ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sábado, 17 de março de 2012

LEUCEMIA AGUDA


Leucemia Aguda
Fonte: BAIN,J. B.. Leukaemia Diagnosis: A guide to the FAB Classification. England: Gower Medical Publishing, 1990. 33 p. Fig 1.46
Fig. 1

Fonte: SCIENTIFIC AMERICAN. New York. Scientific American, Inc, v.269,nº 03, september 1993. 37 p.
Fig. 2
A leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos (leucócitos) de origem, na maioria das vezes, não conhecida. Ela tem como principal característica o acúmulo de células jovens (blásticas) anormais (Fig. 1) na medula óssea, que substituem as células sangüineas normais. A medula é o local de formação das células sangüíneas, ocupa a cavidade dos ossos (Fig. 2) (principalmente esterno e bacia) (Fig. 3) e é conhecida popularmente por tutano. Nela são encontradas as células mães ou precursoras, que originam os elementos figurados do sangue: glóbulos brancos, glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos) e plaquetas (Fig. 4).

Os principais sintomas da leucemia decorrem do acúmulo dessas células na medula óssea, prejudicando ou impedindo a produção dos glóbulos vermelhos (causando anemia), dos glóbulos brancos (causando infecções) e das plaquetas (causando hemorragias).Depois de instalada, a doença progride rapidamente, exigindo com isso que o tratamento seja iniciado logo após o diagnóstico e a classificação da leucemia.

Segundo as Estimativas de Incidência de Câncer no Brasil para 2006, publicadas pelo INCA, as leucemias atingirão 5.330 homens e 4.220 mulheres este ano.




Fig. 3
O tipo de leucemia mais freqüente na criança é a leucemia linfóide aguda (ou linfoblástica). A leucemia mielóide aguda é mais comum no adulto. Esta última tem vários subtipos: mieloblástica (menos e mais diferenciada), promielocítica, mielomonocítica, monocítica, eritrocítica e megacariocítica.
SCIENTIFIC AMERICAN: Special Issue. New York. Scientific American, Inc, v.04, nº 01, 1993. 63 p.
Fig. 4

Diagnóstico
As manifestações clínicas da leucemia aguda são secundárias à proliferação excessiva de células imaturas (blásticas) da medula óssea, que infiltram os tecidos do organismo, tais como: amígdalas, linfonodos (ínguas), pele, baço, rins, sistema nervoso central (SNC) e outros. A fadiga, palpitação e anemia aparecem pela redução da produção dos eritrócitos pela medula óssea. Infecções que podem levar ao óbito são causadas pela redução dos leucócitos normais (responsáveis pela defesa do organismo).
HOFFBRAND, A. V.; PETTIT, E. J. Clinical Haematology: Second Edition, Sandoz Atlas. Switzerland: Mosby-Wolfe, 1994. 285 p. Fig 13.26
Fig. 5
Verifica-se tendência a sangramentos pela diminuição na produção de plaquetas (trombocitopenia). Outras manifestações clínicas são dores nos ossos e nas articulações. Elas são causadas pela infiltração das células leucêmicas nos ossos. Dores de cabeça, náuseas, vômitos, visão dupla e desorientação são causados pelo comprometimento do SNC.
HOFFBRAND, A. V.; PETTIT, E. J. Clinical Haematology: Second Edition, Sandoz Atlas. Switzerland: Mosby Wolfe, 1994. 285 p. Fig 13.24
Fig. 6
A suspeita do diagnóstico é reforçada pelo exame físico. O paciente pode apresentar palidez, febre, aumento do baço (esplenomegalia) e sinais decorrentes da trombocitopenia, tais como epistaxe (sangramento nasal), hemorragias conjuntivais, sangramentos gengivais, petéquias (pontos violáceos na pele) (Fig. 5) e equimoses (manchas roxas na pele) (Fig. 6). Na análise laboratorial, o hemograma estará alterado, porém, o diagnóstico é confirmado no exame da medula óssea (mielograma).


Tratamento
Como geralmente não se conhece a causa da leucemia, o tratamento tem o objetivo de destruir as células leucêmicas, para que a medula óssea volte a produzir células normais. O grande progresso para obter cura total da leucemia foi conseguido com a associação de medicamentos (poliquimoterapia), controle das complicações infecciosas e hemorrágicas e prevenção ou combate da doença no sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal). Para alguns casos, é indicado o transplante de medula óssea. O tratamento é feito em várias fases. A primeira tem a finalidade de atingir a remissão completa, ou seja, um estado de aparente normalidade que se obtém após a poliquimioterapia. Esse resultado é conseguido entre um e dois meses após o início do tratamento (fase de indução de remissão), quando os exames não mais evidenciam células leucêmicas. Isso ocorre quando os exames de sangue e da medula óssea (remissão morfológica) e o exame físico (remissão clínica) não demonstram mais anormalidades.

