ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Infecções Bacterianas da Pele



A pele representa uma barreira notavelmente eficaz contra as infecções bacterianas. Apesar de muitas bactérias viverem sobre a pele, elas normalmente são incapazes de produzir uma infecção. As infecções bacterianas da pele podem afetar apenas uma área, apresentando o aspecto de uma espinha, ou podem disseminar-se em horas, afetando uma grande área. As infecções cutâneas po-dem variar de gravidade, de uma acne sem maior importância a uma condição potencialmente letal (p.ex., síndrome da pele escaldada estafilocócica). Muitos tipos de bactérias podem infectar a pele.

As mais comuns são o Staphylococcus e o Streptococcus. As infecções causadas por bactérias menos comuns costumam ocorrer em hospitais ou em asilos, assim como durante a realização de trabalhos de jardinagem ou quando o indivíduo nada em uma represa, em um lago ou no mar. Algumas pessoas apresentam um risco particular de contrair infecções cutâneas. Por exemplo, os indivíduos com diabetes, pois eles apresentam um fluxo sangüíneo insuficiente para a pele, especialmente das mãos e dos pés, e os indivíduos com AIDS, pois eles apresentam um comprometimento do sistema imune.

A pele lesada por queimaduras solares, arranhões ou outro tipo de irritação também apresenta uma maior probabilidade de tornar-se infectada. De fato, qualquer anormalidade da pele predispõe o indivíduo à infecção. Geralmente, manter a pele intacta e limpa evita as infecções. Quando a pele sofre um corte ou uma escoriação, a lavagem da área com água e sabão ajuda a impedir a infecção. Embora a maioria dos cremes e pomadas antibióticas sejam pouco eficazes para evitar ou tratar infecções cutâneas, alguns cremes mais recentes (p.ex., de mupirocina) são eficazes contra algumas. As compressas quentes podem aumentar o suprimento sangüíneo à área infectada e ajudam a eliminar a infecção restrita a uma área pequena. Quando a infecção dissemina-se, devem ser utilizados antibióticos orais ou injetáveis.

Impetigo

O impetigo é uma infecção cutânea causada por Staphylococcus ou por Streptococcus que se caracteriza pela formação de pequenas bolhas cheias de pus (pústulas). Esta doença afeta sobretudo as crianças e pode ocorrer em qualquer parte do corpo, mas freqüentemente as lesões ocorrem na face, nos membros superiores e inferiores. As bolhas podem ser do tamanho de uma ervilha ou até de anéis grandes. O impetigo pode ocorrer após uma lesão ou uma doença que provoca uma lesão cutânea (e..g., infecção fúngica, queimadura solar ou picada de inseto). O impetigo também pode afetar a pele normal, particularmente nos membros inferiores das crianças. O tratamento precoce pode evitar que o impetigo afete as regiões mais profundas da pele (ectima). Antibióticos (p.ex., penicilina ou cefalosporina) geralmente são administrados pela via oral. Raramente, o impetigo causado por Streptococcus pode acarretar uma insuficiência renal.

Foliculite, Furúnculos e Carbúnculos

A foliculite é uma inflamação dos folículos pilosos causada por uma infecção por Staphylococcus. Nos folículos pilosos, ocorre o acúmulo de uma pequena quantidade de pus, o que faz com que eles se tornem irritados e hiperemiados (avermelhados). A infecção danifica os pêlos, os quais podem ser facilmente arrancados. A foliculite tende a se tornar crônica nos locais em que eles se encontram profundamente enraizados na pele (p.ex., na área da barba). Os pelos rígidos podem encurvar e penetrar na pele, produzindo irritação mesmo sem uma infecção importante.

Os furúnculos são áreas grandes, elevadas, dolorosas e inflamadas causadas por uma infecção por Staphylococcus em torno dos folículos pilosos. Mais freqüentemente, os furúnculos ocorrem no pescoço, nas mamas, na face e nas nádegas e são particularmente dolorosos quando se formam em torno do nariz, das orelhas ou nos dedos. Geralmente, os furúnculos apresentam pus no centro. Geralmente, eles eliminam um exsudato esbranquiçado e discretamente sanguinolento. Alguns indivíduos apresentam furúnculos incômodos e recorrentes (furunculose) e, ocasionalmente, ocorrem epidemias de furúnculos entre adolescentes que vivem em bairros populosos e carecem de uma higiene adequada.

