ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Diagnóstico de Cardiopatia


O médico pode dizer se um indivíduo apresenta uma doença cardíaca (cardiopatia) baseandose na história clínica e no exame físico. Exames diagnósticos são utilizados para confirmação do diagnóstico, para a determinação da extensão e das conseqüências da doença e como auxílio no planejamento do tratamento.

História Clínica e Exame Físico

Em primeiro lugar, o médico interroga o indivíduo sobre sintomas como, por exemplo, dor torácica, dispnéia, edema dos pés e tornozelos e palpitações, os quais sugerem a possibilidade de uma cardiopatia. Em seguida, pergunta se a pessoa tem outros sintomas como febre, debilidade, fadiga, falta de apetite e mal-estar generalizado, que também são indícios de cardiopatia.

A seguir, o paciente é questionado sobre infecções passadas, exposição prévia a agentes químicos, uso de medicações, álcool e tabaco, ambientes doméstico e profissional e atividades de lazer. O médico também questiona a pessoa acerca de membros da família que tiveram cardiopatias e moléstias afins e sobre o paciente manifestar alguma outra doença que afete o sistema cardiovascular.

Durante o exame físico, o médico anota o peso, o estado físico e o aspecto geral da pessoa, verificando a presença de palidez, sudorese ou sonolência – as quais podem ser indicadores sutis de uma cardiopatia. Também são observados o humor do indivíduo e sua disposição, os quais costumam ser afetados pelas cardiopatias. A avaliação da cor da pele é importante, porque a palidez anormal ou a cianose (coloração azulada) podem indicar anemia ou deficiência do fluxo sangüíneo. Esses achados podem indicar qua a pele está recebendo oxigênio de forma inadequada devido a uma doença pulmonar, à insuficiência cardíaca ou a problemas circulatórios.

O médico verifica o pulso de artérias do pescoço, sob os braços, nos cotovelos e pulsos, no abdômen, na regiao inguinal, nos joelhos e nos tornozelos e pés, para avaliar melhor se o fluxo sangüíneo é adequado e igual em ambos os lados do corpo. A pressão arterial e a temperatu- ra corpórea também são verificadas. Qualquer anormalidade pode sugerir uma cardiopatia. As veias no pescoço são então analisadas porque elas estão conectadas diretamente ao átrio direito do coração e fornecem uma indicação sobre o volume e da pressão do sangue que está entrando no lado direito do coração. Nessa etapa do exame, a pessoa coloca-se em decúbito dorsal com a parte superior do corpo elevada em um ângulo de 45°. Às vezes, o indivíduo pode sentar-se, permanecer em pé ou deitar em decúbito dorsal totalmente horizontal.

A pele sobre os tornozelos e a perna (e, em alguns casos, sobre a região dorsal inferior) é pressionada, para verificar a presença de acúmulo de líquido (edema) nos tecidos subcutâneos. É utilizado um oftalmoscópio (instrumento que permite examinar o interior do olho) para a observação dos vasos sangüíneos e tecidos nervosos da retina (a membrana sensível à luz existente na superfície interna da parte posterior do olho). São comuns as anormalidades visíveis na retina em pessoas com hipertensão, diabetes, arteriosclerose e infecções bacterianas das válvulas cardíacas.

O médico observa a região torácica para determinar se a freqüência e os movimentos respiratórios são normais e, em seguida, percute o tórax com os dedos para determinar se os pulmões estão cheios de ar, o que seria normal, ou se eles contêm líquido, condição anormal. A percussão também ajuda a determinar se a membrana que envolve o coração (pericárdio) ou a dupla camada membranosa que reveste os pulmões (pleura) contêm líquido. Usando um estetoscópio, o médico também ausculta os sons respiratórios para determinar se o fluxo de ar encontra-se normal ou obstruído e se os pulmões contêm líquido em decorrência da insuficiência cardíaca.

Uma das mãos do médico é colocada sobre o tórax para determinar o tamanho do coração, o tipo e a força das contrações durante cada batimento cardíaco. Às vezes, um fluxo sangüíneo turbulento e anormal no interior dos vasos ou entre as câmaras cardíacas causa uma vibração que pode ser sentida com a ponta dos dedos ou a palma da mão. Com um estetoscópio, o médico escuta o coração (procedimento denominado auscultação), observando os diferentes sons produzidos pela abertura e pelo fechamento das válvulas cardíacas.