Entretanto, as pesquisas comprovam que ainda restam no organismo muitas células leucêmicas (doença residual), o que obriga a continuação do tratamento para não haver recaída da doença. Nas etapas seguintes, o tratamento varia de acordo com o tipo de leucemia (linfóide ou mielóide), podendo durar mais de dois anos nas linfóides e menos de um ano nas mielóides. São três fases: consolidação (tratamento intensivo com substâncias não empregadas anteriormente); reindução (repetição dos medicamentos usados na fase de indução da remissão) e manutenção (o tratamento é mais brando e contínuo por vários meses). Por ser uma poliquimioterapia agressiva, pode ser necessária a internação do paciente nos casos de infecção decorrente da queda dos glóbulos brancos normais pelo próprio tratamento.


Principais Procedimentos Médicos no Tratamento da Leucemia
1. Mielograma: É um exame de grande importância para o diagnóstico (análise das células) e para a avaliação da resposta ao tratamento, indicando se, morfologicamente, essas células leucêmicas foram erradicadas da medula óssea (remissão completa medular). Esse exame é feito sob anestesia local e consiste na aspiração da medula óssea seguida da confecção de esfregaços em lâminas de vidro, para exame ao microscópio. Os locais preferidos para a aspiração são a parte posterior do osso ilíaco (bacia) e o esterno (parte superior do peito). Durante o tratamento são feitos vários mielogramas.

2 - Punção lombar: A medula espinhal é parte do sistema nervoso, que tem a forma de cordão, e por isso é chamada de cordão espinhal. A medula é forrada pelas meninges (três membranas). Entre as meninges circula um líquido claro denominado líquor. A punção lombar consiste na aspiração do líquor para exame citológico e também para injeção de quimioterapia com a finalidade de impedir o aparecimento (profilaxia) de células leucêmicas no SNC ou para destruí-las quando existir doença (meningite leucêmica) nesse local. É feita na maioria das vezes com anestesia local e poucas vezes com anestesia geral. Nesse último caso, é indicado em crianças que não cooperam com o exame.

3 - Cateter Venoso Central: Como o tratamento da leucemia aguda pode alcançar até três anos de duração e requer repetidas transfusões e internações, recomenda-se a implantação de um cateter de longa permanência em uma veia profunda, para facilitar a aplicação de medicamentos e derivados sangüíneos além das freqüentes coletas de sangue para exames, evitando com isso punções venosas repetidas e dolorosas.

4 - Transfusões: Durante o tratamento, principalmente na fase inicial, os pacientes recebem, quase diariamente, transfusões de hemáceas e de plaquetas, enquanto a medula óssea não recuperar a hemopoese (produção e maturação das células do sangue) normal.

FONTE: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=344

segunda-feira, 12 de março de 2012

PREVENÇÃO DO CÂNCER DE INTESTINO


O Câncer de intestino é um dos mais freqüentes tumores do tubo digestivo, sendo que a cada ano cerca de 160 mil novos casos são diagnosticados nos Estados Unidos e em torno de 57 mil desses pacientes morrem da doença. Está entre as principais causas de morte por câncer, considerando os de pulmão, mama na mulher e próstata no homem. No Brasil, este tipo de câncer está em quarto lugar entre os tumores mais freqüentes do sexo masculino, atrás apenas do câncer de estômago, pulmão e próstata. A doença começa sempre como uma lesão benigna que vai evoluindo lentamente até transformar-se num tumor maligno.

Para uma melhor abordagem desse tema é conveniente recordarmos que o tubo digestivo está constituído pelo esôfago, estômago e intestino. Este por sua vez compreende dois segmentos distintos: Um segmento mais fino localizado após o estômago, chamada intestino delgado que está relacionado com a digestão e a absorção dos alimentos, e outro segmento mais grosso, o intestino grosso, que tem a função de armazenar, absorver água e nutrientes e excretar resíduos não aproveitados pelo organismo através das fezes.

O intestino grosso, por sua vez, é dividido em duas partes: o cólon e o reto. O cólon é a parte que se continua a partir do intestino delgado e vai até o reto, parte final do intestino grosso. As fezes formadas no intestino grosso são eliminadas pelo ânus. Enquanto o câncer é muito raro nesse segmento mais fino (intestino delgado), é muito freqüente no intestino grosso. A doença começa sempre como uma lesão benigna que vai evoluindo lentamente até se transformar num tumor maligno. Nessa longa fase de benignidade, é possível retirar a lesão e com isso impedir sua degeneração e o aparecimento do câncer, daí a grande importância de sua prevenção.

Diagnóstico precoce:
É o emprego de exames para verificar a existência de um problema de saúde em pessoas que não apresentam sintomas. O diagnóstico precoce do câncer é muito importante porque a identificação da doença, quando ainda não há sintomas, geralmente significa que a doença está em estágio inicial, onde as chances de cura são bem maiores.

Por conseguinte, o bom resultado do tratamento do câncer do cólon e do reto está diretamente relacionado ao diagnóstico precoce, ou seja, quanto mais cedo se faz o diagnóstico, maior o índice de cura, chegando-se a mais de 90% nos casos iniciais.