Os carbúnculos são aglomerados de furúnculos que produzem grandes úlceras cutâneas e a formação de cicatrizes. Os carbúnculos evoluem e curam mais lentamente que os furúnculos isolados e podem causar febre e fadiga por se tratar de uma infecção mais grave. Os carbúnculos ocorrem mais freqüentemente nos homens e mais comumente na região posterior do pescoço. Os indivíduos idosos, os diabéticos e aqueles com doenças graves apresentam uma maior tendência a apresentar carbúnculos.

Tratamento

A melhor maneira de se prevenir essas infecções ou a sua disseminação a outros é a manutenção da pele limpa, preferencialmente com sabão líquido contendo um agente antibacteriano. O calor úmido favorece o acúmulo do pus e pode fazer com que o furúnculo drene espontaneamente. Quando um furúnculo ocorre próximo do nariz, o médico comumente prescreve antibióticos orais, pois a infecção pode disseminar-se rapidamente ao cérebro. Quando surgem furúnculos ou carbúnculos, o médico geralmente coleta uma amostra do pus para o exame laboratorial e prescreve um antibiótico oral. Os indivíduos com furúnculos recorrentes podem ter que tomar antibióticos durante meses ou mesmo anos.

Erisipela

A erisipela é uma infecção cutânea causada por Streptococcus. Mais comumente, a infecção ocorre na face, nos membros superiores ou inferiores. Algumas vezes, ela começa em uma área de pele lesada. Surge uma erupção brilhante, vermelha, discretamente inflamada e dolorosa, freqüentemente acompanhada por pequenas bolhas. Os linfonodos em torno da área infectada podem aumentar de volume e tornar-se dolorosos. Os indivíduos com infecções particularmente graves apresentam febre e calafrios. Geralmente, a penicilina ou a eritromicina administradas pela via oral, durante 2 semanas, curam as infecções leves. Quando a infecção é grave, o médico comumente administra primeiro um antibiótico injetável.

Celulite

A celulite é uma infecção disseminada das camadas mais profundas da pele e, algumas vezes, atinge os tecidos localizados abaixo delas. Mais freqüentemente, a celulite ocorre como conseqüência de uma infecção estreptocócica ou, sobretudo após uma lesão de uma infecção estafilocócica. Contudo, muitas outras bactérias podem causar a celulite, especialmente após mordidas de seres humanos ou de animais, ou após lesões produzidas na água. A infecção é mais comum nos membros inferiores e, freqüentemente, inicia com uma alteração cutânea causada por uma pequena lesão, uma úlcera ou uma infecção fúngica entre os dedos dos pés. A celulite causa inflamação, dor, calor e hiperemia. Algumas áreas podem apresentar aspecto de equimose e podem apresentar pequenas bolhas. Os sintomas da infecção podem incluir febre, calafrios, cefaléia e complicações mais graves (p.ex., confusão mental, hipotensão arterial e aumento da freqüência cardíaca). Geralmente, o diagnóstico da celulite é fácil de ser estabelecido, mas a identificação da bactéria responsável pela infecção é uma tarefa mais difícil. Geralmente, o médico coleta uma amostra de sangue (e, às vezes, amostras da pele), enviando o material ao laboratório para a realização de cultura e identificação da bactéria.

Tratamento

O tratamento imediato pode evitar que a infecção se dissemine rapidamente e atinja o sangue e outros órgãos. Freqüentemente, a celulite é tratada com penicilina ou uma droga do tipo da penicilina (p.ex., dicloxacilina). Os indivíduos com celulite leve podem utilizar antibióticos orais. Os indivíduos idosos e aqueles com uma celulite que se dissemina rapidamente, com febre alta ou qualquer outro sinal de infecção grave comumente recebem uma injeção de antibiótico antes de iniciar o tratamento com antibióticos orais. Quando houver infecção dos membros inferiores, estes devem ser mantidos elevados e devem ser realizados curativos com panos úmidos e frios. Se as pernas estiverem infectadas, devese mantêlas elevadas. A aplicação de compressas úmidas e frias aliviam o desconforto e reduzem a inflamação. Quando a celulite retorna, é provável que exista uma condição subjacente (p.ex., pé de atleta) que predispõe o indivíduo a apresentála e esta também deve ser tratada.

