ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Doenças Sexualmente Transmissíveis


As doenças sexualmente transmissíveis (DST ou doenças venéreas) são infecções que são freqüentemente, se não sempre, transmitidas de pessoa a pessoa através do contato sexual. Como a atividade sexual provê uma oportunidade fácil para os microrganismos encontrarem novos hospedeiros, uma grande variedade de microrganismos infecciosos pode ser disseminada através do contato sexual. Eles variam desde vírus microscópicos (p.ex., o vírus da imunodeficiência humana) até insetos macroscópicos (p.ex., o piolho pubiano ou chato).

A transmissão de algumas doenças sexualmente transmissíveis não depende de penetração genital. Embora essas doenças normalmente sejam decorrentes da prática do sexo vaginal, oral ou anal com um parceiro infectado, elas algumas vezes podem ser transmitidas através do beijo ou do contato corpóreo íntimo. Os agentes de determinadas doenças sexualmente transmissíveis podem ser transmitidos através da água, dos alimentos, de transfusões de sangue, de instrumentos médicos contaminados ou de agulhas utilizadas por usuários de drogas injetáveis.

Incidência

As doenças sexualmente transmissíveis encontram- se entre as infecções mais comuns do mundo. Nos países ocidentais, o número de indivíduos com essas doenças aumentou continuamente a partir da década de 1950 até a década de 1970, mas acabou se estabilizando na década de 1980. Contudo, no fim da década de 1990, o número de indivíduos afetados por doenças sexualmente transmissíveis começou novamente a aumentar em muitos países, inclusive nos Estados Unidos, sobretudo pela sífilis e pela blenorragia (gonorréia). Anualmente, mais de 250 milhões de indivíduos em todo o mundo (quase 3 milhões nos Estados Unidos) são infectados pela gonorréia. Em relação à sífilis, os números são de 50 milhões em todo o mundo e de 400 mil nos Estados Unidos.

Outras doenças sexualmente transmissíveis, como a tricomoníase e o herpes genital, são provavelmente mais comuns, mas, como elas não são de notificação obrigatória, os números disponíveis são menos confiáveis. Atualmente, os tratamentos podem curar rapidamente a maioria das doenças sexualmente transmissíveis, impedindo que elas se disseminem. Entretanto, um número de novas variedades ou de variedades antigas resistentes aos medicamentos disseminou-se rapidamente, em parte devido ao transporte aéreo. Esta mobilidade foi parcialmente responsável pela rápida disseminação do vírus da imunodeficiência humana (HIV), o qual é o causador da AIDS.

O controle das doenças sexualmente transmissíveis depende da promoção de práticas de sexo seguro e da oferta de condições médicas de boa qualidade para seu diagnóstico e tratamento. É fundamental a educação da população sobre como evitar a disseminação deste tipo de doença, especialmente pelo incentivo ao uso da camisinha. Um outro aspecto do controle de algumas doenças é o rastreamento dos contatos. Os profissionais da saúde tentam rastrear e tratar todos os contatos sexuais de um indivíduo infectado. Os indivíduos tratados são reexaminados para se assegurar que eles foram curados.

Classificação

Tradicionalmente, cinco doenças foram classificadas como sexualmente transmissíveis: a sífilis, a blenorragia (gonorréia), o cancróide, o linfogranuloma venéreo e o granuloma inguinal. No entanto, muitas outras doenças são transmitidas sexualmente, incluindo o herpes genital, a hepatite, o molusco contagioso, os piolhos pubianos, a escabiose e a infecção pelo HIV, a qual causa a AIDS. Outras infecções, incluindo a salmonelose e a amebíase, são algumas vezes transmitidas durante a atividade sexual, mas não são normalmente consideradas como transmitidas sexualmente.

Algumas vezes, as doenças sexualmente transmissíveis são agrupadas de acordo com os sinais e sintomas que elas produzem. A sífilis, o herpes genital e o cancróide causam úlceras na pele ou nas membranas que revestem a vagina ou a boca. Tanto a blenorragia (gonorréia) quanto as infecções por Chlamydia causam uretrite (inflamação e secreção uretral) nos homens; cervicite (inflamação e secreção do colo uterino) em mulheres; infecções pélvicas em mulheres; e infecções oculares em neonatos.


Doenças Que Podem Ser Transmitidas Sexualmente

Primeiras doenças sexualmente transmissíveis reconhecidas
• Cancróide
• Blenorragia (gonorréia)
• Granuloma inguinal
• Linfogranuloma venéreo
• Sífilis

Doenças sexualmente transmissíveis mais recentemente reconhecidas
• Cervicite por Chlamydia
• Pediculose (chato, piolho pubiano)
• Candidíase genital (geralmente não transmitida sexualmente)
• Herpes genital
• Verrugas genitais
• Infecção pelo HIV e AIDS
• Molusco contagioso
• Uretrite não gonocócica (freqüentemente uma infecção por Chlamydia ou por micoplasma)
• Escabiose
• Tricomoníase

Doenças eventualmente transmitidas através do contato sexual
• Amebíase
• Campilobacteriose
• Infecção por citomegalovírus
• Giardíase
• Hepatite A e B
• Salmonelose
• Shigelose

Sífilis

A sífilis é uma doença sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum. A bactéria Treponema pallidum penetra no corpo através das membranas mucosas (p.ex., da vagina ou da boca) ou através da pele. Em algumas horas, a bactéria atinge os linfonodos vizinhos e, a seguir, ele dissemina-se por todo o organismo através do sangue. A sífilis também pode infectar o feto durante a gravidez, causando defeitos congênitos e outros problemas.

O número de indivíduos com sífilis atingiu um máximo durante a Segunda Guerra Mundial e, em seguida, caiu drasticamente até a década de 1960, quando as taxas voltaram a subir. Durante este período, um grande número de casos de sífilis ocorreu em homossexuais. O número de casos permaneceu relativamente estável até aproximadamente a metade da década de 1980, quando, devido à epidemia da AIDS e da conseqüente prática do sexo seguro, a incidência de sífilis entre os homossexuais diminuiu.

Por conseqüência, o número total de indivíduos com sífilis diminuiu. No entanto, esta redução foi acompanhada por uma rápida elevação de casos novos de sífilis entre os usuários de crack (um derivado da cocaína), basicamente em mulheres e seus filhos recém- nascidos. Recentemente, os programas direcionados ao controle da sífilis reduziram novamente a sua incidência na maioria das regiões dos Estados Unidos. Um indivíduo que foi curado da sífilis não se torna imune e pode ser reinfectado.