Fatores de risco para o câncer do cólon e do reto:


Atualmente acredita-se que o câncer do cólon e do reto seja causado por uma associação de fatores genéticos e ambientais.

Dentre esses fatores de risco podemos citar:

1) Dieta com alto teor de gordura e pequena quantidade de fibra:

Entre os ambientais, os fatores dietéticos são muito importantes. Alimentação rica em gordura animal, pobre em fibra e rica em corantes favorece a incidência desse tipo de câncer. É importante citar os corantes porque são elementos químicos que poderiam ser eliminados sem prejuízo, principalmente no Brasil onde existem pigmentos naturais que colorem os alimentos. Os corantes são fatores de risco porque liberam nitrosaminas no intestino, substâncias reconhecidamente cancerígenas. Se prestarmos atenção, veremos que atualmente as crianças ingerem uma quantidade enorme de corantes nos doces, balas, pirulitos, gelatinas e alguns refrigerantes. Atualmente até o algodão doce não é mais branco. É azul, cor-de-rosa, verde...

Na dieta rica em gordura predominam as carnes gordas, a manteiga e os queijos amarelos. A carne vermelha em si não é um alimento nocivo, mas a gordura que a acompanha é bastante, especialmente quando a carne é levada à brasa. Os alimentos salgados e defumados (lingüiças, salames, salaminhos), assim como os corantes, contêm substâncias carcinogênicas. Embora possamos usar o azeite, as frituras devem ser evitadas porque o óleo e/ou azeite se decompõe quando vai ao fogo. Recomenda-se evitar e não abolir, pois a alimentação deve ser agradável ao paladar e variada. Se a pessoa gosta de gordura animal não deve privar-se de saboreá-la, mas deve usá-la com moderação e aumentar a quantidade de verduras, frutas, legumes e cereais ingeridos. Estes alimentos são ricos em fibras que protegem realmente o intestino porque facilitam a evacuação, vez que aumentam o bolo fecal, aceleram o trânsito intestinal e diminuem o tempo de contato das substâncias carcinogênicas com a parede do intestino.

Obviamente que isso não ocorre de um dia para o outro. Acredita-se que o tempo para o desenvolvimento de câncer colorretal seja de décadas, por isso a idade de maior incidência do câncer de cólon está em torno dos 60 anos.

2) Hábitos e estilo de vida:

Estudos mostram que indivíduos que não praticam exercícios têm maior
risco em desenvolver câncer colorretal. Além disso, o fumo e o álcool estão direta e indiretamente relacionados com vários tipos de tumores, incluindo o câncer do cólon e do reto.

Na verdade, o que está ocorrendo com o ser humano contemporâneo é um afastamento de padrões mínimos de qualidade de vida, muitas vezes por culpa do próprio indivíduo que não gerencia adequadamente seu tempo, nem mesmo para alimentar-se corretamente. Além disso, o homem vive sob "stress" e sem lazer, fuma para diminuir a ansiedade e assim por diante.

Todas as pessoas devem refletir sobre seu estilo de vida e buscar equilíbrio dentro de suas possibilidades. O resultado aparecerá, não só com relação à prevenção do câncer de cólon, mas também com relação à prevenção de doenças cárdio-vasculares e da obesidade, objetivando uma vida saudável.

3) Idade:

Quanto maior a idade, maior o risco. A idade é um fator de risco muito importante, não só para os tumores de intestino, mas também para outros tipos de patologias. O câncer colorretal é mais comum após os 50 anos, contudo a doença pode ocorrer em pessoas mais jovens.

4) Pólipos:

Os pólipos são tumores benignos, parecidos com verrugas que se desenvolvem na parede interna do cólon e reto. Cerca de 60% dos pólipos do intestino são adenomas, os quais apresentam potencial para malignização. Por esse motivo, os pólipos de intestino do tipo adenoma são considerados lesões pré-cancerosas e daí a importância de seu diagnóstico e tratamento precoces para evitar a evolução para tumor maligno. Os demais tipos de pólipos do intestino são de menor importância clínica por não apresentar esse potencial para malignização.

Aproximadamente 5 em cada 100 adenomas se malignizam, sendo que esse processo se dá entre 10 e 15 anos. São mais comuns após os 50 anos, porém podem aparecer em idade mais precoce, especialmente se houver história de câncer colorretal na família. Cerca de 40% dos indivíduos com mais de 60 anos apresentam pólipos.

Muitas evidências sugerem que a maioria dos tumores do intestino grosso se desenvolve a partir de pólipos benignos.

Quem já teve no passado um pólipo intestinal tipo adenoma tem uma chance muito maior que a população em geral de apresentar nova lesão, podendo chegar até a 50% de possibilidade. Quem já teve vários pólipos, a chance pode chegar até a 80% de desenvolver novo pólipo.