Paroníquia

A paroníquia é uma infecção localizada em torno da borda da unha de um dedo da mão ou do pé. A infecção freqüentemente inicia em decorrência de uma ruptura, laceração ou insisão da pele causada por uma ação muito traumática da manicure ou por uma irritação crônica. Como a área da unha possui muito pouco espaço para se expandir, a infecção tende a ser muito dolorosa. Ao contrário da maioria das outras infecções cutâneas, a paroníquia pode ser causada por muitas bactérias diferentes, (incluindo a Pseudomonas e o Proteus) e por fungos (p.ex., Candida).

Tratamento

As compressas quentes e os banhos com água morna ajudam a aliviar a dor e, freqüentemente, facilitam a drenagem do pus. Os banhos com água morna também aumentam a circulação sangüínea, a qual, por sua vez, ajuda no combate da infecção. Algumas vezes, o médico drena a infecção realizando uma pequena incisão na bolsa de infecção (abcesso) com o auxílio de um bisturi. As infecções que podem ser drenadas adequadamente podem não necessitar de antibioticoterapia. Quando a infecção parece estar se disseminando, o médico pode prescrever antibióticos orais. Quando a paroníquia é causada por um fungo, além do banho com água morna, o médico drena a infecção e prescreve um creme antifúngico contendo cetoconazol, ciclopirox ou miconazol. Nos casos graves, um medicamento antifúngico oral é prescrito.

A síndrome da pele escaldada estafilocócica é uma infecção cutânea disseminada na qual a pele descama como se tivesse sido queimada. Certos tipos de estafilococos produzem uma substância tóxica que faz com que a camada superior da pele (epiderme) se separe do resto da mesma. Algumas vezes, as infecções cutâneas causadas por Staphylococcus podem causar a síndrome do choque tóxico, uma condição potencialmente letal.s A síndrome da pele escaldada estafilocócica quase sempre afeta lactentes, crianças jovens e indivíduos com depressão do sistema imune. A equipe hospitalar pode transportar estafilococos (as bactérias infectantes) sobre suas mãos e pode transmitir a bactéria de um lactente a outro, algumas vezes desencadeando uma epidemia em berçários hospitalares.

Sintomas

Comumente, a síndrome da pele escaldada estafilocócica começa com uma infecção isolada e crostosa que pode ser semelhante ao impetigo. A infecção pode ocorrer na área da fralda ou em torno do coto do cordão umbilical durante os primeiros dias de vida do lactente. Nas crianças com 1 a 6 anos de idade, a síndrome pode começar como uma área crostosa sobre o nariz ou as orelhas. Em 1 dia, surgem áreas escarlates em torno da área crostosa. Essas áreas podem ser dolorosas. Além disso, áreas grandes da pele podem tornarse hiperemiadas e formar bolhas que rompem facilmente. A seguir, a camada superior da pele começa a se soltar, freqüentemente em grandes faixas, inclusive quando tocadas levemente ou pressionadas de forma suave. Após um ou dois dias, toda a superfície cutânea pode estar afetada e a criança adoece gravemente, apresentando febre, calafrios e debilidade. Com a perda da barreira protetora da pele, outras bactérias e microrganismos infecciosos podem invadir facilmente o organismo. Também pode ocorrer uma perda importante de líquido em decorrência da exsudação e da evaporação.

Diagnóstico

Ao realizar uma biópsia (coleta de uma amostra de pele para exame microscópico) ou ao obter um fragmento de pele e enviando-o ao laboratório para a realização de cultura, o médico pode diferenciar a síndrome da pele escaldada estafilocócica de doenças semelhantes (p.ex., necrólise epidérmica tóxica, a qual é comumente causada por medicamentos).

