ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Luz Solar e Lesão Cutânea


A pele protege o resto do corpo contra a ação dos raios solares, uma fonte de radiação ultravioleta (UV) que pode lesar as células. A exposição excessiva, ainda que de curta duração, produz queimaduras solares. Com a exposição prolongada à luz solar, a camada superior da pele (epiderme) torna-se mais espessa e as células cutâneas produtoras de pigmento (melanócitos) aumentam a produção do mesmo (melanina), o qual provê à pele a sua cor. A melanina, uma substância protetora natural, absorve a energia dos raios ultravioleta e impede que eles penetrem mais profundamente nos tecidos. A sensibilidade à luz solar varia de acordo com a raça, a exposição prévia e a cor da pele, mas todo mundo é vulnerável em um certo grau. Como os indivíduos de pele escura possuem mais melanina, eles possuem uma maior resistência aos efeitos nocivos do sol, como queimaduras, envelhecimento prematuro da pele e câncer de pele. Os indivíduos albinos não possuem melanina na pele, não bronzeiam e queimam-se gravemente mesmo com uma breve exposição ao sol. A não ser que os albinos se protejam do sol, eles desenvolvem câncer de pele prematuramente. Os indivíduos com vitiligo apresentam áreas da pele que não produzem melanina e, por essa razão, podem apresentar queimaduras solares graves.

Queimadura Solar

A queimadura solar ocorre em conseqüência da exposição excessiva aos raios ultravioleta B (UVB). Dependendo do tipo de pigmento de pele que um indivíduo possui e da quantidade da exposição ao sol, a pele torna-se vermelha, edemaciada e dolorosa uma hora a um dia após a exposição. Posteriormente, pode ocorrer a formação de bolhas e a pele pode descamar. Alguns indivíduos com queimadura solar apresentam febre, calafrios e fraqueza e aqueles com queimaduras solares muito graves podem inclusive entrar em choque (hipotensão arterial, desmaio e fraqueza profunda).

Perigos da Radiação Solar Não Percebida

O sol irradia energia de diferentes comprimentos de onda. Por exemplo, a luz amarela tem um comprimento de onda mais longo que a luz azul. Os comprimentos de onda da luz ultravioleta (UV) são mais curtos que os comprimentos de onda da luz visível, podendo lesar o tecido vivo. Felizmente, a camada de ozônio situada na parte superior da atmosfera filtra a maioria dos comprimentos de onda UV lesivos, mas parte dessa luz UV, principalmente a incluída nas faixas de comprimento de onda A (UVA) e B (UVB), chega à terra e pode causar lesão cutânea. As características e a quantidade de luz UV variam de acordo com a estação, o clima e a localização geográfica. Devido à forma com que os raios solares atravessam a atmosfera nas diferentes horas do dia nas zonas temperadas, a exposição da pele ao sol é menos prejudicial antes das dez da manhã e após as três da tarde. O risco de lesão é maior nas altitudes elevadas, onde a atmosfera protetora é mais delgada. Uma última consideração: a quantidade de luz UV que chega à superfície da Terra é cada vez maior, especialmente nas latitudes setentrionais. Isto ocorre porque reações químicas entre o ozônio e os clorofluorocarbonos (substâncias químicas utilizadas em geladeiras e presentes em propelentes de sprays) estão destruindo a camada protetora de ozônio, criando uma atmosfera mais delgada e que apresenta alguns orifícios.