5) História familiar de câncer intestinal:

Quanto mais pessoas de uma mesma família tiveram diagnóstico de câncer colorretal, maior o risco de desenvolver a doença.
Se o indivíduo tiver parentes próximos (pai, mãe, irmão, tios ou avós) que tiveram câncer de intestino o risco de contrair a doença aumenta muito especialmente se a doença acometeu um parente com menos de 40 anos de idade. Por isso, a partir dos 40 anos, para quem tem na família caso de câncer de intestino deve fazer periodicamente um exame endoscópico chamado colonoscopia.

Atualmente está bem estabelecido que há doenças hereditárias relacionadas ao câncer colorretal. Dentre elas estão o Câncer Colorretal Hereditário Sem Polipose (HNPCC = "Hereditary Nonpoliposis Colorectal Cancer") e Polipose Adenomatosa Familiar (FAP).

Ambas são doenças hereditárias, ou seja, que são transmitidas de pais para filhos, caracterizadas pela presença de vários casos de câncer colorretal na família. A Polipose Adenomatosa Familiar ou FAP corresponde a 1% dos casos de câncer colorretal. Caracteriza-se por centenas de pólipos em todo o intestino que podem ser detectados na puberdade. Uma vez detectados, se não removidos transformam-se em câncer.

Para determinar a presença de uma doença hereditária, além da avaliação de um médico especialista, é necessário um teste de predisposição ao câncer colorretal hereditário (exame de sangue que determina o gene alterado). Em um futuro ainda sem previsão, a meta será a correção do defeito genético herdado, evitando que a doença se manifeste em outras gerações.

6) Antecedentes pessoais de câncer:

Mulheres que tiveram câncer de ovário,
corpo do útero (endométrio) ou mama têm maior risco de desenvolver câncer colorretal. Quem já teve câncer de intestino no passado deve ficar atento ao funcionamento do intestino, pois o risco de desenvolver um segundo tumor é alto quando comparado ao de outras pessoas sem história pregressa de câncer.

7) Doença intestinal inflamatória:

A retocolite ulcerativa e a doença de Crohn são doenças inflamatórias benignas que causam inflamação em graus variados na mucosa do intestino grosso. As doenças inflamatórias intestinais estão associadas ao maior risco de câncer colorretal, especialmente em indivíduos com doença com mais de 8 anos de evolução.


Quadro clínico:

Os sintomas do câncer de intestino são extremamente vagos, como mudança do ritmo intestinal, isto é, prisão de ventre ou diarréia sem causa alimentar aparente, bem como anemias sem origem definida.

É o caso do indivíduo que evacua uma vez diariamente e de repente passa três dias sem evacuar ou evacua quatro vezes no mesmo dia sem que haja uma alteração na sua alimentação. Essa mudança do ritmo intestinal é um sinal de alerta indicativo de que o médico especialista (coloproctologista ou gastroenterologista) deve ser consultado para uma melhor investigação do quadro clínico.

Dependendo da localização do tumor, os sintomas são diferentes. Se ele estiver localizado no lado direito do abdome, as principais queixas serão enfraquecimento, anemia e alteração do ritmo intestinal com predomínio de diarréia. Se estiver do lado esquerdo, há também alteração do ritmo intestinal com predominância de constipação intestinal, ou seja, prisão de ventre. Quando o tumor se localiza no reto, o principal sinal do tumor é o sangramento. Sangue e puxo (ou tenesmo), caracterizado pela vontade periódica de ir ao banheiro e insatisfação provocada pela sensação de evacuação incompleta são sinais de câncer ou de doença inflamatória no reto. Resumindo, qualquer alteração no ritmo intestinal (constipação ou diarréia), anemia, sangue ou catarro nas fezes e emagrecimento são indícios de que o indivíduo pode estar com a doença. Na prática clínica é muito comum pacientes com sangramento retal atribuírem erroneamente a hemorróidas. É importante ficar alerta porque "nem tudo que sangra é hemorróida, pois câncer de intestino também sangra". Entretanto, há uma pequena diferença entre os tipos de sangramento. Na hemorróida o sangue vivo não se encontra misturado às fezes, ao passo que no câncer do intestino o sangue de cor viva vem misturado a elas. Para o paciente é difícil estabelecer essa distinção. Por isso, toda a pessoa que tem sangramento pelo ânus deve procurar o médico especialista para submeter-se a uma investigação clínica incluindo exame de toque retal e exame endoscópico, a fim de diagnosticar corretamente a doença. Isso é imperativo porque o câncer de reto é muito freqüente e um simples toque retal permite identificá-lo, além de possibilitar o exame da próstata nos homens.

Enfatizamos que a participação de um especialista é muito importante não somente para fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças que podem apresentar os mesmos sintomas de um tumor de intestino, mas também porque a sua orientação clínica e a solicitação do exame da colonoscopia com biópsias de tecidos suspeitos firmará o diagnóstico.
A biópsia é o único exame que pode determinar a presença do câncer. Uma vez diagnosticado o câncer, são realizados outros exames para determinar a extensão da doença (estadiamento). À partir deste ponto, uma equipe multidisciplinar constituída por: cirurgião geral ou coloproctologista, oncologista clínico, radioterapêuta, enfermeiro, nutricionista e psicólogo estarão acompanhando todo o tratamento.

