ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Abcessos



Um abcesso é um acúmulo de pus causado por uma infecção bacteriana. Quando as bactérias invadem um tecido sadio, a infecção dissemina-se por toda a área. Algumas células morrem e desintegram-se, deixando espaços nos quais ocorre um acúmulo de líquido e de células infectadas. Os leucócitos (glóbulos brancos), os defensores do organismo contra as infecções, deslocam-se até esses espaços e, após fagocitarem (ingerirem) as bactérias, eles morrem. Os leucócitos mortos acumulam- se sob a forma de pus, uma substância cremosa que preenche a área.

À medida que ocorre acúmulo de pus, o tecido sadio é deslocado. Finalmente, ocorre crescimento de tecido em torno do abcesso, envolvendo a lesão. Tratase de uma tentativa do organismo de impedir uma maior disseminação da infecção. Quando ocorre uma ruptura interna do abcesso, a infecção pode disseminar-se tanto para o interior do corpo quanto para a região subcutânea, dependendo da localização do abcesso. Uma infecção bacteriana pode acarretar a formação de um abcesso de várias maneiras.

Por exemplo, uma ferida puntiforme causada por uma agulha contaminada pode introduzir bactérias no tecido subcutâneo. Ou as bactérias podem disseminar-se a partir de uma infecção localizada em qualquer outra parte do corpo. Além disso, algumas vezes, as bactérias que vivem normalmente no organismo e não são nocivas podem causar a formação de um abcesso.

As chances de formação de um abcesso aumentam quando há sujeira ou um corpo estranho na área infectada, quando a área da invasão bacteriana apresenta um mau suprimento sangüíneo (como ocorre no diabetes) ou quando o sistema imune encontra-se comprometido (como na AIDS). Os abcessos podem ocorrer em qualquer parte do corpo, incluindo os pulmões, a boca, o reto e os músculos. Os abcessos são muito comuns na pele ou nos tecidos subcutâneos, sobretudo na face.

Sintomas e Diagnóstico

A localização do abcesso e a sua interferência sobre a função de um órgão ou de um nervo determinam os sintomas. Os sintomas podem incluir a dor, a sensibilidade à palpação, o calor, o edema, a hiperemia (rubor) e, às vezes, a febre. Um abcesso que se forma logo abaixo da pele geralmente manifesta-se como uma protuberância visível.

Quando está prestes a romper, o abcesso apresenta um um centro esbranquiçado, pois a pele suprajacente torna-se cada vez mais delgada. Um abcesso situado profundamente no interior do corpo freqüentemente cresce consideravelmente antes de produzir sintomas. Quando não detectado, um abcesso profundo pode disseminar a infecção por todo o corpo. O médico pode facilmente identificar um abcesso cutâneo ou subcutâneo, mas, freqüentemente, ele não consegue detectar um abcesso profundo.

Quando um indivíduo apresenta este tipo de abcesso, os exames de sangue freqüentemente revelam um número anormalmente elevado de leucócitos. Para se determinar o tamanho e a localização de um abcesso, podem ser utilizadas radiografias, a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM). Como os abcessos e os tumores freqüentemente causam os mesmos sintomas e produzem imagens parecidas, um diagnóstico definitivo algumas vezes exige a coleta de uma amostra de pus ou a remoção cirúrgica do abcesso para que este seja examinado ao microscópio.

Tratamento

Normalmente um abcesso sara sem tratamento através da ruptura e da drenagem (eliminação) de seu conteúdo. Ocasionalmente, à medida que o organismo elimina a infecção e absorve os resíduos, o abcesso desaparece lentamente sem ruptura. O abcesso pode dar lugar a um nódulo duro. Um abcesso pode ser perfurado e drenado para aliviar a dor e promover a cura. Para drenar um abcesso grande, o médico deve romper suas paredes e liberar o pus.

