ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Lesão ao Trato Urinário


O trato urinário (rins, ureteres, bexiga e uretra) pode ser lesado por feridas penetrantes, golpes, radioterapia ou cirurgia. Os sintomas mais comuns são a presença de sangue na urina, a diminuição da micção e a dor. Essas lesões podem causar dor, edema, hematomas e, quando suficientemente graves, uma pressão arterial perigosamente baixa (choque). Como os produtos da degradação metabólica devem ser filtradas continuamente do sangue pelos rins e removidas do organismo através do trato urinário, qualquer lesão que interfere neste processo pode ser fatal. A prevenção das lesões permanentes do trato urinário e inclusive da morte pode depender do diagnóstico e do tratamento precoces.

Lesões Renais

A causa mais comum das lesões renais é a contusão (golpe externo), a qual ocorre devida a acidentes automobilísticos, quedas ou lesões esportivas. As lesões penetrantes renais podem ser resultantes de feridas por armas de fogo ou por armas brancas. As lesões variam muito. As lesões menores podem acarretar pequenas quantidades de sangue na urina, as quais somente são detectáveis ao exame microscópico, enquanto que as lesões mais importantes apresentam maior probabilidade de produzir sangramento macroscópico (visível a olho nu) na urina. Quando o rim é gravemente lesado (condição denominada rim fraturado), o sangramento pode ser muito intenso e a urina pode extravasar para os tecidos vizinhos. Quando o rim é separado do pedículo renal, o qual contém a artéria e a veia renais, o sangramento pode ser abundante e acarretar o choque e a morte. A lesão causada pela litotripsia extracorpórea por onda de choque (um procedimento comum utilizado para fragmentar cálculos renais) pode acarretar a presença temporária de sangue na urina, a qual normalmente não é importante. Este tipo de lesão cura sem tratamento.

Os estudos radiológicos dos rins e do trato urinário, (p.ex., urografia intravenosa com tomografia computadorizada) podem determinar de forma acurada a localização e a extensão da lesão. Ocasionalmente, pode ser necessária a realização de exames de diagnóstico por imagem mais detalhados.

O tratamento começa com medidas para controla a perda sangüínea e impedir o choque. Para normalizar a pressão arterial e estimular a produção de urina, é realizada a administração intravenosa de líquido. Quando necessário, podem ser realizados estudos radiográficos adequados para caracterizar a lesão. Para as lesões renais menos importantes (p.ex., as causadas pela litotripsia extracorpórea por onda de choque) o único tratamento necessário consiste em um controle rigoroso da ingestão líquida e o repouso ao leito. As lesões importantes que causam um sangramento incontrolável ou o extravasamento de grandes volumes de urina para os tecidos vizinhos podem exigir uma reparação cirúrgica.

Quando o suprimento sangüíneo ao rim é insuficiente, o tecido renal normal, o qual deve ser nutrido pelo sangue para sobreviver, pode morrer e ser substituído por tecido cicatricial. Essas lesões podem acarretar hipertensão arterial, a qual ocorre semanas ou meses após uma lesão renal. Geralmente, quando são imediatamente diagnosticadas e tratadas, a maioria das lesões renais apresenta um bom prognóstico.


Lesões Renais

A gravidade das lesões renais varia amplamente. Uma lesão pode ser superficial, resultando apenas em contusão do rim. No caso de uma lesão mais grave, o rim pode ficar lacerado e urina pode vazar para o tecido circunjacente. Se o rim for arrancado de sua haste (pedículo renal), o sangramento pode ser abundante, resultando em choque e/ou morte. Sangue na urina pode, ou não, acompanhar qualquer dessas lesões.

Lesões Uretrais

A maioria das lesões dos ureteres (os tubos que vão dos rins à bexiga) ocorrem durante cirurgias pélvicas ou abdominais (p.ex., histerectomia, ressecção de cólon) ou durante uma ureteroscopia (exame dos ureteres com o auxílio de um tubo de fibra óptica). Freqüentemente, essas lesões permanecem não detectadas até que ocorra redução da micção ou extravasa-mento de urina através da ferida. Em geral os sintomas são inespecíficos e o paciente pode apresentar dor ou febre.