Principais exames para o diagnóstico precoce do câncer colorretal:

- Toque retal
- Colonoscopia

Colonoscopia:

Em relação à prevenção do câncer de reto o diagnóstico é muito simples porque pode ser feito pelo exame de toque retal no consultório. Já o diagnóstico de câncer de cólon exige um exame chamado colonoscopia, cuja descoberta representou o maior avanço no conhecimento das doenças do aparelho digestivo. Esse exame permite a identificação não só de processos inflamatórios e tumores, como até de pequenos pólipos. Vimos que pólipo é uma verruga que começa bem pequena, do tamanho de uma cabeça de alfinete, com tendência a crescer e se transformar em câncer. Entretanto o seu crescimento é lento e leva de 10 a 15 anos para degenerar e se transformar num tumor maligno. Por isso o câncer de intestino leva vantagem, se comparado com os demais, que já se instalam como tumor maligno. É possível reconhecer o fator que o precede, visto que começa como um pólipo que cresce bem devagar.

A colonoscopia é um exame realizado por aparelho de fibra ótica, longo e flexível com cerca de 180 cm de comprimento, introduzido através do ânus, que permite a visualização do reto e de todo o cólon em mais de 95% das vezes. Para a realização do exame é necessário limpeza intestinal, feita com laxantes ou lavagem intestinal. Durante o preparo, é importante beber água em abundância para evitar a desidratação.

Antes do exame o médico administra um sedativo e um analgésico, em seguida o aparelho é conduzido por todo o intestino grosso e toda extensão de sua parede interna é examinada. Se for verificada a presença de pólipos, estes são removidos e enviados para exame anatomopatológico. Ao término desse procedimento o paciente é liberado, não sendo necessária internação.

Vantagens: A colonoscopia é na verdade o melhor, o mais sensível e específico procedimento para o diagnóstico de pólipos e de câncer do cólon e reto. Serve também para a prevenção e tratamento, ou seja, para a retirada de pólipos, que são analisados posteriormente através de exame de anátomo patologia.

Desvantagens: tem custo mais elevado que os demais exames utilizados para a mesma finalidade, devendo ser executado por profissional idôneo e especializado.

Outros exames utilizados para o diagnóstico precoce do câncer colorretal:

ü Pesquisa de sangue oculto nas fezes;
ü Retossigmoidoscopia;
ü Enema opaco com duplo contraste;
ü Colonoscopia virtual

Pesquisa de sangue oculto nas fezes:

Esse exame detecta a presença de sangue escondido (oculto) nas fezes. A presença de sangue pode ocorrer por sangramentos de úlcera gástrica, hemorróidas, doença inflamatória intestinal, pólipos intestinais ou câncer colorretal. São necessárias três amostras de fezes consecutivas e devem ser evitados alguns tipo de alimentos, alguns dias antes do exame.

Vantagens: É um exame barato, simples, de fácil realização e não causa desconforto ao paciente. Esse exame oferece a vantagem de poder detectar o câncer em estágios precoces e não os pólipos do tipo adenomas que, quando pequenos e médios, não sangram. Embora detecte cerca de 10% dos pólipos e metade dos casos de câncer esse exame mostrou-se útil quando associado a outros métodos diagnósticos. Desvantagens: Seu maior problema é o fato da ingestão de algumas frutas e de carne vermelha provocar resultados falsos-positivos, ou seja o exame indica presença de sangue nas fezes, mas na realidade não há nenhum sangramento no tubo digestivo. Em geral isso pode ocorrer em decorrência da falta de orientação do laboratório que realizou o exame quanto as restrições dietéticas necessárias a realização do exame.

Retossigmoidoscopia:

Exame realizado através de um tubo rígido de 25 cm de comprimento (retossigmoidoscopia rígida), ou por meio de um aparelho flexível de fibra ótica com 70 cm de comprimento (retossigmoidoscopia flexível) que é introduzido pelo ânus e permite visualizar internamente o reto e parte do cólon. Se for encontrada alguma lesão que possa indicar presença de tumor, uma biópsia deve ser realizada. Na manhã do exame é recomendado realizar uma refeição leve. É necessário uma pequena lavagem intestinal do paciente antes do exame.

Desvantagem: O aparelho alcança apenas o reto e parte do cólon, portanto não possibilita ser usado isoladamente como método de pesquisa de tumores em toda extensão do intestino grosso.

Enema opaco com duplo contraste:

Nesse exame radiológico o ar é injetado após a remoção do bário previamente introduzido no cólon por via baixa, o que faz que as lesões sejam evidenciadas pelo bário (contraste) que ficou retido. Essa técnica é mais sensível do que o enema convencional para a detecção de pólipos.

