ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Distúrbios alimentares


Distúrbios alimentares

Os distúrbios alimentares são responsáveis pelos maiores índices de mortalidade entre todos os tipos de transtornos mentais, ocasionando a morte em mais de 10% dos pacientes. A grande maioria - mais de 90% - daqueles que sofrem de transtornos alimentares são mulheres adolescentes e jovens. Uma das razões pelas quais mulheres dessa faixa etária são mais vulneráveis a esses transtornos é a tendência de fazerem regimes rigorosos para obterem a silhueta "ideal". Falaremos de cada um deles agora. Leia com atenção e, ao se identificar com algum deles, procure um especialista.

Anorexia nervosa

É muito bom redescobrir as formas do corpo à medida que o ponteiro da balança começa a descer, mas tem gente que, mesmo sem nunca ter sido gorda, alimenta um desejo obsessivo de ficar magérrima!

O problema é que essas pessoas não ficam só na vontade de emagrecer. Elas desenvolvem um tipo de rejeição à comida que as faz perder o controle. Isso é a anorexia nervosa, uma disfunção que pode aparecer sozinha ou em parceria com a bulimia (compulsão pela comida, seguida de culpa que faz a pessoa utilizar métodos de expulsão do que comeu, de seu corpo).

A rejeição à comida (anorexia, com incidência de 1%) é classificada como um transtorno alimentar e suas vítimas são quase sempre (95% dos casos) mulheres jovens, de 15 a 20 anos, excessivamente preocupadas com a aparência e mais sensíveis às influências dos padrões de beleza em vigor para firmar sua personalidade. A doença também ataca mulheres na faixa dos 30 e raramente as acima dos 40. Porém não quer dizer que a adolescente que adora estar na moda esteja sujeita a manifestar o problema.

Um dos primeiros sintomas é a perda da noção que a pessoa tem da sua imagem corporal, mesmo magra ela se vê gorda, acredita que precisa emagrecer ainda mais, e que o melhor jeito é parar de comer. Normalmente essas mulheres não acreditam que este medo de engordar possa ser sinal de alguma disfunção. A prática mostra que uma das partes mais difíceis do atendimento para tratar a anorexia nervosa é convencer a pessoa de que ela está doente.

Normalmente, essas pessoas só são levadas à tratamento quando a anorexia já está em nível elevado, ou seja, quando os sinais já são perceptíveis, quando o emagrecimento já é exagerado, aí é que os parentes (pois a pessoa não se vê tão magra) ou amigos próximos percebem que já ultrapassou o limite do normal.

A família sempre deve insistir no tratamento mesmo que a doente queira parar. O atendimento especializado é a única saída para controlar o problema antes que o corpo exija atendimento médico por causa de uma emergência.

Sem tratamentos, a anorexia nervosa:

  • Desgasta emocionalmente.
  • Debilita os órgãos.
  • Provoca distúrbios associados à desnutrição.
  • Lesa o aparelho digestivo quando há vômitos constantes.
  • Provoca arritmias cardíacas.

Nas adolescentes, os principais sinais da anorexia são o enfraquecimento, a perda de peso visível e a ausência de menstruação.

Tratamento

  • Reidratar o organismo, recomeçando a alimentação à base de soros e líquidos (o estômago reduzido por não comer a tempos não suporta alimentos sólidos).
  • Introduzir gradualmente alimentos pastosos até chegar aos sólidos.
  • A pessoa também vai precisar reaprender a conviver com os outros durante as refeições, entrar em supermercados, fazer compras, ir a festas, participar dos almoços com a família, enfim, voltar a lidar com o lado social da comida.

Quanto à imposição, ela só é feita em casos que já estão muito graves, com perigo de morte (arritmia cardíaca, vômitos espontâneos). Para os demais casos ela deixou de ser recomendada porque tira o paciente da vida social, o que dificulta ainda mais a sua readaptação. A psicoterapia é muito importante para a eficácia do tratamento. Através dela a pessoa vai alterar os hábitos adquiridos e voltou a comer. É recomendado também que a família do paciente participe de sessões de terapia familiar em grupo para auxiliar a paciente em seu ambiente.

Sintomas

  • Preocupação excessiva com a alimentação. A pessoa passa a maior parte do tempo pensando no medo de engordar.
  • Sensação intensa de culpa e uma ansiedade desproporcional por eventualmente ter saído um pouco da dieta.
  • As pessoas dizem que você está muito magra, suas roupas estão cada vez mais largas, mas você não se acha magra e ainda quer perder peso.
  • Menstruação irregular, ou não existente.

Obs: se você se identificou com um desses tipos, consulte um médico psiquiatra ou endocrinologista.

As estatísticas revelam que 90% dos pré-adolescentes com problemas de bulimia e anorexia são filhos de pais obesos ou excessivamente preocupados em emagrecer.

Bulimia nervosa

Pessoas com bulimia nervosa ingerem grandes quantidades de alimentos e depois eliminam o excesso de calorias através de jejuns prolongados, vômitos auto-induzidos, laxantes, diuréticos ou na prática exagerada e obsessiva de exercícios físicos.

Devido ao "comer compulsivo seguido de eliminação" em segredo, e ao fato de manterem seu peso normal ou com pouca variação deste, essas pessoas conseguem muitas vezes esconder seu problema das outras pessoas por anos.

Assim como a anorexia, a bulimia caracteristicamente se inicia na adolescência. A doença ocorre mais freqüentemente em mulheres, mas também atinge os homens.