Sintomas

Os sintomas da sífilis comumente iniciam 1 a 13 semanas após a infecção; a média é de 3 a 4 semanas. A infecção causada peloTreponema pallidum evolui através de vários estágios: primário, secundário, latente e terciário. A infecção pode persistir por muitos anos e é incomum que ela cause lesão cardíaca, lesão cerebral ou morte. Estágio Primário No estágio primário, uma lesão ou úlcera (cancro) indolor surge no local da infecção, freqüentemente no pênis, na vulva ou na vagina.

O cancro também pode ocorrer no ânus, no reto, nos lábios, na língua, na garganta, no colo uterino, nos dedos das mãos ou, raramente, em outras partes do corpo. Geralmente, o indivíduo apresenta apenas uma úlcera, mas, ocasionalmente, pode apresentar várias. O cancro começa como uma pequena área elevada e vermelha, a qual rapidamente transforma- se em uma úlcera (ferida aberta), mas permanece indolor.

A úlcera não sangra, mas, quando friccionada, extravasa um líquido transparente altamente infectante. Os linfonodos próximos geralmente aumentam de volume, mas eles também são indolores. Como a úlcera causa tão poucos sintomas, ela é freqüentemente ignorada. Aproximadamente 50% das mulheres infectadas e um terço dos homens infectados não tomam conhecimento da úlcera. Normalmente, a úlcera cicatriza em 3 a 12 semanas e o indivíduo parece totalmente sadio.

Estágio Secundário

O estágio secundário comumente inicia com uma erupção cutânea, a qual geralmente aparece 6 a 12 semanas após a infecção. Neste momento, aproximadamente 25% dos indivíduos infectados ainda apresentam uma úlcera em fase de cicatrização. A erupção cutânea pode ser de curta duração ou pode durar meses. Mesmo quando o indivíduo não é tratado, a erupção cutânea geralmente desaparece. No entanto, podem surgir novas erupções semanas ou meses mais tarde.

No estágio secundário, as úlceras bucais são comuns, afetando mais de 80% dos indivíduos. Aproximadamente 50% dos indivíduos apresenta linfonodos aumentados de volume por todo o corpo e cerca de 10% deles apresentam inflamação ocular. Normalmente, a inflamação ocular não produz sintomas, embora o nervo óptico ocasionalmente edemacie, o que pode causar embaçamento da visão. Aproximadamente 10% dos indivíduos apresentam inflamações de ossos e de articulações extremamente dolorosas.

A inflamação renal pode promover a perda de proteínas na urina. Pode ocorrer icterícia em decorrência da inflamação do fígado. Um pequeno número de pacientes apresenta meningite sifilítica aguda (inflamação do revestimento do cérebro), a qual causa cefaléia, rigidez do pescoço e, algumas vezes, surdez. Condilomas planos (áreas elevadas) podem formar- se onde a pele une-se à membrana mucosa (p.ex., bordas internas dos lábios e da vulva) e nas áreas úmidas da pele. Essas áreas extremamente infectantes podem achatar e podem apresentar um cor rosa escuro ou cinza. Freqüentemente, ocorre uma queda de cabelo em mechas, deixando o couro cabeludo com um aspecto de “roído de traças”. Outros sintomas incluem uma sensação de mal-estar generalizado, perda de apetite, náusea, fadiga, febre e anemia.

Estágio Latente

Após o indivíduo recuperar-se do estágio secundário, a doença entra em um estágio latente, no qual ele não apresenta sintomas. Este estágio pode durar anos ou décadas ou o resto da vida. Durante a parte inicial do estágio latente, as úlceras infectantes algumas vezes reincidem.

Estágio Terciário

Durante o estágio terciário da sífilis, o indivíduo não é infectante. Os sintomas podem ser leves ou devastadores. Podem ocorrer três tipos principais de sintomas: a sífilis terciária benigna, a sífilis cardiovascular e a neurossífilis. A sífilis terciária benigna é muito rara atualmente. Nódulos denominados gomas surgem em vários órgãos, crescem lentamente, curam gradualmente e deixam cicatrizes. Esses nódulos podem ocorrer em praticamente qualquer parte do corpo, mas são mais comuns na perna, imediatamente abaixo do joelho, na parte superior do tronco, na face e no couro cabeludo.

Os ossos podem ser afetados, acarretando uma dor profunda e penetrante, que é geralmente pior à noite. A sífilis cardiovascular costuma ocorrer 10 a 25 anos após a infecção inicial. O indivíduo pode apresentar um aneurisma (enfraquecimento e dilatação) da aorta (a principal artéria do corpo, que se origina no coração) ou uma insuficiência da válvula aórtica. Essas alterações podem provocar dor torácica, insuficiência cardíaca ou morte. A neurossífilis (sífilis do sistema nervoso) afeta aproximadamente 5% de todos os indivíduos com sífilis não tratada. Os três tipos principais são a neurossífilis meningovascular, a neurossífilis parética e a neurossífilis tabética.

Diagnóstico

O médico suspeita de sífilis baseando-se nos sintomas. O diagnóstico definitivo é baseado nos resultados dos exames laboratoriais e no exame físico. Dois tipos de exames de sangue são utilizados. O primeiro é um exame de detecção, como o VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) ou o exame da reagina rápida do plasma (RPR). Os exames de detecção são de fácil realização e baratos. Algumas vezes, eles produzem resultados falso-positivos, mas têm a vantagem de negativar quando são repetidos após um tratamento adequado. Pode ser necessário repetir um exame de detecção, pois os resultados podem ser negativos nas primeiras semanas da sífilis primária.

O segundo tipo de exame de sangue, o qual é mais acurado, detecta a presença de anticorpos contra a bactéria causadora da sífilis. No entanto, quando o resultado é positivo, os resultados dos exames seguintes sempre serão positivos, mesmo após um tratamento adequado. Um desses exames, o teste de absorção do anticorpo treponêmico fluorescente (FTA-ABS), é utilizado para confirmar que um exame de detecção positivo é decorrente da sífilis. No estágio primário ou secundário, a sífilis pode ser diagnosticada através da coleta do líquido de uma lesão da pele ou da boca e da identificação da bactéria ao microscópio. Também pode ser utilizada a determinação da presença de anticorpos em uma amostra de sangue.