Prevenção

O melhor modo (e o mais óbvio) de evitar o dano causado pelo sol é permanecer longe da luz solar direta e intensa. As vestimentas adequadas e os vidros comuns das janelas filtram praticamente todos os raios nocivos. A água não é um bom filtro de raios UV. Os raios UVA e UVB podem atravessar aproximadamente 30 centímetros de água transparente, como podem perceber aqueles que mergulham próximo à superfície e aqueles que caminham descalços pela borda. Tampouco as nuvens ou a neblina são bons filtros de raios UV. Um indivíduo pode sofrer queimaduras solares em um dia nublado ou com cerração. A neve, a água e a areia refletem a luz solar e amplificam a exposição da pele aos raios UV. Antes da exposição à luz solar direta e intensa, o indivíduo deve aplicar um filtro solar (uma pomada ou um creme contendo substâncias químicas que protegem a pele filtrando os raios UVA e UVB). Muitos filtros solares são impermeáveis ou resistentes à água. Um tipo comum e eficaz de filtro solar contém o ácido para-aminobenzóico (PABA). Como ele exige 30 a 45 minutos para fixar- se fortemente à pele, a natação ou a sudorese logo após a sua aplicação irá eliminá-lo da pele. Ocasionalmente, os filtros solares contendo PABA causam irritação da pele e algumas pessoas podem apresentar reações alérgicas a ele. Um outro tipo de filtro solar contém uma substância química denominada benzofenona. Muitos filtros solares contém PABA e benzofenona ou outras substâncias químicas. Essas combinações fornecem uma proteção contra uma gama mais ampla de raios UV. Outros filtros solares contêm barreiras físicas (p.ex., óxido de zinco ou dióxido de titânio). Essas pomadas brancas e espessas protegem a pele contra a luz solar e podem ser utilizadas em pequenas áreas sensíveis (p.ex., nariz e lábios). Os indivíduos que se preocupam com a aparência podem tingir essas pomadas com cosméticos para combinar com a cor de sua pele. Nos Estados Unidos, os filtros solares são classificados pelo seu número de fator de proteção solar (FPS). Quanto maior o número do FPS, maior a proteção. Os filtros solares com um FPS 15 ou superior bloqueiam a maioria dos raios UV, mas não existe um filtro solar que bloqueie todos eles. A maioria dos filtros solares tende a bloquear apenas os raios UVB, mas os raios UVA também podem causar danos à pele. Alguns filtros solares mais recentes são algo mais eficazes no bloqueio de raios UVA.

Tratamento

O primeiro formigamento ou rubor é um sinal para abandonar rapidamente a exposição ao sol. As compressas de água corrente gelada podem aliviar as áreas avermelhadas, assim como as loções ou pomadas sem anestésicos ou perfumes que possam irritar ou sensibilizar a pele. Os comprimidos de corticosteróides podem ajudar a aliviar a inflamação e a dor em poucas horas. A pele queimada pelo sol começa a curar espontaneamente em poucos dias, mas a cura completa pode levar semanas. As queimaduras solares nas pernas, sobretudo das canelas, tendem a ser particularmente desconfortáveis e a sua cura é lenta. As áreas da pele raramente expostas à luz solar podem sofrer queimaduras graves por possuírem pouco pigmento. Essas áreas incluem aquelas normalmente cobertas pelas roupas de banho, o dorso do pé e o pulso, o qual é normalmente protegido por um relógio. A pele lesada pelo sol torna-se uma barreira deficiente contra a infecção e, quando esta ocorre, pode retardar a cura. O médico pode determinar a gravidade da infecção e, quando necessário, prescrever antibióticos. Após a pele queimada descascar, as novas camadas expostas ao sol são finas e muito sensíveis à sua radiação. Essas áreas podem permanecer extremamente sensíveis durante várias semanas.

Efeitos a Longo Prazo da Radiação Solar

Anos de exposição aos raios solares envelhecem a pele, mas a exposição antes dos 18 anos de idade é provavelmente a mais prejudicial. Embora os indivíduos com pele clara sejam os mais vulneráveis, com uma exposição suficiente a pele de qualquer um sofre alterações. A lesão das camadas profundas da pele causa enrugamento e uma coloração amarelada. A radiação solar também torna a pele mais fina e pode induzir o surgimento de lesões pré-cancerosas (ceratoses actínicas, ceratoses solares). Essas lesões aparecem como áreas descamativas que não curam. Elas também podem ser escuras ou cinzentas e ter uma consistência dura. Os indivíduos que se expõem ao sol exageradamente apresentam um maior risco de apresentar câncer de pele, incluindo o carcinoma carcinoma epidermóide, o carcinoma basocelular e, em um certo grau, o melanoma maligno.

O Bronzeado é Saudável?


