ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

MIÍASE


Definição
A Miíase é uma zoodermatose é caracterizada pela invasão de larvas de várias espécies de moscas, em lesões da pele, mucosas ou orifícios e cavidades naturais do organismo.
Agente etiológico
Entre as principais moscas cujas larvas produzem Miíase, estão as dos gêneros:  Dermatobia, Cordylobia, Calitroga, Lucilia, Sarcophaga, Chrysomya, Phormya, Gasterophilus, Wohlfahrtia e Cochliomya. A mosca doméstica comum (musca domestica),  pode ser causadora facultativa de Miíase. Na América do Sul, as responsáveis pela Miíase são as moscas Dermatobia hominis, Calitroga ameicana  Calitroga macelaria e espécies do gênero Lucilia.

Características da larva: As larvas apresentam-se em forma de vermes segmentados cilíndricos, sem cabeça, de cor branca ou cinza-claro, de 2 a 30mm de comprimento. A extremidade anterior pode ser pontiaguda e  respiram por dois espiráculos que podem ser confundidos com olhos. A morfologia das larvas varia de espécie para espécie e na mesma  espécie de acordo com a fase evolutiva.
Patogenia
Na Miíase primária, a mosca deposita os ovos na pele normal junto às lesões tegumentares, como arranhões, picadas de insetos, escoriações, abrasões, lesões ulcerosas, feridas de pé diabético. O ovo adere à superfície da pele e, com a eclosão dos ovos, a larva penetra ativamente pela lesão, digerindo o tecido da pele, e se entoca na derme ou tecido subcutâneo, aí permanecendo para desenvolver-se. Forma-se então a lesão furunculóide: um nódulo de pouco aspecto inflamatório, com um orifício central, por onde a larva penetrou e por onde respira, através do qual a mesma  se protunde. Nesse tipo de Miíase há um vetor intermediário, que em nosso meio, habitualmente, é a mosca Neivamya lutzi, a qual porta os ovos da Dermatobia hominis e os deposita na pele.

Na Miíase secundária, os ovos são depositados em ulcerações expostas de pele e orifícios ou cavidades naturais, previamente infectados . Nelas as larvas desenvolvem-se alimentando-se de tecido morto. A mosca é atraída pelo odor que exala da lesão e nela deposita seus ovos. Dentro de três semanas estes eclodem liberando as larvas que passam a digerir o tecido necrosado.  
Classificação
As Miíases são classificadas em primárias e secundárias.
  • Miíase primária:  Também chamada de forma furunculóide (berne), é causada pela larva da mosca Dermatobia  hominis, ou raramente, pela Calitroga americana, parasitas obrigatórias (específicas) que invadem  o tecido vivo.
  • Miíase secundária:  Chamada popularmente de bicheira, é causada pela larva da mosca Calitroga macelaria (mosca varejeira) e espécies do gênero Lucilia, parasitas facultativos (semi-específico), que invadem tecidos necrosados de ulcerações da pele e mucosa, destes alimentando-se para o seu desenvolvimento.
  • Miíase acidental (intestinal-urinária) ocorre a ingestão de alimentos contaminados com ovos de moscas produtoras obrigatórias de Miíase, podendo as larvas localizar-se no intestino ou no trato urinário. Geralmente os ovos ingeridos não resistem à passagem pelo trato gastrintestinal, sendo nessa passagem  destruídos, o que torna rara a ocorrência desta forma de |Miíase.
Sinais e sintomas
Essas manifestações clínicas variam conforme a espécie e a localização das larvas.  A larva pode parasitar a pele, o couro cabeludo, cavidades ou orifícios naturais do corpo (vagina, fossas nasais, seios paranasais, olhos, canal auditivo, trato urinário e intestino), determinando quadros localizados, ou ainda, ser disseminada para órgãos internos.
  • presença de larvas na ferida;
  • o paciente se queixa de dor no local da lesão, devido aos movimentos das larvas.
  • sensação de queimação no local da lesão.
  • irritabilidade e nervosismo.
Formas clínicas
Miíase primária:
  • Forma furunculóide (Berne):  Caracterizada por uma lesão nodular, medindo em média 1 a 3cm de tamanho, é  revestida por pele eritematosa,  apresentando  um orifício central de onde flui secreção serosa. Algumas vezes, vê-se a larva protundindo-se por este orifício.  A lesão é dolorosa, o paciente se queixa de  uma sensação de ferroada, devido aos movimentos  da larva em seu interior. É semelhante ao furúnculo, podendo haver uma só ou várias lesões. A larva permanece na lesão  em torno de 50 dias e após atingir a maturidade, cai ao solo para completar sua  sua evolução a inseto adulto.
  • Forma migratória:  forma clínica primária na qual a larva percorre caminhos na pele em vez de ficar localizada, como na forma furunculóide.







