ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Tratamento do Câncer


O tratamento eficaz do câncer deve visar não somente o tumor primário, mas também os tumores que podem ter se disseminado para outras partes do corpo (metástases). Por essa razão, a cirurgia ou a radioterapia de áreas específicas do corpo é freqüentemente combinada com a quimioterapia, que afeta todo o organismo. Mesmo quando a cura é impossível, os sintomas freqüentemente podem ser aliviados com a terapia paliativa, melhorando a qualidade e a sobrevida do indivíduo.

Resposta ao Tratamento

Enquanto estão sendo tratados de um câncer, os indivíduos são avaliados para se verificar se o câncer está respondendo à terapia. O tratamento mais eficaz é aquele que produz a cura. A cura é definida como uma remissão completa, na qual desaparece toda evidência de câncer (resposta completa). Algumas vezes, os pesquisadores estimam as curas em termos de taxas de sobrevida de 5 a 10 anos sem a doença, nos quais o câncer desaparece completamente e não recorrem dentro de um período definido, freqüentemente de 5 ou 10 anos. Em um a resposta parcial, o tamanho de um ou mais tumores reduz mais de 50%. Esta resposta pode reduzir os sintomas e pode prolongar a vida, embora o câncer acabe crescendo novamente. O tratamento menos eficaz é aquele que não produz qualquer resposta.

Algumas vezes, um câncer desaparece completamente, mas reaparece posteriormente. O intervalo entre esses dois eventos é denominado tempo de sobrevida livre da doença. O intervalo entre a resposta completa até o momento da morte é o tempo total de sobrevida. Nos indivíduos com uma resposta parcial, a duração da resposta é medida a partir do momento da resposta parcial até o momento em que o câncer volta a crescer ou a disseminar.

Alguns cânceres respondem bem à quimioterapia. Outros melhoram, mas não são curados. Alguns cânceres (melanoma, câncer de células renais, câncer de pâncreas, câncer de cérebro) respondem muito pouco à quimioterapia e, por essa razão, são denominados resistentes. Outros cânceres (câncer de mama, câncer de células pequenas do pulmão, leucemia) podem ter uma resposta inicial excelente à quimioterapia, mas, após tratamentos repetidos, eles podem desenvolver resistência às drogas. Como existem genes resistentes a vários medicamentos tanto nas células normais quanto nas cancerosas, a exposiçao a uma droga pode fazer com que o tumor se torne resistente a outros medicamentos antineoplásicos não relacionados entre si. Supostamente, esses genes existem para prover as células de meios de escapar da destruição por um material nocivo. Conseqüentemente, a célula pode expulsar o medicamento em um a atitude de autodefesa, fazendo com que a terapia seja ineficaz. Os pesquisadores estão tentando determinar como suprimir a atividade desses genes.

A leucemia linfoblástica aguda e leucemia mielóide aguda são dois cânceres potencialmente curáveis. A doença de Hodgkin e muitos dos linfomas não-Hodgkin (linfoma difuso de células grandes, linfoma de Burkitt e linfoma linfoblástico) são curados em cerca de 80% das crianças e adultos. A quimioterapia cura mais de 90% dos homens com câncer testicular avançado e aproximadamente 98% das mulheres com coriocarcinoma (um câncer de útero).

Porcentagem de Indivíduos com Câncer que Estão Livres da Doença Após 5 Anos

Local do Câncer
Indivíduos com Câncer em Qualquer Estágio
Indivíduos com Câncer
Localizado
Indivíduos com Metástases Regionais
Indivíduos com Metástases Distantes
Bexiga 80 92 48 8
Mama (mulheres) 80 94 73 18
Colo Uterino 67 90 51 12
Cólon-Reto 59 91 60 6
Rim 56 87 57 9
Pulmão 13 47 15 2
Boca 52 79 42 19
Ovário 42 90 41 21
Pâncreas 3 9 4 2
Próstata 80 94 85 29
Pele (melanoma) 85 93 57 15
Útero 83 94 67 27

Cirurgia

Antes do advento da radioterapia e da quimioterapia, a cirurgia era a única possibilidade de terapia do câncer. Eram realizadas amplas ressecções, pois se imaginava que a neoplasia maligna representava exclusivamente um problema local. As primeiras alusões à cirurgia para tratamento de câncer datam de 1600 a.C. e são encontradas nos manuscritos de Edwin Smith. A era moderna da cirurgia abdominal começou nos Estados Unidos quando Ephrain McDowell ressecou um tumor de ovário, em 1809. Com o surgimento da anestesia e antissepsia, houve um grande desenvolvimento de procedimentos cirúrgicos agressivos para o tratamento de câncer.

De um milhão de americanos que apresentaram câncer em 1988, 64% foram submetidos à cirurgia e 62% desse grupo foram curados. O tratamento e o prognóstico são em grande parte determinados pelo estudo da gravidade e da disseminação do câncer, através de um processo denominado estadiamento. Como a cirurgia isolada pode curar alguns cânceres, quando tratados nos estágios iniciais, a procura de auxílio médico o mais breve possível é de vital importância.

Radioterapia

A radiação destrói preferencialmente as células que se dividem rapidamente. Geralmente, isto significa câncer, mas a radiação também pode lesar tecidos normais, especialmente os tecidos nos quais as células normalmente se reproduzem rapidamente, como a pele, os folículos capilares, o revestimento dos intestinos, os ovários ou os testículos e a medula óssea. A definição e direcionamento precisos da radioterapia protegem tanto quanto seja possível as células normais. As células que possuem um suprimento adequado de oxigênio são mais suscetíveis aos efeitos lesivos da radiação. As células mais próximas do centro de um tumor grande freqüentemente possuem um mau suprimento sangüíneo e níveis baixos de oxigênio.