Indivíduos com bulimia nervosa, mesmo aqueles com peso normal, podem prejudicar gravemente seu organismo com o hábito freqüente de comerem compulsivamente e se "desintoxicarem" em seguida.

Sintomas comuns da bulimia

  • Interrupção da menstruação.
  • Interesse exagerado por alimentos e desenvolvimento de estranhos rituais alimentares.
  • Comer em segredo.
  • Obsessão por exercício físico.
  • Depressão.
  • Ingestão compulsiva e exagerada de alimentos.
  • Vômitos ou uso de drogas para indução de vômito, evacuação ou diurese.
  • Alimentação excessiva sem nítido ganho de peso.
  • Longos períodos de tempo no banheiro para induzir o vômito.
  • Abuso de drogas e álcool.

Personalidade: pessoas que desenvolvem bulimia quase sempre consomem enormes quantidades de alimentos, geralmente sem valor nutritivo, para diminuir o estresse e aliviar a ansiedade. Entretanto, com a extravagância alimentar, surgem a culpa e depressão. Pessoas com profissões ou atividades que valorizam a magreza, como modelos, bailarinos e atletas, são mais suscetíveis ao problema.

Tratamento

Quanto mais cedo for diagnosticado o problema, melhor. Quanto mais tempo persistir o comportamento alimentar anormal, mais difícil será superar o distúrbio e seus efeitos no organismo. O apoio e incentivo da família e dos amigos podem desempenhar importante papel no êxito do tratamento. O ideal de tratamento é que a equipe envolva uma variedade de especialistas: um clínico, um nutricionista, um psiquiatra e um terapeuta individual, de grupo ou familiar.

Comer-compulsivo

É um dos transtornos alimentares que se assemelha à bulimia, pois caracteriza-se por episódios de ingestão exagerada e compulsiva de alimentos e, no entanto, difere da bulimia, pois as pessoas afetadas não produzem a eliminação forçada dos alimentos ingeridos (tomar laxantes e/ou provocar vômitos).

Pessoas com esse transtorno sentem que perdem o controle quando comem. Ingerem grandes quantidades de alimentos e não param enquanto não se sentem "empanturradas". Geralmente apresentam dificuldades em emagrecer ou manter o peso. Quase todas as pessoas com esse transtorno são obesas e apresentam história de variação de peso. São propensas a vários problemas médicos graves associados à obesidade, como o aumento do colesterol, hipertensão arterial e diabetes.

É um transtorno mais freqüente em mulheres. Sintomas:

  • Comer em segredo.
  • Depressão.
  • Ingestão compulsiva e exagerada de alimentos.
  • Abuso de drogas e álcool.

Tratamento

O êxito é maior quando diagnosticados precocemente. Precisa de um plano de tratamento abrangente, em geral, um clínico, nutricionista ou um terapeuta, para lhe dar apoio emocional constante, enquanto o paciente começa a entender a doença de uma forma de terapia que ensine os pacientes a modificar pensamentos e comportamentos anormais, que em geral, são mais produtivas.

Na calada da noite

A ingestão exagerada e compulsiva de alimentos, característica da bulimia e do comer compulsivo foi batizada, em inglês, com o nome de binge eating (orgia alimentar). Elas geralmente ocorrem na calada da noite, longe do olhar de censura de outras pessoas, e são acompanhadas por uma sensação subjetiva de perda de controle, seguida de culpa. Assim como ocorre na compulsão pelo álcool, pelas drogas, pelo sexo, ou em outras formas de dependência, as causas profundas do comer compulsivo continuam a ser um mistério para os estudiosos.

Indivíduos obesos têm maior risco de doenças cardíacas e alguns tipos de câncer (estômago/intestino)

GRUPOS DE AJUDA

  • Vigilantes do Peso - Empresa voltada para a reeducação alimentar e comportamental. Funciona na base de reuniões semanais, nas quais as pessoas recebem orientação nutricional e compartilham suas experiências. Os freqüentadores pagam uma taxa para se inscrever e uma taxa menor por reunião. Tel. 0800-550559.
  • Comedores Compulsivos Anônimos - Grupo de auto-ajuda inspirado no modelo dos Alcoólicos Anônimos. Os membros seguem um programa de recuperação de 12 passos e se reúnem semanalmente para compartilhar experiências. O grupo não cobras taxas e enfatiza a dimensão espiritual da cura. Tel. (11) 215-9640

PARA LER

  • Pontos para o Gordo, de Alfredo Halpern, Ed. Record.

  • Obesidade Não Tem Cura, mas Tem Tratamento, de Adriano Segal, Ed. Lemos.

  • Sede de Plenitude, de Christina Grof, Ed. Rocco.

  • História da Alimentação, de Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari (organizadores), Ed.Estação Liberdade.

