ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Distúrbios da Hipófise


A hipófise é uma glândula com o tamanho de uma ervilha localizada em uma estrutura óssea (sela túrcica) na base do cérebro. A sela túrcica protege a hipófise, mas, em contrapartida, deixa muito pouco espaço para a sua expansão. Quando a hipófise aumenta de tamanho, ela tende a comprimir as estruturas que se encontram em sua parte superior, freqüentemente pressionando as zonas do cérebro que transmitem os estímulos visuais, podendo acarretar cefaléia (dor de cabeça) ou comprometimento da visão. A hipófise controla a função da maioria das outras glândulas endócrinas e, por sua vez, ela é controlada pelo hipotálamo, uma região do cérebro localizada imediatamente acima da hipófise. A hipófise possui duas partes distintas: o lobo anterior (adenohipófise) e o lobo posterior (neurohipófise). O hipotálamo controla o lobo anterior (adenohipófise) através da liberação de fatores ou substâncias similares a hormônios através de vasos sangüíneos que conectam diretamente as duas estruturas.

A hipófise, uma glândula do tamanho de uma ervilha localizada na base do cérebro, produz vários hormônios, cada um deles afetando uma parte específica do organismo (o órgão-alvo). Como a hipófise controla as funções da maioria das outras glândulas endócrinas, ela é freqüentemente denominada glândula mestra. Hipófise: A Glândula Mestra


Hormônio Órgão-Alvo
Hormônio antidiurético Rim
Hormônio estimulante dos beta-melanócitos Pele
Corticotropina Adrenais
Endorfinas Cérebro
Encefalinas Cérebro
Hormônio folículoestimulante Ovários ou testículos
Hormônio do crescimento Músculos e ossos
Hormônio luteinizante Ovários ou testículos
Ocitocina Útero e glândulas mamárias
Prolactina Glândulas mamárias
Hormônio estimulante da tireóide Tireóide

Ele controla o lobo posterior (neurohipófise) através de impulsos nervosos. O lobo anterior produz (secreta) hormônios que, em última instância, controlam a função da tireóide, das adrenais e dos órgãos reprodutores (ovários e testículos), a produção de leite (lactação) nas mamas e o crescimento corpóreo. Ele também produz hormônios que fazem com que a pele escureça e que inibem a sensação de dor. O lobo posterior produz hormônios que regulam o equilíbrio hídrico (da água), estimulam a saída do leite das mamas de mulheres que estão amamentando e estimulam as contrações uterinas. Através da detecção das concentrações dos hormônios produzidas pelas glândulas controladas pela hipófise (glândulas alvo), o hipotálamo ou a hipófise podem determinar quanta estimulação ou supressão a hipófise necessita para ajustar a atividade de suas glândulas alvo. Nem todos os hormônios produzidos pela hipófise (e pelo hipotálamo) são secretados continuamente.

A maioria é liberada em explosões, em períodos de uma a três horas, alternando períodos de atividade e de inatividade. Alguns desses hormônios como, por exemplo, a corticotropina (controla as adrenais), o hormônio do crescimento (controla o crescimento) e a prolactina (controla a produção de leite), seguem um ritmo circadiano, isto é, as suas concentrações aumentam e diminuem de modo previsível durante o dia, geralmente atingindo o máximo um pouco antes do despertar e caindo aos níveis mais baixos um pouco antes da hora de dormir. As concentrações de outros hormônios variam de acordo com outros fatores. Por exemplo, nas mulheres, as concentrações do hormônio luteinizante e do hormônio folículo-estimulante, (controlam as funções reprodutivas), variam durante o ciclo menstrual. A secreção excessiva - ou insuficiente de um ou mais hormônios hipofisários acarreta uma ampla gama de sintomas.