Cânceres em Estágio Inicial para os Quais a Cirurgia é Suficiente

Local do Câncer Indivíduos com Câncer em Qualquer Estágio
Bexiga 81
Mama (mulheres) 82
Colo Uterino 94
Cólon 81
Rim 67
Laringe 76
Pulmão 37 a 70
Boca 67 a 76
Ovário 72
Próstata 80
Testículo 65
Útero 74

À medida que o tumor diminui, as células sobreviventes parecem obter um melhor suprimento sangüíneo, que pode torná-las mais vulneráveis à próxima dose de radiação. A divisão da radiação em um a série de doses aplicadas durante um período prolongado aumenta os efeitos letais sobre as células tumorais e diminui os efeitos tóxicos sobre as células normais. As células têm a capacidade de autoreparação após serem expostas à radiação. O plano terapêutico visa a reparação máxima das células e tecidos normais.

Geralmente, a radioterapia é realizada com um equipamento denominado acelerador linear. Os raios são direcionados com bastante precisão sobre o tumor. O modo como os raios irão afetar de modo adverso os tecidos normais depende do tamanho da área que está sendo irradiada e de sua proximidade com esses tecidos. Por exemplo, a irradiação de tumores da cabeça e do pescoço freqüentemente causa inflamação das membranas mucosas do nariz e boca, resultando em feridas e ulcerações. A radiação sobre o estômago ou o abdômen freqüentemente causa inflamação do estômago (gastrite) e da parte inferior do intestino (enterite), resultando em diarréia.

Cânceres em Estágio Inicial para os Quais a Radioterapia é Suficiente

Câncer Porcentagem de Pessoas Livres da Doença Após 5 Anos
Mama (mulheres) 29
Colo Uterino 60
Doença de Hodgkin 71 a 88
Pulmão 9
Seios Nasais 35
Nasofaringe 35
Linfoma não-Hodgkin 60 a 90
Próstata 67 a 80
Testículo (seminoma) 84
Garganta 10

A radioterapia tem um papel fundamental na cura de muitos cânceres, como a doença de Hodgkin, o linfoma não-Hodgkin em estágio inicial, o carcinoma epidermóide da cabeça e do pescoço, o seminoma (um câncer testicular), o câncer de próstata, câncer de mama em estágio inicial, o câncer não de pequenas células do pulmão também em estágio inicial, e o meduloblastoma (um tumor cerebral ou da medula espinhal). Para os cânceres de laringe e de próstata em fase inicial, a porcentagem de cura é essencialmente a mesma, tanto para a radioterapia quanto para a cirurgia.

Quando a cura é impossível (p.ex., mieloma múltiplo e cânceres avançados de pulmão, de esôfago, de cabeça, de pescoço e de estômago), a radioterapia pode reduzir os sintomas. Ela também pode aliviar os sintomas causados por metástases ósseas e cerebrais.

Quimiotarapia

Um medicamento antineoplásico ideal deveria destruir as células cancerosas sem lesar as células normais. No entanto, este tipo de medicamento não existe. Entretanto, apesar da margem estreita entre o benefício e a lesão, muitos indivíduos com câncer podem ser tratados com medicamentos antineoplásicos (quimioterapia) e alguns podem ser curados. Atualmente, os efeitos colaterais da quimioterapia podem ser minimizados.

Os medicamentos antineoplásicos são agrupados em várias categorias: agentes alquilantes, antimetabólitos, alcalóides vegetais, antibióticos antitumorais, enzimas, hormônios e modificadores da respos-ta biológica. Freqüentemente, dois ou mais medicamentos são usados em combinação. A base racional da quimioterapia combinada é utilizar me-dicamentos que atuam em diferentes partes dos pro-cessos metabólicos da célula, aumentando dessa forma a probabilidade de destruição de uma maior quantidade de células cancerosas. Além disso, os efeitos colaterais tóxicos da quimioterapia podem ser reduzidos quando drogas com toxicidades diferentes são combinadas, cada qual sendo utilizada em um a dose menor do que a necessária caso ela fosse utilizada isoladamente. Finalmente, em alguns casos são combinadas drogas com propriedades muito diferentes. Por exemplo, drogas que destróem células tumorais podem ser combinadas com drogas que estimulam o sistema imune do organismo contra o câncer (modificador da resposta biológica).

A mostarda nitrogenada, utilizada como arma na Primeira Guerra Mundial, é um exemplo de agente alquilante. Os agentes alquilantes interferem na molécula de DNA, alterando sua estrutura ou função, de modo que ela não pode replicar, impedindo que a célula multiplique-se. No entanto, a diferença entre uma dose benéfica e uma nociva é pequena. Os efeitos colaterais incluem a náusea, vômito, perda de cabelo, irritação da bexiga (cistite) com a perda de sangue na urina, contagem baixa de leucócitos, de eritrócitos e de plaquetas, contagem baixa de espermatozóides nos homens (e possível esterilidade permanente) e um aumento do risco de leucemia.

Os antimetabólitos são um grande grupo de drogas que interferem em certas etapas da síntese do DNA ou do RNA, impedindo a replicação celular. Além de causar os mesmos efeitos colaterais que os agentes alquilantes, certos antimetabólitos causam erupção cutânea, escurecimento da pele (aumento da pigmentação) ou insuficiência renal.

Cânceres em Estágio Inicial para os Quais a Quimioterapia é Suficiente

Câncer Porcentagem de Pessoas Livres da Doença Após 5 Anos
Linfoma de Burkitt 44 a 74
Coriocinoma 98
Linfoma difuso de células grandes 64
Doença de Hodgkin 74
Leucemia (leucemia não linfocítica aguda)
• Crianças 54
• Adultos com menos de 40 anos 40
• Adultos com mais de 40 anos 16
Pulmão (de células pequenas) 25
Linfoma linfoblástico 50
Testículo (não seminomatoso) 88

Os alcalóides vegetais são drogas que conseguem interromper a divisão celular, impedindo a formação de novas células. Os efeitos colaterais são similares aos dos agentes alquilantes.