Anormalidades das válvulas e de estruturas cardíacas produzem um fluxo sangüíneo turbulento, o qual dá origem a sons característicos denominados sopros. Em geral, o fluxo sangüíneo turbulento ocorre quando o sangue passa por válvulas estenosadas (estreitadas) ou insuficientes (que permitem o refluxo). No entanto, nem todas as cardiopatias causam sopros, e nem todos os sopros indicam cardiopatia. É comum mulheres grávidas apresentarem sopros cardíacos em razão do aumento normal do fluxo sangüíneo. Sopros cardíacos inofensivos também são comuns em bebês e crianças, em virtude do rápido fluxo do sangue através das pequenas estruturas do coração.

À medida que as paredes dos vasos, das válvulas e dos outros tecidos se enrijecem nos idosos, o sangue vai fluindo de forma turbulenta, mesmo que não exista cardiopatia grave subjacente. O posicionamento do estetoscópio sobre artérias e veias em qualquer outro ponto do corpo permite que o médico realize a auscultação em busca de sons do fluxo sangüíneo turbulento, denominados ruídos e causados pelo estreitamento (estenose) dos vasos ou por conexões anormais entre vasos.

O médico palpa abdômen para determinar se o fígado está aumentado de volume em conseqüência do acúmulo de sangue nas veias principais que se dirigem ao coração. Um abdômen com um aumento anormal de volume em decorrência da retenção de líquido pode indicar insuficiência cardíaca. O pulso e o tamanho da aorta abdominal também são verificados.

Exames Diagnósticos

Os médicos podem utilizar uma ampla gama de exames e procedimentos para a realização de diagnósticos rápidos e precisos. A tecnologia inclui as mensurações elétricas, os estudos radiográficos, a ecocardiografia, a ressonância magnética (RM), a tomografia por emissão de pósitrons (TEP) e o cateterismo cardíaco. A maioria dos procedimentos diagnósticos cardíacos apresenta apenas um risco mínimo, mas este aumenta de acordo com a complexidade do procedimento e a gravidade da cardiopatia subjacente.

Nos casos do cateterismo e da angiografia cardíacos, a probabilidade de uma complicação grave – como acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio ou morte – é de 1:1.000. Os testes de esforço apresentam risco de infarto do miocárdio ou de morte de 1:5.000. Virtualmente, o único risco dos estudos com radionuclídeos é originário da diminuta dose de radiação recebida pelo paciente, que é inferior à radiação recebida pelos indivíduos na maioria das radiografias.

Eletrocardiografia

A eletrocardiografia é um procedimento rápido, simples e indolor, em que impulsos elétricos no coração são amplificados e registrados em uma fita de papel em movimento. O eletrocardiograma (ECG) permite que o médico analise o marcapasso do coração, o qual dispara cada batimento, as vias de condução nervosa do coração e a freqüência e o ritmo cardíacos. Para obter um ECG, o examinador instala pequenos contatos metálicos (eletrodos) sobre a pele dos braços, das pernas e do tórax do indivíduo.

Esses eletrodos mensuram o fluxo e a direção das correntes elétricas no coração durante cada batimento cardíaco. Os eletrodos são conectados através de fios metálicos a um aparelho que gera um traçado para cada eletrodo. Cada traçado representa uma “imagem” particular dos padrões elétricos do coração; essas imagens são denominadas derivações. Quase todas as pessoas com suspeita de ser portadora de uma cardiopatia devem ser submetidas à realização de um ECG.

Esse exame pode ajudar o médico a identificar diversos problemas cardíacos, como ritmos cardíacos anormais, suprimento inadequado de sangue e de oxigênio ao coração e um espessamento (hipertrofia) exagerado do miocárdio, o qual pode ser decorrente da hipertensão arterial. O ECG também pode revelar o adelgaçamento do miocárdio ou sua ausência (em razão de sua substituição por tecido não-muscular), condição esta que pode ser decorrentede um infarto do miocárdio.

Teste de Esforço

A resistência dos indivíduos ao exercício fornece ao médico informações sobre a existência e a gravidade de uma doença arterial coronariana e de outros distúrbios cardíacos. Um teste de esforço, o qual permite controlar o ECG e a pressão arterial do indivíduo durante o exercício, pode revelar problemas que não são evidenciados em repouso.