Quando drenados, os abcessos grandes deixam amplo espaço vazio (espaço morto), o qual pode ser tamponado temporariamente com uma gaze. Algumas vezes, é necessária a manutenção de drenos artificiais temporários (geralmente, tubos plásticos finos). Como os abcessos não recebem sangue, os antibióticos comumente não são úteis. Após a drenagem do abcesso, podem ser prescritos antibióticos para a prevenção de recorrências. Os antibióticos também são utilizados quando um abcesso dissemina a infecção para outras partes do corpo. Uma análise laboratorial das bactérias presentes no pus ajuda o médico a selecionar o antibiótico mais eficaz.

Abcessos Abdominais

Os abcessos podem formar-se abaixo do diafragma, na parte média do abdômen, na pelve ou atrás da cavidade abdominal. Os abcessos também podem se formar em qualquer órgão abdominal (p.ex., rins, baço, pâncreas, fígado ou próstata) ou ao redor do mesmo. Freqüentemente, os abcessos abdominais são causados por uma lesão, uma infecção ou uma perfuração intestinal ou por uma infecção de um outro órgão abdominal.

Um abcesso abaixo do diafragma pode formar-se quando o líquido infectado (p.ex., de um apêndice perfurado) é deslocado para cima devido à pressão dos órgãos abdominais e ao vácuo criado quando o diafragma movimenta-se durante a respiração. Os sintomas podem incluir a tosse, a respiração dolorosa e dor em um ombro (um exemplo de dor referida que ocorre porque o ombro e o diafragma são inervados pelos mesmos nervos e o cérebro interpreta erroneamente a origem da dor).

Os abcessos localizados na parte média do abdômen podem ser decorrentes de uma ruptura de apêndice, de uma perfuração do intestino grosso, de uma doença intestinal inflamatória ou de uma diverticulose. Normalmente, o abdômen é doloroso na área do abcesso.

Os abcessos pélvicos são decorrentes dos mesmos distúrbios que causam os abcessos localizados na parte média do abdômen e de infecções ginecológicas. Os sintomas podem incluir a dor abdominal, a diarréia decorrente de irritação intestinal e a necessidade urgente ou freqüente de urinar devido à irritação da bexiga.

Os abcessos localizados atrás da cavidade abdominal (denominados abcessos retroperitoneais) localizam-se atrás do peritôneo, a membrana que reveste a cavidade e os órgãos abdominais. As causas, as quais são similares àquelas de outros abcessos abdominais, incluem a apendicite (inflamação do apêndice) e a pancreatite (inflamação do pâncreas). A dor, geralmente na região lombar, piora quando o indivíduo flexiona o membro inferior sobre o quadril.

Os abcessos renais são causados por bactérias oriundas de uma infecção que se disseminou aos rins através da corrente sangüínea ou por uma infecção do trato urinário que se propagou ao rim e, em seguida, se disseminou ao tecido renal. Os abcessos localizados sobre a superfície dos rins (abcessos peri-renais) são quase sempre causados pela ruptura de um abcesso localizado no interior do rim, o qual dissemina a infecção para a superfície e para o tecido circunvizinho.

Os sintomas de um abcesso renal incluem a febre, calafrios e dor na região lombar. A micção pode ser dolorosa e, algumas vezes, a urina torna-se sanguinolenta. Os abcessos do baço são causados por uma infecção que se dissemina através da corrente sangüínea até o baço, por uma lesão do baço ou pela disseminação de uma infecção a partir de um abcesso próximo (p.ex., um abcesso localizado abaixo do diafragma). A dor pode ocorrer no lado esquerdo do abdômen, nas costas ou no ombro esquerdo.

Os abcessos localizados no interior do pâncreas comumente formam-se após um episódio de pancreatite aguda. Freqüentemente, os sintomas (febre, dor abdominal, náusea e vômito) surgem uma semana ou mais após o indivíduo se recuperar de uma pancreatite. Os abcessos hepáticos podem ser causados por bactérias ou por amebas (parasitas unicelulares). As amebas oriundas de uma infecção intestinal atingem o fígado através dos vasos linfáticos.