Os antibióticos antitumorais também lesam o DNA, impedindo a replicação celular. Os efeitos colaterais são similares aos dos agentes alquilantes. Um indivíduo com leucemia linfoblástica aguda pode ser medicado com asparaginase, uma enzima que elimina o aminoácido asparagina do sangue, da qual a leucemia necessita para continuar a se desenvolver. Os efeitos colaterais incluem reações alérgicas fortíssimas potencialmente letais, perda de apetite, náusea, vômito, febre e concentração sérica elevada de açúcar.

As terapias hormonais elevam ou reduzem a concentração de determinados hormônios para limitar o crescimento de cânceres que dependem desses hormônios ou são inibidos por eles. Por exemplo, alguns cânceres de mama precisam de estrogênio para crescer. A droga antiestrogênica tamoxifeno bloqueia os efeitos do estrogênio e pode causar a diminuição do volume do câncer. Similarmente, o câncer de próstata pode ser inibido por drogas estrogênicas ou antitestosterona. Os efeitos colaterais variam de acordo com o hormônio utilizado. A administração de estrogênio a um homem pode produzir efeitos feminizantes (p.ex., aumento das mamas). A administração de medicamentos antiestrogênicos a uma mulher pode causar fogachos e irregularidade menstrual.

Aonde e como é administrada a Quimioterapia

Onde
Hospital
Ambulatório
Consultório Médico

Menos comumente, na sala de cirurgia, para aplicar a droga próximo do tumor

Em casa (por um enfermeiro , pelo paciente ou por um membro da família)

Como
Diretamente nos vasos sangüíneos que irrigam a área de crescimento do tumor
Gotejamento intravenoso (de uma bolsa ou frasco de solução intravenosa durante váriosminutos até várias horas)
Bolo intravenoso (diretamente numa veia, cateter venoso central ou implantado no orifício durante vários minutos)

Pela via oral (cápsulas, comprimidos ou líquido)

Com Que Frequência
Varia de acordo com o câncer: várias drogas num dia, uma dose por dia durante vários dias, continuamente durante vários dias, doses uma vez por semana, uma dose ou alguns dias de medicação por mês
Os tratamentos podem ser administrados durante várias semanas até vários anos

Um ciclo de tratamento pode ser administrado apenas uma vez ou podem ser realizados vários ciclos de tratamento com intervalos entre as aplicações

Atualmente, o interferon, o primeiro modificador da resposta biológica realmente eficaz, é comumente utilizado no tratamento do sarcoma de Kaposi e do mieloma múltiplo. Outro tipo de imunoterapia utiliza células imunoestimuladas (linfócitos assassinos ativados pela linfocina) para atacar especificamente tumores como o melanoma e o câncer de células renais. Um tratamento que utiliza anticorpos contra células tumorais, que são marcadas com material radioativo ou com uma toxina, demonstrou eficácia no tratamento de alguns linfomas.

Terapia Combinada

Para alguns cânceres, a melhor terapia é uma combinação de cirurgia, radiação e quimioterapia. A cirurgia e a radioterapia tratam o câncer que se encontra confinado localmente, enquanto a quimioterapia destrói as células cancerosas que escaparam para além da região local. Às vezes, a radioterapia ou a quimioterapia são administradas antes da cirurgia (para diminuir a massa tumoral) ou depois dela (para destruir as células cancerosas remanescentes).A quimioterapia combinada com a cirurgia melhora as chances de sobrevida dos indivíduos com câncer de cólon, câncer de mama ou câncer de bexiga que se disseminou para os linfonodos regionais.Algumas vezes, a cirurgia e a quimioterapia conseguem curar o câncer de ovário avançado.

O câncer de reto tem sido tratado com êxito com a quimioterapia e a radioterapia. No câncer de cólon avançado, a quimioterapia realizada após a cirurgia pode prolongar a sobrevida livre de doença. Aproximadamente 20 a 40% dos cânceres de cabeça e de pescoço são curados com a quimioterapia seguida por radioterapia ou cirurgia. Para aqueles que não são curados, esses tratamentos podem aliviar os sintomas (terapia paliativa).

A cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia têm papéis importantes no tratamento do tumor de Wilms e dos rabdomiossarcomas embrionários. No tumor de Wilms, um câncer de rim infantil, a cirurgia visa remover o câncer primário, mesmo se tiver havido disseminação de células tumorais para locais distantes do rim. A quimioterapia é iniciada no momento da cirurgia e a radioterapia é realizada posteriormente, para tratar áreas localizadas de doença residual.

Infelizmente alguns tumores (p.ex., de estômago, de pâncreas ou de rim) respondem apenas parcialmente à radioterapia, à quimioterapia ou a umacombinação das duas. Não obstante, essas terapias podem aliviar a dor causada pela compressão ou os sintomas decorrentes da infiltração do tumor nos tecidos circunjacentes.

