ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Distúrbios alimentares


Distúrbios alimentares

Os distúrbios alimentares são responsáveis pelos maiores índices de mortalidade entre todos os tipos de transtornos mentais, ocasionando a morte em mais de 10% dos pacientes. A grande maioria - mais de 90% - daqueles que sofrem de transtornos alimentares são mulheres adolescentes e jovens. Uma das razões pelas quais mulheres dessa faixa etária são mais vulneráveis a esses transtornos é a tendência de fazerem regimes rigorosos para obterem a silhueta "ideal". Falaremos de cada um deles agora. Leia com atenção e, ao se identificar com algum deles, procure um especialista.

Anorexia nervosa

É muito bom redescobrir as formas do corpo à medida que o ponteiro da balança começa a descer, mas tem gente que, mesmo sem nunca ter sido gorda, alimenta um desejo obsessivo de ficar magérrima!

O problema é que essas pessoas não ficam só na vontade de emagrecer. Elas desenvolvem um tipo de rejeição à comida que as faz perder o controle. Isso é a anorexia nervosa, uma disfunção que pode aparecer sozinha ou em parceria com a bulimia (compulsão pela comida, seguida de culpa que faz a pessoa utilizar métodos de expulsão do que comeu, de seu corpo).

A rejeição à comida (anorexia, com incidência de 1%) é classificada como um transtorno alimentar e suas vítimas são quase sempre (95% dos casos) mulheres jovens, de 15 a 20 anos, excessivamente preocupadas com a aparência e mais sensíveis às influências dos padrões de beleza em vigor para firmar sua personalidade. A doença também ataca mulheres na faixa dos 30 e raramente as acima dos 40. Porém não quer dizer que a adolescente que adora estar na moda esteja sujeita a manifestar o problema.

Um dos primeiros sintomas é a perda da noção que a pessoa tem da sua imagem corporal, mesmo magra ela se vê gorda, acredita que precisa emagrecer ainda mais, e que o melhor jeito é parar de comer. Normalmente essas mulheres não acreditam que este medo de engordar possa ser sinal de alguma disfunção. A prática mostra que uma das partes mais difíceis do atendimento para tratar a anorexia nervosa é convencer a pessoa de que ela está doente.

Normalmente, essas pessoas só são levadas à tratamento quando a anorexia já está em nível elevado, ou seja, quando os sinais já são perceptíveis, quando o emagrecimento já é exagerado, aí é que os parentes (pois a pessoa não se vê tão magra) ou amigos próximos percebem que já ultrapassou o limite do normal.

A família sempre deve insistir no tratamento mesmo que a doente queira parar. O atendimento especializado é a única saída para controlar o problema antes que o corpo exija atendimento médico por causa de uma emergência.

Sem tratamentos, a anorexia nervosa:

  • Desgasta emocionalmente.
  • Debilita os órgãos.
  • Provoca distúrbios associados à desnutrição.
  • Lesa o aparelho digestivo quando há vômitos constantes.
  • Provoca arritmias cardíacas.

Nas adolescentes, os principais sinais da anorexia são o enfraquecimento, a perda de peso visível e a ausência de menstruação.

Tratamento

  • Reidratar o organismo, recomeçando a alimentação à base de soros e líquidos (o estômago reduzido por não comer a tempos não suporta alimentos sólidos).
  • Introduzir gradualmente alimentos pastosos até chegar aos sólidos.
  • A pessoa também vai precisar reaprender a conviver com os outros durante as refeições, entrar em supermercados, fazer compras, ir a festas, participar dos almoços com a família, enfim, voltar a lidar com o lado social da comida.

Quanto à imposição, ela só é feita em casos que já estão muito graves, com perigo de morte (arritmia cardíaca, vômitos espontâneos). Para os demais casos ela deixou de ser recomendada porque tira o paciente da vida social, o que dificulta ainda mais a sua readaptação. A psicoterapia é muito importante para a eficácia do tratamento. Através dela a pessoa vai alterar os hábitos adquiridos e voltou a comer. É recomendado também que a família do paciente participe de sessões de terapia familiar em grupo para auxiliar a paciente em seu ambiente.

Sintomas

  • Preocupação excessiva com a alimentação. A pessoa passa a maior parte do tempo pensando no medo de engordar.
  • Sensação intensa de culpa e uma ansiedade desproporcional por eventualmente ter saído um pouco da dieta.
  • As pessoas dizem que você está muito magra, suas roupas estão cada vez mais largas, mas você não se acha magra e ainda quer perder peso.
  • Menstruação irregular, ou não existente.

Obs: se você se identificou com um desses tipos, consulte um médico psiquiatra ou endocrinologista.

As estatísticas revelam que 90% dos pré-adolescentes com problemas de bulimia e anorexia são filhos de pais obesos ou excessivamente preocupados em emagrecer.

Bulimia nervosa

Pessoas com bulimia nervosa ingerem grandes quantidades de alimentos e depois eliminam o excesso de calorias através de jejuns prolongados, vômitos auto-induzidos, laxantes, diuréticos ou na prática exagerada e obsessiva de exercícios físicos.