Função da Hipófise Anterior

O lobo anterior da hipófise representa 80% do seu peso. Ele libera hormônios que tanto regulam o crescimento e o desenvolvimento físico normais como estimulam a atividade das adrenais, da tireóide e dos ovários ou dos testículos. Quando o lobo anterior secreta quantidades excessivas ou insuficientes de seus hormônios, as outras glândulas endócrinas também produzem seus hormônios em quantidades excessivas ou insuficientes. Um dos hormônios secretados pelo lobo anterior é a corticotropina (hormônio adrenocorticotrópico ou ACTH), a qual estimula as adrenais a secretar o cortisol, um hormônio similar à cortisona e que mantém a vida, e diversos esteróides similares à testosterona (androgênios). Sem a corticotropina, as adrenais atrofiam e param de secretar o cortisol, acarretando insuficiência das adrenais. Vários outros hormônios são produzidos simultaneamente com a corticotropina. Eles incluem o hormônio estimulante dos betamelanócitos (o qual controla a pigmentação da pele), as encefalinas e as endorfinas (as quais controlam a percepção da dor, o humor e a atenção).

O hormônio estimulante da tireóide, também produzido pelo lobo anterior, estimula a tireóide a produzir os hormônios tireoidianos. Muito raramente, um excesso deste hormônio provoca uma secreção hormonal excesssiva por parte da tireóide e, conseqüentemente, o hipertireoidismo. Por outro lado, a estimulação deficiente faz com que a tireóide produza uma quantidade insuficiente e acarreta o hipotireoidismo. Dois outros hormônios produzidos pelo lobo anterior, o hormônio luteinizante e o hormônio folículo-estimulante (ambos gonadotropinas), estimulam os ovários e os testículos (gônadas). Nas mulheres, esses dois hormônios estimulam a produção de estrogênios e de progesterona e a liberação mensal de um óvulo de um dos ovários (ovulação). Nos homens, o hormônio luteinizante estimula os testículos a produzir testosterona, e o hormônio folículo-estimulante os estimulam a produzir espermatozóides. Um dos hormônios mais importantes secretados pelo lobo anterior é o hormônio do crescimento, o qual estimula o crescimento dos músculos e dos ossos e auxilia na regulação do metabolismo.

O hormônio do crescimento pode aumentar acentuadamente o fluxo de açúcar para o interior dos músculos e da gordura, estimula a produção de proteínas pelo fígado e pelos músculos e retarda a produção de tecido adiposo (gordura). Os efeitos mais prolongados do hormônio do crescimento – bloqueio da captação e utilização dos açúcares, fazendo com que ocorra uma elevação da concentração sérica de açúcar, e aumento da produção de gorduras e da concentração sérica de gorduras – parecem contrabalançar seus efeitos imediatos. Essas duas ações do hormônio do crescimento são importantes, pois o organismo deve adaptar-se à falta de alimento quando submetido ao jejum. Juntamente com o cortisol, o hormônio do crescimento ajuda a manter a concentração de açúcar no sangue destinado ao cérebro e mobiliza as gorduras, tornandoas disponíveis para as outras células do corpo, criando uma fonte alternativa de energia. Em muitos casos, o hormônio do crescimento parece atuar ativando vários fatores de crescimento, dos quais o mais importante é o fator de crescimento similar à insulina (IGF-I).

Função da Hipófise Posterior

O lobo posterior da hipófise secreta apenas dois hormônios: o hormônio antidiurético e a ocitocina. Na realidade, esses hormônios são produzidos por células nervosas do hipotálamo. Essas células nervosas possuem projeções (axônios) que se estendem até a hipófise posterior, onde os hormônios são liberados. Ao contrário da maioria dos hormônios hipofisários, o hormônio antidiurético e a ocitocina não atuam estimulando outras glândulas endócrinas. Os seus excessos ou deficiências afetam diretamente seus órgãos-alvos. O hormônio antidiurético (também denominado vasopressina) promove a conservação da água pelos rins. Ele auxilia o organismo na retenção de uma quantidade adequada de água. Quando um indivíduo encontra-se desidratado, receptores especiais localizados no coração, nos pulmões, no cérebro e na aorta estimulam a hipófise a produzir mais hormônio antidiurético.

