ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sábado, 31 de outubro de 2009

Doenças do Pericárdio


O pericárdio é um saco constituído de duas camadas flexíveis e distensíveis que envolve o coração. Ele contém uma quantidade apenas suficiente de líquido lubrificante entre as duas camadas que permite o deslizamento de uma sobre a outra. O pericárdio mantém o coração em posição, impede que este se encha demasiadamente de sangue e o protege das infecções torácicas.

No entanto, o pericárdio não é essencial à vida e, caso seja removido, ele não produz efeitos mensuráveis sobre o desempenho cardíaco. Em raros casos, ocorre ausência congênita do pericárdio ou este apresenta áreas frágeis ou orifícios em sua estrutura. Esses defeitos são perigosos, pois o coração ou um vaso sangüíneo importante pode formar uma protuberância (herniação) através de um orifício do pericárdio, tornando-se encarcerado e isto pode levar à morte em poucos minutos.

Por isso, esses defeitos comumente são reparados cirurgicamente e, caso a reparação não seja possível, pode ser realizada a remoção de todo o pericárdio. Além dos defeitos congênitos, as doenças do pericárdio podem ter como causa infecções, lesões e tumores que se disseminaram.

Pericardite Aguda

A pericardite aguda é uma inflamação do pericárdio que apresenta um início súbito e que é freqüentemente dolorosa. A inflamação faz com que o líquido (plasma) e os produtos do sangue (como fibrina, eritrócitos e leucócitos) depositem-se no espaço pericárdico. A pericardite aguda possui muitas causas, desde infecções virais (as quais podem ser dolorosas mas de breve duração e, em geral, não produzem efeitos duradouros) até o câncer, o qual é potencialmente letal.

Outras causas incluem a AIDS, infarto do miocárdio, cirurgia cardíaca, lúpus eritematoso sistêmico, doença reumatóide, insuficiência renal, lesões, radioterapia e escape de sangue de um aneurisma da aorta (dilatação da aorta com enfraquecimento de sua parede). A pericardite aguda também pode ser um efeito colateral de certas drogas, como anticoagulantes, penicilina, procainamida, fenitoína e fenilbutazona.

Tamponamento Cardíaco: a Complicação Mais Grave da Pericardite

Em geral, o tamponamento é decorrente do acúmulo de líquido ou do sangramento no pericárdio, como conseqüência de um tumor, de uma lesão ou de uma cirurgia. Infecções virais e bacterianas e a insuficiência renal são outras causas comuns.

A pressão arterial pode cair bruscamente, atingindo níveis anormalmente baixos durante a inspiração. Para confirmar o diagnóstico, o médico utiliza a ecocardiografia (procedimento que utiliza ondas ultrassônicas para gerar uma imagem do coração). Freqüentemente, o tamponamento cardíaco representa uma emergência médica. O distúrbio é imediatamente tratado através da drenagem cirúrgica ou da punção do pericárdio com uma agulha longa para remoção de líquido e redução da pressão.

O médico utiliza um anestésico local para impedir que o paciente sinta dor durante a introdução da agulha através da parede torácica. Quando possível, a remoção do líquido é realizada com monitorização ecocardiográfica. No caso de uma pericardite de origem desconhecida, o médico pode drenar cirurgicamente o pericárdio, coletando uma amostra para auxiliar na determinação do diagnóstico. Depois da pressão ser aliviada, o paciente comumente é mantido hospitalizado como medida de prevenção da recorrência do tamponamento.

Sintomas e Diagnóstico

Normalmente, a pericardite aguda provoca febre e dor torácica, a qual irradia no ombro esquerdo e, às vezes, ao longo do braço esquerdo. A dor pode ser semelhante à de um infarto do miocárdio, exceto pela sua tendência a piorar na posição deitada, durante a tosse ou com a respiração profunda.

A pericardite pode causar tamponamento cardíaco, um distúrbio potencialmente letal. Um médico pode diagnosticar a pericardite aguda através da descrição da dor pelo paciente e pela ausculta com o auxílio de um estetoscópio colocado sobre o tórax do paciente. A pericardite pode produzir um rangido forte semelhante ao de um sapato novo de couro. A radiografia torácica e a ecocardiografia (técnica que utiliza ondas ultrassônicas para gerar uma imagem do coração) podem revelar a presença de uma quantidade excessiva de líquido no pericárdio.

A ecocardiografia também pode mostrar a causa básica – por exemplo, um tumor – e mostrar a pressão exercida pelo líquido pericárdico sobre as câmaras cardíacas direitas. A pressão elevada pode ser um sinal de alarme de que existe um tamponamento cardíaco. Os exames de sangue permitem a detecção de alguns distúrbios causadores de pericardite – como a leucemia, a AIDS, infecções, a moléstia reumática e o aumento do nível de uréia no sangue conseqüente à insuficiência renal.

Prognóstico e Tratamento

O prognóstico depende da causa da pericardite. Quando causada por vírus ou por uma causa não evidente, a recuperação geralmente estende-se durante uma a três semanas. Complicações ou recorrências podem retardar a recuperação. Os indivíduos que apresentam um câncer que invadiu o pericárdio raramente sobrevivem mais de doze ou dezoito meses. Geralmente, os médicos hospitalizam os pacientes com pericardite, administram drogas que reduzem a inflamação e a dor (como a aspirina ou o ibuprofeno) e observam esses pacientes atentamente, verificando a ocorrência de complicações (sobretudo do tamponamento cardíaco).