Eficácia das Terapias Combinadas

Tipo de Terapia Tipo de Câncer Porcentagem de Pessoas Livres da Doença Após 5 Anos
Cirurgia e radioterapia
Bexiga 54
Endométrio 62
Hipofaringe 33
Pulmão 32
Boca 36
Cirurgia e quimioterapia
Mama 62
Ovário Carcinoma 28 a 40
Próstata 50 a 68
Estômago 54
Radioterapia e quimioterapia
Sistema Nervoso Central (medolblastoma) 71 a 80
Sarcoma de Ewing 70
Pulmão ( das células pequenas) 16 a 20
Reto (carcinoma epidermóide) 40
Cirurgia radioterapia e quimioterapia
Rabdomiossaroma 80
Rim (tumor de Wilms) 80
Pulmão 32
Cavidade Oral, hipofaringe 20 a 40

Alguns tumores resistentes (p.ex., câncer pulmonar não de células pequenas, câncer de esôfago, câncer de pâncreas, câncer de rim) podem ser tratados para aumentar o período de sobrevida. Vem ocorrendo um progresso da terapia antineoplásica graças às melhores combinações de drogas, às alterações das doses e à melhor coordenação com a radioterapia.

Efeitos Colaterais do Tratamento

Quase todos os indivíduos submetidos à quimioterapia ou à radioterapia apresentam certos efeitoscolaterais, sendo os mais comuns a náusea, o vômito e a contagem baixa de células sangüíneas. Os indivíduos submetidos à quimioterapia freqüentemente apresentam perda de cabelo. A redução dos efeitos colaterais é um aspecto importante da terapia.

Náusea e Vômito

Geralmente, a náusea e o vômito podem ser evitados ou minimizados com medicamentos (antieméticos). A náusea pode ser reduzida sem o uso de medicamentos, através da ingestão de pequenas refeições freqüentes e evitando-se alimentos ricos em fibra, que produzem gases ou que estejam muito quentes ou muito frios.

Contagens Baixas de Células Sangüíneas

A citopenia, uma deficiência de um ou mais tipos de células sangüíneas, pode ocorrer durante a terapia antineoplásica. Por exemplo, um indivíduo pode apresentar quantidades anormalmente baixas de eritrócitos (anemia), de leucócitos (neutropenia ou leucopenia) ou de plaquetas (trombocitopenia). Geralmente, a citopenia não precisa ser tratada. No entanto, quando a anemia é grave, pode ser realizada a administração de uma transfusão de concentrado de eritrócitos (hemácias, glóbulos vermelhos). De modo similar, quando a trombocitopenia é grave, pode ser realizada a transfusão de plaquetas para mi-nimizar o risco de sangramento.

Um indivíduo com neutropenia (quantidades anormalmente baixas de neutrófilos, um tipo de leucócito) apresenta um maior risco de infecção. É por essa razão que uma febre superior a 38 oC em um indivíduo com neutropenia é tratada como emergência. É investigada a presença de uma infecção, poden-do ser necessária a instituição de uma antibioticoterapia e inclusive de hospitalização. Os leucócitos são raramente transfundidos porque eles sobrevivem apenas algumas horas e produzem muitos efeitos colaterais. Em seu lugar, determinadas substâncias (p.ex., fator estimulador dos granulócitos) podem ser administradas para estimular a produção de leucócitos.

Outros Efeitos Colaterais Comuns

A radioterapia ou a quimioterapia podem causar inflamação ou mesmo úlceras nas membranas mucosas (p.ex., revestimento da boca). As úlceras bu-cais são dolorosas e podem tornar a alimentação difícil. Uma variedade de soluções orais (geralmente contendo um antiácido, um antihistamínico e um anestésico local) pode reduzir o desconforto. Em raras ocasiões, deve ser instituído um suporte nutricional através de uma sonda que é colocada diretamente no estômago ou no intestino delgado ou através de uma veia. Vários medicamentos podem reduzir a diarréia causada pela radioterapia sobre o abdômen.

Novas Abordagens e Tratamentos Que se Encontram Sob Investigação

Uma nova abordagem de tratamento do câncer é a chamada quimioterapia de dose intensa, na qual são utilizadas doses particularmente elevadas de medicamentos. Essa terapia é utilizada para tratar tumores que retornaram apesar de terem respondido bem durante o primeiro tratamento medicamentoso. Esses tumores já demonstraram sensibilidade à medicação e a estratégia consiste em aumentar acentuadamente a sua dose para destruir mais células cancerosas e, conseqüentemente, prolongar a sobrevida.

Entretanto, a quimioterapia de dose intensa pode causar uma lesão da medula óssea potencialmente letal. Por essa razão, a quimioterapia de dose intensa é comumente combinada com a terapia de resgate, na qual, antes da aplicação da quimioterapia, é realizada uma coleta da medula óssea do indivíduo. Após o tratamento, a medula é retornada ao paciente. Em alguns casos, células-tronco podem ser isoladas de uma amostra de sangue e utilizadas no lugar da medula óssea. Embora ainda encontrem-se em fase de investigação, esses tratamentos têm sido tentados no câncer de mama, no linfoma, na doença de Hodgkin e no mieloma.

Um verdadeiro transplante de medula óssea de um doador com tecido compatível (geralmente um irmão) pode ser realizado após a quimioterapia de dose intensa em indivíduos com leucemia aguda. As complicações incluem a doença do enxerto versus hospedeiro, na qual o tecido transplantado destrói o tecido do hospedeiro.

Novas técnicas de radioterapia (p.ex., radiação com feixes de prótons ou de nêutrons) podem tratar com eficácia certos tumores. Os corantes ativados por radiação e a terapia fotodinâmica também oferecem grandes esperanças.

A imunoterapia utiliza técnicas como os modificadores de respostas biológicas, a terapia com linfócitos assassinos e a terapia humoral (com anticorpos) para estimular o sistema imune do corpo contra o câncer. Essas técnicas têm sido utilizadas no tratamento de uma série de diferentes cânceres como, por exemplo, o melanoma, o câncer de rim, o sarcoma de Kaposi e a leucemia.

