ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Fumo, hipertensão arterial e diabetes podem levar à demência


Fumo, hipertensão arterial e diabetes podem levar à demência


Autora: Allison Gandey

Pesquisadores reportam que o controle dos fatores de risco cardiovascular na meia-idade pode prevenir a demência na idade adulta.

Um novo estudo mostra que pessoas na meia-idade que fumam ou tem hipertensão arterial ou diabetes são mais propensas a desenvolver demência no futuro. Em um artigo publicado na edição eletrônica do Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry, pesquisadores sugerem que o controle dos fatores de risco cardiovascular na meia-idade pode prevenir a demência no futuro.

“Nossa população de estudo incluiu tanto brancos quanto afro-americanos”, o autor principal, Álvaro Alonso, médico, da University of Minnesota, em Mineápolis, contou à Medscape Neurology. “Pudemos, pela primeira vez, evidenciar que os fatores de risco cardiovascular na meia-idade estão associados à demência no futuro em grupos étnicos e raciais”.

Ao todo, os negros apresentaram uma taxa 2,5 vezes mais alta de demência do que os brancos. Mulheres negras, em particular, apresentaram as taxas mais altas.


Alto risco

Fumantes foram 70% mais propensos, em comparação àqueles que nunca fumaram, a desenvolver demência. Pessoas com hipertensão arterial foram 60% mais propensas, em comparação àquelas sem, a desenvolver demência, e pessoas com diabetes, em comparação àquelas sem, foram duas vezes mais propensas a experimentar comprometimento cognitivo.

Os pesquisadores também demonstraram que os fatores de risco cardiovascular medidos precocemente na vida foram preditores melhores de demência do que os fatores de risco medidos em uma idade mais avançada. “Esses resultados, novamente, apóiam a necessidade de prestar especial atenção aos fatores de risco cardiovascular na meia-idade”, afirmou o Dr. Alonso.

Os pesquisadores estudaram mais de 11.000 pessoas que fizeram parte do estudo Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC). Os participantes apresentavam idades entre 46 a 70 anos e se submeteram a um exame físico e teste cognitivo. Os pacientes foram acompanhados por mais de uma década para verificar quantos desenvolveriam demência mais tarde.

Os pesquisadores identificaram 203 pacientes hospitalizados com demência. Fumo, hipertensão arterial e diabetes foram todos fortemente associados a este diagnóstico.


Fatores de risco cardiovascular associados à demência

Fator de risco

Hazard Ratio

Intervalo de confiança de 95%

Fumo

1,7

1,2 a 2,5

Hipertensão

1,6

1,2 a 2,2

Diabetes

2,2

1,6 a 3,0

Em análises que incluíram informações atualizadas sobre os fatores de risco durante o acompanhamento, o hazard ratio de demência nos participantes hipertensos vs não hipertensos foi de 1,8 aos 55 anos de idade comparado a 1,0 aos 70 anos de idade ou mais.

Os pesquisadores observaram resultados semelhantes para o diabetes, com um hazard ratio de 3,4 aos 55 anos de idade e de 2,0 naqueles com mais de 70 anos. Para o fumo, o hazard ratio foi de 4,8 aos 55 anos de idade e de 0,5 em pacientes com 70 anos ou mais.

“Nós só pudemos identificar os indivíduos com demência que compareceram a um hospital”, apontou o Dr. Alonso. “Portanto, é muito provável que estejamos perdendo algumas pessoas com demência. Ainda, fizemos algumas análises adicionais para determinar se isso poderia enviesar nossos resultados. Ao todo, estamos confiantes que esta limitação não tem um grande impacto em nossas conclusões globais”.

Os autores apontam para outra crítica que poderia explicar os resultados do estudo. “Um fator não mensurado em nossa população poderia ser associado à presença de fatores de risco cardiovascular e também aumentar o risco de demência”, acrescentou o Dr. Alonso. Por exemplo, um marcador genético que aumenta tanto o risco de hipertensão quanto o de demência poderia estar em jogo.

“Isso é uma possibilidade”, disse ele, “mas em nossa análise, nós ajustamos as variáveis mais importantes associadas aos fatores de risco cardiovascular e demência, incluindo alguns fatores genéticos como a apolipoproteína E”.


Ruim para o coração e para o cérebro

Na edição de agosto de Dementia and Geriatric Cognitive Disorders, os pesquisadores chegaram a uma conclusão semelhante e reportaram que o colesterol elevado na meia-idade pode aumentar o risco de demência (Dement Geriatr Cogn Disord. 2009;28:75–80).

Como anteriormente divulgado pela Medscape Neurology, a autora principal Alina Solomon, médica, da University of Kuopio, na Finlândia, utilizou dados do Kaiser Permanente Northern California Medical Group para investigar a relação entre o colesterol e a demência e concluiu que até mesmo níveis de colesterol de 200 a 239 mg/dL podem aumentar o risco.

A Dra. Solomon afirmou: “tanto médicos quanto pacientes precisam saber que o colesterol elevado aumenta o risco não apenas de doença cardíaca como também de demência”.

Durante uma entrevista quando o estudo de Solomon foi divulgado pela primeira vez, Robert Stewart, médico, do King’s College London, no Reino Unido, afirmou que os dados são convincentes e consistentes com aqueles de outros estudos que rastrearam populações comunitárias para este transtorno.

“Em geral”, disse o Dr. Stewart, “há no momento um grande corpo de evidência que indica que o que é ruim para o coração também é ruim para o cérebro – isso é, que fatores de risco bem conhecidos para doença cardíaca coronariana e acidente vascular encefálico também são fatores de risco para demência”.


O estudo ARIC foi financiado pelo
National Heart, Lung and Blood Institute. Os pesquisadores não declararam quaisquer relações financeiras relevantes.


J Neurol Neurosurg Psychiatry. Published online August 19, 2009.

Informações sobre a autora: Allison Gandey é jornalista da Medscape. Ela é ex-analista de assuntos científicos do Canadian Medical Association Journal, possui mestrado em jornalismo especializado em ciências da Carleton University, já editou várias publicações para associações médicas e trabalho no rádio e na televisão.

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