Tratamento

Freqüentemente o médico prescreve um antibiótico intravenoso do tipo da penicilina (p.ex., cloxacilina, dicloxacilina ou cefalexina). No entanto, quando a síndrome é diagnosticada precocemente, o médico pode prescrever a forma oral desses antibióticos. Este tratamento deve se mantido pelo menos por 10 dias. Com o tratamento precoce, a cura ocorre em 5 a 7 dias. A pele deve ser manipulada delicadamente para evitar novos descolamentos. Ela deve ser tratada como se tivesse sido queimada. O médico pode aplicar uma compressa protetora. As crianças gravemente afetadas devem ser tratadas na unidade de queimados do hospital.

Eritrasma

O eritrasma é uma infecção das camadas superiores da pele causada pela bactéria Corynebacterium minutissimum. O eritrasma afeta principalmente os adultos e os indivíduos diabéticos. Ela é mais comum nas zonas tropicais. Como uma infecção fúngica, o eritrasma freqüentemente ocorre em áreas onde existe o contato de pele contra pele como, por exemplo, sob as mamas e nas axilas, nas membranas interdigitais dos dedos dos pés e na área genital, especialmente nos homens, onde as coxas entram em contato com a bolsa escrotal. A infecção pode causar o surgimento de manchas rosadas de formas irregulares que podem, posteriormente, tornar-se escamas finas acastanhadas. Em alguns indivíduos, a infecção dissemina-se para o tronco e a região anal. Os médicos podem diagnosticar facilmente o eritrasma, pois o Corynebacterium apresenta um brilho característico de cor vermelho coral sob a luz ultravioleta. Um antibiótico oral (p.ex., eritromicina ou tetraciclina) pode eliminar a infecção. Os sabões antibacterianos também podem ser úteis. O eritrasma pode recorrer em 6 a 12 meses, exigindo um segundo tratamento.

Fundamentos do Equilíbrio Ácido-Base


Fundamentos do Equilíbrio Ácido-Base
PARTE 1
INTRODUÇÃO AO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE

OBJETIVOS: Descrever a importância da concentração do íon hidrogênio nos líquidos do organismo. Analisar os principais mecanismos de regulação da concentração do íon hidrogênio para a preservação das funções celulares.

CONCEITOS GERAIS

A regulação dos líquidos do organismo compreende a manutenção de concentrações adequadas de água e eletrólitos e a preservação da concentração de íons hidrogênio dentro de uma faixa estreita, adequada ao melhor funcionamento celular. A manutenção da quantidade ideal de íons hidrogênio nos líquidos intracelular e extracelular depende de um delicado equilíbrio químico entre os ácidos e as bases existentes no organismo, denominado equilíbrio ácido-base. Quando a concentração dos íons hidrogênio se eleva ou se reduz, alteram-se a permeabilidade das membranas e as funções enzimáticas celulares; em consequência, deterioram-se as funções de diversos órgãos e sistemas. Os pacientes com disfunção de órgãos frequentemente apresentam alterações no equilíbrio ácido-base. Nos pacientes graves, especialmente os que necessitam de terapia intensiva, aquelas alterações são mais manifestas e, não raro, assumem a primazia do quadro clínico. O diagnóstico e o tratamento dos desvios do equilíbrio ácido-base, geralmente, resultam em reversão do quadro geral do paciente e garantem a sua sobrevida. A frequente determinação dos parâmetros que avaliam o equilíbrio ácido-base do organismo é parte importante da monitorização do paciente grave, em qualquer protocolo de terapia intensiva. Um grande número de doenças ou condições podem ser melhoradas ou curadas, se o paciente puder ser mantido vivo por um tempo mais prolongado. Determinados procedimentos terapêuticos ou de suporte vital, como a ventilação mecânica e o uso intensivo de diuréticos, podem produzir alterações do equilíbrio ácido-base, o que reforça a necessidade da sua monitorização criteriosa e da detecção precoce das suas alterações.