Se as artérias coronárias apresentam um bloqueio parcial, o coração pode apresentar uma circulação sangüínea suficiente quando o indivíduo encontra-se em repouso, mas não quando ele se exercita. A realização simultânea de uma prova da função pulmonar pode diferenciar a limitação do exercício por uma doença cardíaca ou pulmonar da limitação em função da ocorrência concomitante de uma patologia cardíaca e uma patologia pulmonar. Durante a prova, a pessoa pedala uma bicicleta ergométrica ou anda sobre uma esteira ro- lante em um determinado ritmo.

O ritmo é gradualmente aumentado. O ECG é monitorizado de forma contínua e a pressão arterial é medida em intervalos regulares. Em geral, é solicitado ao indivído que está sendo testado que ele continue o teste até a sua freqüência cardíaca atingir entre 80 e 90% do máximo para sua idade e seu sexo. Se sintomas, como a dificuldade respiratória ou a dor torácica, tornarem-se muito desconfortáveis ou se forem detectadas anormalidades significativas no registro eletrocardiográfico ou da pressão arterial, a prova deve ser interrompida.

Os indivíduos que, por alguma razão, não podem realizar exercícios, são submetidas ao eletrocardiograma de estresse, o qual fornece informações semelhantes às do teste de esforço, mas não envolvem a prática de exercícios. Em vez disso, uma substância que aumenta o suprimento sangüíneo ao tecido cardíaco normal, mas diminui o suprimento ao tecido anormal, como o dipiridamol ou a adenosina, é injetada no indivíduo para simular os efeitos do esforço.

O teste de esforço sugere a presença de uma doença arterial coronariana quando surgem determinadas anormalidades eletrocardiográficas, o indivíduo apresenta angina ou a sua pressão arterial diminui. Nenhum teste é perfeito. Às vezes, eles revelam anormalidades em pessoas que não apresentam doença arterial coronariana (resultado falso- positivo) e, às vezes, eles não revelam anormalidades em pessoas que realmente apresentam angina (resultado falso-negativo).

Para os indivíduos assintomáticos (sem sintomas), especialmente os mais jovens, a probabilidade de doença arterial coronariana é baixa, apesar de um resultado anormal do teste. Apesar disso, é freqüente o teste de esforço ser utilizado com finalidade de controle de indivíduos aparentemente saudáveis como, por exemplo, antes do início de um programa de exercícios ou na avaliação para a realização de um seguro de vida. Os muitos falso-positivos resultantes causam uma preocupação considerável e despesas médicas desnecessárias. Por isso, a maioria dos especialistas não incentiva a utilização do teste de esforço em pessoas assintomáticas.

ECG: Interpretação das Ondas

O eletrocardiograma (ECG) representa a corrente elétrica que percorre o coração durante um batimento cardíaco. Cada parte do ECG é designada por uma letra. Cada batimento cardíaco começa com um impulso do principal marcapasso do coração (nódulo sinoatrial). Esse impulso ativa primeiramente as câmaras superiores do coração (átrios).

A onda P representa essa ativação dos átrios. Em seguida, a corrente elétrica flui até as câmaras inferiores do coração (ventrículos). O complexo QRS representa a ativação dos ventrículos. A onda T representa a onda de recuperação, enquanto a corrente elétrica dissemina-se de forma retrógrada sobre os ventrículos.


Muitos tipos de anormalidade são revelados num ECG. As de compreensão mais fácil são as anormalidades do ritmo do batimento cardíaco: demasiadamente rápido, demasiadamente lento ou irregular. Em geral, ao analisar o ECG, o médico determina em qual parte do coração o ritmo anormal é originado e pode dar início ao processo de determinação de sua causa.



Eletrocardiografia Ambulatorial Contínua (Holter)

Os ritmos cardíacos anormais e o fluxo sangüíneo insuficiente ao miocárdio podem ocorrer apenas durante um curto período de tempo ou de maneira imprevisível. Para detectar esses problemas, o médico pode lançar mão da monitorização eletrocargiográfica ambulatorial contínua. Neste exame, o indivíduo carrega consigo um pequeno aparelho movido a pilha (monitor Holter), o qual registra o ECG durante 24 horas.

Enquanto estiver com o monitor, a pessoa anota em um diário o horário e o tipo de qualquer sintoma. Em seguida, o registro é transferido para um computador, o qual analisa a freqüência e o ritmo do coração, verifica a ocorrência de alterações na atividade elétrica que possam indicar um fluxo sangüíneo inadequado ao miocárdio e reproduz um registro de cada batimento cardíaco ocorrido durante as 24 horas.