As bactérias podem chegar ao fígado provenientes de uma vesícula biliar infectada; de uma ferida penetrante ou fechada; de uma infecção abdominal (p.ex., um abcesso próximo) ou de uma infecção transportada através da corrente sangüínea e originária em qualquer outra região do corpo. Os sintomas de abcessos hepáticos incluem a perda de apetite, a náusea e a febre.

O indivíduo pode ou não apresentar dor abdominal. Os abcessos prostáticos geralmente são decorrentes de uma infecção do trato urinário que acarretou uma prostatite (infecção da próstata). Esses abcessos ocorrem mais comumente nos homens com idade entre 40 e 60 anos. Tipicamente, um indivíduo com um abcesso prostático apresenta micção dolorosa, freqüente ou difícil. Menos comumente, ele sente dor interna na base do pênis e observa a presença de pus ou de sangue na urina.

Diagnóstico e Tratamento

Em quase todos os casos de abcessos abdominais, o pus deve ser drenado, seja através de uma cirurgia ou de uma punção com agulha através da pele. Para orientação do posicionamento da agulha, o médico utiliza a tomografia computadorizada (TC) ou a ultra-sonografia. A análise laboratorial do pus identifica o microrganismo infectante, permitindo selecionar o antibiótico mais eficaz.

Abcessos na Cabeça e no Pescoço

Os abcessos comumente desenvolvem-se na cabeça e no pescoço, sobretudo atrás da garganta e nas glândulas salivares das bochechas (glândulas parótidas). Também pode ocorrer a formação de abcessos no cérebro. Os abcessos localizados atrás e lateralmente à garganta (abcessos faringomaxilares) normalmente são decorrentes de infecções da garganta (p.ex., infecções das tonsilas ou das adenóides).

As crianças apresentam uma maior probabilidade de abcesso de garganta que os adultos. Também pode ocorrer a formação de um abcesso no interior de um linfonodo localizado lateralmente à garganta (abcesso parafaríngeo). Menos comumente, a origem desses abcessos é uma infecção próxima (p.ex., um abcesso dental ou uma infecção de uma glândula salivar). Juntamente com a febre e a dor de garganta, o indivíduo sente- se doente. Abrir a boca pode ser difícil.

A infecção pode disseminar, produzindo edema do pescoço. Quando o abcesso lesa as artérias carótidas ao nível do pescoço, pode ocorrer uma coagulação ou um sangramento maciço. Também pode ocorrer a formação de um abcesso na saída de uma das glândulas parótidas. Normalmente, o abcesso é causado pela disseminação de uma infecção originária da boca. Este tipo de abcesso costuma ocorrer em indivíduos idosos ou com doença crônica, os quais apresentam boca seca devido à pouca ingestão de líquidos ou ao uso de certas drogas (p.ex., antihistamínicos). Os sintomas incluem a dor e o aumento de volume de uma bocheça, a febre e os calafrios que começam subitamente.

Abcessos Musculares

Ocasionalmente, ocorre a formação de abcessos profundos nos músculos. Eles podem ser causados por bactérias que se disseminaram de uma infecção próxima de um osso ou de um outro tecido ou por bactérias que se disseminaram através da corrente sangüínea a partir de um local distante do corpo. A piomiosite é um distúrbio no qual o músculo torna-se infectado por bactérias piogênicas (produtoras de pus) que freqüentemente causam a formação de abcessos.

A piomiosite é mais comum entre os habitantes de regiões tropicais e ocorre em indivíduos com comprometimento do sistema imune. Os músculos mais comumente afetados são os das coxas, das nádegas, dos braços e aqueles localizados em torno dos ombros. Os sintomas incluem uma dor tipo câimbra acompanhada por edema, febre discreta e um desconforto progressivo, especialmente durante a movimentação do músculo infectado.