Finalmente, uma das mais importantes abordagens terapêuticas possíveis consiste em encontrar drogas que ajudem a evitar o câncer. Os retinóides (derivados da vitamina A) têm-se mostrado efetivos na redução da porcentagem de recorrência de alguns cânceres, especialmente os de boca, de laringe e de pulmão. Infelizmente não foi demonstrado que outros agentes como o beta-caroteno e os antioxidantes similares sejam eficazes na prevenção do câncer.

fonte: Manual Merck

Complicações do Câncer


Os cânceres e seus tumores-satélites (metástases) podem invadir e, conseqüentemente, alterar a função de um órgão ou comprimir os tecidos circunjacentes. Qualquer dessas complicações pode acarretar uma ampla variedade de sintomas e problemas médicos. Nos indivíduos com câncer metastático, a dor pode ser causada pelo crescimento do câncer no interior do osso (que não se expande) ou pela pressão do tumor sobre nervos ou sobre outros tecidos.

Muitos cânceres produzem substâncias (p.ex., hormônios, citocinas e proteínas) que podem
afetar a função de outros tecidos e órgãos, resultando em um a série de sintomas denominados síndromes paraneoplásicas. Algumas vezes, os problemas causados pelo câncer são tão graves que devem ser tratados como uma emergência.

Síndromes Paraneoplásicas

As emergências produzidas pelo câncer incluem o tamponamento cardíaco, o derrame pleural,
a síndrome da veia cava superior, a compressão da medula espinhal e a síndrome hipercalcêmica.

O tamponamento cardíaco é o acúmulo de líquido no pericárdio ( estrutura em forma de saco
que envolve o coração), exercendo pressão sobre o coração e interferindo em sua capacidade
de bombear o sangue. O acúmulo de líquido pode ocorrer quando um câncer invade o pericárdio e o irrita. Os cânceres com maior propensão a invadir o pericárdio são o câncer de pulmão, o câncer de mama e o linfoma.

O tamponamento cardíaco ocorre subitamente quando há uma quantidade tão grande de líquido acumulado que o coração não consegue bater normalmente. Antes do início do tamponamento, o indivíduo comumente sente uma dor vaga ou uma pressão no peito, que piora na posição deitada e melhora na posição sentada. Uma vez ocorrido o tamponamento, o indivíduo apresenta uma dificuldade respiratória grave e as veias do pescoço dilatam durante a inspiração.

Alguns Efeitos das Síndromes Paraneaplásicas


Area Afetada Efeitos Câncer Responsável
Cérebro, nervos e músculos
Deficiências neurológicas, dores musculares, fraqueza
Câncer de pulmão
Sangue e tecidos formadores do sangue
Anemia, contagem elevada de plaquetas no sangue, contagem elevada de leucócitos no sangue, coagulação disseminada nos vasos
sangüíneos, baixa contagem de plaquetas, equimose fácil
Todos os cânceres
Rins
Glomerulonefrite membranosa resultante da presença de anticorpos na corrente sangüínea
Câncer de cólon ou de ovário, linfoma, doença de Hodgkin, leucemia
Ossos
Alargamento das pontas dos dedos (baqueteamento)
Câncer de pulmão ou metástases pulmonares de vários tipos de cânceres
Pele
Várias lesões cutâneas,
freqüentemente pigmentadas; por exemplo, acantose nigricans, uma erupção de tumores benignos macios e verrucosos e pigmentação escura na axila, no pescoço e em torno dos órgãos genitais
Câncer gastrointestinal ou de fígado, linfoma, melanoma
Corpo inteiro Febre
Leucemia, linfoma, doença de Hodgkin, câncer de rim ou de fígado

O médico diagnostica o tamponamento cardíacoatravés de radiografias do tórax, eletrocardiogramas e ecocardiogramas. Para aliviar a pressão, o médico insere uma agulha no saco pericardíaco e remove o líquido em uma seringa (pericardiocentese). Uma amostra do líquido é examinada ao microscópio para verificar se ele contém células cancerosas. Posteriormente, o médico realiza uma incisão no pericárdio (janela pericardíaca) ou remove um
fragmento do mesmo para evitar a recorrência do tamponamento. O tratamento adicional depende do tipo de câncer presente.

O derrame pleural (acúmulo de líquido na estrutura em forma de bolsa que envolve os pulmões) pode causar dificuldade respiratória. Várias causas podem acarretar o acúmulo de líquido no saco pleural, e uma delas é o câncer. O médico drena o líquido inserindo uma agulha conectada a uma seringa entre as costelas até o saco pleural. Quando o líquido volta a acumular-se rapidamente após o procedimento, o médico insere um tubo de drenagemdrenagem através da parede torácica e este é mantido no saco pleural até a condição do indivíduo melhorar. Substâncias químicas especiais podem ser instiladas no saco pleural para irritar suas paredes e induzir a sua adesão. Isto elimina o espaço onde o líquido pode acumular e reduz a possibilidade de recorrência.

A síndrome da veia cava superior ocorre quando o câncer bloqueia parcial ou completamente
as veias (veia cava superior) que levam o sangue da parte superior do corpo até o coração. O
bloqueio da veia cava superior faz com que as veias na parte superior do tórax e do pescoço
dilatem, provocando edema da face, do pescoço e da parte superior do tronco.

A síndrome da compressão da medula espinhal ocorre quando um câncer comprime a medula espinhal ou seus nervos, acarretando dor e perda da função. Quanto mais prolongado for o déficit neurológico, menor é a probabilidade do indivíduo recuperar a função nervosa normal. Geralmente, o melhor é iniciar o tratamento nas 12 a 24 horas que sucedem o início dos sintomas. O médico prescreve corticosteróides (p.ex., prednisona) pela via intravenosa (para reduzir o edema) e radioterapia. Raramente, quando a causa da compressão da medula espinhal é desconhecida, a cirurgia pode ser útil para o estabelecimento do diagnóstico e para
tratar o problema, pois ela permite ao cirurgião realizar a descompressão da medula espinhal.