Os sintomas registrados no diário podem então ser relacionados às alterações eletrocardiográficas Caso seja necessário, o ECG pode ser transmitido por via telefônica a um computador localizado no hospital ou no consultório médico, para leitura imediata, assim que o paciente apresenta sintomas.

Aparelhos ambulatoriais sofisticados podem registrar simultaneamente um ECG e um eletroencefalograma (mensurações da atividade elétrica do cérebro) em pacientes que apresentam episódios de perda da consciência. Esses registros ajudam a diferenciar as crises convulsivas epilépticas das anormalidades do ritmo cardíaco.

Monitor Holter: Leituras Eletrocardiográficas Contínuas

A pessoa utiliza um pequeno monitor, que é sustentado por um dos ombros por uma correia. Com os eletrodos fixados no tórax, o monitor registra continuamente a atividade elétrica do coração.


Testagem Eletrofisiológica

A testagem eletrofisiológica é utilizada na avaliação de alterações graves do ritmo ou da condução elétrica. No hospital, o médico insere diminutos eletrodos através das veias e, em alguns casos, através das artérias, atingindo diretamente o interior das câmaras cardíacas, para obter o registro eletrocardiográfico a partir do interior do coração e para identificar a localização exata das vias de condução elétrica.

Às vezes, o médico provoca intencionalmente um ritmo cardíaco anormal durante a testagem para descobrir se determinado medicamento pode interromper o distúrbio ou se uma cirurgia irá ajudar o paciente. Em caso de necessidade, o médico retorna rapidamente ao ritmo normal com um choque elétrico de curta duração sobre o coração (cardioversão). Embora seja um procedimento invasivo e exija a anestesia do paciente, a testagem eletrofisiológica é muito segura e o seu risco de morte é de 1:5.000.

Exames Radiológicos

Qualquer pessoa com suspeita de cardiopatia deve ser submetida a radiografias nas incidências frontal e de perfil. As radiografias revelam a forma e o tamanho do coração e delineiam os vasos sangüíneos nos pulmões e no tórax. A anormalidade da forma ou do tamanho do coração e alterações, como depósitos de cálcio no interior do coração, são imediatamente observadas.

As radiografias torácicas também podem revelar o estado dos pulmões, particularmente dos vasos sangüíneos pulmonares, e a presença de qualquer líquido no interior ou em torno dos pulmões. Freqüentemente, a insuficiência cardíaca ou uma alteração de uma válvula cardíaca acarreta um aumento do volume do coração.

No entanto, o tamanho do coração pode ser normal mesmo em pessoas com cardiopatia grave. Nos casos de pericardite constritiva, a qual cria um envelope de tecido cicatricial envolvendo o coração, este não aumenta de volume, mesmo na vigência de uma insuficiência cardíaca.

O aspecto dos vasos sangüíneos nos pulmões é muitas vezes mais importante na confirmação diagnóstica do que o aspecto do coração em si. Por exemplo, a dilatação das artérias pulmonares localizadas próximas ao coração e a sua estenose no interior do tecido pulmonar sugerem o aumento do ventrículo direito.

Tomografia Computadorizada

A tomografia computadorizada (TC) comum não é freqüentemente utilizada no diagnóstico das cardiopatias. No entanto, ela pode detectar anormalidades estruturais do coração, do pericárdio, dos vasos principais, dos pulmões e das estruturas de sustentação no tórax. Nesse exame, um computador gera imagens de cortes transversais de todo o tórax utilizando raios X, revelando a localização exata de qualquer anomalia.

A tomografia computadorizada é moderna e ultra-rápida, também chamada de cinetomografia computadorizada, fornece uma imagem móvel tridimensional do coração. Esse exame pode ser utilizado na avaliação de anormalidades estruturais e de movimento.

Fluoroscopia (Radioscopia)

A fluoroscopia (radioscopia) é um procedimento radiológico contínuo que mostra em um monitor o coração batendo e os pulmões insuflando e desinsuflando. Contudo, a fluoroscopia, a qual envolve uma dose relativamente alta de radiação, vem sendo amplamente substituída pela ecocardiografia e por outros exames.