Para a neurossífilis, é necessária a realização de uma punção lombar com coleta de líquido cefalorraquidiano para a pesquisa de anticorpos. No estágio latente, a sífilis é diagnosticada apenas através da pesquisa de anticorpos no sangue e no líquido cefalorraquidiano. No estágio terciário, a sífilis é diagnosticada através dos sintomas e da pesquisa de anticorpos.


Sífilis do Sistema Nervoso

Aproximadamente 5% de todos os indivíduos com sífilis não-tratada apresentam a neurossífilis ou sífilis do sistema nervoso, mas os casos são raros nos países desenvolvidos. Os sintomas variam para cada um dos três principais tipos de neurossífilis. A neurossífilis meningovascular é uma forma crônica de meningite. Os sintomas dependem do órgão principal afetado ser o cérebro e/ou a medula espinhal.

Quando o cérebro é o principal afetado, os sintomas incluem a cefaléia, tontura, má concentração, cansaço e falta de energia, dificuldade para dormir, rigidez do pescoço, visão borrada, confusão mental, convulsões, edema do nervo óptico (papiledema), alterações das pupilas, dificuldade da fala (afasia) e paralisia de um membro ou de uma metade do corpo.

Quando tanto o cérebro quanto a medula espinhal são afetados, os sintomas incluem uma maior dificuldade para mastigar, deglutir e falar; fraqueza e atrofia dos músculos do ombro e do braço; uma paralisia lentamente progressiva acompanhada por espasmos musculares (paralisia espástica); incapacidade de esvaziar a bexiga; e inflamação de um segmento da medula espinhal, resultando na perda de controle da bexiga e numa paralisia súbita com os músculos permanecendo relaxados (paralisia flácida).

A neurossífilis parética (também denominada paralisia geral do louco) começa gradualmente sob a forma de alterações comportamentais em indivíduos com 40 a 50 anos de idade. Os sintomas podem incluir convulsões, dificuldade de fala, paralisia temporária de uma metade do corpo, irritabilidade, dificuldade de concentração, perda da memória, comprometimento do julgamento, cefaléia, dificuldade para dormir, fadiga, letargia, deterioração dos hábitos de higiene e cuidados pessoais, oscilações do humor, perda da força e da energia, depressão, delírio de grandeza e falta de perspicácia.

A neurossífilis tabética ( tabes dorsalis) é uma doença progressiva da medula espinhal que se inicia gradualmente. Usualmente, o primeiro sintoma é uma dor lancinante e intensa nos membros inferiores, a qual aparece e desaparece de forma irregular. O indivíduo não tem estabilidade ao caminhar, sobretudo no escuro, e pode andar com os pés bastante afastados, às vezes pisando com força. Como ele não percebe quando a bexiga está cheia, ocorre um acúmulo de urina, o qual acarreta uma perda do controle da bexiga e repetidas infecções do trato urinário. É comum a ocorrência de impotência.

O indivíduo pode apresentar tremores na boca, na língua, nas mãos e em todo o corpo. Em geral, a escrita é tremida e ilegível. A maioria dos indivíduos com neurossífilis tabética é magra e apresenta uma expressão de tristeza. Eles apresentam espasmos dolorosos em vários órgãos, especialmente no estômago. Esses espasmos gástricos podem causar vômito. Espasmos dolorosos semelhantes podem afetar o reto, a bexiga e a laringe.

Devido à perda de sensibilidade nos pés, pode ocorrer a formação de úlceras nas plantas. Essas lesões podem penetrar profundamente, chegando mesmo algumas vezes a atingir o osso. Como o indivíduo perde a sensibilidade à dor, as articulações podem ser lesadas.

Tratamento e Prognóstico

Como os indivíduos com sífilis primária ou secundária são infectantes, eles devem evitar o contato sexual até que eles e seus parceiros tenham completado o tratamento. No caso da sífilis primária, todos os parceiros dos últimos três meses estão em perigo. No caso da sífilis secundária, todos os parceiros do ano anterior estão em perigo. Esses parceiros devem ser submetidos a triagem com um exame de pesquisa de anticorpos realizado em uma amostra de sangue e, quando o resultado for positivo, eles devem ser tratados.

A penicilina em geral é o melhor antibiótico para todos os estágios da sífilis, sendo geralmente administrada sob a forma injetável. Para a sífilis primária, a penicilina é injetada somente uma vez em cada nádega. Para a secundária, geralmente são aplicadas duas injeções adicionais em intervalos de uma semana. A penicilina também é administrada para tratar a sífilis em estágio latente e todas as formas de sífilis terciária, embora possa ser necessário um tratamento mais freqüente ou prolongado e com a administração intravenosa da medicação. Os indivíduos alérgicos à penicilina podem ser tratados com a doxiciclina e a tetraciclina oral, durante 2 a 4 semanas.

Mais da metade dos indivíduos com sífilis em estágios iniciais, especialmente aqueles com sífilis secundária, apresenta uma reação (denominada reação de Jarisch-Herxheimer) 2 a 12 horas após o tratamento inicial. Acredita-se que esta reação seja decorrente da morte súbita de milhões de bactérias. Os sintomas da reação incluem uma sensação de mal-estar generalizado, febre, cefaléia, sudorese, calafrios com tremores e piora temporária das úlceras sifilíticas. Em raros casos, indivíduos com neurossífilis apresentam convulsões ou paralisia. Os indivíduos com sífilis em estágio latente ou terciário são examinados regularmente após serem tratados.

Normalmente, os resultados dos exames de pesquisa de anticorpos permanecem positivos durante muitos anos e, em alguns casos, durante o resto da vida. Esses resultados não indicam uma nova infecção. Outros exames de sangue são utilizados para verificar a ocorrência de novas infecções. Após o tratamento, o prognóstico da sífilis primária, da secundária e do estágio latente é excelente. O prognóstico é ruim para a sífilis terciária com comprometimento cerebral ou cardíaco, pois a lesão não pode ser revertida.

Blenorragia (gonorréia)

A blenorragia (gonorréia) é uma doença sexualmente transmissível, causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, que infecta o revestimento interno da uretra, do colo uterino, do reto e da garganta ou a esclera (branco dos olhos). A blenorragia pode disseminar-se através da corrente sanguínea para outras partes do corpo, especialmente para a pele e para as articulações. Nas mulheres, ela pode ascender através do trato genital, infectando as membranas internas da pelve e causando dor pélvica e problemas relacionados à reprodução.

