ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sábado, 26 de janeiro de 2013

FERIDAS E CURATIVOS

A história revela que a preocupação com o tratamento de feridas sempre existiu. Desde a era pré-história à idade antiga eram preparados cataplasmas de folhas e ervas com o intuito de estancar hemorragias e facilitar a cicatrização. O estudo dos curativos usados ao longo dos tempos sugere que alguns tratamentos usados eram bizarros, ou mesmo terríveis, enquanto outros ainda nos são familiares atualmente. Os primeiros registros escritos de técnicas médicas e cirúrgicas vêm do Egito Antigo onde constavam tratamentos para todos os tipos de lesões, desde fraturas, lacerações até cirurgias. Com a decadência do poder do antigo Egito, a civilização grega gradualmente se desenvolveu. Dentre os homens que deixaram sua marca nesse período está Hipocrates (460-377 a.C.), que lançou a base da medicina científica ao enfatizar a observação cuidadosa com a ferida ulcerativa. 

Ele utilizava formas simples, aplicando suaves bandagens no tratamento de feridas. Criou a definição de “cicatrização por primeira intenção”, na qual as bordas da pele se mantêm próximas, e “por segunda intenção”, quando há perda de tecido e as bordas da pele se afastam significativamente. Nos séculos que conduziram ao tempo de Cristo a cirurgia Hindu era muito avançada. Novamente, bandagens e cataplasma eram os tratamentos usados para as feridas. Na época do Império Romano, os romanos possuíam uma técnica cirúrgica avançada especialmente considerando que não havia anestesia a não ser o ópio e o álcool. As feridas eram tratadas energicamente, sendo irrigadas com vinhos, água e óleos. É Galeno (129-199 d.C.), porém, que se destacou como a pessoa cujo trabalho teve impacto mais duradouro sobre o tratamento de feridas. Trabalhou como cirurgião dos gladiadores em Pérgamo e depois como médico do Imperador Marco Aurélio. Foi famoso por sua teoria do pus louvável, ou seja, o desenvolvimento do pus seria necessário para a cura e, portanto, deveria ser ativamente estimulado. Galeno descobriu a eficácia da aplicação de tinta de escrever, teias de aranha e argila nas feridas. Na Idade Contemporânea, com os avanços do século XIX e início do XX, surge    

Florence Nightingale (1820 -1910) precursora da enfermagem, que atuou na Guerra da Criméia, evento este que criou uma imensa demanda de curativos. Todos esses curativos eram lavados e reutilizados muitas vezes. No século XIX desde que a relação entre bactérias e a infecção ficou conhecida, iniciou-se tentativas no sentido de combatê-las quimicamente. Joseph Lister (1827- 1912) introduziu a assepsia e utilizou pela primeira vez uma solução de fenol em compressas e suturas conseguindo evitar as amputações e reduzir os índices de mortalidade. Entre 1840 e a Segunda Guerra Mundial o foco para o tratamento de feridas foi o uso de anti-sépticos e agentes tópicos com ação antimicrobiana e a proteção com cobertura seca. Nessa fase eram usados anti-sépticos como: Líquido de Dakin; Eusol; Iodo; Ácido Carbólico (spray) e Cloretos de mercúrio e alumínio. Sendo que, o maior avanço do século XX foi o advento dos antibióticos, utilizados, por aplicação local através de pulverização ou por incorporação do material no próprio curativo. Alexandre Fleming (1929) usou penicilinas para tratar infecções, questionou o uso de anti-sépticos (antimicrobianos) devido a sua toxidade e outros tipos de antibióticos foram sendo introduzidos. A partir do século XX, os curativos tornaram-se estéreis e os procedimentos seguem técnicas assépticas. Durante as décadas de 1930-40, à medida que o tratamento de feridas passava gradualmente para a esfera da enfermagem, ligou-se a esta uma espécie de “aura mística”. O fenômeno se ampliou com o desenvolvimento da técnica asséptica de fazer curativos, geralmente sem tocar no usuário. Em 1982 surgem as coberturas à base de hidrocolóides passando a ser largamente utilizada em feridas de espessura parcial. Também no início dos anos 90 são lançados os hidropolímeros. A simplicidade no tratamento de feridas veio com o desenvolvimento de materiais como os filmes transparentes porosos para cobertura de feridas ou mesmo métodos como a exposição completa da ferida sob condições estéreis. No Brasil, a partir da década de 90 foram publicados os primeiros trabalhos com curativos úmidos e no final da década entram no mercado vários produtos específicos. Atualmente existe grande variedade de materiais e sintéticos disponíveis no mercado facilitando a opção do profissional pelo material e produto mais indicado para cada tipo de ferida, bem como revolução dos princípios dos tratamentos tópicos de feridas, com novas perspectivas, embasado em pesquisas e atualizações constantes.

Anatomia e Fisiologia da pele e anexos
Um adulto é revestido por aproximadamente 2m² de pele, com aproximadamente 2 mm de espessura. Isto faz da pele o maior órgão do corpo, pois representa 15% do peso corporal, é formado por camadas distintas com características e funções diferentes: Derme, Epiderme e a Hipoderme subcutânea e órgãos anexos como: folículos pilosos, glândulas sudoríparas e sebáceas e unhas.
A. Primeira Camada (Epiderme): é a camada mais externa da pele, constituída por um epitélio estratificado pavimentoso queratinizado, tendo como célula principal o
Queratinócito, células achatadas ricas em queratina, substância responsável pela proteção. A epiderme está em constante renovação. As células mais antigas são substituídas por outras mais novas e em média a cada 12 dias ocorre esta renovação.