As concentrações séricas dos eletrólitos (p.ex., sódio, cloreto e potássio) devem ser mantidas dentro de limites estreitos para que a função celular seja normal. As - concentrações altas de eletrólitos, as quais são detectadas pelo cérebro, estimulam a liberação desse hormônio. A dor, a tensão, o exercício, a concentração sérica baixa de açúcar, a angiotensina, as prostaglandinas e determinados medicamentos (p.ex., clorpropamida, medicamentos colinérgicos e medicamentos utilizados no tratamento da asma e da enfisema) também estimulam a liberação do hormônio antidiurético. O álcool, determinados esteróides e algumas outras substâncias suprimem a produção do hormônio antidiurético. A falta desse hormônio acarreta o diabetes insipidus, uma condição na qual os rins excretam água em excesso. Algumas vezes, o hormônio antidiurético é produzido em excesso. Isto ocorre na síndrome da secreção inadequada do hormônio antidiurético, na qual a concentração de hormônio antidiurético encontra-se excessivamente elevada, provocando a retenção de água e a redução da concentração sérica de alguns eletrólitos (p.ex., sódio).

A síndrome da secreção inadequada do hormônio antidiurético ocorre em indivíduos com insuficiência cardíaca e, em casos excepcionais, naqueles que apresentam uma doença hipotalâmica. Algumas vezes, o hormônio antidiurético é produzido fora da hipófise, sobretudo por alguns cânceres pulmonares. Por essa razão, quando o médico detecta uma concentração sérica elevada de hormônio antidiurético, ele deve investigar a função da hipófise e a presença de um câncer. A ocitocina provoca a contração uterina durante e imediatamente após o parto para impedir o sangramento excessivo. Ela também estimula a contração de certas células das mamas que circundam as glândulas mamárias. A sucção do mamilo estimula a hipófise a liberar a ocitocina. As células das mamas contraem, movendo o leite do local de produção (no interior da mama) para o mamilo.

Síndrome da Sela Vazia

Na síndrome da sela vazia, a sela túrcica (estrutura óssea na base do cérebro) caracteristicamente aumentada aloja uma hipófise de tamanho normal ou pequena. A síndrome da sela vazia é mais comum em mulheres com sobrepeso ou com hipertensão arterial. Aproximadamentee 10% dos indivíduos com a síndrome da sela vazia apresentam hipertensão intracraniana (aumento da pressão do líquido existente no interior do crânio), e cerca de 10% apresenta um corrimento nasal crônico. Ocasionalmente, o indivíduo apresenta um pequeno pequeno tumor hipofisário (quase sempre benigno) que secreta hormônio do crescimento, prolactina ou corticotropina.

A radiografia simples do crânio, a tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM) podem revelar uma sela túrcica aumentada. Geralmente, a síndrome da sela vazia não necessita de tratamento. Entretanto, um aumento da sela túrcica também pode indicar a presença de uma hipófise aumentada de volume. A tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM) podem auxiliar o médico a diferenciar a síndrome da sela vazia das outras causas de aumento da sela túrcica. Por exemplo, um tumor maligno ou benigno (adenoma) pode aumentar o tamanho da hipófise, afetando- a ou o hipotálamo. Uma hipófise aumentada de volume pode produzir sintomas como, por exemplo, cefaléias (dores de cabeça) e perda da visão (em decorrência da compressão do nervo óptico provocada pela glândula aumentada). A perda da visão é peculiar, afetando, no início, apenas os campos visuais laterais (externos) de ambos os olhos.

Hipopituitarismo

O hipopituitarismo (uma glândula hipófise hipoativa) é definido como a perda parcial ou total da função do lobo anterior. Como o hipopituitarismo afeta a função das glândulas endócrinas estimuladas pelos hormônios produzidos pela hipófise anterior, os sintomas variam de acordo com os hormônios hipofisários deficientes. Embora, algumas vezes, os sintomas iniciem de modo súbito e dramático, eles geralmente começam gradualmente e podem permanecer despercebidos durante um longo período. O indivíduo pode apresentar deficiência de um, vários ou todos os hormônios produzidos pela hipófise anterior. As deficiências de gonadotropinas (deficiências do hormônio luteinizante e do hormônio folículo-estimulante) em mulheres na pré-menopausa produzem amenorréia (interrupção dos períodos menstruais), infertilidade, ressecamento da vagina e perda de algumas características sexuais femininas. Nos homens, as deficiências das gonadotropinas acarretam impotência, atrofia dos testículos, redução da produção de espermatozóides, com a conseqüente - infertilidade, e perda de algumas características sexuais masculinas (p.ex., crescimento dos pêlos corpóreos e faciais).