O exame requer um preparo com laxantes que se inicia 24 horas antes e sua realização é bastante desconfortável para o paciente.
Vantagens: permite visualizar todo o cólon e o reto, sendo empregado quando não for possível realizar a colonoscopia.

Desvantagens: Esse procedimento se destina ao diagnóstico das patologias do intestino grosso, entretanto não dispõe dos recursos da colonoscopia que possibilita a biópsia de tumores e a ressecção de pólipos. Além do desconforto o enema opaco não é capaz de detectar todos os tumores e pólipos pequenos.

Colonoscopia virtual:

Trata-se de uma tomografia computadorizada em três dimensões capaz de produzir imagens de todo o cólon de maneira rápida, não invasiva, sem a necessidade de sedação do paciente. Existem evidências de sua eficiência como exame de rastreamento dos tumores do cólon e reto, no entanto esse exame ainda não é facilmente disponível em nosso meio.

Prevenção do câncer do intestino:

A prevenção significa evitar os fatores de risco e aumentar os fatores protetores. Alguns fatores de risco como a idade não podem ser evitados, contudo estudos realizados na população permitem identificar situações ou hábitos que podem reduzir ou aumentar a chance de uma pessoa desenvolver a doença. Dentre os fatores protetores citamos:

ü Dieta rica em fibras e com pouca gordura de origem animal;
ü Prática de exercício físico de forma regular;
ü Não consumir fumo, bebidas alcóolicas e alimentos com corantes;
ü Remover pólipos (colonoscopia);
ü Observação: através de estudos, ainda não concluídos, observou-se que o uso de algumas substâncias reduzem o risco de desenvolvimento do câncer colorretal. Dentre essas substâncias estão as vitaminas E e C, o cálcio e o selênio, todavia o seu uso deve ser realizado sob supervisão médica, dentro de protocolos de pesquisa.

Quando os exames de diagnóstico precoce devem ser iniciados e com que freqüência:

A "American College of Gastroenterology" preconiza:

1) Indivíduos com risco médio (assintomáticos, com idade igual ou superior a 50 anos, sem outros fatores de risco: Indicado o exame de colonoscopia a cada 3 a 5 anos acompanhado de Exame de Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes em 3 amostras, anualmente;

2) Indivíduos com risco aumentado (indivíduos com um ou mais parentes de primeiro grau (irmãos, pais e filhos) com antecedentes de câncer ou pólipo tipo adenoma do intestino: Oferecer as mesmas opções para o indivíduo com "risco médio" , porém iniciando os exames aos 40 anos de idade;

2.1) Indivíduos com história pessoal de pólipo tipo adenoma (maiores de 1 cm ou múltiplos pólipos (adenomas) foram encontrados e removidos por colonoscopia): Devem submeter- se a novas colonoscopias a cada 3 anos;
2.2) Indivíduos com doença inflamatória intestinal: Devem submeter-se a colonoscopia a cada 1-2 anos;

2.3) Indivíduos com história familiar de Polipose Adenomatosa Familiar: Indicado realizar aconselhamento genético e teste genético para se verificar seu estado de portador do gene. Em caso de polipose, considerar colectomia;

2.4) Indivíduos com história familiar de Câncer Colorretal Hereditário sem Polipose (HNPCC = "Hereditary Nonpoliposis Colorectal Cancer"): Indicado realizar aconselhamento genético e teste genético, além de colonoscopia a cada 1-2 anos a partir dos 20-30 anos de idade e anualmente a partir dos 40 anos.

Observação:

Adultos com os sintomas já citados, em especial com mais de 40 anos de idade e portador de anemia apresentam indicação absoluta para submeter-se a colonoscopia, já que nessa faixa etária o câncer do lado direito do intestino é a causa mais freqüente de anemias. Vimos que quando diagnosticada precocemente essa doença oferece excelente prognóstico.


Prisão de ventre e hábitos intestinais:

A evacuação ideal deve ser diária e se caracteriza pelo bolo fecal consistente sem ser duro ou pétreo, nem líquido, vez que a evacuação diarreica é nociva para a nutrição da mucosa intestinal.

Os hábitos de evacuação, às vezes, se transformam num verdadeiro martírio para as pessoas que têm dificuldade para usar o banheiro e estabelecer horários para o intestino funcionar. Fisiologicamente é a cabeça da pessoa que comanda o intestino, porque na realidade é ela que comanda tudo. Quem tem intestino ressecado geralmente come mal. As pessoas pensam que se alimentam bem, mas uma folhinha de alface no prato é o suficiente para acharem que comeram salada. É preciso comer um prato enorme de salada para ingerir os ideais 20 ou 30 gramas de fibras. Quem não consegue fazer isso, deve complementar com frutas ou duas colheres de farelo de trigo ou de outro produto que contenha fibras preferencialmente de manhã adicionados ao leite ou ao iogurte, por exemplo. Outra coisa a ressaltar é que as pessoas, sobretudo as mulheres, comem fibras, mas não tomam o líquido necessário para a formação do bolo fecal. Mulher é avessa a tomar líquido, embora devesse tomar pelo menos 2 litros por dia.