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Abcessos da Mão

Os abcessos da mão são bastante comuns e, geralmente, são devidos a uma lesão. Um abcesso localizado na polpa digital é quase sempre resultado de uma lesão menor (p.ex., perfuração causada por um espinho ou por uma agulha). Na área do abcesso, o indivíduo apresenta dor intensa, calor e hiperemia, freqüentemente com aumento de volume dos linfonodos próximos do membro superior. A infecção do osso subjacente pode provocar uma dor mais intensa.

Os abcessos podem formar-se em torno dos tendões que percorrem a face medial dos dedos. Este tipo de abcesso é causado por uma lesão que penetra em uma das pregas existentes na face palmar do dedo. A infecção e o pus formam-se em torno do tendão e destroem rapidamente o tecido. O mecanismo de deslizamento do tendão torna-se lesado e, conseqüentemente, o dedo praticamente não consegue ser movido. Os sintomas incluem o edema e a inflamação do dedo, a sensibilidade à palpação da bainha do tendão e uma dor extrema quando o indivíduo movimentá-lo. A presença de linfonodos nas proximidades do abcesso e a febre são comuns.

Infecções da Pele e do Tecido Subcutâneo


As infecções da pele e do tecido subcutâneo incluem a celulite, a fascite necrotizante, a gangrena cutânea, a linfadenite, a linfangite aguda e os abcessos cutâneos. A maioria delas é causada por bactérias. Existem muitas outras infecções cutâneas, incluindo as causadas por fungos, parasitas, vírus e outras bactérias.

Celulite

A celulite é uma infecção bacteriana disseminada na pele e nos tecidos situados logo abaixo da mesma. A celulite pode ser causada por muitas bactérias diferentes,sendo a mais freqüente o Streptococcus. Os estreptococos disseminam-se rapidamente sobre uma grande área, pois produzem enzimas que impedem que os tecidos limitem a infecção. Os estafilococos, um outro tipo de bactéria, também podem causar celulite, mas, geralmente, ela é limitada a uma área menor. Outras bactérias causam celulite após certos tipos de lesão (p.ex., mordidas de animais produzidas em água doce ou salgada). A celulite ocorre mais comumente nos membros inferiores. Geralmente, a infecção ocorre após uma lesão da pele decorrente de um trauma-tismo, de uma ulceração, de uma micose (pé de atleta) ou de uma dermatite. As áreas da pele que se tornam edemaciadas são as mais vulneráveis. A celulite tende a recorrer próximo ou nas cicatrizes devidas a cirurgias (p.ex., cirurgia de varizes). Contudo, ela também pode ocorrer em uma pele não lesada. A infecção pode disseminar rapidamente e pode invadir os vasos linfáticos e a corrente sangüínea. Quando isto ocorre, a infecção pode disseminar por todo o corpo.

Sintomas e Complicações

Os sintomas iniciais são a hiperemia (rubor) e a sensibilidade à palpação de uma pequena área da pele. A pele infectada torna-se quente e edemaciada e pode ter o aspeco de casca de laranja (uma condição denominada peau d’orange). Em uma forma de celulite denominada erisipela, as bordas da área infectada tornam-se elevadas. É comum a ocorrência de pequenas manchas vermelhas (petéquias). Raramente, ocorrem manchas maiores causadas pelo sangramento na pele (equimoses). Pode ocorrer o surgimento de vesículas (pequenas bolhas contendo líquido) ou de bolhas grandes na pele infectada e estas podem romper-se. À medida que a infecção se dissemina para uma área maior, os linfonodos próximos podem tornar-se aumentados de volume e dolorosos. Os linfonodos da região inguinal (virilha) podem ser afetados por infecções dos membros inferiores; os linfonodos axilares podem ser afetados por infecções dos membros superiores. Podem surgir estrias vermelhas entre a área infectada e os linfonodos vizinhos. Um indivíduo com celulite pode apresentar febre, calafrios, aumento da freqüência cardíaca, cefaléia, hipotensão arterial e confusão mental. Às vezes, esses sintomas começam várias horas antes do surgimento de qualquer sintoma cutâneo, mas, em muitos casos, eles não ocorrem. Ocasionalmente, pode ocorrer a formação de abcessos como resultado da celulite. As complicações raras, mas graves, incluem a disseminação da infecção sob a pele com conseqüente morte tecidual (como na gangrena estreptocócica e na fascite necrotizante) e a bacteremia (disseminação da infecção através da corrente sangüínea a outras partes do corpo). Quando a celulite afeta o mesmo local repetidamente, os vasos linfáticos próximos podem ser lesados, causando um edema permanente do tecido afetado.

