ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

CANCRO MOLE


CANCRO MOLE

Também chamado cancro venéreo simples ou cancróide, é doença infecto-contagiosa, essencialmente de transmissão sexual, geralmente localizada na genitália externa, às vezes na região anal.


Epidemiologia e Etiologia :

Seu agente etiológico, denominado Haemophilus ducreyi, é um bastonete Gram-negativo, pequeno, imóvel, aeróbio e não encapsulado. Predomina no sexo masculino, numa proporção de 20 a 30 casos masculinos para 1 feminino, sendo a mulher muitas vezes portadora assintomática. Prevalece nas regiões tropicais e nas comunidades com baixo nível de higiene, apesar dos registros em clínicas privadas e em indivíduos de nível universitário estarem aumentando..

Quadro Clínico :

Após um período de incubação de um a quatro dias, surge a lesão inicial (mácula, pápula, vesícula ou pústula), que rapidamente evolui para ulceração. Inicialmente única, logo se reproduz por auto-inoculação na vizinhança. As lesões ulceradas são dolorosas, com bordas irregulares, talhadas a pique, fundo purulento e anfractuoso, com base mole. O bacilo tem predileção por pele e semimucosas, sendo raro o acometimento de mucosas.

No homem, acomete principalmente prepúcio e sulco banaloprepucial, e, na mulher, grandes e pequenos lábios, fúrcula e colo uterino. Por vezes as lesões podem complicar-se devido à associação fusoespiralar. Em cerca de 5% dos casos, pode surgir o cancro misto de Rollet. Bubão regional (inguinal), quase sempre unilateral, extremamente doloroso, de evolução aguda, culminando em supuração por uma única fístula, ocorre em 30 a 50% dos casos sendo raro no sexo feminino. A pele sobre a adenite apresenta-se fina e eritematosa. Ausência de sintomatologia geral.


Exames Laboratorias :

Os exames utilizados são de baixa sensibilidade, predominando a clínica. Baseiam-se principalmente no exame direto e na cultura. O exame bacterioscópico deve ser feito após limpeza da lesão com soro fisiológico, coletando-se, com alça de platina ou espátula, exsudato pururlento do fundo da lesão, preferencialmente sob as bordas. A positividade ocorre em 50% dos casos. É sempre boa norma a pesquisa de T. Pallidum. Quando o bubão estiver presente, pode-se puncioná-lo e proceder ao esfregaço.


Diagnóstico diferencial :

Quando da presença de lesões ulceradas, deverá ser feiro com cancro sifilítico, herpes simples, tuberculose e donovanose. Quando da presença de adenopatia, deverá ser feito com adenites piogênicas, linfomas, linfogranuloma inguinal e tuberculose. Por ser, na maioria das vezes, o diagnóstico diferencial feito com o cancro duro, estão relacionadas, na tabela adiante, suas principais características.

Cancro Sifilítico Cancro Mole
Período de incubação longo (21 a 30 dias) Período de incubação curto (1 a 4 dias)
Geralmente lesão única Geralmente lesões múltiplas
Erosão/exulceração Ulcerações
Borda em rampa Borda talhada a pique
Fundo limpo e liso fundo sujo, purulento e anfractuoso
Indolor Doloroso
Base dura Base mole
Involui espontaneamente sem deixar cicatriz não involui espontaneamente e cura com sequelas
adenopatia constante, indolor, múltipla, dura e aflegmásica adenopatia em 30 a 50% dos casos, dolorosa, unilateral, supurativa, fistulizante através de orifício único

Tratamento :

Terapêutica sistêmica

  1. Azitromicina : 1 g VO, dose única
  2. Ceftriaxona : 250 mg IM, dose única
  3. Eritromicina : 500 mg VO, de 6/6 h
  4. Tianfenicol : 2 cápsulas de 500 mg VO, de 8/8 h
  5. Tetraciclinas : 600 mg VO, de 6/6 h
  6. Sulfato de Estrepatomicina : 1 g/dia, IM

O tempo mínimo de tratamento é de 10 dias ou até a cura clínica das lesões e/ou adenite, que, em geral, ocorre após duas semanas de tratamento. Deve ser lembrado que tetraciclina e eritromicina, na dose de 2 g diários por 15 dias, estarão tratando eventualmente outras DST (sífilis, gonorréia, uretrites por Chlamydia sp.)

No caso de gestantes, não representa ameaça para a mãe nem para o feto ou neonato. No tratamento devem ser evitadas as tetraciclinas, o tiafenicol no primeiro trimestre de gestação e as sulfas nas últimas semanas de gestação. Eritromicina, à exceção do estolato, é um medicamento efetivo e isento de risco.

Terapêutica local

O tratamento tópico das lesões ulceradas é fundamental para acelerar a sua cicatrização. Deve ser feito com compressas de permanganato de potássio diluído em água morna 1:40.000 ou com água boricada a 2%, 3 vezes ao dia, durante 15 minutos. Quanto a adenite, o repouso é importante na recuperação. Caso apresente flutuação ou tamanho maior do que 5 cm, deverá ser aspirado atravpes da pele normal adjacente, evitando assim sua fistulização. Incisão e drenagem estão contra-indicadas por retardarem o processo de cicatrização e pela possibilidade de disseminação da infecção.

Tratamento epidemiológico

Os parceiros sexuais devem ser tratados durante 10 dias com um dos esquemas citados.


Prognóstico :

A resposta ao tratamento é boa, com esterilização das lesões em 48 horas. No caso de ausência de melhora clínica e laboratorial, é importante a realização de cultura e antibiograma.

Bibliografia: