ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Adesão ao Tratamento Medicamentoso


A classe médica define adesão como o grau com que o paciente segue o plano terapêutico. Estudos sobre o comportamento de pacientes demonstram que apenas metade das pessoas que deixam o consultório médico com uma receita toma o medicamento de acordo com as orientações prescritas. Entre as muitas razões alegadas pelos pacientes para não cooperar com um plano terapêutico, a mais comum é: esquecimento.

Mas a pergunta-chave é: por que as pessoas esquecem? Freqüentemente, o mecanismo psicológico de negação está operando. Alguma coisa acerca do tratamento pode preocupar muito a pessoa, resultando em uma repressão do desejo de seguir o plano terapêutico. Estar enfermo é causa de preocupação, e ter de tomar o remédio é lembrança constante da enfermidade. Outras razões para não cooperar com o plano terapêutico médico são o custo do tratamento, suas inconveniências e possíveis efeitos adversos.

Resultados da Falta de Adesão

Mesmo o melhor plano terapêutico fracassará se não for seguido pelo paciente. A conseqüência mais óbvia da não-adesão é a enfermidade não ser aliviada ou sanada. Segundo uma estimativa da Inspetoria Geral dos Estados Unidos, todos os anos a falta de adesão ao tratamento medicamentoso resulta em 125.000 mortes por doenças cardiovasculares, como ataques cardíacos e derrames.

Além disso, até 23% das admissões em casas de repouso, 10% das admissões em hospitais, muitas consultas médicas, muitos exames diagnósticos e muitos tratamentos desnecessários poderiam ser evitados se as pessoas tomassem os medicamentos conforme a orientação médica. A falta de adesão não apenas aumenta os custos de um tratamento médico como também piora a qualidade de vida.

Por exemplo, a nãoingestão das doses de determinado medicamento para o tratamento de glaucoma pode levar à lesão do nervo óptico e à cegueira; de um medicamento para o coração, a um ritmo cardíaco errático e à parada cardíaca; de um medicamento para reduzir a pressão alta, derrames; assim como a não observância às doses prescritas de um antibiótico pode promover a recidiva de uma infecção, talvez levando ao surgimento de bactérias resistentes à droga.

Adesão no Caso de Crianças

Em comparação com os adultos, é ainda menos provável que as crianças sigam um plano terapêutico. Um estudo de crianças com infecções estreptocócicas e para as quais foi prescrito um curso de dez dias de penicilina, demonstrou que 56% pararam de tomar o remédio no terceiro dia, 71% no sexto dia, e 82% no nono dia. A adesão a um plano terapêutico é ainda pior nos casos de doenças crônicas, como o diabetes juvenil e a asma, que necessitam de uma terapia complexa durante longos períodos.

Às vezes os pais não compreendem claramente as instruções. Estudos demonstram que os pais esquecem cerca de metade das informações 15 minutos depois da consulta com o médico. Os pais recordam do primeiro terço da orientação e lembram mais acerca do diagnóstico que dos detalhes do plano terapêutico. É por isso que os pediatras tentam tornar simples o plano terapêutico e freqüentemente fornecem instruções por escrito.

Adesão no Caso de Pessoas Idosas

Quando o paciente está tomando vários medicamentos, é maior a probabilidade de esquecer ou confundir os horários e de ocorrer uma interação medicamentosa adversa. Alguns dos remédios podem ter sido prescritos por médicos diferentes, e também pode haver, em alguns casos, adição de medicamentos de venda livre. Portanto, é preciso que todos os médicos envolvidos tomem conhecimento de todos os medicamentos que a pessoa está tomando. Uma boa comunicação ajuda o médico a desenvolver um plano terapêutico mais simples e também evita os perigos de interações medicamentosas não previstas.

Em geral as pessoas idosas são mais sensíveis aos medicamentos e podem necessitar de doses diferentes. A boa comunicação ajuda a garantir, por exemplo, que esses pacientes não diminuam a dosagem dos medicamentos por vontade própria, com o objetivo de abrandar os efeitos colaterais. A compra de todos os remédios de um mesmo farmacêutico também costuma ajudar, porque muitos farmacêuticos mantêm registros dos medicamentos que determinada pessoa está tomando e podem ser consultados para possível duplicação ou interação com outros medicamentos.