  • FONTE:http://www.afh.bio.br/digest/digest5.asp

COLESTEROL


O COLESTEROL

O colesterol é um membro da família dos lipídios esteróides e, na sua forma pura, é um sólido cristalino, branco, insípido e inodoro. Apesar da má fama, o colesterol é um composto essencial para a vida, estando presente nos tecidos de todos os animais. Além de fazer parte da estrutura das membranas celulares, é também um reagente de partida para a biossíntese de vários hormônios (cortisol, aldosterona, testosterona, progesterona, estradiol), dos sais biliares e da vitamina D. É obtido por meio de síntese celular (colesterol endógeno -70%) e da dieta (colesterol exógeno- 30%). Exceto em pessoas com alterações genéticas do metabolismo do colesterol, o excesso dele no sangue resulta dos péssimos hábitos alimentares que possuímos (que são adquiridos desde a infância) e que nos levam a grande ingestão de colesterol e gorduras saturadas (geralmente de origem animal). O colesterol endógeno é sintetizado pelo fígado, em um processo regulado por um sistema compensatório: quanto maior for a ingestão de colesterol vindo dos alimentos, menor é a quantidade sintetizada pelo fígado. Como é insolúvel em água e, conseqüentemente, no sangue, para ser transportado na corrente sanguínea liga-se a algumas proteínas e outros lipídeos através de ligações não-covalentes em um complexo chamado lipoproteína.

Existem vários tipos de lipoproteínas, e estas podem ser classificadas de diversas maneiras. O modo pelo qual os bioquímicos geralmente as classificam é baseado em sua densidade. Entre estas, estão as "Low-Density Lipoproteins", ou LDL, que transportam o colesterol do sítio de síntese - o fígado - até as células de vários outros tecidos. Uma outra classe de lipoproteínas, as "High Density Lipoproteins", ou HDL transportam o excesso de colesterol dos tecidos de volta para o fígado, onde é utilizado para a síntese dos sais biliares.

LIPOPROTEÍNAS

As lipoproteínas são classificadas em várias classes, de acordo com a natureza e quantidade de lipídeos e proteínas que as constituem. Dentre as classes de lipoproteínas destacam-se:

  • Quilomicrons: grandes partículas que transportam as gorduras alimentares e o colesterol para os músculos e outros tecidos.

  • Very-Low Density Lipoproteins (VLDL) e Intermediate Density Lipoprotein (IDL): transportam triglicerídeos (TAG) e colesterol endógenos do fígado para os tecidos. A medida em que perdem triglicerídeos, podem coletar mais colesterol e tornarem-se LDL.

  • Low-Density Lipoproteins (LDL): transportam do fígado para os tecidos, cerca de 70% de todo o colesterol que circula no sangue. São pequenas e densas o suficiente para se ligarem às membranas do endotélio (revestimento interno dos vasos sangüíneos. Por esta razão, as LDL são as lipoproteínas responsáveis pela aterosclerose (ver O colesterol no sangue) – deposição de placas lipídicas (ateromas) nas paredes das artérias. Conseqüentemente, níveis elevados de LDL estão associados com os altos índices de doenças cardiovasculares.

  • High-Density Lipoproteins (HDL): é responsável pelo transporte reverso do colesterol ou seja, transporta o colesterol endógeno de volta para o fígado. O nível elevado de HDL está associado com baixos índices de doenças cardiovasculares.

A maior parte do colesterol está ligada a lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e o restante, a proteínas de alta densidade (HDL). O colesterol ligado à LDL é o que se deposita nas paredes das artérias, quando em excesso. Por isso é denominado “mau colesterol”. Por outro lado, o HDL pode ser considerado o "bom colesterol", pois ele retira o LDL colesterol da parede das artérias e o transporta para ser metabolizado no fígado, "como se limpasse as artérias por dentro", desempenhando assim papel de proteção contra a aterosclerose.

VALORES PARA ADULTOS (mg/dL)

DESEJÁVEIS

LIMÍTROFES

AUMENTADOS

Colesterol total

Abaixo de 200

200-240

Acima de 240

LDL* colesterol

Abaixo de 130

130-160

Acima de 160

HDL colesterol

Acima de 40

35-40

Abaixo de 35

Triglicerídeos

Abaixo de150

150-200

Acima de 200

* Se a pessoa já manifestou eventos como infarto, cirurgia de revascularização, angioplastia ou fez coronariografia que o LDL precisa ficar abaixo de 130. Se existem fatores de risco associados como diabetes, hipertensão e fumo, deve ficar abaixo de 100.

As lipoproteínas transportam o colesterol no sangue. As LDL levam o colesterol do fígado e dos intestinos para diversos tecidos, onde ele é usado para reparar membranas ou produzir esteróides. As HDL transportam o colesterol para o fígado, onde ele é eliminado ou reciclado.

O COLESTEROL NO SANGUE

1- O colesterol forma um complexo com os lipídeos e proteínas, chamado lipoproteína. A forma que realmente apresenta malefício, quando em excesso, é a LDL.

2- Nesta interação, a LDL pode acabar sendo oxidada por radicais livres presentes na célula.

3- Esta oxidação aciona o mecanismo de defesa, desencadeando um processo inflamatório com infiltração de leucócitos. Moléculas inflamatórias acabam por promover a formação de uma capa de coágulos sobre o núcleo lipídico.

4- Após algum tempo cria-se uma placa (ateroma) no vaso sanguíneo; sobre esta placa, pode ocorrer uma lenta deposição de cálcio, numa tentativa de isolar a área afetada.

5- Isto pode interromper o fluxo sanguíneo normal (aterosclerose) e vir a provocar inúmeras doenças cardíacas. De fato, a concentração elevada de LDL no sangue é a principal causa de cardiopatias.

O METABOLISMO DO COLESTEROL

Síntese do colesterol: Nos seres humanos, o colesterol pode ser sintetizado a partir do acetil-CoA. O fígado, seguido do intestino, são os principais locais da síntese do colesterol, podendo produzi-lo em grandes quantidades. Pode também ser produzido nos testículos, ovários e córtex adrenal.