A síndrome hipercalcêmica ocorre quando o câncer produz um hormônio que eleva a concentração sérica de cálcio ou invade diretamente os ossos. O paciente apresenta confusão mental, a qual pode evoluir para o coma e a morte. Vários medicamentos podem reduzir imediatamente a concentração de cálcio.

Diagnóstico de Câncer


A avaliação de um câncer começa com a história e o exame físico. Em conjunto, esses procedimentos ajudam o médico a avaliar o risco de câncer apresentado por um indivíduo e a decidir quais são os exames necessários. Geralmente, como parte de um exame físico de rotina, deve ser realizada uma investigação dos cânceres de tireóide, de testículos, de boca, de ovários, de pele e de linfonodos.

Os exames de detecção precoce tentam identificar o câncer antes de ele produzir sintomas. Quando um exame de detecção precoce é positivo, serão necessários outros exames para a confirmação do diagnóstico. O diagnóstico de câncer deve sempre ser estabelecido com absoluta certeza e, para isto, é geralmente necessária a realização de uma biópsia. Também é essencial se determinar o tipo específico de câncer. Quando um câncer é detectado, os exames para determinar o seu estágio ajudam a determinar a sua localização exata e se ele disseminou (produziu metástases). O estadiamento também ajuda os médicos a planejarem o tratamento adequado e a determinar o prognóstico.

Detecção Precoce do Câncer

Os exames de detecção precoce do câncer servem para detectar a possibilidade da presença de um câncer. Eles podem contribuir para a redução do número de mortes pela doença. Quando o câncer é detectado nos estágios iniciais, ele geralmente pode ser tratado antes de disseminarse. Geralmente, os exames de deteção precoce não são definitivos. Os resultados são confirmados ou refutados com exames e testes adicionais.

Embora os exames de detecção precoce possam ajudar a salvar vidas, eles também podem ser caros e, algumas vezes, acarretar repercussões psicológicas ou físicas. Geralmente, produzem uma quantidade relativamente alta de resultados falso-positivos – resultados que sugerem a presença de um câncer, quando, na realidade, ele não existe. Os exames de detecção precoce também podem produzir resultados falso-negativos – resultados que não revelam qualquer indício de um câncer que, na realidade, está presente. Resultados falso-positivos podem criar um estresse psicológico indevido e podem levar à realização de outros exames caros e arriscados. Resultados falso-negativos podem criar nos indivíduos uma
falsa sensação de segurança. Por essas razões, o médico deve refletir cuidadosamente em relação à realização ou não desses exames.

Dois dos exames de detecção precoce mais amplamente utilizados em mulheres são o exame de Papanicolaou (para detectar o câncer de colo uterino) e a mamografia (para detectar o câncer de mama). Esses dois exames de detecção precoce têm fornecido resultados satisfatórios em termos de redução das taxas de mortalidade devida a esses tipos de câncer.

A determinação da concentração sérica do antígeno prostático específico (PSA) é um examede detecção precoce comum para os homens. A concentração sérica do antígeno prostático específico está elevada nos homens que apresentam câncer de próstata. No entanto, ela também está elevada em homens que apresentam um tumor prostático benigno. Ainda não foi definido se o antígeno prostático específico deve ou não ser utilizado na detecção precoce do câncer de próstata. As desvantagens do seu uso como um exame de detecção precoce incluem o seu alto custo e a incidência de resultados falso-positivos.

Outro exame de detecção precoce comum é a pesquisa de sangue oculto nas fezes. O sangue
oculto não pode ser observado a olho nu. A amostra de fezes deve ser examinada, e a detecção de sangue oculto é um indício de que há algo de errado no cólon. O problema pode ser um câncer, embora muitos outros distúrbios também possam causar a perda de pequenas
quantidades de sangue nas fezes.

Alguns exames de detecção precoce podem ser realizados em casa. Por exemplo, para as mulheres, o auto-exame mensal das mamas é sumamente valioso para ajudar a detectar o câncer de mama. O exame periódico dos testículos pode ajudar os homens a detectar o câncer de testículo, uma das formas de câncer mais curáveis quando diagnosticada precocemente. O exame periódico da boca em busca de lesões pode ajudar a detectar o câncer de boca em sua fase inicial.

Diagnóstico do Câncer

Como existem muitos tipos diferentes de câncer e como os seus tratamentos variam, o diagnóstico de um câncer e a determinação do tipo específico são absolutamente essenciais. Isto requer, praticamente sempre, a obtenção de uma amostra do tumor suspeito para exame microscópico. Pode ser necessária a realização de vários exames especiais da amostra para se caracterizar o câncer de um modo mais acurado. O conhecimento do tipo de câncer ajuda o médico a determinar quais exames devem ser solicitados, pois cada câncer tende a seguir um padrão próprio de crescimento e de disseminação.

Em até 7% dos pacientes com câncer, os exames identificam metástases antes mesmo da identificação do câncer original. Algumas vezes, o câncer original pode não ser descoberto. Entretanto, os médicos geralmente conseguem identificar o tipo do tumor primário realizando uma biopsia da metástase e examinando o tecido ao microscópio. Apesar disso, nem sempre a identificação é fácil ou segura

Recomendações para a Detecção Precoce do Câncer

Procedimento
Frequência

Câncer de pulmão
Radiografia do tórax Citologia do escarro
Não recomendado como rotina
Câncer de Reto e cólon
Pesquisa de sangue oculto nas fezes
anualmente após os 50 anos
Exame Retal
Anualmente após os 40 anos
Sigmoidoscopia
A cada três a cinco
anos após os 50 anos
Câncer de próstata
Exame retal e dosagem do antígeno prostático específico no sangue
Anualmente após os 50 anos
Cânceres de colo uterino, de útero e de ovário
Exame da pelve
A cada um a três anos entre os 18 e 40 anos e, em seguida, anualmente
Procedimento
Frequência