B. Segunda Camada (Derme): é a camada da pele, localizada entre a epiderme e a hipoderme, formada de tecido conjuntivo que contém fibras protéicas, vasos sangüíneos e linfáticos, terminações nervosas, órgãos sensoriais e glândulas. As fibras são produzidas por células chamadas Fibroblastos, que podem ser elásticas, que permitem a elasticidade e conferem maior resistência à pele.


C. Terceira Camada (Hipoderme): é a terceira e última camada da pele, formada basicamente por células de gordura e faz conexão entre a derme e a fáscia muscular. Permite que as duas primeiras camadas deslizem livremente sobre as outras estruturas do organismo e atua como reservatório energético; isolamento térmico; proteção contra choques mecânicos; fixação dos órgãos e modela a superfície corporal.

FUNÇÕES DA PELE


A pele desempenha um grande número de funções vitais, quais sejam:
A. Proteção das estruturas internas: a principal função da pele é proteger o organismo das ameaças externas contra ataques de microorganismos e corpos estranhos. Também protege o tecido subjacente e as estruturas de traumatismo
mecânico. Ajuda a manter um ambiente estável no interior do corpo impedindo a perda de água, eletrólitos, proteínas e outras substâncias.
B. Percepção sensorial: a pele apresenta inúmeras terminações nervosas. Conduz os estímulos que recebe do meio externo para o cérebro onde são traduzidas as sensações de frio, calor, tato, entre outros. Os nervos sensoriais existem por toda a pele, entretanto, algumas áreas são mais sensíveis que outras. A sensibilidade nos permite identificar perigos em potencial e evitar traumas.
C. Termorregulação: a pele elimina ou conserva o calor do corpo conforme a necessidade. Para dissipar o calor em excesso produz o suor. Para manter a temperatura provoca o arrepio. O controle da temperatura do corpo envolve o esforço de nervos, vasos sangüíneos e glândulas. Quando a pele é exposta ao frio ou quando a temperatura do corpo baixa os vasos sangüíneos se contraem, reduzindo o fluxo sangüíneo e conservando assim o calor do corpo. Da mesma forma, se a pele se tornar muito quente ou a temperatura interna do corpo subir as pequenas artérias dentro da pele se dilatam aumentando o fluxo sangüíneo, e a produção de suor aumentam para promover o esfriamento.
D. Excreção: a excreção através da pele é importante na termorregulação, no equilíbrio de eletrólitos e na hidratação. Além disso, a excreção de sebo ajuda a manter a integridade e a flexibilidade da pele. O sebo que é produzido pelas glândulas sebáceas é composto por várias substâncias que atuam como lubrificantes naturais do pêlo evitando que fiquem quebradiços. Também, torna a pele oleosa, diminuindo a evaporação de água a partir da camada córnea (epiderme); protege a pele contra o excesso de água na superfície, (facilitando a água escorrer da pele), cuja ação é evitar o crescimento de bactérias e fungos, (ação bactericida e antifúngica), e promove a emulsão de algumas substâncias.


E. Metabolismo: a pele ajuda a manter a mineralização dos ossos e dentes. Quando exposta à luz solar, a vitamina D é sintetizada em uma reação fotoquímica, que é crucial para o metabolismo do cálcio e fósforo. Conta com componentes celulares e humorais do sistema imunológico e diversos sistemas moleculares de defesa contra microrganismos que, por sua vez são essenciais para a saúde dos ossos e dentes. Muitos medicamentos são inativados por sistemas metabólicos no fígado, como o sistema enzimático P-450. Os medicamentos circulam através do organismo e passam pelo fígado, onde as enzimas atuam inativando as drogas ou alterando sua estrutura, de modo que os rins possam filtrá-las. Algumas drogas alteram esse sistema enzimático, fazendo a inativação de outra droga ocorrer com maior rapidez ou lentidão que o habitual.
F. Absorção: alguns medicamentos podem ser absorvidos diretamente através da pele chegando à corrente sangüínea. O conceito de biodisponibilidade refere-se à velocidade e ao grau de absorção de determinado medicamento pela corrente sangüínea. A biodisponibilidade depende de diversos fatores, como o modo com que foi concebido e manufaturado o produto farmacológico, as propriedades físicas e químicas do medicamento e a fisiologia da pessoa tratada. Produto farmacológico é a própria forma de dosagem de um medicamento: comprimido, cápsula, supositório, emplastro transdérmico ou solução. Habitualmente, consiste da droga combinada com outros ingredientes. Por exemplo, os comprimidos são misturas de medicamento e aditivos que funcionam como diluentes, estabilizadores, desintegrastes e lubrificantes. As misturas são granuladas e reduzidas à forma do comprimido. O tipo e a quantidade de aditivos e o grau de compressão afetam a rapidez com que o comprimido se dissolve. Os fabricantes de medicamentos ajustam essas variáveis para otimizar a velocidade e o grau de absorção do medicamento. Se um comprimido se dissolver e liberar com demasiada rapidez o medicamento, poderá gerar um alto nível da substância ativa na circulação sangüínea, provocando resposta excessiva. É desejável que haja coerência de biodisponibilidade entre os produtos farmacológicos, o que nem sempre ocorre. Produtos quimicamente equivalentes contêm a mesma substância ativa, mas podem ter ingredientes inativos diferentes, que afetam a velocidade e o grau de absorção. Por isso, produtos farmacológicos equivalentes podem apresentar diferenças quanto aos efeitos do medicamento, mesmo quando ministrados na mesma dose.