Sintomas

Nos homens, os primeiros sintomas normalmente manifestam-se 2 a 7 dias após a infecção. Os sintomas começam com um discreto desconforto uretral, o qual é seguido, algumas horas mais tarde, por uma dor leve a intensa durante a micção e por uma secreção purulenta proveniente do pênis. Os homens apresentam uma necessidade freqüente e urgente de urinar e esta urgência piora à medida que a doença dissemina-se até a parte superior da uretra. O orifício peniano pode tornar-se hiperemiado e edemaciado.

Nas mulheres, os primeiros sintomas podem manifestar-se 7 a 21 dias após a infecção. Freqüentemente, as mulheres infectadas não apresentam sintomas (são assintomáticas) durante semanas ou meses e a doença é descoberta apenas quando o parceiro é diagnosticado e ela é examinada como contato. Quando os sintomas ocorrem, eles geralmente são leves. No entanto, algumas mulheres apresentam sintomas graves, como a necessidade freqüente de urinar, a dor à micção, o corrimento vaginal e a febre. O colo uterino, o útero, as tubas uterinas, os ovários, a uretra e o reto podem ser infectados e causar uma dor pélvica intensa e dor durante a relação sexual.

A secreção purulenta que parece ser proveniente da vagina pode ser oriunda do colo uterino, da uretra ou de glândulas localizadas próximas à abertura vaginal. Os homossexuais e as mulheres que praticam o sexo anal podem apresentar blenorragia do reto. A doença pode causar desconforto em torno do ânus e secreção proveniente do reto. A área em torno do ânus pode tornar-se hiperemiada e em carne viva e as fezes tornam-se recobertas de muco e pus.

Quando o médico examina o reto com um anoscópio (tubo de visualização), ele pode observar a presença de muco e pus sobre a parede do reto. O sexo oral com um parceiro infectado pode acarretar blenorragia da garganta (faringite gonocócica). Normalmente, a infecção é assintomática, mas, algumas vezes, ela causa dor de garganta e desconforto durante a deglutição. Quando líquidos infectados entram em contato com os olhos, pode ocorrer uma infecção ocular externa (conjuntivite gonorréica).

Os neonatos podem ser infectados pela bactéria da blenorragia pela mãe durante o nascimento, o que causa edema de ambas as pálpebras e secreção ocular purulenta. Nos adultos, os mesmos sintomas podem ocorrer, mas, freqüentemente, apenas um olho é afetado. Quando a infecção não é tratada, pode causar cegueira. A infecção vaginal em lactentes e meninas é geralmente conseqüência de abuso sexual por adultos, mas, raramente, é decorrente da manipulação de artigos domésticos infectados.

Os sintomas podem incluir a irritação, o rubor e o edema da vulva, com uma secreção vaginal purulenta. A menina pode apresentar uma lesão na vagina ou sentir dor durante a micção. O reto também pode estar inflamado. A roupa de baixo pode estar manchada pela secreção.


Complicações da Blenorragia

Numa rara complicação da blenorragia, a infecção dissemina-se através da corrente sangüínea até uma ou mais articulações, as quais tornam-se edemaciadas, sensíveis e extremamente dolorosas, limitando os movimentos. A infecção da corrente sangüínea também pode causar o surgimento de manchas cutâneas vermelhas e cheias de pus, febre, sensação de mal estar generalizado e dor migratória em muitas articulações (síndrome da artritedermatite). O interior do coração pode ser infectado (endocardite). A infecção do revestimento do fígado (perihepatite) causa uma dor semelhante à de uma doença da vesícula biliar. Essas infecções são tratáveis e raramente são letais, mas a recuperação da artrite ou da endocardite pode ser lenta.

Diagnóstico

O médico pode estabelecer o diagnóstico rapidamente pela identificação da bactéria (gonococo) ao microscópio. Em mais de 90% dos homens infectados, o diagnóstico pode ser estabelecido pelo exame de uma amostra da secreção uretral. No entanto, ele só pode ser feito em aproximadamente 60% das mulheres usando através de uma amostra da secreção do colo uterino.

Quando não são observadas bactérias ao microscópio, a secreção é enviada ao laboratório para cultura. Quando o médico suspeita de uma infecção da garganta ou do reto, ele envia amostras dessas áreas ao laboratório para a realização de culturas. Embora não exista um exame de sangue para o diagnóstico da blenorragia, o médico pode coletar uma amostra para determinar se o indivíduo também apresenta sífilis ou infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Alguns indivíduos apresentam mais de uma doença sexualmente transmissível.

Tratamento

Em geral, os médicos tratam a blenorragia com uma única injeção intramuscular de ceftriaxona ou com um esquema de antibióticos orais de 1 semana (normalmente a doxiciclina). Quando há disseminação da blenorragia através da corrente sangüínea, o indivíduo geralmente é internado para ser tratado e, freqüentemente, são administrados antibióticos intravenosos. Como a infecção por Chlamydia é comum tanto em homens quanto em mulheres com blenorragia, mas é de difícil diagnóstico, os pacientes recebem um tratamento com doxiciclina ou tetraciclina durante uma semana ou uma dose única de azitromicina, um outro antibiótico de ação prolongada.

Quando os sintomas recorrem ou persistem no final do tratamento, o médico pode coletar amostras para cultura para certificar-se de que o paciente está curado. Nos homens, os sintomas da uretrite podem recorrer, uma condição denominada uretrite pós-gonocócica. A uretrite pós-gonocócica, mais comumente causada pela Chlamydia e outros microrganismos que não respondem ao tratamento com ceftriaxona, ocorre sobretudo em indivíduos que não seguem o esquema terapêutico prescrito.

Cancróide

O cancróide é uma doença sexualmente transmissível causada pela bactéria Hemophilus ducreyi que produz úlceras genitais persistentes e dolorosas. Uma doença que raramente ocorria na América do Norte, o número de casos de cancróide aumentou recentemente. Um indivíduo que apresenta uma úlcera cancróide tem uma maior chance de ser infectado pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) quando exposto a ele.

Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas iniciam 3 a 7 dias após a infecção. Pequenas vesículas dolorosas localizadas nos genitais e em torno do ânus rompem rapidamente e formam úlceras rasas. Estas podem crescer e fundir-se. Os linfonodos da região inguinal tornam-se dolorosos, aumentam de volume e fundem-se, formando um abcesso (coleção purulenta). A pele sobre o abcesso pode tornar-se hiperemiada e brilhante e pode romper, de modo que o pus é extravasado sobre a pele. O diagnóstico do cancróide é baseado no seu aspecto e nos resultados dos exames de outras causas de úlceras. A coleta de uma amostra do pus de uma úlcera e o crescimento das bactérias em laboratório, o qual é tecnicamente difícil, podem ajudar o médico a estabelecer o diagnóstico.

