%, aplicar por 8 a 12 horas. Apresentação: loção a 5%. A vantagem da permetrina no tratamento da escabiose é o fato dela permanecer ativa na pele por 7 dias, o que irá protegê-lo de uma reinfecção. 
3. Benzoato de benzila a 25% em emulsão: em alguns países desenvolvidos, só é liberado para uso veterinário. No Brasil, é usado diluído ao meio, aplicado durante 8 horas por dois períodos de 3 dias, com intervalo de 7 dias. O uso não adequado pode causar dermatite de contato.
4. Monossulfiram: diluir em água, na concentração 1/2 para adultos e 1/3 para crianças. Os adultos não devem ingerir bebidas alcoólicas, em função do efeito antabuse. Aplicar 1 vez/dia durante 3 a 5 dias. Descansar 7 dias e repetir por mais 3 a 5 dias. Um estudo comparativo entre monossulfiram e benzoato de benzila mostram nítida vantagem do tratamento com o monossulfiram.
5. Deltametrina: loção a 20 mg/100 mL. Aplicar 1 vez/dia durante 5 dias, em todo o corpo (loção e xampu). Contra-indicações: pacientes com hipersensibilidade à deltametrina, alergia respiratória e com lesões de pele.
6. Hexaclorogamabenzeno (lindano): atualmente não utilizado e, devido à neurotoxicidade, foi retirado do mercado.
7. Ivermectina: 100 a 200 mcg/kg em dose única via oral, sempre com água. Não é recomendado para gestantes, idosos e crianças menores de 5 anos. Apresentação: ivermectina 6 mg/comprimido. Geralmente, não é necessário administrar outra dose. O uso exagerado da ivermectina para escabiose pode desencadear resistência à droga. A ivermectina, o único tratamento oral para escabiose, não é aprovada nos Estados Unidos; é somente indicada para pacientes com escabiose crostosa ou sarna norueguesa que estão debilitados. Estudos recentes têm demonstrado que a droga é segura e eficaz. É indicada para crianças com lesões eczematizadas e com infecção secundária. 

Pediculose

Existem três variedades de piolhos que afetam o homem.
1. Piolho da cabeça (Pediculus humanus, var. capitis): todo o seu ciclo de vida ocorre no couro cabeludo. Ovos visíveis ou lêndeas são depositados na haste do pêlo, isolado e perto do couro cabeludo. Prurido com infecção secundária é comum; linfadenopatia cervical e occipital associadas são comumente encontradas. Acomete principalmente crianças em idade escolar, especialmente de cabelos compridos.
2. Piolho do corpo (Pediculus humanus, var. corporis): raramente é encontrado na pele, pois habita e se reproduz nas dobras das roupas e daí só sai para se alimentar. O paciente apresenta-se com pápulas pruriginosas e geralmente habita áreas superpopulosas, de extensa pobreza e vive em condições de pouca higiene, já que raramente mudam de roupa.
3. Piolho púbico (Phthirus pubis) ou chato: os ovos são encontrados na haste do pêlo. Também podem ser encontrados na região occipital, tronco, membros, supercílios, cílios e axilas. Está relacionado a doenças sexualmente transmissíveis.
Tratamento
As pediculoses da cabeça e púbica são tratadas de
maneira semelhante: " xampu comum seguido de creme rinse de permetrina a 1%: 1 aplicação, por 8 horas, que deve ser repetida após 7 dias.Apresentações da permetrina: xampu, sabonete e loção a 5%. A apresentação em loção é mais efetiva pela maior permanência no couro cabeludo. A remoção das lêndeas com pente fino embebido em vinagre é útil. Todos os contatantes íntimos devem ser tratados. O piolho do corpo é eliminado pela limpeza das roupas (noções básicas de higiene). A loção de dimeticona a 4% pode curar a pediculose e parece ser menos irritante que os demais tratamentos. O uso do repelente de citronela pode diminuir significativamente a incidência de reinfestações e o tempo gasto no tratamento e na remoção das lêndeas. Há relatos de resistência à permetrina no Sul da Flórida, nos Estados Unidos.