Transporte de colesterol

O colesterol proveniente da dieta, chega ao fígado a partir de quilomícrons remanescentes e daí provoca a inibição da síntese da enzima da HMG-CoA redutase, diminuindo com isto a síntese endógena. Antes de deixar os hepatócitos (células do fígado), o colesterol incorpora-se nas lipoproteínas VLDL (lipoproteína de densidade muito baixa). Estas, na corrente sanguínea, recebem as apoproteínas E e C2 das HDL (lipoproteína de alta densidade) e, ao passar pelos capilares dos tecidos periféricos, são transformadas em IDL (lipoproteína de densidade intermediária) e depois em LDL. Em indivíduos normais, aproximadamente metade das IDL retornam ao fígado, através dos receptores LDL, por endocitose (LDL e IDL contêm apoproteínas que se ligam especificamente aos receptores LDL – aproximadamente 1.500 receptores por célula), e os remanescentes IDL são convertidos em LDL. Após ligação com LDL, a região da membrana contendo o complexo receptor-lipoproteína, invagina-se, migra através do citoplasma celular e funde-se lisossomos. A LDL é degradada nestas organelas e os ésteres de colesterol hidrolisados pela enzima colesterol-esterase lisossômica. O colesterol liberado é ressintetizado a éster dentro da célula e pode inibir a produção da redutase dentro de poucas horas, diminuindo com isto, a síntese do colesterol intracelular.

Regulação da síntese do colesterol

a- Inibição por “feed-back”: o colesterol proveniente da dieta inibe a síntese de colesterol no fígado, mas não no intestino, através da inibição da síntese da HMGCoA redutase.

b- Ritmo circadiano: a síntese de colesterol atinge o pico 6 horas após ter escurecido e o mínimo aproximadamente 6 horas após a reexposição à luz. A atividade é regulada ao nível da enzima HMGCoA redutase.

c- Regulação hormonal: insulina aumenta a atividade de HMGCoA redutase enquanto glucagon e cortisol inibem a atividade da enzima.

ATEROSCLEROSE E RECEPTORES DE LDL

Para algumas pessoas, exercícios e dieta não são suficientes para diminuir o nível de colesterol. Elas sofrem de uma doença genética denominada hipercolesterolemia familiar. Estudos indicam que existe um defeito na capacidade das LDL de se ligarem aos receptores, e não há inibição por “feed-back” da síntese de colesterol. Sabe-se que na forma grave da doença, os níveis sangüíneos de colesterol freqüentemente excedem 700mg/dL, o que provoca deposição excessiva de colesterol na parede das artérias. As manifestações clínicas incluem nível elevado de LDL (colesterol “ruim”) no plasma, depósitos nos tendões, pele (xantomas) e artérias, e, dependendo do caso, podem ocorrer na infância, o que é geralmente fatal. Esse é um dos vários motivos pelos quais a indústria farmacêutica investe milhões de dólares na pesquisa de fármacos capazes de reduzir o nível de colesterol.

ALGUMAS ARMAS QUÍMICAS CONTRA COLESTEROL

Existem 4 tipos de drogas para o tratamento da hipercolesterolemia:

è Inibidores competitivos da HMG-CoA redutase: agem inibindo uma das etapas na biossíntese do colesterol; também aumentam o número de sítios receptores de LDL no fígado. Inibidores como a mevinolina (Iovastatina) podem reduzir em 50% os níveis de colesterol.

lovastatin

èMisturas de Fibras e Proteínas: conduzem ao aumento do catabolismo do colesterol com o objetivo de repor a perda de sais biliares. O conseqüente decréscimo do nível sérico de LDL induz à síntese de receptores LDL (exceto na hipercolesterolemia familiar). Infelizmente, a queda do colesterol plasmático também induz a síntese da enzima HMG-CoA redutase, a qual eleva a biossíntese do colesterol, resultando numa queda de apenas 15 a 20% do nível sérico do lipídeo è Sequestradores de ácido biliar: administração de resinas que se ligam aos ácidos biliares. Reduzem a reabsorção dos ácidos biliares e assim mais colesterol do fígado e das LDL é desviado para produzir os ácidos biliares. Dessa maneira, diminuem a concentração de colesterol em 15-20%, por promoverem a conversão de parte do colesterol plasmático em ácidos biliares.

colestid

è Ácido Nicotínico: também conhecido com vitamina B3, esta droga é capaz de diminuir a concentração de VLDL; o que acaba por reduzir a concentração de LDL e aumentar a concentração de HDL..

O QUE FAZER NA DIETA: Substituição de ácidos graxos saturados por ácidos graxos poliinsaturados (ex.: ácido linoleico): são mais rapidamente metabolizados no fígado, diminuindo a concentração de colesterol plasmático

Portanto, concluímos que o uso combinado de medicamentos e dieta poderá resultar numa queda plasmática do colesterol de 50 a 60%, de um histórico familiar de hipercolesterolemia; alerta a necessidade de instituir o tratamento desde a infância do indivíduo como conduta preventiva indispensável.

CONTROLE DA ATIVIDADE DIGESTIVA

A presença de alimento na boca, a simples visão, pensamento ou o cheiro do alimento, estimulam a produção de saliva.