Tratamento

Um antibiótico (ceftriaxona ou eritromicina) é injetado a cada 6 horas durante pelo menos 7 dias. O pus de um linfonodo aumentado de volume pode ser removido com o auxílio de uma seringa. O indivíduo com cancróide é controlado pelo médico pelo menos duante 3 meses, para se assegurar de que a infecção foi curada. Quando possível, todos os parceiros sexuais são rastreados, para que possam ser examinados e tratados se necessário.

Linfogranuloma Venéreo

O linfogranuloma venéreo é uma doença sexualmente transmissível causada pela Chlamydia trachomatis, uma bactéria que cresce somente no interior das células. O linfogranuloma venéreo é causado por outros tipos de Chlamydia trachomatis que não aqueles que causam a uretrite (inflamação da uretra) e a cervicite (inflamação do colo uterino). O linfogranuloma venéreo ocorre principalmente em áreas tropicais e subtropicais e é raro nos Estados Unidos.

Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas iniciam 3 a 12 dias ou mais após a infecção. Ocorre a formação de uma pequena vesícula, indolor e cheia de líquido, normalmente localizada no pênis ou na vagina. Em geral, a vesícula transforma-se em uma úlcera, a qual cicatriza rapidamente, muitas vezes sem ser percebida. Em seguida, os linfonodos da região inguinal, em um ou em ambos os lados, podem aumentar de volume e tornar-se dolorosos.

A pele que reveste a área infectada torna-se quente e vermelha e, quando não tratada, pode ocorrer a formação de fístulas na pele sobre os linfonodos. Essas fístulas drenam pus ou um líquido sanguinolento e, normalmente, se fecham, mas podem deixar uma cicatriz e ocorrer novamente. Outros sintomas incluem febre, sensação de mal-estar generalizado, cefaléia, perda de apetite, vômito, dor nas costas e uma infecção do reto que produz uma secreção purulenta manchada de sangue.

Devido aos episódios prolongados ou repetidos, os vasos linfáticos são obstruídos, causando edema tecidual. A infecção retal pode acarretar a formação de cicatrizes, as quais podem produzir uma estenose (estreitamento) do reto. O médico suspeita do linfogranuloma venéreo baseando-se nos sintomas característicos. O diagnóstico pode ser confirmado por um exame de sangue que identifica a presença de anticorpos contra a Chlamydia trachomatis.

Tratamento

Quando administrado precocemente, o tratamento oral com doxiciclina, eritromicina ou tetraciclina por 3 semanas produz uma cura rápida. Após o tratamento, o médico deve verificar se a infecção foi curada. São realizadas tentativas para identificar todos os contatos sexuais do indivíduo infectado, para que eles também possam ser examinados e tratados.

Granuloma Inguinal

O granuloma inguinal é uma doença sexualmente transmissível causada pela bactéria Calymmatobacterium granulomatis que acarreta uma inflamação crônica dos órgãos genitais. O granuloma inguinal é raro nas áreas de clima temperado, como o norte dos Estados Unidos, mas é comum em algumas áreas tropicais e subtropicais.

Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas começam aproximadamente 1 a 12 semanas após a infecção. O sintoma inicial é um nódulo vermelho e indolor que cresce lentamente até formar uma proeminência elevada e redonda. Os locais da infecção incluem o pênis, a bolsa escrotal, a região inguinal e as coxas nos homens e a vulva, a vagina e as áreas cutâneas circunjacentes nas mulheres. Tanto nos homens quanto nas mulheres, o ânus, as nádegas e a face podem ser infectados. Finalmente, os nódulos podem cobrir os órgãos genitais.

A cura é lenta e ocorre a formação de tecido cicatricial. Comumente, os nódulos são infectados por outros microorganismos. Quando o granuloma inguinal não é tratado, a infecção pode disseminar-se por todo o corpo, atingindo os ossos, as articulações ou o fígado e causando uma intensa perda de peso, febre e anemia. O médico diagnostica o granuloma inguinal baseando- se na presença de nódulos vermelhos e brilhantes. O exame microscópico de amostras da borda dos nódulos pode confirmar o diagnóstico.

Tratamento

Vários antibióticos podem ser utilizados, incluindo a estreptomicina, a tetraciclina, a eritromicina, o cloranfenicol e o sulfametoxazoltrimetoprim. Durante 6 meses após o tratamento, o paciente deve ser controlado por um médico para se assegurar que a infecção foi curada.

Uretrite Não-Gonocócica e Cervicite por Chlamydia

A uretrite não-gonocócica e cervicite por Chlamydia são doenças sexualmente transmissíveis causadas geralmente pela Chlamydia trachomatis ou, nos homens, pelo Ureaplasma urealyticum, e, algumas vezes, pelo Trichomonas vaginalis ou pelo vírus do herpes simples. Essas infecções são denominadas “não-gonocócicas” para indicar que não são causadas pela Neisseria gonorrhoeae, a bactéria causadora da blenorragia (gonorréia). A Chlamydia trachomatis é responsável por aproximadamente 50% das infecções uretrais em homens não causadas pela blenorragia e pela maioria das infecções piogênicas do colo uterino não causadas pela blenorragia.

A maioria dos casos restantes de uretrite é causada pelo Ureaplasma urealyticum, uma bactéria similar aos micoplasmas. As clamídias são pequenas bactérias que somente conseguem se reproduzir no interior das células. Os ureaplasmas são bactérias muito pequenas que não possuem uma parede celular rígida, mas conseguem se reproduzir fora das células.

Sintomas e Diagnóstico

Normalmente, entre 4 e 28 dias após uma relação sexual com uma pessoa infectada, um homem infectado sente uma discreta sensação de queimação na uretra ao urinar. É comum que, ele apresente uma secreção uretral, a qual pode ser clara ou turva, mas geralmente é menos espessa do que a secreção da blenorragia. Pela manhã, o orifício peniano freqüentemente encontra- se hiperemiado e colado pela secreção ressecada. Ocasionalmente, a doença começa de forma mais dramática.