Numa palavra: não. Embora o bronzeado do sol seja considerado um sinal de boa saúde e de uma vida atlética e ativa, o bronzeado em si representa um risco à saúde. Qualquer exposição à luz UVA ou UVB pode alterar ou lesar a pele. A exposição prolongada à luz solar natural ou à luz solar artificial num centro de bronzeamento pode causar lesões crônicas da pele. Simplesmente, não existe uma “bronzeado seguro”.


Tratamento

A chave do tratamento é evitar a exposição ao sol. No entanto, qualquer lesão que já tiver ocorrido não pode ser revertida. Os cremes umectantes e a maquiagem ajudam a mascarar as rugas. Algumas vezes, agentes esfoliantes (alfa-hidroxiácidos e tretinoína) são aplicados na tentativa de desfazer lesões muito antigas, especialmente as rugas muito finas e a pigmentação irregular. Embora os benefícios desses tratamentos tenham sido demonstrados, existem poucas evidências convincentes de que as rugas profundas podem desaparecer permanentemente ou que a lesão da pele pode ser revertida. As lesões pré-cancerosas podem evoluir para o câncer de pele. Comumente, as ceratoses solares ou actínicas podem ser removidas através da congelação com nitrogênio líquido. Contudo, quando o indivíduo apresenta uma quantidade excessiva de lesões, pode ser aplicado um líquido ou pomada contendo fluorouracil. Durante este tratamento, a pele freqüentemente parece pior porque o fluorouracil causa hiperemia, descamação e queimação das zonas de ceratose e da pele circunvizinha que está lesada pelo sol.

Reações de Fotossensibilidade da Pele

Embora as queimaduras solares e as lesões causadas pela luz solar demorem para aparecer, alguns indivíduos apresentam reações incomuns após apenas alguns minutos de exposição ao sol. Essas reações incluem a hiperemia, a descamação, a urticária, bolhas e áreas espessas e descamativas. Muitos fatores podem contribuir para essa sensibilidade ao sol (fotossensibilidade). A causa mais comum é o uso de certos medicamentos (p.ex., alguns antibióticos, diuréticos e agentes antifúngicos). As reações de fotossensibilidade também podem ser causadas por sabões, perfumes como águas de toalete perfumadas (especialmente as que contêm bergamota e têm o odor de menta ou de frutas cítricas), alcatrões da hulha utilizados no tratamento da escabiose e do eczema e substâncias encontradas em plantas (p.ex., capim-do-prado e salsa). Certas doenças (p.ex., lúpus eritematoso sistêmico e porfiria) também podem causar reações de fotossensibilidade. Algumas reações à luz (erupções polimorfas) parecem não ter qualquer relação com doenças ou drogas. Em alguns indivíduos, mesmo a exposição breve ao sol produz urticária (manchas vermelhas elevadas) ou eritema multiforme nas áreas expostas ao sol. As reações cutâneas à luz são mais comuns nos indivíduos que vivem em climas temperados, quando eles se expõem pela primeira vez e intensamente à luz do sol na primavera ou no verão. Essas reações são incomuns em pessoas que se expõem ao sol durante o ano todo.

Prevenção e Tratamento

A extrema sensibilidade à luz solar exige o uso de vestimentas protetoras, evitar o máximo possível a luz solar e o uso de filtros solares. Uma investigação minuciosa de qualquer doença, o uso de medicamentos orais ou de substâncias aplicadas sobre a pele (p.ex., medicamentos ou cosméticos) pode ajudar o médico a determinar a causa da fotossensibilidade. No entanto, determinar a causa é uma tarefa difícil e, algumas vezes, impossível. Algumas vezes, o tratamento prolongado com hidroxicloroquina pode evitar as reações de fotossensibilidade e, freqüentemente, os corticosteróides orais podem acelerar a recuperação dessas reações. Para certos tipos de fotossensibilidade, o tratamento pode consistir no uso de psoralenos (drogas que sensibilizam a pele à luz solar) e a exposição da pele à luz UVA. Os indivíduos com lúpus eritematoso sistêmico não conseguem tolerar esse tratamento.

fonte: Manual Merck