Modos de Melhorar a Adesão

Normalmente os pacientes facilitam a cooperação com o plano terapêutico quando mantêm boa relação com seus médicos. A comunicação nos dois sentidos funciona melhor; e a maior parte dos pacientes deseja participar no processo de tomada de decisão. Quando participam do planejamento de seu tratamento, as pessoas também assumem a responsabilidade por ele, aumentando a probabilidade de sua manutenção.

O paciente que recebe explicações claras e compreende a base lógica do tratamento também tem mais vontade de cooperar. É mais provável que as pessoas cooperem se acreditarem que o médico e outros profissionais da saúde envolvidos no tratamento preocupamse com sua adesão ao plano terapêutico.

Estudos demonstram que as pessoas que recebem explicações de um médico interessado ficam mais satisfeitas com a ajuda que recebem, e gostam mais do médico; e que, quanto mais gostarem do médico, mais obedientes serão ao plano terapêutico. Instruções por escrito ajudam os pacientes a evitar erros causados por lembrança imprecisa ou equivocada do que o médico disse. A criação de uma relação biunívoca entre o paciente e o médico pode ter início com uma troca de informações.

Ao fazer perguntas ao médico, o paciente pode “chegar a um acordo” com relação à gravidade da enfermidade, pesando de forma inteligente as vantagens e as desvantagens do plano terapêutico. Equívocos em geral podem ser esclarecidos por uma simples conversa com um profissional bem informado. A boa comunicação também garante que todos os profissionais envolvidos no tratamento compreendam o plano prescrito pelo médico.

Os pacientes que assumem a responsabilidade de ajudar na monitorização dos bons e maus efeitos do tratamento e que discutem as dúvidas e preocupações com os médicos e demais profissionais envolvidos provavelmente obterão melhores resultados com o plano terapêutico. Essas pessoas devem informar o médico, ou a enfermeira sobre efeitos indesejáveis ou inesperados antes de ajustar ou interromper o tratamento por vontade própria. Freqüentemente as pessoas têm bons motivos para não seguir o plano terapêutico, e o médico pode fazer os ajustes apropriados depois de uma discussão franca sobre o problema.

Em muitos casos, existem grupos de apoio para pessoas com moléstias similares. Muitas vezes esses grupos reforçam os planos terapêuticos com sugestões para enfrentar os problemas. Nomes e números telefônicos de grupos de apoio podem ser obtidos nos hospitais locais e nos grupos comunitários.

Razões para Não Aderir ao Plano Terapêutico


• Não compreender ou interpretar erradamente as instruções
• Esquecer de tomar o remédio
• Sofrer reações adversas (o tratamento pode ser considerado pior que a doença)
• Negar a enfermidade (rejeitando o diagnóstico ou seu significado)
• Não acreditar que o medicamento pode ajudar
• Acreditar, equivocadamente, que já recebeu tratamento suficiente (por exemplo, no caso de uma infecção, a febre pode desaparecer antes que todas as bactérias infecciosas tenham sido erradicadas)
• Temer conseqüências adversas ou tornar-se dependente do medicamento
• Preocupar-se com as despesas
• Ser indiferente a seu estado de saúde (apatia)
• Ser intimidado por obstáculos (por exemplo, ter dificuldade em engolir comprimidos ou cápsulas, ter problemas com a abertura de frascos, achar o plano terapêutico inconveniente, ser incapaz de obter o medicamento)

Fatores que Comprometem o Sucesso do Plano Terapêutico

Erros de medicação

• Não aviar a receita
• Aviar a receita, mas tomar os remédios incorretamente
• Tomar um remédio que não foi receitado

Contato inadequado com o médico
• Demorar para procurar cuidados médicos
• Recusar-se a aderir ao plano terapêutico ou ser incapaz disso
• Não ter à disposição um tratamento acessível, conveniente ou financeiramente suportável
• Não comparecer às consultas
• Abandonar logo o plano terapêutico
• Não levar problemas ao conhecimento do médico

Resistência comportamental ao tratamento
• Não cumprir as etapas preventivas recomendadas
• Não seguir completamente as instruções
• Não participar dos programas de saúde recomendados

fonte: manual Merck