O homem apresenta dor à micção, necessita urinar com maior freqüência e apresenta uma secreção uretral purulenta. Embora a maioria das mulheres infectadas pelar Chlamydia seja assintomática, algumas apresentam uma urgência freqüente para urinar, dor à micção, dor na região abdominal inferior, dor durante a relação sexual e secreção vaginal mucopurulenta amarela. O sexo anal ou oral com um parceiro infectado pode acarretar uma infecção do reto ou da garganta. Essas infecções podem causar dor e uma secreção mucopurulenta amarela.

Na maioria dos casos, uma infecção causada pela Chlamydia trachomatis pode ser diagnosticada através do exame laboratorial da secreção uretral ou cervical. As infecções causadas pelo Ureaplasma urealyticum não são diagnosticadas especificamente nas instituições clínicas comuns. Como a cultura desse microrganismo é difícil e as outras técnicas diagnósticas são caras, o médico, em geral, supõe um diagnóstico de infecção por Chlamydia ou por Ureaplasma baseando-se nos sintomas característicos concomitantemente com as evidências contra a presença da blenorragia.

Complicações e Prognóstico

Quando uma infecção causada pela Chlamydia trachomatis não é tratada, os sintomas desaparecem em 4 semanas em aproximadamente 60 a 70% dos indivíduos. No entanto,uma infecção por Chlamydia pode causar uma série de complicações. Não está claro se o Ureaplasma tem algum papel nessas complicações. Quando não tratada, uma infecção por Chlamydia em mulheres freqüentemente ascende até as tubas uterinas, onde a inflamação pode causar dor e a cicatrização pode causar infertilidade e gravidez ectópica. Estas últimas complicações podem ocorrer sem sintomas prévios e acarretar sofrimento e custos médicos consideráveis. Nos homens, a Chlamydia pode causar epididimite, a qual produz um edema doloroso da bolsa escrotal, uni ou bilateral.

Tratamento

Geralmente, as infecções por Chlamydia e por Ureaplasma são tratadas com tetraciclina ou doxiciclina por via oral, durante pelo menos 7 dias, ou com uma dose única de azitromicina. As mulheres grávidas não devem tomar tetraciclina. Em aproximadamente 20% dos indivíduos, a infecção recorre após o tratamento. Nestes casos, o tratamento é repetido por um período mais longo. Os indivíduos infectados que têm relações sexuais antes do término do tratamento podem infectar seus parceiros. Assim, quando possível, os parceiros sexuais devem ser tratados simultaneamente.

Tricomoníase

A tricomoníase é uma doença sexualmente transmissível da vagina ou da uretra, causada pelo Trichomonas vaginalis, um microrganismo unicelular com uma cauda semelhante a um chicote. Embora o Trichomonas vaginalis possa infectar o trato genitourinário de homens ou de mulheres, os sintomas são mais comuns nas mulheres. Aproximadamente 20% das mulheres apresentam tricomoníase vaginal durante seus anos férteis. Nos homens, o microrganismo infecta a uretra, a próstata e a bexiga, mas apenas raramente causa sintomas.

Em algumas populações, o Trichomonas pode ser responsável por 5 a 10% de todos os casos de uretrite não-gonocócica. O microorganismo é mais difícil de ser detectado nos homens do que nas mulheres.

Sintomas

Nas mulheres, a doença normalmente iniciase com uma secreção vaginal espumosa amarelo- esverdeada. Em algumas mulheres, a secreção pode ser pequena. A vulva (órgão genital externo da mulher) pode tornar-se inflamada e ferida e a relação sexual pode ser dolorosa. Nos casos graves, a vulva e a pele circunjacente podem inflamar e os lábios vaginais podem edemaciar.

A paciente pode apresentar dor à micção e aumento da freqüência da micção, lembrando os sintomas de uma infecção da bexiga. Geralmente, os homens com tricomoníase são assintomáticos, mas podem infectar seus parceiros sexuais. Alguns homens apresentam uma secreção uretral temporária espumosa ou semelhante ao pus, dor à micção e necessidade de urinar freqüentemente. Esses sintomas geralmente ocorrem no início da manhã. A uretra pode estar levemente irritada e, às vezes, aparecer uma umidade no orifício peniano. Em raros casos, ocorre infecção do epidídimo, causando dor nos testículos. A próstata também pode ser infectada, mas o papel do Trichomonas não está claro. Essas infecções são as únicas complicações conhecidas da tricomoníase nos homens.

Complicações de Infecções por Chlamydia e por Ureaplasma


Complicação Efeito Possível
Nos homens
Infecção do epidídimo Dor no testículo
Estenose uretral Obstrução do fluxo urinário
Em mulheres
Infecção das tubas uterinas Dor, gravidez ectópica e infertilidade
Infecção do revestimento do fígado e da área que circunda o fígado Dor na região abdominal superior
Em homens e mulheres
Conjuntivite (infecção do branco do olho) Dor e secreção ocular
Em neonatos
Conjuntivite Dor e secreção ocular
Pneumonia Febre e tosse

Diagnóstico

Nas mulheres, o diagnóstico geralmente pode ser estabelecido em poucos minutos através do exame microscópico de uma amostra da secreção vaginal. Além disso, são comumente realizados exames para outras outras doenças sexualmente transmissíveis. Nos homens, devem ser obtidas secreções da ponta do pênis pela manhã, antes do indivíduo urinar. As secreções são examinadas ao microscópio e uma amostra é enviada ao laboratório para cultura. Também poderá ser útil a realização de uma cultura de urina, pois este exame apresenta uma maior probabilidade de detectar o Trichomonas não observado ao exame microscópico.

Tratamento

Uma dose única de metronidazol, administrada pela via oral, cura até 95% das mulheres infectadas, contanto que seus parceiros sexuais sejam tratados simultaneamente. Como não se sabe se o tratamento com dose única é eficaz para os homens, eles comumente são tratados durante 7 dias. Quando ingerido com álcool, o metronidazol pode causar náusea e rubor cutâneo. O metronidazol também pode causar redução da contagem leucocitária e, nas mulheres, um aumento da suscetibilidade às infecções fúngicas vaginais (candidíase genital). Talvez seja melhor evitar o uso de metronidazol durante a gestação, pelo menos durante os três primeiros meses. Os indivíduos infectados que mantêm relação sexual antes da infecção ser curada podem infectar seus parceiros.