Diagnóstico

A identificação das bactérias causadoras da celulite é difícil, mesmo com o auxílio de análises de amostras de sangue e de biópsias de pele (exame microscópico de uma amostra de tecido). No entanto, a análise de amostras de pus ou de uma ferida aberta podem ajudar na identificação da bactéria. Algumas vezes, o médico necessita de exames para diferenciar a celulite de um coágulo sangüíneo localizado nas veias profundas do membro inferior (trombose venosa profunda), pois os sintomas desses distúrbios são semelhantes.

Tratamento

Assim que a celulite é diagnosticada, é iniciada a administração de um antibiótico. Além disso, disso, a parte afetada do corpo é mantida imóvel e elevada para ajudar a reduzir o edema. O desconforto pode ser aliviado pela aplicação de curativos frios e úmidos sobre a área infectada. Para a celulite causada por estreptococos, geralmente é prescrita uma penicilina oral. Nos casos graves, a penicilina pode ser administrada pela via intravenosa e a clindamicina pode ser adicionada ao esquema terapêutico. Os indivíduos alérgicos à penicilina podem utilizar a eritromicina (casos leves) ou a clindamicina (casos graves). Para a celulite causada por estafilococos, o médico pode prescrever a dicloxacilina; para as infecções graves, ele pode prescrever a oxacilina ou a nafcilina. Em geral, os sintomas da celulite desaparecem após alguns poucos dias de antibioticoterapia. Contudo, os sintomas freqüentemente pioram antes de melhorarem, provavelmente pelo fato da morte abrupta das bactérias causar a liberação de enzimas que produzem lesão tecidual. Quando a celulite recorre repetidamente nos membros inferiores, o tratamento dos problemas cutâneos podem ser úteis. Por exemplo, o péde- atleta (um tipo de micose) que pode causar a celulite, pode ser tratado com medicamentos antifúngicos. O paciente que apresenta celulite recorrente também pode receber injeções mensais de penicilina ou utilizar, mensalmente, a penicilina oral durante uma semana.

Fascite Necrotizante

A fascite necrotizante é uma forma extremamente grave de celulite que destrói o tecido infectado subcutâneo. Uma cepa particularmente perigosa de Streptococcus é a responsável por esse tipo de infecção. Ela é contraída da mesma maneira que qualquer outra celulite, mas evolui rapidamente para a destruição tecidual (alguns a denominam “doença devoradora de carne”). A pele torna- se violácea, podendo ocorrer a formação de grandes bolhas com conteúdo líquido e de gangrena. Normalmente, o indivíduo sente-se extremamente doente e apresenta febre, aumento da freqüência cardíaca e deterioração mental, a qual varia da confusão mental à perda da consciência. A pressão arterial pode cair em decorrência da excreção de grandes quantidades de líquido através da área infectada. O tratamento da fascite necrotizante consiste na antibioticoterapia e na remoção cirúrgica do tecido morto. Em alguns casos, pode ser necessária a amputação de um membro superior ou de um membro inferior. A taxa de mortalidade é de aproximadamente 30%. O prognóstico é ruim para os indivíduos idosos, para aqueles que apresentam outros problemas médicos e para aqueles nos quais a doença atingiu um estágio avançado.