Quais São as Causas da Hipoatividade da Hipófise?


Causas que afetam principalmente a hipófise (hipopituitarismo primário)
• Tumores hipofisários
• Suprimento sangüíneo inadequado à hipófise (devido ao sangramento intenso, a coágulos sangüíneos, à anemia ou a outras causas)
• Infecções e doenças inflamatórias
• Sarcoidose ou amiloidose (doenças raras)
• Irradiação
• Remoção cirúrgica
• Doença auto-imune

Causas que afetam principalmente o hipotálamo, o qual então afeta a hipófise (hipopituitarismo secundário)
• Tumores hipotalâmicos
• Doenças inflamatórias
• Traumatismos crânio-encefálicos
• Lesão cirúrgica da hipófise ou de vasos sangüíneos ou nervos que se dirigem à ela

As deficiências de gonadotropinas também ocorrem na síndrome de Kallmann. Os indivíduos com esta síndrome também podem apresentar fenda labial ou palatina, daltonismo e incapacidade de discernir odores. Nos adultos, a deficiência de hormônio do crescimento comumente produz poucos ou nenhum sintoma. Nas crianças, ela reduz a velocidade de crescimento e, algumas vezes, causa o nanismo. A deficiência do hormônio estimulante da tireóide acarreta o hipotireoidismo (hipoatividade da tireóide), a qual produz sintomas como a confusão mental, a intolerância ao frio, o ganho de peso, a constipação e a pele seca. A deficiência isolada de corticotropina é rara. Ela acarreta hipoatividade adrenal, a qual produz fadiga, hipotensão arterial, concentração sérica baixa de açúcar e baixa tolerância ao estresse (p.ex., traumatismo importante, cirurgia ou infecção). A deficiência isolada de prolactina é uma condição rara, mas ela pode explicar a razão pela qual algumas mulheres são incapazes de produzir leite após o parto. A síndrome de Sheehan é uma complicação rara e é comumente decorrente do sangramento excessivo e do choque durante o trabalho de parto, resultando na destruição parcial da hipófise. Os sintomas incluem a fadiga, a perda dos pelos pubianos e axilares e a incapacidade de produzir leite.

Diagnóstico

Como a hipófise estimula outras glândulas, uma deficiência nos hormônios hipofisários reduz a quantidade de hormônios produzidos por essas outras glândulas. Por essa razão, o médico aventa a possibilidade de uma disfunção hipofisária ao investigar uma outra deficiência glandular (p.ex., da tireóide ou das adrenais). Quando os sintomas sugerem a hipoatividade de várias glândulas, o médico deve suspeitar imediatamente do hipopituitarismo ou da síndrome de deficiência poliglandular. Geralmente, a hipófise é avaliada através de uma tomografia computadorizada (TC) ou de uma ressonância magnética (RM) para identificar alterações estruturais. Os exames de sangue são utilizados para mensurar as concentrações hormonais. A TC ou a RM de alta definição pode revelar áreas localizadas de crescimento de tecido anormal, assim como um aumento ou uma atrofia da hipófise. Os vasos sangüíneos que suprem a hipófise podem ser examinados através de uma angiografia. No futuro, a tomografia por emissão de pósitrons poderá prover informações ainda mais completas sobre a função da hipófise.

A produção de hormônio do crescimento pela hipófise é de difícil avaliação, pois não existe um exame que a mensure de forma confiável. Como o organismo produz o hormônio do crescimento em várias explosões diárias (a maioria delas ocorrendo durante o sono), a concentração sérica em qualquer momento não indica se a produção é normal. Freqüentemente, o médico acha útil mensurar a concentração do fator de crescimento similar à insulina I (IGF-I) no sangue, pois a concentração desse hormônio tende a alterar lentamente e em proporção com a quantidade total da secreção do hormônio do crescimento pela hipófise. A avaliação de uma deficiência parcial do hormônio do crescimento é particularmente difícil. Além disso, a concentra- ção de hormônio do crescimento encontra-se baixa quando existe uma redução da função da tireóide ou das adrenais. Como as concentrações de hormônio luteinizante e de hormônio folículo-estimulante oscilam com o ciclo menstrual, a interpretação de sua mensuração nas mulheres pode ser difícil.