FERIDAS E SUAS CLASSIFICAÇÕES:
Ferida é qualquer lesão que interrompa a continuidade da pele. Pode atingir a epiderme a derme, tecido subcutâneo, fáscia muscular, chegando a expor estruturas profundas.
Etiologia
As feridas são classificadas segundo diversos parâmetros, que auxiliam no diagnóstico, evolução e definição do tipo de tratamento, tais como cirúrgicas traumáticas e ulcerativas.
Feridas Cirúrgicas: provocadas por instrumentos cirúrgicos, com finalidade terapêutica, podem ser: Incisivas: perda mínima de tecido; Excisivas: remoção de áreas de pele.
Feridas traumáticas: provocadas acidentalmente por agentes que podem ser: Mecânicos: prego, espinho, por pancadas; Físicos: temperatura, pressão, eletricidade; Químicos: ácidos, soda cáustica; Biológicos: contato com animais, penetração de parasitas.
Feridas Ulcerativas: lesões escavadas, circunscritas, com profundidade variável, podendo atingir desde camadas superficiais da pele até músculos. As úlceras são classificadas conforme as camadas de tecido atingido, conforme apresentado abaixo:
Estágio I: pele avermelhada, não rompida, mácula eritematosa bem delimitada, atingindo epiderme.

Estágio II: pequenas erosões na epiderme ou ulcerações na derme. Apresenta-se normalmente com abrasão ou bolha.

Estágio III: afeta derme e tecido subcutâneo.
Estágio IV: perda total da pele atingindo músculos, tendões e exposição óssea. 


Tempo de cicatrização
A ferida é aguda quando há ruptura da vascularização com desencadeamento imediato do processo de hemostasia. Na reação inflamatória aguda, as modificações anatômicas dominantes são vasculares e exsudativas, e podem determinar manifestações localizadas no ponto de agressão ou ser acompanhada de modificações sistêmicas. A ferida é crônica quando há desvio na seqüência do processo cicatricial fisiológico. É caracterizada por respostas mais proliferativa (fibroblásticas) do que exsudativa. A inflamação crônica pode resultar da perpetuação de um processo agudo, ou começar insidiosamente e evoluir com resposta muito diferente das manifestações clássicas da inflamação aguda.
 Conteúdo bacteriano
Quanto ao conteúdo bacteriano a ferida pode ser subdivida em: Limpa: lesão feita em condições assépticas e isenta de microrganismos; Limpa contaminada: lesão com tempo inferior a 6 horas entre o trauma e o atendimento e sem contaminação significativa; Contaminada: lesão com tempo superior a 6 horas entre o trauma e o atendimento e com presença de contaminantes, mas sem processo infeccioso local; Infectada: presença de agente infeccioso local e lesão com evidência de intensa reação inflamatória e destruição de tecidos, podendo haver pus; Odor: o odor é proveniente de produtos aromáticos produzido por bactérias e tecidos em decomposição. O sentido do olfato pode auxiliar no diagnóstico de infecções (microorganismos) na ferida.



Presença de transudato e exsudato
O transudato é uma substância altamente fluida que passa através dos vasos e com baixíssimo conteúdo de proteínas, células e derivados celulares. O exsudato é um material fluido, composto por células que escapam de um vaso sanguíneo e se depositam nos tecidos ou nas superfícies teciduais, usualmente como resultado de um processo inflamatório. O exsudato é caracterizado por um alto conteúdo de proteínas, células e materiais sólidos derivados das células. Os exsudatos das reações inflamatórias variam no conteúdo de líquido, proteínas plasmáticas e células. A natureza exata do exsudato é amplamente ditada pela gravidade da reação e sua causa específica.   A coloração do exsudato depende do tipo de exsudato e pode ser característica do pigmento específico de algumas bactérias. Existem diversas colorações, sendo as mais freqüentes as esbranquiçadas, as amareladas, as avermelhadas, as esverdeadas e as achocolatadas. 

 O exsudato seroso é caracterizado por uma extensa liberação de líquido, com baixo conteúdo protéico, que conforme o local da agressão origina-se de soro sanguíneo ou das secreções serosas das células mesoteliais. Esse tipo de exsudato inflamatório é observado precocemente nas fases de desenvolvimento da maioria das reações inflamatórias agudas, encontrada nos estágios da infecção bacteriana. 

 O exsudato sanguinolento é decorrente de lesões com ruptura de vasos ou de hemácias. Não é uma forma distinta de exsudação, é quase sempre, um exsudato fibrinoso ou supurativo, acompanhado pelo extravasamento de grande quantidade de hemácias.
O exsudato purulento é um líquido composto por células e proteínas, produzida por um processo inflamatório asséptico ou séptico. Alguns microrganismos (estafilococos, pneumococos, meningococos, gonococos, coliformes e algumas amostras não hemolíticas dos estreptococos) produzem de forma característica, supuração local e por isso são chamados de bactérias piogênicas (produtoras de pus). Exsudato fibrinoso é o extravasamento de grande quantidade de proteínas plasmáticas, incluindo o fibrinogênio, e a participação de grandes massas de fibrina. 