Gangrena Cutânea

A gangrena é a morte do tecido, normalmente associada à perda de suprimento sangüíneo à área afetada, seguida por invasão bacteriana. A gangrena é decorrente de uma infecção causada por clostrídios e, às vezes, por outras bactérias. Os clostrídios são bactérias anaeróbias, as quais crescem apenas na ausência de oxigênio. Os clostrídios produzem gás à medida que crescem e, por essa razão, a infecção é algumas vezes denominada gangrena gasosa. As lesões graves (p.ex., o esmagamento de uma perna) podem interromper o suprimento sangüíneo e de oxigênio à área lesada, criando uma situação que permite o crescimento de clostrídios. A infecção desenvolve-se horas ou dias após a lesão. A gangrena também pode desenvolver- se em uma ferida cirúrgica, particularmente quando o suprimento sangüí-neo à ferida é ruim. Os indivíduos com má circulação apresentam um maior risco de apresentá-la.

Sintomas

Inicialmente, a pele pode tornar-se pálida, mas ela torna-se vermelha ou cor de bronze e, finalmente, esverdeada. A infecção por clostrídios também torna a pele quente e edemaciada. A infecção pode disseminar-se extensamente sob a pele, produzindo freqüentemente bolhas grandes com conteúdo líquido. O líquido dessas bolhas possuem uma cor acastanhada e é fétido. O gás produzido pelos clostrídios freqüentemente borbulha no líquido e as bolhas podem crepitar à palpação. No decorrer de vários dias, a infecção pode evoluir de uma celulite muito discreta a uma gangrena extensa que produz choque, insuficiência renal, delírio e morte. A infecção pode inclusive evoluir dramaticamente em poucas horas, destruindo grandes quantidades de pele e músculos.

Diagnóstico

Normalmente os sintomas são suficientes para levantar a suspeita de gangrena. As radiografias podem revelar a presença de gás sob a pele. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) podem ajudar a determinar a quantidade de gás e a extensão da destruição tecidual. Pode ser realizada a coleta de líquido da ferida, sendo feita a sua cultura para confirmar que o microrganismo responsável pela infecção é o Clostridium. No entanto, a cirurgia de remocão do tecido morto ou de amputação de um membro é comumente necessária antes do médico ter certeza de qual é o microrganismo causador da infecção.

Tratamento e Prognóstico

Quando existe suspeita de gangrena, é iniciada a administração de um antibiótico logo após a coleta de amostras de líquido da ferida e antes dos resultados dos exames tornarem-se disponíveis. Normalmente, são escolhidos antibióticos que destroem um amplo espectro de bactérias, apesar da penicilina isoladamente ser suficiente para eliminar os clostrídios. Além de prescrever antibióticos, o médico realiza a remoção cirúrgica do tecido destruído. Algumas vezes, sobretudo quando a circulação é ruim, deve ser realizada a amputação de parte ou de todo o membro para se prevenir a disseminação da infecção. Além disso, a oxigenioterapia de alta pressão (hiperbárica) também pode ser utilizada para tratar a gangrena cutânea extensa. Neste tratamento, o paciente é colocado em uma câmara contendo oxigênio a alta pressão, o que ajuda a eliminar os clostrídios. Apesar do tratamento, aproximadamente um em cada cinco indivíduos com gangrena cutânea morre.

Linfadenite

A linfadenite é a inflamação de um ou mais linfonodos. Uma infecção causada por qualquer tipo de microrganismo (bactérias, vírus, protozoários, riquétsias ou fungos) pode causar linfadenite. Normalmente, a infecção dissemina-se para um linfonodo a partir de uma infecção da pele, do ouvido, do nariz ou do olho.

Sintomas e Diagnóstico

Os linfonodos infectados aumentam de tamanho e, em geral, tornam-se sensíveis e dolorosos. Algumas vezes, a pele sobre os linfonodos infectados torna-se vermelha e quente. Geralmente, a causa da linfadenite é uma infecção próxima e evidente. Quando a causa não pode ser facilmente detectada, pode ser necessária a realização de uma biópsia (coleta de uma amostra para exame microscópico).