No entanto, nas mulheres que se encontram na pós-menopausa e que não fazem uso de estrogênios, as concentrações de hormônio luteinizante e de hormônio folículo-estimulante estão elevadas. Nos homens, as concentrações não oscilam muito. Alguns distúrbios podem inibir temporariamente a hipófise e, conseqüentemente, podem assemelhar-se ao hipopituitarismo. A inanição prolongada (p.ex., a que ocorre na anorexia nervosa) é uma das causas de inibição da função da hipófise. Os homens com cirrose hepática após consumo abusivo prolongado de bebidas alcoólicas apresentam sintomas semelhantes aos do hipopituitaismo (p.ex., aumento das mamas, atrofia dos testículos, alterações cutâneas e ganho de peso). Um tumor hipofisário que secreta prolactina é uma causa comum de deficiência de hormônio luteinizante e de hormônio folículoestimulante. À medida que o tumor cresce, ele pode destruir a hipófise em decorrência da compressão, acarretando diminuição da produção do hormônio do crescimento, do hormônio estimulante da tireóide e da corticotropina.

Tratamento

O tratamento é centrado na reposição dos hormônios alvos deficientes e não na reposição dos hormônios hipofisários deficientes. Por exemplo, os indivíduos com deficiência de hormônio estimulante da tireóide recebem hormônio tireoidiano, aqueles com deficiência de corticotropina recebem hormônios adrenocorticais e os com deficiência de hormônio folículo-estimulante recebem estrogênios, progesterona ou testosterona. O hormônio do crescimento pode ser administrado às crianças, mas, geralmente, os adultos não necessitam de reposição. Um tumor hipofisário que causa hipopituitarismo deve ser tratado. Quando o tumor é pequeno e não secreta prolactina, a sua remoção cirúrgica através do nariz é o tratamento preferido pela maioria dos especialistas. Os tumores produtores de prolactina podem ser tratados com o medicamento bromocriptina. A destruição do tumor também pode ser realizada com a utilização da supervoltagem ou da irradiação com feixe de próton. A remoção dos tumores grandes e daqueles - daqueles que se estenderam além da sela túrcica pode ser impossível apenas com a cirurgia. Quando isto ocorre, o médico utiliza a irradiação com supervoltagem após a cirurgia para eliminar as células tumorais remanescentes. A irradiação da hipófise pode reduzir lentamente a sua função, seja parcial ou completa. Portanto, a função das glândulas alvo é geralmente avaliada a cada 3 a 6 meses durante o primeiro ano e, em seguida, anualmente.

Acromegalia

A acromegalia é o crescimento exagerado causado pela excessiva secreção de hormônio do crescimento. A secreção excessiva de hormônio do crescimento, a qual é quase sempre causada por um tumor hipofisário benigno (adenoma), produz alterações em muitos tecidos e órgãos. Por exemplo, muitos órgãos internos aumentam de tamanho, incluindo o coração, o fígado, os rins, o baço, a tireóide, as paratireóide e o pâncreas. Certos tumores raros do pâncreas e dos pulmões também podem causar a produção excessiva de substâncias similares ao hormônio do crescimento, com conseqüências semelhantes.

Sintomas

Na maioria dos casos, a secreção excessiva de hormônio do crescimento inicia entre os 30 e os 50 anos de idade, muito tempo após o fechamento das superfícies de crescimento (cartilagens de crescimento) dos ossos. Conseqüentemene, os ossos tornam-se deformados ao invés de tornarem-se alongados. Os traços faciais do indivíduo tornamse mais grosseiros e as mãos e os pés aumentam de tamanho. O indivíduo passa a necessitar de anéis, luvas, sapatos e chapéus maiores. Como as alterações ocorrem lentamente, elas geralmente passam despercebidas durante anos. Ocorre um aumento de pêlos corporais grossos à medida que a pele torna-se mais espessa e, freqüentemente, torna-se mais escura. As glândulas sebáceas e sudoríparas da pele aumentam de tamanho, o que causa excessiva transpiração e cheiro desagradável no corpo. O crescimento excessivo da mandíbula (maxilar inferior) pode acarretar protrusão da mesma (prognatismo).