Morfologia
Descreve a localização, dimensões, número e profundidade das feridas. Quanto à localização: as feridas ulcerativas freqüentemente acometem usuários que apresentam dificuldades de deambulação. Áreas de risco para pessoas que passam longos períodos sentados: Tuberosidades isquiáticas; Espinha dorsal torácica  Pés; Calcanhares.
- Áreas de risco para pessoas que passam longos períodos acamados: Região sacrococcígea; Região trocantérica, isquiática espinha ilíaca; Joelhos (face anterior, medial e lateral); Tornozelos; Calcanhares; Cotovelos; Espinha dorsal; Cabeça (região occipital e orelhas).

Quanto às dimensões: Extensão – área = cm². Pequena: menor que 50 cm²; Média: maior que 50 cm² e menor que 150 cm²; Grande: maior que 150 cm² e menor que 250 cm²;
ü Extensa: maior que 250 cm² .

Quanto ao número: existindo mais de uma ferida no mesmo membro ou na mesma área corporal, com uma distância mínima entre elas de 2 cm, far-se-á a somatória de cada uma.
Quanto à profundidade: Feridas planas ou superficiais: envolvem a epiderme, derme e tecido subcutâneo; 
Feridas profundas: envolvem tecidos moles profundos, tais como músculos e fáscia; Feridas cavitárias: caracterizam-se por perda de tecido e formação de uma avidade com envolvimento de órgãos ou espaços. Podem cser traumáticas, infecciosas, por pressão ou complicações pós-cirúrgica. 
Característica do leito da ferida
São divididos em tecidos viáveis e inviáveis. Os tecidos viáveis compreendem: Granulação: de aspecto vermelho vivo, brilhante, úmido, ricamente vascularizado; Epitelização: revestimento novo, rosado e frágil.


Os tecidos inviáveis compreendem:
· Necrose de coagulação: (escara) caracterizada pela presença de crosta preta e/ ou bem escura;
· Necrose de liquefação: (amolecida) caracterizada pelo tecido amarelo/ esverdeado e/ ou quando a lesão apresentar infecção e/ ou presença de secreção purulenta;
· Desvitalizado ou Fibrinoso: tecido de coloração amarela ou branca, que adere ao leito da ferida e se apresenta como cordões ou crostas grossas, podendo ainda ser mucinoso. 


CICATRIZAÇÃO DA FERIDA
A cicatrização é um processo fisiológico dinâmico que busca restaurar a continuidade dos tecidos. Devemos conhecer a fisiopatologia da cicatrização, entender os fatores que podem acelerá-la ou retardá-la, para atuar de forma a favorecer o processo cicatricial.

 Fases da cicatrização
É importante sabermos reconhecer as fases da cicatrização para que possamos implementar o cuidado correto com a ferida. Ocorre por regeneração das células epiteliais na superfície da ferida, em decorrência da perda da inibição de contato e da migração de células epidérmicas em direção a superfície. Fase de inflamação ou exsudativa: a primeira fase de hemostasia e inflamação iniciam-se com a ruptura de vasos sanguíneos e o extravasamento de sangue. A lesão de vasos sanguíneos é seguida rapidamente pela ativação da agregação plaquetária e da cascata de coagulação, resultando na formação de moléculas insolúveis de fibrina e hemostasia. Durante este processo ocorre o recrutamento de macrófagos e neutrófilos, ou seja, ocorre reação completa do tecido conjuntivo vascularizado em resposta à agressão do tecido, cujo objetivo é interromper a causa inicial (dor, calor rubor e edema).

Fase proliferativa (granulação e reepitelização): caracteriza-se pela neovascularização e proliferação de fibroblastos, com formação de tecido róseo, mole e granular na superfície da ferida (3 a 4 dias). Contudo, a formação do tecido de granulação é estimulada por níveis baixos de bactérias na ferida, mas é inibida quando o nível de contaminação é elevado.
Fase de Maturação ou remodelagem do colágeno: é a fase final de cicatrização de uma ferida que se caracteriza pela redução e pelo fortalecimento da cicatriz. Durante esta fase, os fibroblastos deixam o local da ferida, a vascularização é reduzida, a cicatriz se contrai e torna-se pálida e a cicatriz madura se forma (de 3 semanas a 1 ano a mais). O tecido cicatricial sempre vai ser menos elástico do que a pele circundante.


Tipos de cicatrização
As feridas são classificadas pela forma como se fecham. Uma ferida pode se fechar por intenção primária, secundária ou terciária 1ª intenção ou primária: a cicatrização primária envolve a reepitelização, na qual a camada externa da pele cresce fechada. As células crescem a partir das margens da ferida e de fora das células epiteliais alinhadas aos folículos
e ás glândulas sudoríparas. As feridas que cicatrizam por primeira intenção são, mais comumente, feridas superficiais, agudas, que não tem perda de tecido e resultam em queimaduras de primeiro grau e cirúrgicas em cicatriz mínima, por exemplo. Levam de 4 a 14 dias para fechar.