METABOLISMO

A função normal das células do organismo depende de uma série de processos bioquímicos e enzimáticos do metabolismo celular. Diversos fatores devem ser mantidos dentro de estreitos limites, para preservar a função celular, como a osmolaridade, os eletrólitos, os nutrientes, a temperatura, o oxigênio, o dióxido de carbono e o íon hidrogênio. Um dos fatores mais importantes para o metabolismo celular é a quantidade de hidrogênio livre existente dentro e fora das células. As variações da concentração do hidrogênio podem produzir grandes alterações na velocidade das reações químicas celulares. O metabolismo é o conjunto das transformações de matéria e energia que ocorrem nos sistemas biológicos. Como resultado do metabolismo, as células preservam a capacidade de reproduzir, crescer, contrair, secretar e absorver. As transformações da matéria são produto das reações químicas que ocorrem no organismo e se acompanham da produção ou consumo de energia. Existem quatro grandes formas de energia nos organismos vivos: as energias química, mecânica, elétrica e térmica. A energia química pode ser transformada em energia mecânica, elétrica e térmica; entretanto, essas transformações são irreversíveis. Isto significa que as energias mecânica, elétrica ou térmica não podem ser transformadas em energia química. Portanto, a energia química resultante do metabolismo é a única fonte da energia utilizada pelo organismo, para a manutenção da vida e para as suas diversas atividades.

EFEITOS DO ÍON HIDROGÊNIO NO ORGANISMO

A unidade de medida da concentração dos íons hidrogênio nos líquidos do organismo é denominada pH. A redução do pH é denominada acidose, enquanto o seu aumento é chamado de alcalose. Ambos, acidose e alcalose, são consequências de alterações da concentração do íon hidrogênio no organismo. A ocorrência de acidose ou de alcalose reduz a eficiência de uma série de reações químicas celulares, das quais depende a função dos órgãos e sistemas. O metabolismo intracelular exige uma faixa estreita da concentração de íon hidrogênio (pH), para que os processos enzimáticos e bioquímicos possam ocorrer eficiente e apropriadamente. Os ácidos e as bases afetam o comportamento químico da água; alterações na concentração de ácidos ou bases, em consequência, interferem nas reações químicas que ocorrem nas soluções do organismo, nas quais a água é o solvente universal. Os íons hidrogênio são partículas extremamente móveis; as alterações da sua concentração afetam a distribuição celular de outros íons, como sódio, potássio e cloretos e modificam a atividade das proteinas, em especial das enzimas. Diversas atividades fisiológicas são afetadas pela concentração dos íons hidrogênio. Variações do pH podem produzir alterações significativas no funcionamento do organismo, tais como:

Desvios importantes do pH, especialmente se ocorrem em curtos intervalos, são mal tolerados e podem ameaçar a vida. Os pacientes que permanecem em acidose severa e prolongada, geralmente morrem em estado de coma; os pacientes que permanecem em alcalose severa e prolongada, geralmente morrem por convulsões ou lesões neurológicas irreversíveis. A concentração do hidrogênio livre no organismo depende da ação de substâncias que disputam o hidrogênio entre sí. Essas substâncias são as que cedem hidrogênio e as que captam o hidrogênio. As substâncias que podem ceder hidrogênio em uma solução, são chamadas de ácidos, enquanto as substâncias que podem captar o hidrogênio nas soluções, são as bases. A concentração final do hidrogênio livre nos líquidos orgânicos, resulta do equilíbrio entre aqueles dois grupos de substâncias, ácidos e bases. Na presença de oxigênio (metabolismo aeróbico), o principal produto final do metabolismo celular é o ácido carbônico, prontamente eliminado nos pulmões, durante os processos de ventilação pulmonar. Na ausência ou na insuficiência de oxigênio (metabolismo anaeróbico) os principais produtos finais do metabolismo são ácidos não voláteis, principalmente o ácido lático, cuja eliminação é mais lenta e requer metabolização adicional no fígado para excreção pelos rins.