A cartilagem no aparelho fonador (laringe) pode espessar, tornando a voz grave e rouca. A língua também pode aumentar de volume e tornar-se mais sulcada. As costelas podem espessar e o tórax passa a apresentar o aspecto de um barril. A dor articular é comum. Após muitos anos, pode ocorrer uma artrite degenerativa incapacitante. O coração geralmente aumenta de volume e a sua função pode ser tão gravemente comprometida a ponto de desencadear uma insuficiência cardíaca. Algumas vezes, o indivíduo sente sensações estranhas e fraqueza nos membros superiores e inferiores à medida que o espessamento tissular comprime os nervos. Os nervos que transmitem estímulos dos olhos ao cérebro também podem ser comprimidos, com conseqüente perda da visão, sobretudo dos campos visuais laterais (externos). Além disso, o tumor hipofisário pode causar cefaléias intensas.

Quase todas as mulheres com acromegalia apresenta irregularidade do ciclo menstrual. Algumas produzem leite apesar de não estarem amamentando (galactorréia) em decorrência do excesso de hormônio do crescimento ou de um aumento associado de prolactina. Cerca de um terço dos homens que apresentam acromegalia torna-se impotente. Em situações muito raras, a secreção excessiva de hormônio do crescimento inicia na infância, antes que as cartilagens de crescimento dos ossos longos tenha fechado. Como os ossos continuam a crescer até que as suas cartilagens de crescimento fechem, esta situação acarreta um crescimento exagerado dos ossos e uma altura anormal (gigantismo hipofisário). Embora as crianças apresentem um crescimento acelerado, os seus ossos não deformam. Entretanto, os tecidos moles em torno dos ossos incham e alguns nervos podem aumentar de volume. Pode ocorrer retardo da puberdade e os órgãos genitais podem não se desenvolver totalmente.

Diagnóstico

Como as alterações causadas pela concentração alta de hormônio do crescimento ocorrem lentamente, a acromegalia freqüentemente é diagnosticada muitos anos após o aparecimento dos primeiros sintomas. As fotografias seriadas (realizadas ao longo de muitos anos) podem ajudar o médico a estabelecer o diagnóstico. A radiografia do crânio pode revelar espessamento dos ossos, aumento dos seios nasais e aumento ou erosão da sela túrcica (estrutura óssea que envolve a hipófise). As radiografias das mãos revelam o espessamento dos ossos sob as pontas dos dedos e edema tissular em torno dos ossos. Muitos indivíduos com acromegalia apresentam concentração sérica alta de açúcar. Os sintomas sugerem o diagnóstico de acromegalia e ele é confirmado através de uma concentração alta de hormônio do crescimento ou de fator de crescimento similar à insulina I (IGF-I) em uma amostra de sangue. Quando o resultado do exame apresenta um valor limítrofe, é administrada uma grande quantidade de açúcar ao indivíduo para se observar se a concentração de hormônio do crescimento cai, como deveria ocorrer em um indivíduo que não apresenta acromegalia. Em um indivíduo com acromegalia, tanto a concentração sérica de açúcar como a de hormônio do crescimento permanecem elevadas.

Tratamento

Para interromper ou reduzir a produção excessiva de hormônio do crescimento, o tumor é removido ou destruído através da cirurgia ou da radioterapia. A radioterapia consiste no uso da irradiação com supervoltagem, a qual é muito menos traumática que a cirurgia e, geralmente, não afeta a produção dos demais hormônios hipofisários. Contudo, este tipo de tratamento pode não conseguir fazer com que todas as concentrações hormonais retornem ao normal por vários anos. Em um esforço para acelerar os resultados, os médicos vêm tentando outras formas de radioterapia. A redução da concentração de hormônio do crescimento não é fácil, mesmo com a utilização conjunta da cirurgia e da radioterapia. As injeções de octreotida podem ajudar a bloquear a produção do hormônio do crescimento. Uma outra droga, a bromocriptina, também pode ser útil.