Cicatrização  de 2ª intenção ou secundária: é uma ferida que envolve algum grau de perda de tecido. Podem envolver o tecido subcutâneo, o músculo, e possivelmente, o osso. As bordas dessa ferida não podem ser aproximadas, geralmente são feridas crônicas como as úlceras. Existe um aumento do risco de infecção e demora à cicatrização que é de dentro para fora. Resultam em formação de cicatriz e têm maior índice de complicações do que as feridas que se cicatrizam por primeira intenção.

 3ª intenção ou terciária: Ocorre quando intencionalmente a ferida é mantida aberta para permitir a diminuição ou redução de edema ou infecção ou para permitir a remoção de algum exsudato através de drenagem como, por exemplo, feridas cirúrgicas, abertas e infectadas, com drenos. Essas feridas cicatrizam por 3ª intenção ou 1ª intenção tardia.

Fatores que interferem no processo de cicatrização
O processo de cicatrização pode ser afetado por fatores locais e sistêmicos e também por tratamento tópico inadequado. Fatores locais: Localização e infecção local (bacteriana) e profundidade da ferida; edema, grau de contaminação e presença de secreções; trauma, ambiente seco, corpo estranho, hematoma e necrose tecidual; Fatores sistêmicos: fatores relacionados ao cliente como idade, faixa etária, nutrição, doenças crônicas associadas, insuficiências vasculares úlceras, uso de medicamentos sistêmicos (antiinflamatórios, antibióticos, esteróides e agentes quimioterápicos); Tratamento tópico inadequado: a utilização de sabão tensoativo na lesão cutânea aberta pode ter ação citolítica, afetando a permeabilidade da membrana celular. A utilização de soluções anti-sépticas também pode ter ação citolítica. Quanto maior for à concentração do produto maior será sua citotoxicidade, afetando o processo cicatricial. Essa solução em contato com secreções da ferida tem a sua ação comprometida.

Fonte: http://bapbaptista.com.br/feridasLeila.pdf

domingo, 6 de janeiro de 2013

DOENÇA DE PARKINSON


O QUE É A DOENÇA?
A doença de Parkinson foi inicialmente descrita por James Parkinson em 1817, em um trabalho denominado “An Essay on the Shaking Palsy”, e que posteriormente, em sua homenagem, seu nome foi dado à doença. Não é considerada uma simples entidade, mas um complexo de sintomas, caracterizados por uma síndrome parkinsoniana resultante da deficiência do sistema dopaminérgico nigroestriatal que é um conjunto de células responsáveis pelos movimentos. A síndrome parkinsoniana ou parkinsonismo se define pela presença de quatro sinais cardinais: tremor de repouso, rigidez, lentificação dos movimentos e alteração do equilíbrio. São necessários pelo menos dois sinais para se diagnosticar uma síndrome parkinsoniana.

EPIDEMIOLOGIA 
A doença de Parkinson é uma das doenças neurológicas mais comuns dos dias de hoje. Estudos estatísticos quanto à prevalência, que é o total de casos em uma população em um determinado período mostram que existem cerca de 180 a 250 doentes por 100.000 habitantes. Quanto à incidência, que é número de casos novos de uma doença dentro de um período, estima-se em 100 a 200 casos por cada 100.000 habitantes. Com o aumento da idade acomete cerca de 1-3% da população acima dos 65 anos. No Brasil existem poucas estatísticas. Um estudo epidemiológico realizado na cidade de Bambuí em Minas Gerais encontrou uma prevalência de 3,3% em pessoas com idade acima de 65 anos. A doença de Parkinson está presente em todas as regiões do planeta, acomete homens e mulheres e atinge todas as raças e todas as classes sócio-econômicas. Os sintomas geralmente se iniciam após os 50 anos, com média aos 50 anos. Algumas pessoas podem iniciar os sintomas antes dos 40 anos e então chamamos de doença de Parkinson de início precoce.

O QUE CAUSA A DOENÇA DE PARKINSON? 
Dentre as doenças que podem se manifestar como parkinsonismo (tremor, rigidez, bradicinesia e alteração do equilíbrio) a doença de Parkinson é a mais comum. Outras causas são:
  • Medicamentoso (vertigens, doenças psiquiátricas)
  • Intoxicações (monóxido de carbono, manganês)
  • Problemas circulatórios cerebrais
  • Lesões traumáticas cerebrais
  • Outras doenças degenerativas: Parkinson atípico
Os sintomas ocorrem devido a uma degeneração de neurônios que contém dopamina. A dopamina é um neurotransmissor (substancia química) e é responsável por transmitir mensagens entre células nervosas. A redução da dopamina ocorre em uma região dentro do sistema nervoso central que é denominada parte compacta da substância negra localizada no mesencéfalo. A dopamina é enviada para outra região do cérebro que se chama corpo estriado, formando a via nigroestriatal. A dopamina é responsável pela realização dos movimentos voluntários automáticos, ou seja, são movimentos que não pensamos para realizar e uma vez estando a dopamina diminuída, os movimentos se tornam difíceis de serem realizados. A depleção das células dopaminérgicas precede por muitos anos o aparecimento dos sintomas. Para que estes se manifestem, é necessário que cerca de 70 – 80 % do sistema dopaminérgico nigro estriatal esteja lesado. Outras regiões do cérebro também estão acometidas e também outras substâncias e que são responsáveis pelas alterações denominadas não motoras que também acontecem na doença. A causa desta degeneração das células dopaminérgicas ainda é desconhecida. Com o envelhecimento existe uma perda destas células nervosas, de uma maneira menos lenta do que ocorre na Doença de Parkinson. Muitas pesquisas têm sido feitas e acreditamos que vários fatores estão envolvidos como fatores ambientais, genéticos. Apesar de existirem formas hereditárias da doença de Parkinson, cerca de 20%, especialmente em casos de início mais jovem, a genética não explica a maioria dos casos .