A dor intensa pode exigir o uso de um opiáceo, como a morfina, ou de um corticosteróide. A droga mais comumente utilizada contra a dor intensa é a prednisona. O tratamento posterior da pericardite aguda varia dependendo da causa básica. Os indivíduos com câncer podem responder à quimioterapia (tratamento à base de drogas contra o câncer) ou à radioterapia. No entanto, eles são freqüentemente submetidos à remoção cirúrgica do pericárdio. Os indivíduos submetidos à diálise devido à insuficiência renal normalmente respondem às alterações de seus esquemas de diálise.

Os médicos tratam as infecções bacterianas com antibióticos e drenam cirurgicamente o pus acumulado no pericárdio. Sempre que possível, as drogas que podem causar pericardite são suspensas. Os indivíduos com episódios repetidos de pericardite resultante de infecção viral, lesão ou causa desconhecida podem obter alívio com a aspirina, o ibuprofeno ou corticosteróides. Em alguns casos, a colchicina é eficaz. Geralmente, quando o tratamento medicamentoso não é bem sucedido, é realizada a remoção cirúrgica do pericárdio.

Pericardite Crônica

A pericardite crônica é a inflamação resultante do acúmulo de líquido no pericárdio ou do espessamento do pericárdio. Ela apresenta um início gradual e persiste durante um longo período. No caso da pericardite crônica com derrame, ocorre um acúmulo lento de líquido no pericárdio. Geralmente, a causa é desconhecida, mas a condição pode ser causada por câncer, tuberculose ou hipoatividade da tireóide.

Quando possível, as causas conhecidas são tratadas e, caso a função cardíaca seja normal, o médico pode adotar uma atitude expectante, observando a evolução do quadro. A pericardite constritiva crônica é uma doença, a qual, em geral, ocorre quando há formação de tecido fibroso (cicatricial) em torno do coração. O tecido fibroso tende a contrair no decorrer do tempo, comprimindo o coração e reduzindo seu tamanho.

A compressão aumenta a pressão nas veias que retornam o sangue ao coração porque é necessária maior pressão para enchê-lo. Ocorre um acúmulo de líquido e, em seguida, um escape e acúmulo sob a pele, no abdômen e, às vezes, nos espaços em torno dos pulmões.

Causas

Qualquer condição que cause pericardite aguda pode causar pericardite constritiva crônica, mas, geralmente, a causa é desconhecida. As origens conhecidas mais comuns da pericardite constritiva crônica são as infecções virais e a radioterapia utilizada no tratamento do câncer de mama ou de um linfoma. A pericardite constritiva crônica também pode ser decorrente de artrite reumatóide, do lúpus eritematoso sistêmico, de alguma lesão prévia ou de uma infecção bacteriana. Antigamente, a tuberculose era a causa mais comum nos Estados Unidos, mas, atualmente, ela é responsável por apenas 2% dos casos. Na África e na Índia, a tuberculose é ainda a causa mais comum de todas as formas de pericardite.

Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas da pericardite crônica são a dispnéia (dificuldade respiratória), tosse (porque a pressão elevada nas veias dos pulmões empurra o líquido para os sacos aéreos) e fadiga (porque o coração funciona de modo deficiente). Por outro lado, o distúrbio é indolor. Também é comum o acúmulo de líquido no abdômen e nos membros inferiores.

Os sintomas fornecem indícios importantes para o diagnóstico da pericardite crônica, particularmente se não houver outra razão para a redução do desempenho cardíaco como, por exemplo, a hipertensão arterial, a doença arterial coronariana ou uma valvulopatia cardíaca. Geralmente, no caso da pericardite constritiva crônica, o coração não encontra-se aumentado nas radiografias, ao contrário do que ocorre na maioria das outras cardiopatias. Cerca de metade das pessoas com pericardite constritiva crônica apresenta depósitos de cálcio no pericárdio, os quais são observados nas radiografias.

Dois tipos de procedimentos podem confirmar o diagnóstico. O cateterismo cardíaco é utilizado para mensurar a pressão arterial nas câmaras cardíacas e nos principais vasos sangüíneos. Opcionalmente, o médico pode lançar mão da ressonância magnética (RM) ou da tomografia computadorizada (TC) para mensurar a espessura do pericárdio. Em geral, a espessura do pericárdio é inferior a 3 mm, mas, na pericardite constritiva crônica, elapode atingir 6 mm ou mais.

Tratamento

Embora os diuréticos (drogas que promovem a eliminação do excesso de líquido) auxiliem na redução dos sintomas, o único tratamento possível é a remoção cirúrgica do pericárdio. A cirurgia cura cerca de 85% das pessoas submetidas ao procedimento. Entretanto, como o risco de vida é de 5 a 15%, a maioria das pessoas afetadas não opta pela cirurgia, exceto quando o distúrbio interfere de forma substancial nas atividades quotidianas.

fonte: Manual Merck