A fluoroscopia também é utilizada como um componente da cateterismo cardíaco e da testagem eletrofisiológica. Ela pode ser útil em alguns diagnósticos difíceis que envolvem doenças valvulares e defeitos congênitos do coração.

Ecocardiografia

É uma das técnicas mais amplamente utilizadas no diagnóstico das cardiopatias, por não ser invasiva, não utilizar raios X e fornecer imagens excelentes. O exame é inofensivo, indolor, relativamente barato e amplamente disponível. A ecocardiografia utiliza ondas de ultra-som de alta freqüência, as quais são emitidas por uma sonda de registro (transdutor), chocamse contra as estruturas do coração e os vasos sangüíneos e são retornadas, produzindo uma imagem móvel.

A imagem é visualizada em um monitor e é registrada em videocassete ou em papel. Ao variar a posição e o ângulo da sonda, o médico visualiza o coração e os vasos sangüíneos importantes sob vários ângulos, obtendo um retrato acurado da estrutura e do funcionamento do coração.

Para uma maior nitidez ou para analisar estruturas localizadas na parte posterior do coração, o médico pode passar uma sonda através da garganta do paciente até o esôfago, registrando os sinais a partir de um ponto situado logo atrás do coração. Esta técnica é conhecida como ecocardiografia transesofágica. Esta técnica pode detectar anormalidades de movimento da parede do coração e do volume de sangue que está sendo bombeado pelo coração em cada batimento, espessamentos e doenças da membrana que envolve o coração (pericárdio) e acúmulo de líquido entre o pericárdio e o músculo cardíaco (miocárdio).

Os principais tipos de exames ultra-sonográficos são: modo M, bidimensional, Doppler e Doppler colorido. Na ultra-sonografia no modo M, a qual é a técnica mais simples, um feixe isolado de ultrasom é direcionado à parte do coração estudado. A ultra-sonografia bidimensional, a qual é a técnica mais utilizada, produz imagens bidimensionais reais, em “cortes” gerados por computador.

A ultra-sonografia com Doppler detecta o movimento e a turbulência do sangue e pode produzir uma imagem colorida (Doppler colorido). As ecocardiografias com Doppler colorido e com Doppler simples podem determinar e mostrar a direção e a velocidade do fluxo sangüíneo nas câmaras cardíacas e nos vasos sangüíneos.

As imagens permitem ao médico observar se as válvulas cardíacas abrem e fecham adequadamente, se há escape de sangue durante fechamento e, em caso afirmativo, a quantidade de sangue que escapa, e ainda se o sangue flui normalmente. Podem ser detectadas conexões anormais entre os vasos sangüíneos ou entre as câmaras cardíacas e a estrutura e o funcionamento de vasos e câmaras cardíacas podem ser determinados.

Ressonância Magnética

A ressonância magnética (RM) é uma técnica que utiliza um campo magnético potente para a produção de imagens detalhadas do coração e do tórax. Essa técnica extremamente cara e sofisticada ainda se encontra em estágio experimental para uso no diagnóstico de cardiopatias.

O indivíduo é colocado no interior de um enorme ímã elétrico, o qual faz com que os núcleos dos átomos do organismo vibrem e emitam sinais característicos, os quais são convertidos em imagens bi e tridimensionais das estruturas cardíacas. Em geral, não há necessidade de agentes de contraste (radiopacos).

No entanto, ocasionalmente, são administrados contrastes paramagnéticos pela via intravenosa, os quais ajudam na identificação de áreas de pouco fluxo sangüíneo do miocárdio. Uma desvantagem da RM é a demora para a obtenção de cada imagem, em comparação com a tomografia computadorizada (TC).

Em razão dos movimentos cardíacos, as imagens obtidas com RM são borradas, em comparação com as obtidas por TC. Além disso, algumas pessoas apresentam claustrofobia durante a realização da RM, pois elas devem ficar imóveis em um espaço estreito dentro de uma máquina gigantesca.

Estudos com Radionuclídeos

Nos estudos imagenológicos com radionuclídeos, quantidades diminutas de substâncias radioativamente marcadas (marcadores) são injetadas em uma veia, mas, de qualquer modo, o exame expõe o indivíduo a uma menor radiação do que na maioria dos estudos radiográficos.