ÁCIDOS DO ORGANISMO

O metabolismo celular produz ácidos, que são liberados continuamente na corrente sanguínea e que precisam ser neutralizados, para impedir as variações do pH. O principal ácido do organismo é o ácido carbônico, um ácido instável, que tem a propriedade de se transformar facilmente em dióxido de carbono e água. O dióxido de carbono é transportado pelo sangue e eliminado pelos pulmões, enquanto o excesso da água é eliminada pela urina. Os demais ácidos do organismo são fixos, ou seja, permanecem em estado líquido e são, principalmente, os ácidos alimentares, o ácido lático e os ceto-ácidos; o metabolismo das proteinas também produz alguns ácidos inorgânicos. O ácido lático, em condições normais, é produzido, em pequena quantidade pelas hemácias, pelo cérebro e pela contração dos músculos estriados. Quando a oxigenação dos tecidos é inadequada (hipóxia), o metabolismo passa a produzir energia utilizando vias químicas que não dependem do oxigênio e, ao invés de produzir o ácido carbônico, os tecidos passam a produzir ácido lático, como produto metabólico final. O lactato em excesso, dentro de certos limites, é metabolizado no fígado. Quando a ingestão de alimentos é insuficiente para a oferta de glicose, o organismo lança mão de outras vias de metabolização, as chamadas vias alternativas, nas quais o produto final são ceto-ácidos. Se a glicose não pode ser utilizada devido à falta de insulina, como acontece com os diabéticos, o mesmo fenômeno ocorre; a ceto-acidose resultante é chamada de ceto-acidose diabética.

BASES DO ORGANISMO

A principal base do organismo é o bicarbonato, produzido à partir do metabolismo celular pela combinação do dióxido de carbono com a água. As demais bases são os fosfatos, numerosas proteinas e a hemoglobina. As bases do organismo não atuam livremente mas em associação com ácidos da mesma natureza química, com os quais formam "pares" ou "duplas" de substâncias denominadas "tampão", cuja finalidade é impedir variações bruscas do pH.

REGULAÇÃO DOS ÁCIDOS E BASES DO ORGANISMO

A manutenção do pH dos líquidos orgânicos dos tecidos, dentro da faixa compatível com o funcionamento celular ótimo, exige a regulação da quantidade de ácidos e das bases livres nos compartimentos intra e extracelular. Essa regulação depende da participação de um conjunto de pares de substâncias chamadas sistemas tampão, que existem nos líquidos intracelular e extracelular, principalmente no sangue. Depende também dos pulmões, que eliminam o ácido carbônico produzido pelo metabolismo celular e dos rins que promovem a eliminação de íons hidrogênio e bicarbonato.

Figura 1. Representa esquematicamente a atuação dos principais mecanismos reguladores do equilíbrio ácido-base, na defesa do organismo contra as variações do pH.
O sangue, por intermédio dos sistema tampão, promove a regulação rápida da concentração de íons hidrogênio dos tecidos.
O esquema ilustra ainda a interação com os pulmões e os rins, para a eliminação ou a retenção de substâncias reguladoras da concentração do íon hidrogênio. A frequência respiratória é regulada pelo centro respiratório, em resposta ao estímulo da concentração dos íons hidrogênio no sangue.

O mecanismo de neutralização química no líquido extracelular é imediato; a neutralização através da eliminação respiratória é rápida, sendo eficaz em 1 a 15 minutos, enquanto o mecanismo de regulação renal, apesar de bastante eficiente, é mais lento, tardando horas ou dias, para ser completamente eficaz. A disfunção de qualquer desses sistemas de regulação, pode produzir ou agravar as alterações do equilíbrio ácido-base do organismo. O mecanismo respiratório funciona com a intermediação do centro respiratório do cérebro. Quando a concentração dos íons hidrogênio no sangue se eleva, o centro respiratório é estimulado e emite impulsos que aumentam a frequência e a profundidade das respirações (hiperpnéia), para aumentar a eliminação do CO2 pelos pulmões e, em consequência, diminuir a quantidade de ácido carbônico no sangue. Quando a concentração do CO2 está baixa, o centro respiratório reduz a frequência respiratória, para favorecer a normalização do CO2. O mecanismo renal consiste, principalmente, em eliminar íons hidrogênio em troca por outros cátions, para manter estável o número de bases do organismo ou, quando necessário, eliminar os íons bicarbonato, que tornam a urina alcalina, retendo os cloretos e outros radicais alcalinos.