Candidíase Genital

A candidíase genital é uma infecção fúngica da vagina ou do pênis, comumente denominada “sapinho” , causada pela Candida albicans. O fungo Candida vive normalmente na pele ou nos intestinos. A partir dessas áreas, a Candida pode disseminar-se até os órgãos genitais. Em geral, a Candida não é transmitida sexualmente.

A candidíase é uma causa muito comum de vaginite. A candidíase genital tem-se tornado mais comum por causa do crescente uso de antibióticos, de contraceptivos orais e de outras drogas que alteram o ambiente vaginal e favorecem o crescimento de Candida. A candidíase é mais comum em mulheres grávidas ou que estão menstruando e em diabéticas. Menos freqüentemente, o uso de certas drogas (p.ex., corticosteróides ou quimioterapia contra o câncer) e doenças que suprimem o sistema imunológico (p.ex., AIDS) podem facilitar a infecção.

Sintomas e Diagnóstico

As mulheres com candidíase genital geralmente apresentam prurido ou irritação vaginal e vulvar e podem apresentar secreção vaginal. É freqüente uma irritação muito intensa, mas a secreção é pequena. A vulva pode tornar-se avermelhada e edemaciada. A pele pode ficar em carne viva e apresentar fissuras.

Na maioria dos casos, a parede vaginal encontra-se recoberta por um material caseoso (semelhante ao queijo), mas pode apresentar um aspecto normal. Geralmente, os homens são assintomáticos, mas a glande e o prepúcio (em homens não circuncidados) podem estar feridos e irritados, em especial após uma relação sexual. Às vezes, os homens podem observar uma discreta secreção uretral.

A glande e o prepúcio podem tornar-se hiperemiados, apresentar pequenas vesículas ou feridas com crostas e podem ser recobertos por uma material caseoso. O médico pode estabelecer rapidamente o diagnóstico pela coleta de amostras da vagina ou do pênis e pelo exame microscópico das mesmas. As amostras também podem ser enviadas a laboratório para cultura.

Tratamento

Nas mulheres, a candidíase pode ser tratada através da lavagem vaginal com água e sabão, secando-se a área em seguida com uma toalha limpa e aplicando-se um creme antifúngico que contenha o clotrimazol, o miconazol, o butoconazol ou tioconazol e terconazol. Como alternativa, o cetoconazol, o fluconazol ou o itraconazol podem ser administrados pela via horal. Nos homens, o pênis (e o prepúcio em homens não-circuncidados) devem ser lavados e secos antes da aplicação de um creme antifúngico (contendo, por exemplo, nistatina).

Algumas vezes, as mulheres que fazem uso de contraceptivos orais devem interromper o seu uso por vários meses durante o tratamento para candidíase vaginal, pois essas drogas podem piorar a infecção. As mulheres que apresentam um risco inevitável de candidíase vaginal (p.ex., aquelas com comprometimento do sistema imunológico ou aquelas que vêm utilizando antibióticos durante um longo tempo) podem necessitar de uma droga antifúngica ou de uma outra terapia preventiva.

Herpes Genital

O herpes genital é uma doença sexualmente transmissível da área genital, da pele em torno do reto ou das áreas adjacentes, causada pelo vírus do herpes simples. Existem dois tipos de vírus do herpes simples, o HSV-1 e o HSV-2. Geralmente, o HSV-2 é transmitido sexualmente, enquanto que o HSV-1 costuma infectar a boca. Os dois tipos de vírus do herpes simples podem infectar os órgãos genitais, a pele em torno do reto ou as mãos (especialmente os leitos ungueais) e podem ser transmitidos para outras partes do corpo (p.ex., para a superfície dos olhos). Em geral, as lesões do herpes não são infectadas por bactérias, mas alguns indivíduos com herpes também possuem outros microrganismos transmitidos sexualmente (p.ex., sífilis ou cancróide) nas mesmas úlceras.

Sintomas

Os sintomas do episódio inicial (primária) iniciam 4 a 7 dias após a infecção. Geralmente, os sintomas iniciais são o prurido, o formigamento e desconforto. A seguir, surge uma pequena mancha avermelhada, seguida por um grupo de pequenas vesículas dolorosas. As bolhas rompem e se fundem, formando úlceras circulares. As úlceras, as quais comumente são dolorosas, formam crostas após alguns dias.

A micção e a marcha podem ser difíceis. As úlceras curam em aproximadamente 10 dias, mas podem deixar cicatrizes. Em geral, os linfonodos da região inguinal apresentam um pequeno aumento de volume e são dolorosos. O primeiro episódio é mais doloroso, prolongado e disseminado que os seguintes e o indivíduo pode apresentar febre e uma sensação de mal-estar generalizado. Nos homens, as vesículas e as úlceras podem ocorrer em qualquer local do pênis, inclusive no prepúcio quando o indivíduo não é circuncidado.

Nas mulheres, as vesículas e as úlceras podem ocorrer na vulva, no interior da vagina ou ao seu redor e no colo uterino. As mulheres que mantêm relação anal podem apresentar vesículas e úlceras em torno do ânus ou no reto. Nos indivíduos com comprometimento do sistema imunológico, por exemplo, aqueles infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), as úlceras do herpes podem ser graves, disseminando-se para outras áreas do corpo, persistindo por semanas ou mais tempo mas, raramente, resistem ao tratamento com aciclovir.

Os sintomas tendem a recorrer nas mesmas áreas ou em áreas adjacentes, pois o vírus persiste nos nervos pélvicos próximos, reativandose para reinfectar a pele. O HSV-2 é mais capaz de reativar-se nos nervos pélvicos. O HSV-1 reativa-se mais eficazmente nos nervos faciais, causando o herpes labial. Não obstante, qualquer um desses vírus pode causar doença em qualquer uma dessas áreas. A infecção prévia por qualquer um dos vírus provê uma imunidade parcial contra o outro, tornando menos graves os sintomas da segunda infecção viral.


Complicações do Herpes Genital

Aproximadamente 3 a 12 dias após a primeira ocorrência de vesículas na área genital, o vírus do herpes pode disseminarse para outras partes do corpo. No entanto, as complicações raras são graves. As membranas que revestem o cérebro (meninges) podem ser infectadas, causando vômito,cefaléia e rigidez do pescoço.

A medula espinhal pode também ser infectada, causando fraqueza dos membros inferiores. Os nervos da área pélvica também podem ser afetados, causando dor temporária, constipação, incapacidade para urinar e, nos homens, impotência. Embora raro, o vírus pode disseminar-se através da corrente sangüínea até a pele, as articulações, o fígado ou os pulmões, sobretudo em neonatos ou em indivíduos com comprometimento do sistema imune.