As outras causas de lesão ureteral incluem as feridas penetrantes, normalmente ferimentos por arma de fogo. A lesão ureteral causada por um golpe é incomum. Raramente, as contusões, sobretudo aquelas que fazem com que o tronco incline para trás, podem separar a parte superior do ureter do rim. Os exames diagnósticos úteis incluem a urografia intravenosa, tomografia computadorizada (TC) e, quando necessário, a urografia retrógrada. Na urografia retrógrada, radiografias são realizadas após a injeção de um contraste (substância radiopaca visível nas radiografias) diretamente no ureter, o qual delineia todo o seu trajeto.

Quando um ureter é lesado acidentalmente durante uma cirurgia, pode ser necessária a realização de uma outra cirurgia para repará-lo.

Um cirurgião urológico pode realizar a reconexão do ureter ou pode conectá-lo a uma outra parte da bexiga. A cirurgia é o melhor tratamento para as lesões ureterais penetrantes causadas por ferimentos por arma de fogo ou por arma branca.

Lesões na Bexiga

As lesões por esmagamento da pelve que resultam em fraturas, freqüentes em decorrência de acidentes automobilísticos, podem acarretar ruptura da bexiga. As feridas penetrantes, habitualmente por arma de fogo, também podem lesar a bexiga. Os principais sintomas são a presença de sangue na urina e a dificuldade de micção. O diagnóstico é mais adequadamente estabelecido através da cistografia, um procedimento no qual um contraste (substância radiopaca visível nas radiografias) é injetado na bexiga e, em seguida, são realizadas radiografias em busca de escapes de urina.

As lacerações menores podem ser tratadas através da passagem de uma sonda uretral para drenar a urina por 7 a 10 dias, enquanto a bexiga cicatriza por si. Para as lesões mais graves, a cirurgia é normalmente realizada para a determinação da extensão da lesão e a reparação de qualquer laceração presente. Neste caso, a urina poderá ser drenada da bexiga com maior eficácia através da utilização de duas sondas, uma delas sendo inserida na uretra (sonda transuretral) e a outra colocada diretamente na bexiga através da região abdominal inferior (cateter suprapúbico). Esses cateteres são removidos após 7 a 10 dias ou após ter ocorrido uma cicatrização satisfatória da bexiga.

Lesões Uretrais

As causas comuns de lesões importantes da uretra incluem as fraturas da pelve e as lesões “à cavaleiro” (entre as pernas) nos homens. As intervenções cirúrgicas diretas na uretra ou as manobras durante as quais são passados instrumentos no seu interior também podem lesá-la, apesar delas serem relativamente menores. Os sintomas incluem a presença sangue na ponta do pênis, a urina sanguinolenta e a incapacidade de urinar. Raramente, a urina extravasa para os tecidos da parede abdominal, da bolsa escrotal ou do períneo (área entre o ânus e a vulva ou a bolsa escrotal. A estenose da uretra no local da lesão é uma complicação comum, a qual pode ocorrer mais tarde. Essas lesões podem acarretar impotência, causada pela lesão das artérias e dos nervos que suprem o pênis. O diagnóstico de uma lesão é baseado em uma uretrografia retrógrada (radiografia realizada após a injeção de um contraste diretamente na uretra).

Para o tratamento das contusões uretrais leves, é realizada a passagem de uma sonda através da uretra até a bexiga. Esta sonda é mantida durante vários dias para que a urina possa sair enquanto a uretra cicatriza. Para todas as outras lesões, deve ser realizado o desvio da urina da uretra com a passagem de um cateter diretamente no interior da bexiga (cateter suprapúbico). No caso de ocorrer uma estenose uretral, esta pode ser reparada cirurgicamente.

Fonte: Manual Merck