SINTOMAS 

As manifestações clínicas motoras se caracterizam por tremor, rigidez, bradicinesia e alteração do equilíbrio. O início dos sintomas é unilateral nos primeiros anos e o quadro é lento e gradual.
Alguns sintomas podem aparecer antes das manifestações motoras como a diminuição do olfato, sintomas depressivos, alterações do sono, constipação intestinal.
O tremor aparece em cerca de 70% dos pacientes como sintoma inicial afetando principalmente as mãos, mas pode ocorrer nas pernas, queixo. E ocorre principalmente quando a pessoa está em repouso e relaxada e melhora com os movimentos. Pode piorar com ansiedade e cansaço fadiga e desaparece durante o sono.
A rigidez é manifestada por um enrijecimento muscular sendo mais proeminente nas grandes juntas, e envolve todos os músculos. Pode ser constante ou apresentar o sinal da roda denteada, como se estivéssemos lidando com uma engrenagem. A bradicinesia significa que os movimentos estão lentos, dificuldade em realizá-los podendo ser interrompidos ou realizados incompletamente. Isto é principalmente observado quando realiza movimentos com as mãos, pés, levantarem-se de uma cadeira, andar, mudar de posição como, por exemplo, se virar na cama. Outros movimentos finos com as mãos se tornam difíceis como abotoar, calçar sapatos. A letra se torna menor (micrografia). A própria rigidez também contribui para que os movimentos sejam lentos. A bradicinesia não é somente motora, mas também mental, ou seja, há uma lentidão para pensar, dar uma resposta verbal. Existe diminuição da expressão da face, tendência à abertura da boca, diminuição do piscamento. Os familiares geralmente é quem percebem.
A postura apresenta tendência de flexão da cabeça e tronco para frente, diminuição dos movimentos dos braços durante o caminhar, como se estes estivessem grudados no corpo. À medida que a doença progride os braços e as pernas também vão tendendo a ficar dobrados. Passa a acontecer a dificuldade de equilíbrio. A marcha se torna lenta, com passos curtos; algumas vezes arrasta um ou ambos os pés e dificuldade ao se virar. Pode acontecer algumas vezes de sentir como se o pé estivesse colado no chão. A fala vai se tornando mais lenta e o tom de voz diminui. Outros sinais chamados não motores são seborréia (excesso da camada de gordura sobre a pele), sudorese excessiva na face, tontura, alteração de memória, depressão, insônia, hipotensão postural, ansiedade, dificuldade para engolir, aumento da saliva, dores, cansaço e perda de peso. Embora seja uma doença progressiva, o curso e prognóstico não são necessariamente iguais para todos os doentes.

DIAGNÓSTICO 
O diagnóstico é realizado baseado nos achados clínicos. Exames subsidiários geralmente são realizados quando existem suspeitas de outras causas.

TRATAMENTO

Não existe ainda cura da Doença de Parkinson, porém existe o tratamento para aliviar os sintomas e proporcionar uma melhor qualidade de vida. Podemos utilizar as seguintes medidas no tratamento da doença de Parkinson: medicamentoso, fisioterapia, fonoterapia, apoio psicológico, cirúrgico, orientação nutricional e participação de atividades sociais O tratamento farmacológico é baseado na fisiopatologia e os seguintes medicamentos podem ser utilizados são: levodopa, agonistas dopaminérgicos, inibidores da enzima MAO-B, amantadina.
A medicação a ser utilizada no tratamento vai depender dos sintomas, da idade, da atividade que você realiza. Geralmente se inicia com uma medicação e durante as avaliações dependendo do efeito ou de reações indesejadas pode ser modificado ou acrescentado mais algum medicamento. Em alguns casos o tratamento cirúrgico é indicado, mas isto também vai depender de vários fatores que são levados em conta. O tratamento cirúrgico pode ser feito de duas maneiras: uma é o que chamamos estereotaxia, que é feita através de uma lesão microscópica em uma região do cérebro para alívio dos sintomas. Outro procedimento é chamado estimulação cerebral profunda que se faz através da colocação de eletrodos que vão emitir sinais elétricos para a região do cérebro responsável pelo controle dos sintomas motores e isto ajuda aquela região funcionar melhor. Além disto, é importante a realização de exercícios com orientação de um profissional fisioterapeuta. Ele vai lhe ensinar os exercícios mais adequados para o seu problema. O auxílio de um profissional fonoaudiólogo é importante se começam a ocorrer alteração da voz e dificuldade para engolir. A dieta deve ser saudável e constar de todos os elementos como frutas, vegetais, carnes, cereais, massas em quantidades equilibradas. Se você tiver alguma restrição devido a alguma outra doença deve sempre comunicar o seu medico. Existem algumas orientações em relação à alimentação e a tomada de alguns medicamentos, como por exemplo, a levodopa que dever ser sempre ingerida longe do horário das refeições. Se você se sentir triste ou deprimido comunique isto ao seu médico, pois ele poderá medicá-lo adequadamente ou encaminhá-lo a um profissional da área. O tratamento não é completo sem o apoio da família. A família tem um papel fundamental na vida de um paciente com Doença de Parkinson no sentido de sempre apoiá-lo e ampará-lo nos momentos difíceis e também estimulá-lo para que participe de atividades sociais.