Enquanto o alimento ainda está na boca, o sistema nervoso, por meio do nervo vago, envia estímulos ao estômago, iniciando a liberação de suco gástrico. Quando o alimento chega ao estômago, este começa a secretar gastrina (1), hormônio produzido pela própria mucosa gástrica e que estimula a produção do suco gástrico. Aproximadamente 30% da produção do suco gástrico é mediada pelo sistema nervoso, enquanto os 70% restantes dependem do estímulo da gastrina. Com a passagem do alimento para o duodeno, a mucosa duodenal secreta outro hormônio, a secretina (2), que estimula o pâncreas a produzir suco pancreático e liberar bicarbonato. Ao mesmo tempo, a mucosa duodenal produz colecistocinina (ou CCK) (3), que é estimulada principalmente pela presença de gorduras no quimo e provoca a secreção do suco pancreático e contração da vesícula biliar (4), que lança a bile no duodeno. Em resposta ainda ao quimo rico em gordura, o duodeno secreta enterogastrona (5), que inibe os movimentos de esvaziamento do estômago, a produção de gastrina e, indiretamente, de suco gástrico.

Imagem: AVANCINI & FAVARETTO. Biologia – Uma abordagem evolutiva e ecológica. Vol. 2. São Paulo, Ed. Moderna, 1997.

Hormônio

Local de produção

Órgão-alvo

Função

Gastrina

estômago

estômago

Estimula a produção de suco gástrico.

Secretina

intestino delgado

pâncreas

Estimula a liberação de bicarbonato.

Colecistocinina

intestino delgado

pâncreas e vesícula biliar

Estimula a liberação da bile pela vesícula biliar e a liberação de enzimas pancreáticas.

Enterogastrona

intestino delgado

estômago

Inibe o peristaltismo estomacal e a produção de gastrina.

CONTROLE DA GORDURA CORPORAL

Quando o valor calórico dos alimentos ingeridos em um determinado tempo supera o total da energia consumida no mesmo período, os alimentos excedentes são convertidos em gorduras corporais. Essa conversão acontece mais facilmente quando ingerimos gorduras do que quando ingerimos proteínas ou carboidratos. Enquanto houver glicose disponível, ela será usada, e o metabolismo das gorduras será interrompido. O estoque de glicose é representado pelo glicogênio, armazenado no fígado e nos músculos. Em um adulto em jejum, o estoque de glicogênio esgota-se dentro de 12 a 24 horas. A seguir, são consumidas as reservas de gordura e, se necessário, as de proteína, posteriormente. As células podem usar até 50% de suas proteínas como fonte de energia, antes que ocorra morte celular.

fonte: http://www.afh.bio.br/digest/digest2.asp#colesterol

Comunicação com a pessoa idosa.


1. INTRODUÇÃO

Gerson de Souza Santos – Enfermeiro - Especialista em Saúde da Família – Mestrando em Enfermagem – Área temática: qualidade de vida no envelhecimento.

A temática do idoso tem ganhado relevância, nos últimos anos, a partir da constatação do crescimento proporcionalmente maior de pessoas com idade avançada em relação a outras faixas etárias, provocando o envelhecimento da população. Esse fenômeno, que resulta em última instância do declínio da fecundidade e do aumento da expectativa de vida, foi observado primeiramente nos países centrais, e nas últimas décadas também em países periféricos como o Brasil. O envelhecimento da população se traduz como transição demográfica, com estreitamento da base da pirâmide populacional e alargamento do ápice. As alterações demográficas são acompanhadas por mudanças no perfil epidemiológico, em que se observa uma redução da incidência de doenças infecto-contagiosas e o aumento das doenças crônico-degenerativas, próprias das faixas etárias mais avançadas. Tais transformações exigem novas políticas e novas formas de intervenção no campo da atenção à saúde1.

O crescimento demográfico da população brasileira na faixa etária cima de 60 anos e em especial o verificado nos grandes centros urbanos tem sido motivo de grande interesse por parte dos estudiosos da Terceira Idade em vários países do mundo. O Brasil hoje desponta como um país cuja população encontra-se em rápido e inexorável processo de envelhecimento. No ano 2020 seus habitantes com 60 anos ou mais irão compor um contingente estimado de 31,8 milhões de pessoas. Esse segmento populacional, ao crescer 15 vezes no período de 1950 a 2020, em contraste com a população total que terá crescido apenas cinco vezes, situará o Brasil como o sexto país do mundo em termos de massa de idosos2.

Nesse aspecto, o rápido crescimento da população de idosos no Brasil causa um importante impacto em toda a sociedade, principalmente nos sistemas de saúde. Entretanto, a infra-estrutura necessária para responder às demandas deste grupo etário em termos de instalações, programas específicos e mesmo recursos humanos adequados, quantitativa e qualitativamente, ainda é precária2.

Considerando-se que o envelhecimento traz alterações físicas, sociais, cognitivas e comportamentais, que afetam diretamente a po­sição social e o papel desempenhado pelo indivíduo, qualificando-o ou desqualificando-o para seu exercício ou interferindo diretamente nas suas condições de autonomia e independência e, tendo em vista, que em relação à linguagem, o declínio não é homogêneo, pois al­guns aspectos mantêm-se bastante preservados enquanto em outros se nota alterações, torna-se necessário o estudo da funcionalidade de comunicação dos idosos visando melhor conhecimento dos processos de envelhecimento e capacidades de adaptação3.