RESUMO DA PARTE 1

A regulação dos líquidos do organismo inclui a regulação da concentração do íon hidrogênio, para assegurar o ambiente ótimo para as funções celulares. A energia para todos os processos celulares e orgânicos, provém da energia química produzida pelo metabolismo celular. A concentração dos íons hidrogênio nos líquidos do organismo é medida pela unidade denominada pH. A redução do pH é denominada acidose e o seu aumento constitui a alcalose. Ambos, acidose e alcalose, podem diminuir acentuadamente a eficiência das reações químicas celulares; o metabolismo celular exige um estreito limite para a concentração do íon hidrogênio. O metabolismo celular produz ácidos que devem ser neutralizados, a fim de preservar o pH ou, em outras palavras, manter estável a concentração do íon hidrogênio. A principal base do organismo é o íon bicarbonato, produzido à partir da combinação do dióxido de carbono com a água. O bicarbonato e as demais bases do organismo atuam em associação com ácidos da mesma natureza química, formando pares de substâncias chamadas sistema tampão. A regulação do equilíbrio entre os ácidos e as bases do organismo depende de um mecanismo imediato, representado pelos sistema tampão e de um mecanismo respiratório rápido, que elimina ou retém o dióxido de carbono e, portanto, reduz ou aumenta o ácido carbônico. Depende também do mecanismo renal, mais lento, que elimina íon hidrogênio e retém ou elimina o íon bicarbonato, moderando a quantidade de bases disponíveis no organismo.


Distúrbios Capilares


O pêlo tem origem na derme, a camada da pele localizada imediatamente abaixo da camada superficial (epiderme). Os distúrbios capilares incluem a pilosidade excessiva, a calvície e os pêlos de barba encravados.

Pilosidade Excessiva

Tanto os homens quanto as mulheres podem apresentar hirsutismo (pilosidade excessiva) em á reas da pele que geralmente não são muito peludas. Essa característica é freqüentemente do tipo familiar, particularmente entre as pessoas de origem mediterrânea. Nas mulheres e nas crianças, a pilosidade excessiva pode ser decorrente de um distúrbio da hipófise ou das adrenais que causa a produção excessiva de esteróides masculinizantes (virilizantes). A pilosidade excessiva é comum após a menopausa e nos usuários de esteróides anabolizantes ou de corticosteróides. A condição também pode ocorrer em indivíduos que utilizam determinados medicamentos (p.ex., minoxidil, utilizado para controlar a pressão arterial). Os indivíduos com porfiria cutânea tarda também podem apresentar hirsutismo.

Tratamento

Em primeiro lugar, o médico determina a causa do crescimento excessivo de pêlos. Freqüentemente, os exames laboratoriais não são necessários, mas, quando existe uma suspeita de um distúrbio endócrino, podem ser solicitados exames de sangue. Como uma solução temporária, os pêlos podem ser raspados. Outras medidas temporárias incluem a depilação com cera e o uso de depiladores. Quando o pêlo é muito fino, o distúrbio pode ser mascarado com a descoloração do mesmo. Para eliminar o pelo de forma definitiva é necessária a destruição dos folículos pilosos. O único tratamento permanente e seguro é a eletrólise.

Calvície

A calvície (alopécia) é muito mais comum nos homens que nas mulheres. Ela pode ser decorrente de fatores genéticos, do envelhecimento, das condições cutâneas locais e de doenças sistêmicas (que afetam todo o organismo). Alguns medicamentos (p.ex., drogas antineoplásicas) também podem causar a queda de cabelo. A calvície de padrão masculino é o tipo mais comum de queda de cabelo que afeta os homens. Ela é rara em mulheres e crianças, pois depende da presença de hormônios masculinos (androgênios) e da concentração dos mesmos, que encontra-se elevada nos homens após a puberdade. Este tipo de calvície tem um caráter familiar. Geralmente, a queda de cabelo começa nas zonas laterais, próximo da fronte ou na parte superior da cabeça em direção a região posterior.