Galactorréia

A galactorréia é a produção de leite pelas glândulas mamárias tanto em homens como em mulheres que não estão amamentando. Em ambos os sexos, a causa mais freqüente da galactorréia é um tumor hipofisário que produz prolactina (prolactinoma). Geralmente, os prolactinomas são muito pequenos no momento do diagnóstico. No entanto, eles tendem a ser maiores nos homens que nas mulheres. A secreção excessiva de prolactina e o desenvolvimento da galactorréia também podem ser induzidos por medicamentos como por exemplo, as fenotiazinas, determinados medicamentos antihipertensivos (especialmente a metildopa) e narcóticos. Uma outra causa possível é o hipotireoidismo, isto é, a hipoatividade da tireóide.

Sintomas

Embora a produção do leite possa ser o único sintoma de um prolactinoma, muitas mulheres param de menstruar ou passam a apresentar irregularidade menstrual. As mulheres com prolactinoma freqüentemente também apresentam fogachos e ressecamento vaginal, o que causa desconforto durante a relação sexual. Os homens com prolactinoma comumente apresentam cefaléias ou perda da visão periférica. Aproximadamente dois terços dos homens perdem o interesse sexual e tornam-se impotentes.

Diagnóstico

A descoberta da causa de uma produção anormal de leite geralmente envolve uma combinação de exames de sangue e a tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM). Os sinais de deficiência de estrogênio são evidentes ao exame físico. O médico mensura a concentração sérica da prolactina e de outros hormônios (p.ex., hormônio luteinizante e hormônio folículoestimulante). A TC ou a RM de alta definição podem revelar a presença de prolactinomas. Quando o tumor é grande, o oftalmologista investiga os campos visuais do indivíduo em busca de possíveis efeitos do tumor sobre a visão.

Tratamento

Os prolactinomas são tratados de diferentes maneiras. Quando a concentração de prolactina do indivíduo não é extraordinariamente alta e a TC ou a RM mostra apenas um tumor hipofisário pequeno ou não revela qualquer tumor, o médico pode prescrever a bromocriptina ou pode não aconselhar qualquer tratamento. Nas mulheres, a bromocriptina tem a vantagem de aumentar a concentração de estrogênios, os quais freqüentemente estão baixos nas mulheres com uma concentração alta de prolactina, e, conseqüentemente, as protege contra a osteoporose. A bromocriptina também pode possibilitar a gravidez às mulheres com prolactinoma e ajuda a interromper a secreção embaraçosa de leite através das mamas. O estrogênio ou contraceptivos orais contendo estrogênios podem ser administrados a mulheres com prolactinomas pequenos, já que não existem evidências de que os estrogênios façam com que os tumores pequenos cresçam mais rapidamente que o normal.

A maioria dos especialistas recomenda a realização anual de uma TC ou de uma RM anualmente, pelo menos durante 2 anos, para garantir que o tumor não está aumentando de maneira significativa. Geralmente, após realizarem uma investigação minuciosa do sistema endócrino, os médicos tratam os indivíduos com tumores maiores (macroadenomas) macroadenomas) com bromocriptina ou com cirurgia. O tratamento é coordenado por um endocrinologista, um neurocirurgião e um radioterapeuta. Se a bromocriptina reduzir a concentração de prolactina e os sintomas desaparecerem, a cirurgia pode ser desnecessária. Caso ela seja necessária, a bromocriptina pode ser prescrita para auxiliar na redução do tamanho do tumor antes da sua realização. Embora a cirurgia possa reduzir no início a concentração de prolactina à concentração normal, a maioria dos prolactinomas acabam recorrendo. A radioterapia somente é utilizada quando os sintomas agravam e o tumor aumenta de volume apesar do tratamento com bromocriptina. As concentrações dos outros hormônios hipofisários podem diminuir durante vários anos após a radioterapia.

