ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Doenças Bolhosas




Muitas doenças e lesões podem causar a formação de bolhas, porém três doenças auto-imunes (o pênfigo, o penfigóide bolhoso e a dermatite herpetiforme) encontram-se entre as mais graves. Em uma doença auto-imune, o sistema imune, o qual normalmente ataca os invasores estranhos do corpo (p.ex., agentes infec-ciosos) é ativado erroneamente contra um componente normal do organismo (nesse caso, um componente da pele).

Pênfigo

O pênfigo é uma doença incomum, algumas vezes fatal, na qual ocorre a formação de bolhas de vários tamanhos na pele, no revestimento da boca, na vagina, na pele que recobre o pênis e em outras membranas mucosas. O pênfigo ocorre mais freqüentemente em indivíduos de meia-idade e idosos. Ele raramente ocorre em crianças. A doença é causada por um ataque auto-imune contra as estruturas localizadas sobre as superfícies das células epidérmicas que mantêm o contato intercelular e a textura do tecido.

Sintomas

As lesões características do pênfigo são bolhas de tamanhos variados, claras, geralmente macias, cheias de líquido e, em determinadas formas de pênfigo, aparecem placas descamativas. A compressão ou a fricção discreta pode descolar facilmente a superfície da pele das camadas inferiores. Freqüentemente, as bolhas surgem primeiro na boca e logo se rompem, formando úlceras dolorosas. Em seguida, podem surgir mais bolhas e ulcerações, até todo o revestimento da boca tornar- se afetado. Um padrão similar ocorre na pele: primeiramente ocorre a formação de bolhas sobre a pele aparentemente normal. Em seguida, elas rompem e deixam lesões com crostas e em carne viva. As bolhas podem ser generalizadas e, uma vez rompidas, elas podem tornar-se infectadas.

Diagnóstico e Tratamento

O exame microscópico de rotina e os exames imunológicos de uma amostra de pele para verificar a presença de depósitos de anticorpos permitem ao médico estabelecer o diagnóstico definitivo dessa doença. O objetivo principal do tratamento é impedir a formação de novas bolhas. A supressão parcial do sistema imune com um corticosteróide oral (p.ex., prednisona) pode atingir esse objetivo, mas às custas de tornar o corpo mais suscetível à s infecções. Geralmente, nos 7 a 10 dias iniciais, o corticosteróide é administrado em doses elevadas e, a seguir, a dose é reduzida lentamente. Para manter a doença sob controle, o indivíduo deve tomar o medicamento durante vários meses ou mesmo anos.

Outras drogas que suprimem o sistema imune (p.ex., metotrexato, ciclofosfamida, azatioprina e sais de ouro) também podem ser prescritas, de modo que a dose do corticosteróide possa ser diminuída. No entanto, essas drogas potentes também produzem efeitos colaterais próprios. Os medicamentos imunossupressores também podem ser utilizados juntamente com a plasmaferece, um procedimento no qual os anticorpos são filtrados do sangue. As superfícies cutâneas que se encontram em carne viva necessitam de cuidados extraordinários, semelhantes aos providos às vítimas de queimaduras. Antibióticos e outros medicamentos podem ser necessários para tratar as infecções de bolhas rompidas. Curativos impregnados com vaselina ou outros tipos de curativos podem proteger as áreas exsudativas e em carne viva.

Penfigóide Bolhoso

O penfigóide bolhoso é uma doença auto-imune que provoca a formação de bolhas. Embora não seja tão perigoso quanto o pênfigo, o penfigóide bolhoso pode persistir por um longo tempo. Essa doença tende a afetar os indivíduos idosos. As bolhas são duras e tensas e a pele que as separam torna-se vermelha e pode inflamar. Ao contrário do pênfigo, geralmente não ocorre a formação de bolhas na boca. Comumente, o penfigóide bolhoso é pruriginoso. No início da doença, o prurido e a presença de áreas urticariformes podem ser os únicos sintomas.

Diagnóstico e Tratamento

O exame microscópico de rotina e os exames imunológicos de uma amostra de pele para verificar a presença de depósitos de anticorpos permitem ao médico estabelecer um diagnóstico definitivo dessa doença. Geralmente, o médico prescreve um corticosteróide oral para suprimir o sistema imune e controlar a doença. Inicialmente, é administrada uma dose elevada. No decorrer de várias semanas, a dose é diminuída gradualmente.

Dermatite Herpetiforme

A dermatite herpetiforme é uma doença autoimune na qual ocorre a formação de aglomerados de pequenas bolhas e de pápulas similares à urticária intensamente pruriginosas e persistentes. A doença afeta principalmente os adultos com 15 a 60 anos de idade. Ela raramente afeta os indivíduos negros ou asiáticos. Nas pessoas com a doença, o glúten (proteínas) do trigo, do centeio, da cevada ou da aveia ativa o sistema imune, o qual ataca partes da pele e de alguma forma produz erupção cutânea e prurido. Os indivíduos com dermatite herpetiforme quase sempre apresentam sinais de doença intestinal (doença celíaca). Além disso, eles apresentam uma tendência a apresentar doenças da tireóide. Geralmente, as pequenas bolhas surgem gradualmente, sobretudo nos cotovelos, nos joelhos, nas nádegas, nas região lombar e na parte posterior da cabeça. Algumas vezes, ocorre a formação de bolhas na face e no pescoço. O prurido e a sensação de queimação podem ser intensos.

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico é baseado em um exame de amostras frescas de pele para localizar a presença de anticorpos nas estruturas cutâneas. O tratamento pode não ser necessário quando o indivíduo segue uma dieta rigorosa isenta de trigo, centeio, cevada e aveia. Os antiinflamatórios (p.ex., ibuprofeno) podem piorar a erupção. A dapsona quase sempre provê um alívio em 1 a 2 dias. Ela pode causar muitos efeitos colaterais, particularmente sobre as células do sangue, e, geralmente, causa anemia. Os dermatologistas controlam os níveis de células do sangue nos indivíduos que fazem uso da dapsona. Na maioria dos pacientes, a doença dura muito tempo e, por essa razão, eles devem tomar a dapsona durante muitos anos.