Os marcadores distribuem-se rapidamente por todo o corpo, incluindo o coração. Em seguida, eles são detectados por uma câmara gama. A imagem é apresentada em um monitor e gravada no disco rígido do computador para análise posterior. Diferentes tipos de câmaras de registro de radiação podem registrar uma imagem isolada ou gerar uma série de imagens de cortes transversais, as quais são refinadas pelo computador – técnica conhecida como tomografia computadorizada por emissão de fótons isolados.

O computador também pode gerar uma imagem tridimensional. Os estudos com radionuclídeos são particularmente úteis no diagnóstico de indivíduos com dor torácica de causa desconhecida. Nos indivíduos que apresentam estreitamento (estenose) de uma artéria coronária, a técnica é utilizada para a determinação da magnitude do efeito da estenose sobre o aporte sangüíneo e o funcionamento do coração.

Os estudos com radionuclídeos também são utilizadas na comprovação da melhoria do fluxo sangüíneo ao miocárdio após uma cirurgia de bypass (revascularização miocárdica) ou um procedimento similar. Além disso, eles também são úteis na determinação do prognóstico de um indivíduo após um infarto do miocárdio. Geralmente, o fluxo sangüíneo miocárdico é examinado com o uso de uma injeção intravenosa de tálio-201 e através da obtenção de imagens enquanto a pessoa realiza um teste de esforço.

A quantidade de tálio-201 absorvida pelas células do músculo cardíaco depende do fluxo sangüíneo. No pico do exercício, uma determinada área do miocárdio com irrigação sangüínea deficiente (isquemia) apresenta menor radioatividade (gera uma imagem menos nítida) que o músculo vizinho com uma circulação normal. Nos indivíduos incapazes de realizar o exercício, pode ser aplicada uma injeção intravenosa de dipiridamol ou de adenosina para simular os efeitos do exercício sobre o fluxo sangüíneo.

Essas drogas desviam a irrigação sangüínea dos vasos anormais para os vasos normais. Após o indivíduo repousar algumas horas, é realizada uma segunda exploração. O médico pode então observar quais são as áreas do coração que apresentam uma ausência de fluxo reversível, a qual é comumente decorrente de uma estenose coronariana, e quais áreas apresentam cicatrizes irreversíveis do miocárdio – geralmente decorrentes de um infarto do miocárdio prévio.

Se houver suspeita de um infarto agudo do miocárdio, são utilizados marcadores que contêm tecnécio 99m como alternativa ao tálio-201. Ao contrário do tálio, o qual acumula-se principalmente no tecido normal, o tecnécio acumula- se sobretudo no tecido anormal. No entanto, como o tecnécio também acumula-se nos ossos, as costelas dificultam um pouco a avaliação da imagem cardíaca.

A cintilografia com tecnécio é utilizada no diagnóstico do infarto do miocárdio. A área lesada do coração absorve o tecnécio e o exame pode detectar um infarto do miocárdio durante aproximadamente uma semana, a partir de 12 a 24 horas após sua ocorrência.

Tomografia por Emissão de Pósitrons

Na técnica de tomografia por emissão de pósitrons (TEP), um nutriente necessário para o funcionamento das células cardíacas é marcado com uma substância que emite partículas radioativas chamadas pósitrons e, em seguida, é injetado através da via intravenosa. Em poucos minutos, quando o nutriente marcado atinge a área do coração que está sendo examinada, um detector examina a área e registra os locais com maior atividade.

Um computador produz uma imagem tridimensional da área, revelando quão ativamente as diferentes regiões do miocárdio estão utilizando o nutriente marcado. A tomografia por emissão de pósitrons produz imagens mais nítidas que os demais estudos de medicina nuclear. Contudo, trata-se de um exame muito caro e ainda não está amplamente difundido. Essa técnica é utilizada como uma ferramenta de pesquisa e nos casos em que exames mais simples e baratos são inconclusivos.

Cateterismo Cardíaco

Na cateterismo cardíaco, um cateter (tubo) fino é inserido através de uma artéria ou veia, habitualmente de uma perna ou de um braço, e é conduzido até os grandes vasos e câmaras cardíacas. Para atingir o lado direito do coração, o médico insere o cateter em uma veia e, para atingir o lado esquerdo, é utilizada uma artéria. Os cateteres podem ser posicionados no coração com objetivos diagnósticos ou terapêuticos.