Miíase secundária:
  • Forma cutânea:  ocorre em tecidos necrosados de ulcerações expostas de pele; várias larvas podem ser vistas movimentando-se na superfície da ulceração, em meio a secreções seropurulentas e tecidos mortos.
  • Forma cavitária:  decorre da presença de larvas de moscas facultativas em orifícios e cavidades naturais infectados. Estas podem permanecer localizadas ou ser disseminadas a vários órgãos internos, inclusive o cérebro, incapacitando e ameaçando a vida. Nessa forma clínica de apresentação da miíase pode ocorrer também a oftalmomiíase (miíase nos olhos), miíase nasal (miíase no nariz) esta pode ocorrer também em pacientes com Hanseníase e Leishmaniose tegumentar causando extensa lesão tecidual.







Miíase acidental:
  • Forma acidental:  os ovos são ingeridos com alimentos contaminados, podendo localizar-se no tecido intestinal ou nas vias urinárias. A forma acidental intestinal, também chamada de pseudomiíase, manifesta um quadro de enterocolite aguda com dor abdominal, diarréia e sangramento anal. O acometimento do trato urinário determina o surgimento de proteinúria, disúria, hematúria e piúria, pode também determinar o priapismo.
Diagnóstico
  • Anamnese.
  • Exame físico.
  • Exame clínico.
  • Exames laboratoriais.
  • Exame dermatológico.
  • Exame oftalmológico (oftalmomiíase).
Obs:  O diagnóstico mais preciso é feito pela visualização das larvas, através do orifício, na miíase furunculóide (berne), e na superfície das lesões ulceradas, nas formas secundárias. Pode haver alguma dificuldade na visualização da larva no início do berne, onde ela se entoca sob a pele. Em algumas formas graves, disseminadas ou acidentais, nas quais as larvas não são visíveis, tornam-se necessários procedimentos especiais, de acordo com cada caso, para o diagnóstico.
Diagnóstico diferencial  
O diagnóstico diferencial deve se feito para que a Miíase não seja confundida com outras patologias com quadro clínico semelhante. Através dos exames clínico, físico e laboratoriais  o médico pode excluir essas doenças, até chegar ao diagnóstico correto. As doenças  que podem ser confundidas com a Miíase são as seguintes:
  • Furúnculos.
  • Abscessos de glândulas sudoríparas.
  • Otite.
  • Rinite.
  • Impetigo.
  • Corpo estranho.
  • Inflamações de cavidades e orifícios naturais.
Tratamento
  • Assepsia do local da lesão
  • Retirada das larvas com uma pinça, depois indica-se o uso de anti-séptico no local da lesão.
  • Tratamento cirúrgico através do debridamento, excisão e alargamento do orifício para a retirada da larva, pode ser necessário em alguns casos mais graves.
  • Antibioticoterapia , deve ser administrada quando ocorre infecção.
  • Limpeza diária da lesão com o cuidado de tentar visualizar se existem mais larvas.
  • Os pacientes com problemas dermatológicos podem ver e sentir seus problemas, e estes os afetam mais do que a muitos portadores de outras patologias, por isso o apoio psicológico por parte da equipe de enfermagem é fundamental para esses pacientes.
Complicações
Quando a larva sai e deixa o orifício ou a lesão aberta, esta pode ser uma porta de entrada para outros microorganismos oportunistas, que podem causar as seguintes doenças:
  • Infecção secundária bacteriana.
  • Erisipela.
  • Linfagite.
  • Tétano.
  • Abscessos.
  • No caso de Oftalmomiíase pode ocorrer: conjuntivite, lacrimejamento, hiperemia da conjuntiva, conjuntivite catarral.
  • Herpes zoster oftálmico pode ter associação com a Oftalmomiíase.
Prevenção
  • Combate às moscas.
  • Cobrir adequadamente feridas abertas, ulceradas com tecidos necrosados, eczemas infectados, associando boa higiene individual e ambiental.
  • As moscas geralmente  são atraídas pelo odor que exala da lesão e aí deposita seus ovos.

Fonte: http://www.mccorreia.com/dermatologica/miiase.htm