TRANSTORNOS COGNITIVOS E DEMÊNCIA NA DOENÇA DE PARKINSON 

Uma das alterações não-motoras mais comuns na doença de Parkinson (DP) é a demência. Mas, não fiquem preocupados, porque tudo que é feito na nossa vida tem um lado bom e um lado ruim. A medicina tem remédios e médicos especialistas, neurologistas, que sabem como fazer diagnóstico precoce e iniciar tratamento correto, seguro e, além do mais, saber como gerenciar os remédios durante a evolução da doença, para dar mais alívio ao paciente e a sua família.
A DP é uma desordem degenerativa do cérebro, progressiva que atinge pessoas com idades, principalmente entre 60 a 90 anos. A DP é uma doença cosmopolita, que afeta mais os homens do que as mulheres em uma proporção de 3:2. Apesar de ter tratamento, a DP ainda não tem cura, mas é possível prolongar a vida do paciente com uma qualidade de vida razoavelmente boa, desde que haja diagnóstico precoce e acompanhamento por profissionais experientes. Isso compreende uma equipe multidisciplinar, onde o neurologista trabalha com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo, nutricionista, dentista, professor de trabalhos manuais que envolva arte e o mais importante profissional não-médico, a família.
A DP é constituída por quatro sintomas capitais: tremor, rigidez, bradcinesia e instabilidade postural. O tremor caracteriza-se por aparecer em repouso clínico, ou seja, quando o paciente está com o braço apoiado em seu colo e distraído, por exemplo, assistindo TV. Mas, quando o paciente movimenta seu braço para pegar um objeto, por vontade própria, o tremor diminui ou desaparece. A rigidez que aparece na DP mostra uma musculatura rígida e dura, dificultando os movimentos nas atividades de vida diária. A bradcinesia é outro sintoma que se caracteriza pela lentidão de movimentos quando o paciente levanta de uma cadeira, principalmente baixa, veste uma camisa, às vezes pede ajuda para colocar a manga do lado esquerdo, se virar na cama à noite e usar as cobertas, para falar e pensar. O último sintoma encontrado na DP é a instabilidade postural que facilita o desequilíbrio com aparecimento de queda, dificuldade de andar em rua calçada com paralepípedos, subir e descer escadas, andar em ambientes com pouca luz, etc.
Em 1817, a DP foi descoberta pelo médico inglês James Parkinson, dando-lhe o nome de paralisia agitante: porque apesar de o paciente estar parado ele se mexe devido ao tremor. Na década de 1860, um médico francês, Jean Martin Charcot, descobre outras características na mesma doença e, ainda de forma empírica, inicia droga para seu tratamento, usando compostos de beladona. Na década de 1940, um grupo novo de drogas anticolinérgicas foi usado para tratamento da DP, principalmente para o tremor. Hoje, essas drogas são evitadas quando possível, devido ao seu risco de facilitar o desenvolvimento de demência. Mas, a droga mais importante para o tratamento da DP foi descoberta na década de 1960, chamada de levodopa, a qual até a presente data ainda é o carro chefe do tratamento da DP. Assim, os sintomas motores da DP são tratados até o presente, aliviando o sofrimento do paciente e da família.
Muitos anos se passaram para que a ciência tomasse conhecimento de que a DP também apresenta sintomas e sinais não-motores. Dentre os sintomas que aparecem antes ou durante aos motores, surgem as alterações cognitivas e posterior demência associada à DP. Não significa que todas as pessoas que têm DP desenvolverão demência, mas aquelas que começam a DP após os 65 anos de idade são as mais tendenciosas a tê-la. Acredita-se que o percentual de demência após os 65 anos de idade pode chegar até 80%. Entretanto, em toda a extensão da doença o índice é de cerca de 40%. Mas, é preciso bom senso para diagnosticar uma demência associada à DP, demência é uma síndrome e não tem como prová-la com exame complementar.
Deve ser levado em consideração o que pode ser chamado de demência, na maioria das vezes, os pacientes têm apenas sintomas cognitivos que ainda não caracterizam uma demência. Existem duas formas clínicas clássicas de tipos de sintomas que podem evoluir para demência: síndrome disexecutiva e a amnéstica.
1. Ao primeiro grupo estão os pacientes com alterações nas funções executivas, mimetizando uma síndrome de Lewy (uma doença parecida com a doença de Alzheimer). Isso significa que existem muitas vezes antes de começarem os sintomas motores os seguintes sintomas: 1. Dificuldade do paciente de formular um conceito sobre algo que lhe seja dito; 2. Desatenção, principalmente visual, na organização de suas atividades de vida diária (o paciente tem tendência à atenção concreta); 3. Falta de planejamento para organizar uma estratégia mental ou física; 4. Problemas com a sequência, principalmente para realizar alternâncias.