A pessoa é submetida a uma anestesia local antes do procedimento, o qual é realizado no hospital. Freqüentemente, o cateter contém um instrumento de mensuração ou um outro dispositivo na extremidade. Dependendo do tipo, os cateteres podem ser utilizados para mensurar a pressão, observar o interior dos vasos sangüíneos, alargar uma válvula cardíaca estreitada (estenosada) ou desobstruir uma artéria bloqueada.

Os cateteres são muito utilizados na avaliação cardíaca, pois podem ser inseridos sem a necessidade de uma cirurgia importante. Um cateter especialmente projetado com um balão na sua extremidade pode ser inserido em uma veia do braço ou do pescoço, sendo direcionado através do átrio e do ventrículo direitos do coração até a abertura da válvula pulmonar.

Este procedimento é chamado cateterismo da artéria pulmonar. O cateter é utilizado para mensurar a pressão arterial dos vasos de maior calibre e nas câmaras cardíacas. O débito cardíaco aos pulmões também pode ser mensurado. Amostras de sangue podem ser coletadas através do cateter para análise do conteúdo de oxigênio e de dióxido de carbono. Como a inserção de um cateter na artéria pulmonar pode desencadear ritmos cardíacos anormais, o coração é controlado através do eletrocardiograma.

O médico pode corrigir ritmos anormais mobilizando o cateter para outra posição. Se isto não resolver, o cateter é removido. O médico também pode utilizar o cateter para obter amostras de sangue para estudos metabólicos. Usando o cateter, o médico também pode instilar contrastes, os quais são observados na fluoroscopia (radioscopia) dos vasos sangüíneos e das câmaras cardíacas.

Anormalidades anatômicas e do fluxo sangüíneo podem ser observadas e filmadas enquanto as radiografias são realizadas. Através da utlização de instrumentos introduzidos através do cateter, o médico pode obter amostras de tecido da superfície interna das câmaras cardíacas para exame microscópico (biópsia).

Em cada local, também podem ser mensuradas isoladamente as pressões arteriais nas câmaras cardíacas e nos vasos sangüíneos importantes e os conteúdos de oxigênio e de dióxido de carbono no sangue podem ser determinados em diferentes partes do coração.

O médico também pode avaliar a capacidade de bombeamento do coração através da análise dos movimentos da parede do ventrículo esquerdo e calculando a eficácia com que o sangue é bombeado para fora do coração (fração de ejeção). Essa análise fornece uma medida do grau de intensidade da lesão cardíaca em decorrência de uma doença arterial coronariana isquêmica ou de uma outra patologia.

Angiografia Coronariana

A angiografia coronariana é o estudo das artérias coronárias com a utilização de um cateter. O médico introduz um cateter fino em uma artéria do braço ou da região inguinal, em direção ao coração, até atingir as artérias coronárias. Durante a inserção, o médico pode lançar mão da fluoroscopia (procedimento radiológico contínuo) para monitorizar a progressão do cateter.

A extremidade do cateter é posicionada adequadamente. Em seguida, através do cateter, é injetado um contraste radiopaco nas artérias coronárias e o contorno destas é visualizado em um monitor. A cineangiografia fornece imagens nítidas das câmaras cardíacas e das artérias coronárias.

A doença arterial coronariana é detectada manifesta-se sob a forma de irregularidades ou estenoses das paredes internas dessas artérias. Se um indivíduo apresenta doença arterial coronariana, um cateter poderá ser utilizado no tratamento para eliminar a obstrução. Este procedimento é denominado angioplastia coronariana transluminal percutânea. Efeitos colaterais menores da angiografia coronariana ocorrem imediatamente após a injeção.

Em geral, o paciente apresenta uma sensação temporária de calor, especialmente na cabeça e no rosto, enquanto o contraste se espalha pela corrente sangüínea. A freqüência cardíaca aumenta, e a pressão arterial cai discretamente. A ocorrência de reações leves, como a náusea, o vômito e a tosse, é rara.

Reações graves, as quais são ainda mais raras, incluem o choque, convulsões, problemas renais e cessação dos batimentos cardíacos (parada cardíaca). As reações alérgicas variam desde erupções cutâneas até uma condição rara, a anafilaxia, a qual é potencialmente letal. Caso o cateter toque a parede do coração, podem ocorrer ritmos cardíacos anormais.

A equipe que está realizando o procedimento deve estar equipada e treinada para tratar imediatamente qualquer um dos efeitos colaterais.

FONTE: MANUAL MERCK