A queda de cabelo pode começar em qualquer idade, mesmo na adolescência. Alguns indivíduos perdem somente parte do cabelo e desenvolvem uma calvície na porção posterior ou em outra região do couro cabeludo. Outros, especialmentes aqueles cuja perda de cabelo começa na juventude, podem tornar- se completamente calvos. A calvície de padrão feminino é menos comum que a de padrão masculino. Comumente, esta condição produz uma rarefação de cabelo na frente, nas laterais e na coroa. Raramente, ela evolui até uma perda total do cabelo.

A calvície tóxica (alopécia tóxica) pode ocorrer após uma doença grave acompanhada de febre alta. Em doses excessivas, algumas drogas, sobretudo o tálio, a vitamina A e os retinóides. podem causar a calvície. Muitas drogas antineoplásticas também a causam. Além disso, a calvície pode ser decorrente de uma hipoatividade da tireóide, da hipófise ou mesmo da gravidez. O cabelo cai durante 3 a 4 meses após a doença ou outro transtorno. Geralmente, a queda de cabelo é temporária e o cabelo volta a crescer.

A alopécia areata é um distúrbio no qual ocorre uma queda súbita de pêlos em uma área determinada, habitualmente no couro cabeludo ou na barba. Raramente, pode ocorrer queda de toda a pilificação do corpo, uma condição denominada alopécia universal. Geralmente, os pêlos voltam a crescer em alguns meses, exceto nos indivídos com perda de pêlo generalizada, nos quais um novo crescimento é improvável. O arrancamento de cabelo (tricotilomania) é mais comum em crianças, mas o hábito pode persistir por toda a vida.

O hábito pode não ser percebido por muito tempo, o que leva os médicos e os pais a pensarem em uma doença (p.ex., alopécia areata) como sendo a causa da queda de cabelo. Algumas vezes, uma biópsia (coleta de uma amostra de pele para exame microscópico) ajuda o médico a estabelecer o diagnóstico. A alopécia cicatricial é a queda de cabelo que ocorre em áreas cicatrizadas. A pele pode apresentar cicatrizes por queimaduras , lesões graves ou radioterapia. As causas menos evidentes de cicatrização incluem o lúpus eritematoso sistêmico, o líquen plano, as infecções bacterianas ou fúngicas crônicas, a sarcoidose e a tuberculose. Os cânceres de pele também podem causar cicatrizes na pele.

Diagnóstico e Tratamento

A determinação do tipo de calvície simplesmente através da observação é algumas vezes difícil e, por essa razão, o médico pode necessitar de uma biópsia para estabelecer o diagnóstico. A biópsia ajuda a determinar se os folículos pilosos são normais. Quando eles são anormais, a biópsia pode indicar as causas possíveis. A maioria dos tipos de calvície ou alopécia não tem cura. Um indivíduo com calvície de padrão masculino ou feminino pode ser submetido a um transplante de cabelo, no qual os folículos pilosos são removidos de uma parte do corpo e transplantados. Alguns medicamentos (p.ex., minoxidil tópico) podem favorecer o crescimento do cabelo em uma pequena porcentagem de indivíduos.

A finasterida oral também pode promover o crescimento do cabelo. Os corticosteróides injetados sob a pele costumam ajudar as pessoas com alopécia areata, mas os resultados podem não ser duradouros. Um outro tratamento para a alo-pécia areata envolve a indução de uma reação alérgica ou de uma irritação discreta para promover o crescimento do cabelo. A alopécia cicatricial é particularmente difícil de ser tratada. Quando possível, a causa da formação de cicatrizes é tratada, mas após uma área da pele ter cicatrizado totalmente, o crescimento de pelo é improvável.

Pêlos de Barba Encravados

Um pêlo pode enrolar de tal modo que sua extremidade perfura a pele e causa inflamação (pseudofoliculite da barba). Isso ocorre mais freqüentemente com os pêlos encravados da barba, especialmente em homens da raça negra. O melhor tratamento consiste em deixar a barba crescer: quando os pêlos tornam-se mais longos, eles não encravam nem perfuram a pele. O homem que não deseja usar barba pode utilizar um produto depilatório feito de tioglicolato ou tretinoína (ácido retinóico), mas, freqüentemente, ele irrita a pele.