Associados ao primeiro grupo estão os sintomas visoespaciais, originados nos lobos parietais. Embora o paciente tenha visão normal, ele não organiza as imagens no espaço de acordo com o que está vendo, deixando de realizar uma série de estímulos por não percebê-los. Os transtornos cognitivos que estão conduzindo o paciente para demência devem interferir nas atividades de vida diária, independentes dos sintomas motores da DP.
2. Ao segundo grupo clínico são os sintomas relacionados com a linguagem. Aqui temos que fazer uma divisão entre linguagem e fala. A linguagem caracteriza-se por transtorno no pensamento do que é compreendido e falado. A fala apresenta problemas em quatro setores: 1. Volume da fala do paciente pode ser hipofônica, sussurrante e afônico; 2. Ritmo da fala contém hesitação, pausas inadequadas, taquifemia e palilalia; 3. Melodia da fala possui voz monótona, apagada, aprosódica e sem inflexão; e 4, Articulação das palavras, apresenta articulação imprecisa e disártria hipocinética. A parte da fala surge em paciente com DP sem necessariamente está com demência, mas os transtornos da linguagem aparecem com a demência.
Os problemas com a linguagem são parecidos com aqueles vistos na doença de Alzheimer, embora não tenha a mesma intensidade. Dois componentes fazem parte da síndrome: fluência e anomia. A fluência pode ser verbal e semântica. A fluência verbal é mais prejudicada na DP do que a fluência semântica. Na fluência verbal, o paciente tem grande dificuldade de dizer palavras começadas por uma letra durante 180 segundos. A fluência semântica o paciente diz nomes de animais começados por qualquer letra durante 180 segundos.
A perda de memória recente ocorre pelo fato de o paciente não evocar o que lhe foi informado, mas que pode ser evocado por meio de uma pista semântica. O paciente percebe o estímulo visual ou auditivo, registra esse estímulo no seu cérebro, mas quando é para evocar ele não lembra, a não ser por meio de uma pista. Isso acontece na fase inicial da síndrome amnéstica. O outro componente é a anomia ou a incapacidade de dizer o nome do objeto que é visto. A anomia acontece durante a fala espontânea ou elaborada após uma pergunta, mas pode ser menos visto na linguagem automática. Esses sintomas não melhoram com levodopa, mas podem melhorar com substâncias que pertencem a um grupo chamado de anticolinesterásicos.
Cada caso de DP, associado aos problemas cognitivos e a demência, evolui de uma forma diferente tanto na intensidade como na sua forma clínica. As variações ocorridas no comportamento e na cognição podem melhorar pela ajuda de medicamentos e, principalmente, pelo equilíbrio da dinâmica familiar. O apoio da família é fundamental para um desenrolar equilibrado, quando a família aceita a DP no seu ente querido, esse comportamento transforma-se em um ato de amor. Os pais sempre foram exemplos de responsabilidade e de autoridade dentro do seio familiar, os baluartes na formação e na construção da estrutura da família, agora têm seus papeis invertidos e dependentes de filhos, netos, irmãos, etc. Para os filhos e cônjuges a inversão de papeis é uma tarefa muito difícil. Primeiro pelo choque afetivo e segundo pela mudança causada na vida de todos que habitam o mesmo lar.
Nessa situação, se faz necessário a orientação de um psicólogo, experiente no assunto, para ajudar os familiares a lidar com os conflitos emocionais. A instalação das dificuldades oferecidas pelo paciente implica na mudança de valores e atribuições para outros. A inversão de responsabilidades dos demais contribui para aflorar todos os tipos de medo, os quais se projetam na outra pessoa como dor, ansiedade, tristeza, constrangimento, angústia, amarguras, etc. Algumas pessoas reagem se distanciando do problema com justificativas, enquanto outras se aproximam do problema amenizando as suas culpas. As reações de cada pessoa geralmente estão vinculadas a história de vida de cada uma, e para elas, o que elas acreditam existe.

TRATAMENTO GRATUITO
O Ministério da Saúde através de suas políticas de saúde disponibiliza no Sistema Único de Saúde (SUS) medicamentos para a Doença de Parkinson. Estes medicamentos estão divididos em 2 grupos. O primeiro grupo são medicamentos disponibilizados pelas Farmácias de Alto Custo das Secretarias Estaduais de Saúde sendo eles:
  • Amantadina 100 mg
  • Bromocriptina 2,5 mg e 5 mg
  • Cabergolina 0,5 mg
  • Entacapona 200 mg
  • Pramipexol 0,125 mg, 0,25 mg e 1 mg
  • Selegilina 5 mg e 10 mg
  • Tolcapona 100 mg
O segundo grupo de medicamentos é disponibilizado através dos postos municipais de saúde, sendo eles:
  • Biperideno 2 mg
  • Biperideno 4 mg
  • Levodopa + benserazida 200/50 mg
  • Levodopa + benserazida 100/25 mg
  • Levodopa + carbidopa 250/25 mg
  • Levodopa + carbidopa 200/50 mg
  •  
  •  
  • Fonte: www.vivabemcomparkinson.com.b