Os déficits relacionados ao envelhecimento são caracterizados pela perda da funcionalidade1. Entre elas a funcionalidade motora, tem sido a mais descrita, mas a diminuição nos mecanismos de defesa natural do organismo e de adaptação ao ambiente além de perda da reserva funcional estende-se a outras esferas cognitivas, como a linguagem. Fatores ambientais não são determinantes para a perda da funcionalidade, porém contribuem e influenciam as per­das. Além deles, riscos de doenças, freqüentes no envelhecimento também interferem na capacidade funcional do indivíduo4.

A comunicação permeia a vida desde o nascimento, é ela que revela a existência humana. Pode receber vários conceitos, dentre eles que é um processo de compreender e compartilhar mensagens enviadas e recebidas é o que ratifica a condição de ser humano. Existem várias perspectivas para o estudo da comunicação e as teorias que tratam dessa área podem ser divididas em dois grandes grupos: as que analisam o processo de forma mais geral (sistêmicas) e as que aprofundam um dos seus aspectos - interacionismo simbólico, por exemplo, cujo foco está voltado para as interpretações dos indivíduos no processo de interação intrapessoal e interpessoal, como fenômeno que se processa na mente e no interior dos interlocutores, considerando as influências do processo de socialização humana5.

A comunicação pode ser classificada em: verbal, referindo-se às palavras ditas ou escritas; e não-verbal, aquelas associadas aos gestos, silêncios, expressões faciais, entonação e timbre da voz, toque, aparência física, condições ambientais, posturas corporais, posição e distância corporal6.

Para alcançar uma comunicação efetiva, os profissionais de saúde precisam compreender melhor os fatores de interferência na percepção dos sinais não-verbais. De maneira sucinta, são eles: a motivação que impulsiona o querer se comunicar; as emoções e sentimentos que se vivencia no momento e no contexto; o conhecimento em si dos sinais da comunicação; o grau de intimidade e de aproximação do emissor; o tempo de estímulo apresentado, bem como, as limitações físicas e fisiológicas presentes. Cabe então, ao profissional, ficar atento para esses aspectos e propor o estabelecimento de uma comunicação terapêutica adequada ao indivíduo que se encontra sob sua responsabilidade7.

2. OBJETIVO

Identificar na literatura os principais aspectos abordados em relação à comunicação com a pessoa idosa.

3. MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, por meio de levantamento retrospectivo de artigos científicos publicados nos ultimo 10 anos (2000 a 2008).

A busca bibliográfica foi realizada em estudos indexados nas bases de dados Scientific Electronic Library Online - SCIELO é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. A SciELO é o resultado de um projeto de pesquisa da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, em parceria com a BIREME - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. A partir de 2002, o Projeto conta com o apoio do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Os descritores utilizados foram: comunicação, idoso, enfermagem, envelhecimento, terceira idade.

Critérios de inclusão: artigos publicados na integra no período entre 1998 a 2008; artigos que continham alguns descritores selecionados; artigos disponíveis no Brasil.

Critérios de exclusão: resumo de artigos; artigos não disponíveis no Brasil; artigos em outros idiomas que não Português.

4. Resultados e discussão

Foram encontrados 30 artigos com os descritores citados, dos quais foram selecionados 10 artigos que contemplaram os critérios de inclusão. Após leitura os artigos foram classificados e agrupados em três grupos, para facilitar a abordagem da temática.

4.1. Alterações no processo de envelhecimento e a comunicação

Com o crescimento da população idosa, muitas questões vêm motivando debates e estudos, de forma a contribuir na elaboração de políticas e intervenções na realidade. Uma delas é a comunicação humana, que neste final de século vem passando por grandes inovações, com os avanços da cibernética e tecnologia das informatizações8.

Os seres vivos expressam a necessidade instintiva de se comunicar, refletem a sua natureza físico-social, quer seja no entorno, quer em seu próprio mundo. Para que o ser humano viabilize os potenciais de interação e de se comunicar, sua condição deve estar íntegra, quer física, emocional ou social. É importante conhecer as modificações que se processam e envolvem globalmente o ser humano, em especial durante o envelhecer9.

Envelhecimento tem sido relacionado, equivocadamente, com doença. Ele desencadeia múltiplas alterações na constituição do ser enquanto processo normal sendo importante a adoção de modos de vida saudável e busca de bem estar, que permitam evitar e retardar as doenças8.

Entretanto, mesmo no envelhecimento normal, as modificações decorrentes dos anos vividos podem expressar potenciais e desgastes, de natureza pessoal e familiar, conforme o uso dos mecanismos de enfrentamento e acomodação, as estruturas funcionais e de apoio, individual e coletiva. Algumas das mudanças interferem diretamente na capacidade de trocar idéias, conversar, transmitir informações e na possibilidade de estabelecer relações e entendimento entre as pessoas10.

O corpo humano, ao envelhecer, pode apresentar alterações nas estruturas da visão, audição, tátil, paladar, olfato, apresentando reflexos na linguagem verbal e não-verbal.

Considerando a estrutura visual, o cristalino fica mais espesso e pesado com a idade, reduzindo a capacidade de foco em objetos próximos, além de poder deixar diminuída a passagem de luz para a retina, exigindo, assim, mais luz para produzir a mesma sensação psicológica de enxergar e mais tempo para a adaptação à luz e escuridão. Além disso, alterações no globo ocular e em seus músculos limitam a acuidade visual, principalmente para a leitura próxima11.