Câncer de Colo Uterino
Exame de Papanicolau
Anualmente entre os 18 e 65 anos. Após três ou mais exames normais consecutivos, o exame pode ser realizado menos freqüentemente, de acordo com a orientação do médico. A maioria das mulheres com mais de 65 anos necessita realizar o Papanicolau menos freqüentemente
Câncer de Mama
Auto Exame das Mamas
Mensalmente após 18 anos
Exame físico das mamas
A cada três anos entre os 18 e 40 anos e, em seguida, anualmente
Mamografia
Exame de referência inicial entre os 35 e 40 anos; a cada um a dois anos entre os 40 e 49 anos; e anualmente após os 50 anos

O diagnóstico da biópsia determina a extensão da investigação do tumor primário. Geralmente, o médico procurará identificar o tumor primário quando o seu tratamento pode influir de modo sigificativo na sobrevida (p.ex., câncer de mama). Quando a identificação do tumor primário não altera o esquema terapêutico ou a sobrevida projetada, a investigação
extensa não tem sentido.

Estadiamento do Câncer

Quando um câncer é detectado, os exames de estadiamento ajudam o médico a planejar o tratamento adequado e a determinar o prognóstico. Vários exames são utilizados para se determinar determinar a localização do tumor, o seu tamanho, a sua disseminação para estruturas próximas e para outras partes do corpo. O estadiamento é fundamental para se determinar a possibilidade de cura. Os indivíduos com câncer algumas vezes tornam-se ansiosos e impacientes durante os exames de estadiamento, desejando o início imediato do ataque ao tumor. No entanto, o estadiamento permite ao médico estabelecer um esquema de ataque inteligente e planejado.

O estadiamento pode utilizar cintilografias (p.ex., cintilografia hepática ou óssea), estudos contrastados, a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) para determinar se houve disseminação do câncer. A mediastinoscopia, na qual a região central do
tórax (o mediastino) é visualizada com o auxílio de um instrumento de fibra óptica, é utilizada para se determinar se um câncer (comumente, um câncer de pulmão) disseminou para os linfonodos vizinhos. Uma biópsia de medula óssea, na qual é realizada a coleta de tecido do interior de um osso para exame microscópico, pode ajudar a determinar se o câncer disseminou para a medula óssea.

Exames para Determinar o Estágio do Câncer

Local do Câncer Tipo de Biopsia Realizada Outros Exames Realizados
Mama Biópsia por agulha ou de todo o tumor Mamograma
Cintilografia hepática e óssea
TC de cérebro
Pesquisa de receptores de estrogênio e de progesterona na amostra de biópsia
Trato
gastrointestinal
Tecido para biópsia coletado através da endoscopia ou com uma agulha (habitualmente orientada por TC) através da pele para o fígado, pâncreas ou outros órgãos Radiografia do tórax
Estudo radiográfico contrastado com bário
Ultra-sonografia
TC
Cintilografia hepática
Dosagem da concentração de enzimas hepáticas no sangue
Pulmão Biópsia do pulmão e, possivelmente, da pleura (membrana que envolve o pulmão) Radiografia do tórax
TC
Citologia do escarro
Sistema
linfático
Biópsia de linfonodo
Biópsia de medula óssea
Radiografia do tórax
Hemograma completo
Ultra-sonografia
TC
Cintilografia com radioisótopos
Cirurgia exploradora
Esplenectomia
Próstata Biopsia com agulha Exames de sangue para fosfatase ácida e antígeno prostático específico (PSA)
Testículos Testículo removido para biópsia Radiografia do tórax
TC
Útero, colo uterino, ovários Tecido para biópsia coletado durante uma cirurgia exploradora Exame da pelve sob anestesia
Ultra-sonografia
TC
Enema baritado

Algumas vezes, a cirurgia pode ser necessária para se determinar o estágio do câncer. Por exemplo, uma laparotomia (uma operação abdominal) permite ao cirurgião remover ou tratar o câncer de cólon e, ao mesmo tempo, determinar se o câncer disseminou para os linfonodos vizinhos, e, a partir daí, para o fígado. Um exame dos linfonodos axilares removidos durante uma mastectomia ajuda na determinação da extensão da disseminação do câncer de mama e da necessidade de um tratamento pós-cirúrgico. A esplenectomia (remoção do baço) é útil no estadiamento da doença de Hodgkin. A ultra-sonografia é um procedimento não invasivo e indolor que utiliza ondas sonoras para mostrar a estrutura dos órgãos internos. Ela ajuda a identificar e a determinar o tamanho de certos cânceres, sobretudo dos rins, do fígado, da pelve e da próstata. Os médicos também usam a ultra-sonografia como guia para a coleta de amostras de tecido durante uma biopsia com agulha.

A tomografia computadorizada (TC) é utilizada para detectar o câncer de cérebro, de pulmões e de órgãos abdominais, inclusive de glândulas adrenais, de linfonodos, de fígado e de baço. A
linfangiografia é um exame no qual um contraste é injetado nos pés e é acompanhado por radiografias à medida que ele flui para cima. O exame ajuda a identificar anormalidades dos linfonodos abdominais. Embora seja realizada mais raramente a partir do advento da tomografia computadorizada (TC), a linfangiografia permanece sendo útil no estadiamento da doença de Hodgkin e do câncer de testículo.

A ressonância magnética (RM) é uma alternativa à TC. Na RM, um campo magnético muito potente gera imagens anatômicas altamente detalhadas. A RM é particularmente importante na detecção de cânceres de cérebro, de ossos e de medula espinhal. A RM não utiliza raios X e é extremamente segura.


fonte: Manual Merck

Causas e Riscos do Câncer


O câncer é uma célula que perdeu seus mecanismos de controle normais e, conseqüentemente, apresenta um crescimento desregulado.