De um modo geral as mulheres são mais obstipadas porque se alimentam pior. Gostam de docinhos ricos em hidrato de carbono e, como têm a preocupação de não engordar, ingerem uma quantidade menor de alimentos. E também não bebem água. Além disso, são exigentes com a limpeza e não usam qualquer toalete quando estão na rua ou no shopping. Às vezes, têm vontade de ir ao banheiro mas não vão. O mecanismo reflexo da evacuação é muito interessante. Se elas deixam escapar aquele momento porque estão com pressa ou porque não podem parar com o seu trabalho, o reflexo só reaparece no dia seguinte quando as fezes já estão endurecidas porque houve absorção da água que continham. Fezes duras, ou fecalitos, são difíceis de eliminar e surge a dor, a fissura, as hemorróidas. Progressivamente, para se defenderem, começam a tomar laxantes e instala-se um círculo vicioso. O intestino se acostuma, perde o reflexo, e elas são obrigadas a tomar quantidades crescentes desses remédios.

Do ponto de vista fisiológico, não existe um número ideal de evacuações diárias. Na verdade é variável, pois o tamanho do intestino difere de uma pessoa para outra. Os indivíduos que têm intestino mais longo necessitam de quantidade maior de fibras e evacuam menos. No entanto não é o número de evacuações diárias que interessa. O importante é ir ao banheiro uma vez ou duas por dia, ou dia sim, dia não, mas sem necessidade de fazer força para evacuar. A consistência pastosa do bolo fecal deve proporcionar fácil elimi nação.

sexta-feira, 9 de março de 2012

TEORIAS BIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO



TEORIAS BIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO
Emilio Antonio Jeckel-Neto e Gilson Luis da Cunha