A complicação mais comum do herpes genital é o retorno repetido das vesículas e úlceras, as quais normalmente são limitadas a um lado do corpo, os episódios sendo mais leves que o inicial. Antes de cada episódio, o indivíduo pode sentir um malestar generalizado, prurido, formigamento ou dor na área afetada.

O risco de recorrência na área genital é maior com o HSV-2 que com o HSV-1. Contudo, a freqüência das recorrências varia muito. Em alguns indivíduos, os episódios ocorrem muitas vezes durante muitos anos. Pode haver recorrência das úlceras além da área genital, atingindo as nádegas, as regiões inguinais e as coxas.

Diagnóstico

O médico suspeita do herpes baseando-se nos sintomas apresentados pelo paciente. O diagnóstico pode ser estabelecido rapidamente pelo exame microscópico de amostras das úlceras. Para confirmar o diagnóstico, swabs (amostra de secreção) de uma úlcera são enviados a laboratórios especiais para cultura. Os resultados podem estar disponíveis em apenas 48 horas. Os exames de sangue podem revelar evidências de infecções passadas ou sugerir uma infecção recente quando os níveis dos anticorpos estiverem aumentando.

Tratamento

O herpes genital não tem cura, mas o tratamento pode reduzir a duração do episódio. O número de episódios pode ser reduzido com o tratamento contínuo com baixas doses de drogas antivirais. O tratamento é mais eficaz quando iniciado precocemente, normalmente nos 2 dias seguintes ao início dos sintomas. O aciclovir ou as drogas antivirais relacionadas podem ser administrados pela via oral ou podem ser aplicados sob a forma de creme diretamente nas lesões. Essas drogas reduzem a eliminação de vírus vivos das feridas, reduzindo assim o risco de transmissão.

A droga também pode diminuir a gravidade dos sintomas durante o episódio inicial. No entanto, mesmo o tratamento precoce do primeiro episódio não evita as recorrências. Os pacientes com uma história de herpes podem ser infectantes para seus parceiros sexuais, mesmo quando não se dão conta de que estão apresentando um novo episódio.

Verrugas Genitais

As verrugas genitais (condilomas acuminados) são verrugas localizadas no interior ou em torno da vagina, no pênis ou no reto, causadas pelos papilomavírus transmitidos sexualmente. As verrugas genitais são comuns e causam preocupação devido ao seu aspecto desagradável, podem ser infectadas por bactérias ou podem ser uma indicação de comprometimento do sistema imunológico.

Nas mulheres, os papilomavírus dos tipos 16 e 18, os quais ocorrem no colo uterino mas não causam verrugas na genitália externa, podem causar o câncer cervical. Esses tipos e outros papilomavírus podem causar a neoplasia intraepitelial cervical (indicada por um resultado anormal do exame de Papanicolaou) ou o câncer de vagina, vulva, ânus, pênis, boca, garganta ou esôfago.

Sintomas e Diagnóstico

As verrugas genitais ocorrem mais freqüentemente em superfícies quentes e úmidas do corpo. Nos homens, as áreas habituais são a extremidade e o corpo do pênis e sob o prepúcio (quando o indivíduo não é circuncidado). Nas mulheres, as verrugas genitais ocorrem na vulva, na parede vaginal, no colo uterino e na pele que circunda a área vaginal. As verrugas genitais podem formar-se na área em torno do ânus e no reto, especialmente em homossexuais masculinos e em mulheres que praticam o sexo anal.

Geralmente, as verrugas surgem 1 a 6 meses após a infecção, começando como diminutas proeminências rosas ou vermelhas, macias e úmidas. As verrugas crescem rapidamente e podem apresentar pedículo. Freqüentemente, várias verrugas crescem na mesma área e a sua superfície irregular confere a essas formações o aspecto de uma pequena couve-flor.

As verrugas podem crescer muito rapidamente nas mulheres grávidas, nos indivíduos com comprometimento do sistema imunológico (p.ex., indivíduos com AIDS ou que utilizam medicamentos imunossupressores) e em indivíduos com inflamação da pele. Geralmente, as verrugas genitais são diagnosticadas pelo seu aspecto. No entanto, elas podem ser confundidas com lesões observadas no estágio secundário da sífilis. As verrugas com aspecto incomum ou as verrugas persistentes podem ser removidas cirurgicamente e examinadas ao microscópio, para se assegurar que não são cancerosas. As mulheres com verrugas no colo uterino devem ser regularmente submetidas ao exame de Papanicolaou.

Tratamento

Não existe um tratamento totalmente satisfatório. As verrugas genitais externas podem ser removidas por laser, crioterapia (congelamento) ou cirurgia com o uso de anestésicos locais. Os tratamentos com substâncias químicas (p.ex., toxina purificada, resina de podófilo ou ácido tricloroacético) podem ser diretamente aplicados sobre as verrugas.

No entanto, esses métodos exigem muitas aplicações ao longo de semanas ou meses, podem provocar queimaduras da pele circunvizinha e, freqüentemente, fracassam. As verrugas localizadas na uretra podem ser tratadas com drogas antineoplásicas (p.ex., tiotepa ou fluorouracil). Alternativamente, elas podem ser removidas da uretra através de uma cirurgia endoscópica, um procedimento no qual é utilizado um tubo de visualização flexível ao qual são acoplados instrumentos cirúrgicos.

As injeções de interferon-alfa na verruga estão atualmente em estudo como um possível tratamento, mas a sua utilidade ainda não é conhecida. As verrugas genitais retornam freqüentemente e exigem novos tratamentos. Nos homens, a circuncisão pode ajudar a evitar a sua recorrência. Todos os parceiros sexuais devem ser examinados e tratados se necessário.

Infecções Intestinais Sexualmente Transmissíveis

Várias bactérias (Shigella, Campylobacter e Salmonella), vírus (hepatite A) e parasitas (Giardia e outras amebas) que causam infecções intestinais podem ser transmitidas sexualmente, em particular através de atividades nas quais a boca entra em contato com os órgãos genitais ou com o ânus. Os sintomas são tipicamente os relacionados ao microorganismo específico transmitido, podendo causar uma combinação de diarréia, febre, flatulência, náusea e vômito, dor abdominal e icterícia. As infecções retornam freqüentemente, em especial em homossexuais masculinos com muitos parceiros sexuais. Algumas infecções não causam sintomas.

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