Tratamento e Prognóstico

O tratamento depende do microrganismo responsável pela infecção. Para uma infecção bacteriana, é prescrito um antibiótico intravenoso ou oral. As compressas quentes podem ajudar a aliviar a dor dos linfonodos inflamados. Comumente, assim que a infecção é tratada, os linfonodos diminuem lentamente e a dor desaparece. Algumas vezes, os linfonodos aumentados permanecem firmes, mas não são mais sensíveis.

Linfangite Aguda

A linfangite aguda é a inflamação de um ou mais vasos linfáticos e, normalmente, é causada por uma infecção estreptocócica. Os vasos linfáticos são pequenos canais que transportam a linfa dos tecidos aos linfonodos e através do organismo. Os estreptococos comumente penetram nesses vasos a partir de uma escoriação, de uma ferida ou de uma infecção (geralmente, uma celulite) em um membro superior ou inferior. Surgem estrias vermelhas, irregulares, quentes e sensíveis sob a pele do membro afetado. Geralmente, as estrias estendem- se da área infectada em direção a um grupo de linfonodos (p.ex., inguinais ou axilares). Os linfonodos aumentam de tamanho e tornam- se sensíveis à palpação. O indivíduo comumente apresenta febre, calafrios, aumento da freqüência cardíaca e cefaléia. Algumas vezes, esses sintomas ocorrem antes das alterações cutâneas. A disseminação da infecção do sistema linfático para a corrente sangüínea pode causar uma infecção generalizada, freqüentemente com uma velocidade surpreendente. Pode ocorrer a formação de úlceras na pele sobre o vaso linfático infectado. Um exame de sangue pode revelar um aumento do número de leucócitos para combater a infecção. Os microrganismos causadores da infecção geralmente não podem ser identificados ou cultivados em laboratório, exceto se tiver ocorrido uma disseminação através da corrente sanguínea ou se for possível coletá-los do pus ou de uma ferida aberta. A maioria dos indivíduos é curada rapidamente com o uso de antibióticos que matam os estafilococos e os estreptococos (p.ex., dicloxacilina, nafcilina ou oxacilina).

Abcessos Cutâneos

Os abcessos cutâneos (abcessos da pele) são coleções purulentas causadas por uma infecção bacteriana. Normalmente, ocorre a formação de abcessos quando uma lesão cutânea menor permite que bactérias normalmente presentes na pele penetrem e causem uma infecção. Um abcesso cutâneo é uma área edemaciada, dolorosa e sensível, a qual, à palpação, parece estar cheia de líquido espesso. As bactérias podem disseminar-se a partir dos abcessos e infectar o tecido circunvizinho, causando uma celulite. As bactérias também podem infectar os vasos linfáticos vizinhos e os linfonodos nos quais eles drenam, causando aumento de volume dos mesmos. O indivíduo pode apresentar febre.

Tratamento

O médico pode tratar um abcesso através de sua incisão e da drenagem do pus. Para realizar esse procedimento, ele utiliza um anestésico local (p.ex., lidocaína). Após drenar o abcesso, o médico realiza uma revisão da cavidade para se assegurar de que todas as bolsas de pus foram drenadas. Qualquer secreção purulenta remanescente é eliminada com a lavagem da cavidade com soro fisiológico. Algumas vezes, o abcesso drenado é recoberto com um curativo de gaze, o qual é removido após 24 a 48 horas. A aplicação de calor suave e a elevação da área afetada pode acelerar o processo de cicatrização. Quando o abcesso é totalmente drenado, a administração de antibióticos comumente não é necessária. Contudo, eles são necessários quando houver disseminação da infecção ou quando o abcesso estiver localizado na porção média ou superior da face, pois o risco de disseminação da infecção ao cérebro é alto. Podem ser utilizados antibióticos que matam os estafilococos e os estreptococos (p.ex., nafcilina, dicloxacilina e oxacilina).