O processo mental expresso pelo pensamento, memória, compreensão e raciocínio, ou seja, a cognição é essencial à comunicação, já que a capacidade de se comunicar implica no desenvolvimento das faculdades intelectuais, que permitem estabelecer conexões com o mundo exterior e compreender o seu sentido9.

É importante salientar que a comunicação não consiste apenas na troca verbal entre os indivíduos, mas envolve todos os sinais perceptíveis, através de expressões faciais, do corpo, da postura física, da distância mantida entre as pessoas, da capacidade e o jeito de tocar, da roupa que usa. Se, por um lado, o idoso pode apresentar algumas dificuldades na comunicação verbal, por outro, as compensa quando atento e decodificando a comunicação não-verbal, aprendida ao longo da vida12.

O estudo sobre a comunicação com idosos deve levar em consideração os diversos elementos da comunicação verbal e não-verbal, lembrando que cada pessoa tem linguagem própria, a ser reconhecida. É ouvindo cada maneira particular de comunicar que será possível captar e entender os signos utilizados no contexto cultural e social8.

4.2. A importância da comunicação na socialização dos idosos

Para Brêtas e Silva, o modelo capitalista de produção incorporado pelo sistema industrial e pela sociedade está diretamente ligado ao isolamento social dos gerontes, pois ele valoriza a produtividade ou, seja o ser humano é valorizado na medida em que suas ações sejam produtivas ou lucrativas. O idoso é estigmatizado, pela sociedade, como ser improdutivo e incapaz, deixando-o sem perspectivas e visualizando-o como "encargo e prejuízo social". Verifica-se que a discriminação resultante deste processo cria o desinteresse na otimização da assistência geriátrica e gerontológica, caracterizando a prestação de cuidado ao idoso, como um ato caritativo, sem conscientização dos direitos destes indivíduos, e proporcionando-lhe a perda de sua cidadania13.

A senilidade ocorre no aspecto individual, é progressiva, dinâmica e não-patológica. É notável salientar que não possui o mesmo significado de senescência, ou seja, fase de enfermidades. A visão de similaridade entre o envelhecer e o adoecer, pela sociedade, reflete o desinteresse que há na aplicação de investimentos para a assistência à Terceira Idade, inexistindo promoção e prevenção de sua saúde e qualidade de vida, de forma satisfatória14.

A comunicação: propicia autoconhecimento, conhecer o próximo, estabelecer relacionamento significativo, examinar e estimular mudança de atitude e de comportamento, fatores estes indispensáveis ao auto-cuidado, no cuidado do idoso, executados no seio familiar. O compartilhar de experiências, idéias e sentimentos vividos através da comunicação serve não só para que as pessoas se relacionem entre si, mas para que se transformem mutuamente e transformem a realidade que as rodeia. Isto reforça importância da comunicação no processo de viver do idoso e de sua família, onde a velhice é caracterizada pelo desconhecimento dos diferentes modos de obter bem-estar e subsídios para enfrentamento deste processo, o qual exige transformação, mas que pode ser experienciado de forma digna, harmônica e prazerosa, tanto quer pelo idoso como por sua família14.

Vivenciamos, atualmente, a discriminação e a marginalização do idoso não só nas famílias, mas também em todo o contexto social. Estes fatores, entretanto, são camuflados pela sociedade onde a mídia reforça o poder e a beleza do jovem, na plena fase de produção e realização. Neste processo de viver a velhice, as famílias, muitas vezes, cuidam do idoso sem interagir, compreendê-lo, e comunicar-se; entretanto, ser idoso não é deixar de viver, mas viver de acordo com sua etapa vital, preservando sua dignidade e cidadania. A evolução tecnológica nos permite aumentar a expectativa de vida da população, mas parece-nos que as famílias, a sociedade, e os próprios idosos, não estão preparados para viver este processo com qualidade e prazer. Muitos decidem utilizar o asilamento como refúgio, onde a convivência com seus pares e os cuidados recebidos, mesmo que sejam poucos, podem oferecer novas opções de viver. Procura-se atender as necessidades básicas do idoso, muitas vezes, deixamos de lado outras necessidades sentidas com mais intensidade, mesmo quando camufladas. Isso parece-nos ser causado por diversos fatores onde a comunicação tem sua grande importância14.

4.3. Comunicação com o idoso no fim da vida

Os profissionais que trabalham com pacientes em fim de vida não escapam do insistente apelo da verificação realista de sua mortalidade, espelhada na morte do outro. Bem como não escapam do paradoxo de se saberem finitos ao mesmo tempo em que negam a condição de mortal. O conhecimento da finitude, ainda que necessário à estabilidade do funcionamento psíquico se contrapõe à idéia da certeza da própria morte, que não pode ser consciente e persistentemente tolerada por ser humano algum sem que represente ameaça à integridade de sua organização psíquica. Assim é engendrado o medo da morte, como sábia garantia de reprimir a tormenta do pavor da própria aniquilação do ser humano15.

No acolhimento ao paciente idoso Freqüentemente, agimos como se morrer fosse um problema apenas de quem está morrendo. O fato é que morremos como vivemos numa rede de relações vitais altamente complexas. Considerando tal assertiva, o encontro do profissional com um paciente idoso ao final de vida é, na verdade, um encontro entre duas pessoas que se comunicam em estimulação mútua resguardada as particularidades do papel de cada um nessa relação. A aproximação da morte assinala um modo peculiar de comunicação que pode fluir por canais nunca antes visitados, quando o sofrimento do paciente se manifesta pela tristeza, frustração ou medo16,17.