Durante séculos, o estudo da longevidade e do envelhecimento
em seres vivos foi relegado a um papel meramente acessório nas diferentes disciplinas da Biologia. Estudos de genética, bioquímica, fisiologia e ecologia abordavam superficialmente temas ligados ao envelhecimento, sem, contudo, se ocuparem da elaboração de convenções instrumentais ou de terminologia que pudessem ser usadas para facilitar a exploração dos mesmos. Até então, estudos sobre mudanças nas propriedades morfofuncionais de indivíduos ou de populações com o passar do tempo constituíam pouco mais do que uma curiosidade, explorada mais por diletantismo do que por qualquer outra razão. O século XX viria a mudar esse cenário radicalmente por dois motivos: primeiro, nunca em toda a história da humanidade, populações apresentaram expectativas de vida tão altas, fruto, principalmente, da implantação de políticas de saúde pública e de medicina preventiva, tais como vacinação contra diversas moléstias infecto-contagiosas e planejamento e controle sanitário; segundo, coincidentemente, nunca, em toda a história da Biologia, o instrumental
disponível para pesquisa foi tão avançado, permitin?o aos investigadores níveis de abordagem impossíveis até então. E o. caso da biologia molecular. Esses foram os principais fatores que impulsionaram o desenvolvimento da assim chamada Biologia do Envelhecimento. Essa jovem disciplina floresceu, muito recentemente, como parte do esforço para integrar contribuições vindas de diferentes campos da Biologia. Inicialmente, a abordagem biológica do processo de envelhecimento deu-se do ponto de vista fisiológico e, mais tarde, bioquímico. Com o avanço do conhecimento genético, cresceu também a busca por padrões de hereditariedade da longevidade. A partir da década de 40, abordagens a partir dos conhecimentos sobre a evolução dos seres vivos foram incorporando uma série de novos conceitos, permitindo uma avaliação mais profunda do tema
do envelhecimento. Isso ocorreu em grande parte devido ao dilema imposto pelo pensamento evolutivo: se a seleção natural atua no sentido de prover maior sucesso reprodutivo aos indivíduos mais bem adaptados, qual o papel dos indivíduos de idade avançada no contexto evolutivo? Esse avanço conceitual, combinado com o conhecimento básico já acumulado em bioquímica e fisiologia de eucariontes, somado ao advento da biologia molecular, deu um impulso muito grande à formulação de teorias e hipóteses que tentam explicar o fenômeno do envelhecimento dos seres vivos.
Conceitos Fundamentais .
Dada a variedade de abordagens aos temas envelhecimento e longevidade, é importante estabelecer alguns conceitos básicos. Porém, devido à sua breve existência, a pesquisa biogerontológica enfrenta a dificuldade de estabelecer convenções a respeito da terminologia empregada por diferentes autores.
Apesar de não estar estabelecido oficialmente, o termo envelhecimentoé freqüentemente empregado para descrever as mudanças morfofuncionais ao longo da vida, que ocorrem após a maturação sexual e que, progressivamente, comprometem a capacidade de resposta dos indivíduos ao estresse ambiental e à manutenção da homeostasia. Porém, vários pesquisadores definem envelhecimento como "o que acontece com um organismo com o passar do tempo". Se, por um lado, existem funções que não são significativamente alteradas pela idade, como a troca de células do epitélio intestinal, é necessário lembrar que o envelhecimento apresenta
como única característica universal a ocorrência de mudanças ao longo do tempo, independentemente de terem ou não efeito deletério sobre a vitalidade e a longevidade. Do ponto de vista do rigor científico, surge, então, a seguinte pergunta: a similaridade entre as palavras empregadas para descrever envelhecimento garante a precisão do conceito? Essa questão é de fundamental importância, pois a articulação entre conceitos e definições é que possibilita o estabelecimento de uma estrutura lógica de conhecimentos capaz de explicar, elucidar, interpretar ou unificar um dado conjunto de fenômenos por meio de uma teoria. O envelhecimento não é só a soma de patologias agregadas e de danos induzidos por doenças. Inversamente, nem todas as mudanças em estrutura e função dependentes da idade podem ser consideradas como alterações fundamentalmente ligadas à idade por si só. Num esforço para incorporar esse rigor dentro de uma definição operacional, foi proposto que as mudanças fundamentais relacionadas com a idade devem obedecer a quatro condições:
1. Devem ser deletérias, ou seja, devem reduzir a funcionalidade.
2. Devem ser progressivas, isto é, devem se estabelecer gradualmente.
3. Devem ser intrínsecas, isto é, não devem ser o resultado de um
componente ambiental modificável. Cabe ressaltar, aqui, que
o ambiente tem forte influência sobre o aparecimento e velocidade
dessas mudanças, apesar de não ser a sua causa.
4. Devem ser universais: todos os membros de uma espécie deveriam mostrar tais mudanças graduais com o avanço da idade. Por esses motivos, surge o termo senescênciapara descrever as mudanças que ocorrem num organismo, relacionadas com a idade, afetando adversamente sua vitalidade e funções, porém, mais significativamente, aumentando a taxa de mortalidade em função do tempo. Senilidadeseria o estágio final da senescência, quando o risco de mortalidade beira os 100%. É preciso ressaltar, porém, que o tempo é uma variável independente. Em vez de usar o calendário para medir o envelhecimento, é preciso encontrar maneiras de usar as mudanças em variáveis fisiológicas importantes para medir o envelhecimento Quanto ao termo loneevidade,apresenta como dificuldade principal a existência de diversidade de padrões de desenvolvimento e o tempo de maturação em diferentes organismos. Embora a literatura em biogerontologia freqüentemente tome como longevidade o tempo transcorrido entre o nascimento e a morte, muitas espécies possuem desenvolvimento especialmente prolongado, ou longa existência em estágios juvenis e breves períodos de vida adulta.
o Fenômeno do Envelhecimento
A percepção do fato de que os organismos vivos envelhecem não gera controvérsias. A partir da simples observação da realidade, é possível perceber esse fenômeno. Pode-se, também, planejar e executar estratégias de investigação para identificar e analisar vários aspectos do envelhecimento. Porém, vários pontos de controvérsia surgem no momento de estabelecer indicadores para as variáveis envolvidas no processo. Ao surgir discordância sobre quais seriam os indicadores capazes de identificar ou mensurar as variáveis envolvidas no fenômeno, estabelece-se a dificuldade de construir conceitos fundamentais que possam ser articulados em construções lógicas explicativas do envelhecimento. Essa variedade de conceitos, muitas vezes conflitantes, que procuram representar as variáveis envolvidas no processo de envelhecimento por meio de suas características gerais, provoca a formulação de uma grande variedade de definições para um mesmo aspecto do fenômeno. Assim, a inclusão de determinado fat9, característica ou função em classes que permitam organizá-Ios num sistema toma-se extremamente difícil dentro da área de conhecimento denominada de Gerontologia ou Ciências do Envelhecimento. Como resultante disso, surge um grande número de teorias que se propõem a explicar o fenômeno, porém cada uma com o próprio conjunto de conceitos, fatos e indicadores.
Outro aspecto que tem forte influência na determinação dessa variedade de teorias é o fenômeno do envelhecimento em si. Os organismos vivos são sistemas interativos de subsistemas e, portanto, complexos, hierárquicos e não-lineares. Formam, figurativamente, um grande mosaico de processos ou um grande fractal dinâmico. Assim, algumas teorias têm dificuldade de se sustentar, pois apóiam-se numa concepção ingênua segundo a qual uma dada alteração biológica que ocorre com o passar do tempo poderia ser provocada por uma causa particul~r, o que contraria a noção de sistemas hierárquicos interativos. E por isso que não há possibilidade de intervir em algum ponto do sistema de modo a afetá-Io de maneira global e alterar o curso das mudanças ao longo do tempo. Em outras palavras, é por esse motivo que, dificilmente, exisexistirá o elixir da juventude, o gene que controla o envelhecimento ou o tratamento rejuvenescedor.