Devido ao "comer compulsivo seguido de eliminação" em segredo, e ao fato de manterem seu peso normal ou com pouca variação deste, essas pessoas conseguem muitas vezes esconder seu problema das outras pessoas por anos.

Assim como a anorexia, a bulimia caracteristicamente se inicia na adolescência. A doença ocorre mais freqüentemente em mulheres, mas também atinge os homens.

Indivíduos com bulimia nervosa, mesmo aqueles com peso normal, podem prejudicar gravemente seu organismo com o hábito freqüente de comerem compulsivamente e se "desintoxicarem" em seguida.

Sintomas comuns da bulimia

  • Interrupção da menstruação.
  • Interesse exagerado por alimentos e desenvolvimento de estranhos rituais alimentares.
  • Comer em segredo.
  • Obsessão por exercício físico.
  • Depressão.
  • Ingestão compulsiva e exagerada de alimentos.
  • Vômitos ou uso de drogas para indução de vômito, evacuação ou diurese.
  • Alimentação excessiva sem nítido ganho de peso.
  • Longos períodos de tempo no banheiro para induzir o vômito.
  • Abuso de drogas e álcool.

Personalidade: pessoas que desenvolvem bulimia quase sempre consomem enormes quantidades de alimentos, geralmente sem valor nutritivo, para diminuir o estresse e aliviar a ansiedade. Entretanto, com a extravagância alimentar, surgem a culpa e depressão. Pessoas com profissões ou atividades que valorizam a magreza, como modelos, bailarinos e atletas, são mais suscetíveis ao problema.

Tratamento

Quanto mais cedo for diagnosticado o problema, melhor. Quanto mais tempo persistir o comportamento alimentar anormal, mais difícil será superar o distúrbio e seus efeitos no organismo. O apoio e incentivo da família e dos amigos podem desempenhar importante papel no êxito do tratamento. O ideal de tratamento é que a equipe envolva uma variedade de especialistas: um clínico, um nutricionista, um psiquiatra e um terapeuta individual, de grupo ou familiar.

Comer-compulsivo

É um dos transtornos alimentares que se assemelha à bulimia, pois caracteriza-se por episódios de ingestão exagerada e compulsiva de alimentos e, no entanto, difere da bulimia, pois as pessoas afetadas não produzem a eliminação forçada dos alimentos ingeridos (tomar laxantes e/ou provocar vômitos).

Pessoas com esse transtorno sentem que perdem o controle quando comem. Ingerem grandes quantidades de alimentos e não param enquanto não se sentem "empanturradas". Geralmente apresentam dificuldades em emagrecer ou manter o peso. Quase todas as pessoas com esse transtorno são obesas e apresentam história de variação de peso. São propensas a vários problemas médicos graves associados à obesidade, como o aumento do colesterol, hipertensão arterial e diabetes.

É um transtorno mais freqüente em mulheres. Sintomas:

  • Comer em segredo.
  • Depressão.
  • Ingestão compulsiva e exagerada de alimentos.
  • Abuso de drogas e álcool.

Tratamento

O êxito é maior quando diagnosticados precocemente. Precisa de um plano de tratamento abrangente, em geral, um clínico, nutricionista ou um terapeuta, para lhe dar apoio emocional constante, enquanto o paciente começa a entender a doença de uma forma de terapia que ensine os pacientes a modificar pensamentos e comportamentos anormais, que em geral, são mais produtivas.

Na calada da noite

A ingestão exagerada e compulsiva de alimentos, característica da bulimia e do comer compulsivo foi batizada, em inglês, com o nome de binge eating (orgia alimentar). Elas geralmente ocorrem na calada da noite, longe do olhar de censura de outras pessoas, e são acompanhadas por uma sensação subjetiva de perda de controle, seguida de culpa. Assim como ocorre na compulsão pelo álcool, pelas drogas, pelo sexo, ou em outras formas de dependência, as causas profundas do comer compulsivo continuam a ser um mistério para os estudiosos.

Indivíduos obesos têm maior risco de doenças cardíacas e alguns tipos de câncer (estômago/intestino)

GRUPOS DE AJUDA

  • Vigilantes do Peso - Empresa voltada para a reeducação alimentar e comportamental. Funciona na base de reuniões semanais, nas quais as pessoas recebem orientação nutricional e compartilham suas experiências. Os freqüentadores pagam uma taxa para se inscrever e uma taxa menor por reunião. Tel. 0800-550559.
  • Comedores Compulsivos Anônimos - Grupo de auto-ajuda inspirado no modelo dos Alcoólicos Anônimos. Os membros seguem um programa de recuperação de 12 passos e se reúnem semanalmente para compartilhar experiências. O grupo não cobras taxas e enfatiza a dimensão espiritual da cura. Tel. (11) 215-9640

PARA LER

  • Pontos para o Gordo, de Alfredo Halpern, Ed. Record.

  • Obesidade Não Tem Cura, mas Tem Tratamento, de Adriano Segal, Ed. Lemos.

  • Sede de Plenitude, de Christina Grof, Ed. Rocco.

  • História da Alimentação, de Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari (organizadores), Ed.Estação Liberdade.

  • FONTE:http://www.afh.bio.br/digest/digest5.asp