Diabetes insipidus

O diabetes insipidus é um distúrbio no qual a concentração insuficiente de hormônio antidiurético acarreta polidipsia (sede excessiva) e poliúria (produção excessiva de uma urina muito diluída). O diabetes insipidus é resultante da diminuição da produção de hormônio antidiurético (vasopressina), o qual limita naturalmente a produção excessiva de urina pelo organismo. O hormônio antidiurético é único pelo fato de ser produzido pelo hipotálamo e, em seguida, ser armazenado e liberado na corrente sangüínea pela hipófise posterior. O diabetes insipidus também pode ocorrer quando a concentração sérica de hormônio antidiurético encontra-se normal, mas os rins não respondem normalmente a ele (uma condição denominada diabetes insipidus nefrogênico).

Causas

O diabetes insipidus pode ter várias causas. Uma possibilidade é a disfunção (mau funcionamento) do hipotálamo com produção de uma quantidade muito pequena de hormônio antidiurético. Uma outra possibilidade é a da hipófise não conseguir liberar o hormônio na corrente sangüínea. Outras causas incluem a lesão cirúrgica do hipotálamo ou da hipófise, uma lesão cerebral (sobretudo a fratura da base do crânio), um tumor, a sarcoidose ou a tuberculose, um aneurisma ou uma obstrução as artérias que suprem o cérebro, alguns tipos de encefalite ou de meningite e a histiocitose X (doença de Hand-Schüller-Christian), a qual é rara. Em casos raros, o indivíduo apresenta sintomas psicológicos de sede excessiva, resultando em uma grande ingestão de líquido e na micção excessiva. Esses sintomas assemelham-se aos do diabetes insipidus, exceto pelo fato do indivíduo geralmente não despertar durante a noite para urinar. Ao longo do tempo, a ingestão excessiva de líquido acarreta uma diminuição da responsividade ao hormônio antidiurético.

Sintomas

O diabetes insipidus pode iniciar gradualmente ou subitamente em qualquer idade. Freqüentemente, os únicos sintomas são a sede excessiva e a produção exagerada de urina. O indivíduo pode ingerir volumes enormes de líquido (4 a 40 litros por dia) para compensar a perda de líquido na urina. Quando a compensação não é possível, ocorre uma instalação rápida da desidratação, acarretando hipotensão arterial e choque. O indivíduo continua a urinar grandes quantidades durante a noite e com uma grande freqüência.

Diagnóstico

O médico suspeita do diabetes insipidus nos indivíduos que produzem grandes quantidades de urina. Primeiramente, o médico analisa a concentração de açúcar na urina, para descartar o outro tipo de diabetes (diabetes mellitus). Os exames de sangue revelam concentrações anormais de muitos eletrólitos. Para o diabetes insipidus, o teste da privação de água é o mais simples e confiável. Como o indivíduo não deve ingerir líquido durante o teste e devido à possibilidade dele desidratar, o teste deve ser realizado em consultório médico ou em outro serviço médico. Durante várias horas, a produção de urina, as concentrações séricas de eletrólitos (sódio) e o peso são regularmente mensurados. Assim que a pressão arterial cai, a freqüência cardíaca aumenta ou o peso corpóreo é reduzido em mais de 5%, o teste é interrompido e é administrada ao indivíduo uma injeção de hormônio antidiurético. O diagnóstico do diabetes insipidus é confirmado quando, em resposta ao hormônio anti-diurético, a micção excessiva cessa, a pressão arterial aumenta e o ritmo cardíaco torna-se mais normal.

Tratamento

Sempre que possível, a causa subjacente do diabetes insipidus deve ser tratada. A vasopressina ou o acetato de desmopressina (formas modificadas do hormônio antidiurético) podem ser administados sob a forma de spray nasal, várias vezes ao dia, para manter uma produção de urina normal. Contudo, o uso excessivo desses medicamentos pode acarretar retenção líquida, edema e outros problemas. Geralmente, são administradas injeções de hormônio antidiurético aos indivíduos com diabetes insipidus submetidos à cirurgia ou que se encontram inconscientes. Em algumas situações, o diabetes insipidus pode ser controlado com medicamentos que estimulam a produção do hormônio antidiurético como, por exemplo, a clorpropamida, a carbamazepina, o clofibrato e vários diuréticos (tiazídicos). É improvável que essas drogas aliviem totalmente os sintomas dos indivíduos que apresentam um diabetes insipidus grave.