O câncer pode desenvolver-se a partir de qualquer tecido no interior de qualquer órgão. À medida que as células cancerosas crescem e se multiplicam, elas formam uma massa de tecido canceroso que invade os tecidos adjacentes e pode disseminar (produzir metástases) por todo o corpo.

Como o Câncer se Desenvolve

As células cancerosas desenvolvem-se a partir de células normais em um processo complexo denominado transformação. A primeira etapa nesse processo é a iniciação, na qual uma alteração do material genético da célula a instrui para tornar-se cancerosa. A alteração do material genético da célula é ocasionada por um agente denominado carcinógeno (p.ex., substâncias químicas, vírus, radiação ou luz solar). No entanto, nem todas as células são igualmente suscetíveis aos carcinógenos.

Uma alteração genética na célula ou outro agente, denominado promotor, pode torná-la mais suscetível. Mesmo a irritação física crônica pode tornar as células mais propensas a se tornarem cancerosas. Na etapa seguinte, a promoção, uma célula que iniciou sua alteração torna-se cancerosa. A promoção não tem efeito sobre as células não iniciadas. Portanto, para ocorrer o câncer, são necessários vários fatores, freqüentemente a combinação de uma célula suscetível e um carcinógeno.

No processo através do qual uma célula normal torna-se cancerosa, em última instância, o seu DNA sofre uma alteração. Freqüentemente, é difícil se detectar alterações no material genético de uma célula, mas, algumas vezes, uma alteração de tamanho ou de forma de um determinado cromossomo indica um certo tipo de câncer. Por exemplo, um cromossomo anormal denominado cromossomo Filadélfia é encontrado em 80% dos indivíduos com leucemia mielocítica crônica. Alteraçõesgenéticas também têm sido identificada sem tumores cerebrais e cânceres do cólon, de mama, de pulmão e de ossos. Para o desenvolvimento de alguns tipos de câncer, podem ser necessárias várias alterações cromossômicas. Estudos sobre a polipose do cólon familiar (um distúrbio intestinal hereditário no qual ocorre a formação de pólipos que se tornam cancerosos) sugeriram como essa doença pode evoluir para um câncer de cólon: o revestimento normal do cólon começa a crescer mais ativamente (hiperprolifera) porque as células não mais possuem um gene supressor no cromossomo 5, que normalmente controla o seu crescimento. A seguir, uma discreta alteração do DNA promove alterações para formar um adenoma (um tumor benigno). Um outro gene (o oncogene RAS) faz com que o adenoma cresça mais ativamente. A perda subseqüente de um gene supressor do cromossomo 18 estimula ainda mais o adenoma e, finalmente, a perda de um gene do cromossomo 17 converte o adenoma benigno em câncer. Alterações adicionais podem fazer com que o câncer produza metástases.

Carcinógenos

Carcinógenos: Agentes Químicos que Podem Causar Câncer

Substância Química
Tipo de Câncer
Ambiental e Industrial
Arsênico Pulmão
Asbesto Pulmão, pleura
Aminas aromáticas Bexiga
Benzeno Leucemia
Cromatos Pulmão
Níquel Pulmão, seios nasais
Cloreto de vinil Fígado
Associados ao estilo de vida
Álcool Esôfago, boca, garganta
Nozes de betel Boca, garganta
Tabaco Cabeça, pescoço, pulmões, esôfago, bexiga
Utilizados na Medicina
Agentes alquilantes Leucemia, bexiga
Dietilestilbestrol Fígado, vagina (se houve exposição anterior ao nascimento)
Oximetolona Fígado
Torotrast Vasos sangüíneos

Mesmo quando uma célula torna-se cancerosa, o sistema imune freqüentemente consegue destruí-la antes que ela replique-se e estabeleça como um câncer. É mais provável que o câncer se desenvolva quando o sistema imune está comprometido, como nos individuos com AIDS, aqueles medicados com drogas imunossupressores e naqueles com certas doenças autoimunes. No entanto, o sistema imune não é à prova de erros; o câncer pode escapar à vigilância protetora desse sistema mesmo quando ele está funcionando normalmente.

Fatores de Risco

Uma grande quantidade de fatores genéticos ambientais aumenta o risco de desenvolvimento de câncer.

A história familiar é um fator importante. Algumas amílias apresentam um risco significativamente mais elevado de apresentar certos tipos de câncer em comparação com outras. Por exemplo, o risco de uma mulher apresentar um câncer de mama aumenta 1,5 a 3 vezes se a sua mãe ou a sua irmã tiver apresentado. Alguns cânceres de mama estão associados a uma mutação genética específica que é mais freqüente em alguns grupos étnicos e em algumas famílias. As mulheres que apresentam essa mutação genética têm uma probabilidade de 80 a 90% de desenvolverem câncer de mama e uma chance de 40 a 50% de desenvolverem câncer de ovário. Os pesquisadores verificaram que 1% das mulheres judias Ashkenazi apresenta essa mutação genética. Muitos outros cânceres, inclusive alguns cânceres de pele e de cólon, tendem também a ocorrer em famílias.

Os indivíduos com anormalidades cromossômicas apresentam maior risco de câncer. Por exemplo, os indivíduos com síndrome de Down, que possuem três cromossomos número 21 ao invés dos dois normais, apresentam um risco 12 20 vezes maior de leucemia aguda. Vários fatores ambientais aumentam o risco de câncer. Um dos mais importantes é o tabagismo. O tabagismo aumenta substancialmente o risco de câncer de pulmão, de boca, de laringe e de bexiga.