A angústia ante a ameaça da morte, a perplexidade diante do desconhecido absoluto podem não comportar a expressão pela fala, esse modo régio de comunicação dos seres humanos. Estar em comunicação com os pacientes idosos ao fim de vida é estar em comunhão com eles, no acolhimento do poder inimaginável de sua capacidade de comunicação que nem a ausência da fala é capaz de conter. É quando o profissional tem a oportunidade de ser “alguém que acolhe o que vê e sente, que registra o que ouve, que procura captar a expressividade de outrem e que deve silenciar-se para que o outro possa exprimir-se”18.

A comunicação com esses idosos à beira da morte é uma delicada tarefa que busca alcançá-los no balanço de suas fragilidades e fortalezas, quando o profissional, seu interlocutor, é provocado a considerar a sua própria terminalidade19.

Quando o paciente demonstra pressentir que algo está por acontecer, está se comunicando. O avanço da doença e as observações que vai fazendo das condutas profissionais são percepções que podem inquietá-lo e despertar-lhe a necessidade de segurança e proteção. Nessas situações, o profissional é provocado em sua capacidade de compreensão, tolerância e enfrentamento, tornando-se instrumento fundamental tanto no controle como no desencadeamento da ansiedade do paciente. Todo cuidado consigo mesmo é desejável, para que a relação comunicacional aconteça favoravelmente para ambos: profissional e paciente. É sempre bom lembrar que a comunicação entre o profissional e o paciente ao fim de vida está inserida na relação transferencial e que “a contratransferência é uma reação interna, sempre a carregamos em tudo que fazemos20.

De acordo com Goldani, a família é considerada “um processo de articulação das trajetórias de vida de seus membros, que se constrói e se reproduz no contexto das relações de classe, étnicas e de gênero”. Assim, para uma boa comunicação do profissional com os familiares dos pacientes idosos em fim de vida, é necessário que atentem para o fato de que as normas de conduta de uma família se forjam na interação das trajetórias individuais de seus membros, resultando em estruturas diferenciadas, cujas dinâmicas interferem na construção daquelas mesmas trajetórias, em movimento dialético contínuo. Então, a maneira como os idosos são tratados por seus familiares depende da forma de organização dessas articulações e interações, circunscritas em contextos sociais determinados21.

Todo profissional de saúde tem o dever de se capacitar para realizar uma comunicação franca com os pacientes e seus familiares. As más notícias devem ser dadas com sensibilidade, em um ambiente de serenidade que propicie a manifestação sincera de apoio, no ritmo do paciente e/ou familiares, e sempre com abertura para indagações, tantas quantas forem demandadas. É fundamental que o profissional jamais se esqueça de que más notícias não se transformam em boas notícias, qualquer que seja o arranjo lingüístico para expressá-las. No caso de pacientes idosos, é importante considerar a capacidade funcional do mesmo, sua disponibilidade física e psíquica para uma relação profissional-paciente que comporte a comunicação de más notícias. É sempre conveniente a presença dos familiares, não só pela vulnerabilidade do paciente como pela gravidade do anúncio da aproximação de sua morte, que, afinal, tem a ver com toda a dinâmica familiar21.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o envelhecimento, à medida que este acarreta a de­terioração da função auditiva, o indivíduo experimenta uma redução da qualidade de vida. Quanto há a associação de outros problemas, como a falta de destreza manual e a acuidade visual, as dificuldades enfrentadas podem ser ainda maiores. Uma queixa comum desses indivíduos idosos diz respeito à dificuldade da compreensão da linguagem falada, principal­mente em situações de comunicação desfavoráveis, como em ambientes ruidosos ou velocidade de fala aumentada. Além disso, esta dificuldade parece ser maior do que a esperada quando considerado o grau da perda auditiva(5-6). Essa discre­pância pode estar relacionada a outros fatores sócio-culturais e emocionais, levando alguns idosos a supervalorizarem e outros a negarem a deficiência22.

Comunicar é partilhar com alguém um conteúdo de informações, pensamentos, idéias, desejos e aspirações, com quem passamos a ter algo em comum. A comunicação feita por meio da linguagem falada responde à necessidade vital do homem na busca de novas experiências e conhecimentos, sendo um ato social fundamental em nossas vidas.

De todas as privações sensoriais que afetam o idoso, a incapacidade de comunicar-se com os outros devido à perda auditiva pode ser uma das conseqüências mais frustrantes, produzindo um impacto profundo e devastador em sua vida psicossocial. A perda da sensibilidade auditiva resultante do envelhecimento é conhecida como presbiacusia. Estritamente, a presbiacusia é, tipicamente, caracterizada por uma perda auditiva bilateral para tons de alta freqüência, devido a mudanças degenerativas e fisiológicas no sistema auditivo com o aumento da idade23.

Idosos portadores de presbiacusia experimentam uma diminuição da sensibilidade auditiva e uma redução na inteligibilidade da fala, o que vem a comprometer seriamente o seu processo de comunicação verbal. A perda auditiva em altas freqüências (agudos) torna a percepção das consoantes muito difícil, especialmente quando a comunicação ocorre em ambientes ruidosos. Freqüentemente, respostas inadequadas de indivíduos idosos presbiacúsicos geram uma imagem de senilidade, a qual, pode não condizer com a realidade. A queixa típica destes indivíduos é a de ouvirem, mas não entenderem o que lhes é dito23.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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