ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O que é osteoartrite?


A osteoartrite (artrose, artrite degenerativa, doença articular degenerativa, artropatia degenerativa) é um distúrbio crônico das articulações caracterizado pela degeneração da cartilagem articular e do osso adjacente, podendo causar dor e rigidez articulares. A osteoartrite, o distúrbio articular mais comum, afeta em um certo grau muitos indivíduos aproximadamente em torno dos 70 anos de idade. Os homens e as mulheres são igualmente afetados, mas o distúrbio tende a ocorrer mais precocemente nos homens.

A osteoartrite também ocorre em todos os animais vertebrados (que contêm coluna vertebral), inclusive nos peixes, nos anfíbios e nas aves. Os animais aquáticos, como os golfinhos e as baleias, podem apresentar osteoartrite, mas os animais que costumam ficar grande parte do tempo de cabeça para baixo (p.ex., morcegos e preguiças) não apresentam osteoartrite. Como se trata de um distúrbio altamente disseminado no reino animal, alguns estudiosos acreditam que a osteoartrite pode ter evoluído a partir de um método antigo de reparação da cartilagem.

Muitos mitos sobre a osteoartrite ainda persistem. Por exemplo, que trata-se de um fato inevitável do processo de envelhecimento, como os cabelos grisalhos e as alterações da pele; que a osteoartrite produz incapacidades mínimas; e que o seu tratamento não é eficaz. Embora a osteoartrite seja mais comum em indivíduos idosos, ela não é causada pelo simples desgaste que ocorre com o processo de envelhecimento. Quase todos os indivíduos que apresentam esse distúrbio, especialmente os mais jovens, são assintomáticos ou apresentam poucos sintomas. Entretanto, alguns individuos idosos apresentam incapacidades importantes.

Causas

Normalmente, as articulações apresentam um nível de atrito tão baixo que não sofrem desgaste, exceto quando utilizadas excessivamente ou quando sofrem lesões. A osteoartrite começa com uma alteração das células que sintetizam os componentes da cartilagem, como o colágeno (proteína fibrosa e resistente encontrada no tecido conjuntivo) e os proteoglicanos (substâncias que provêem a elasticidade da cartilagem).

Em seguida, a cartilagem pode crescer exageradamente, mas, finalmente, ela diminui de espessura e apresenta fissuras em sua superfície. Ocorre a formação de pequenas cavidades na medula óssea localizada sob a cartilagem, enfraquecendo o osso. Pode ocorrer um crescimento ósseo excessivo nas bordas da articulação, produzindo tumefações (osteófitos) que podem ser observados e palpados. Essas protuberâncias podem afetar o funcionamento normal da articulação, causando dor. Em última instância, a superfície lisa e deslizante da cartilagem torna-se irregular e apresenta depressões puntiformes, impedindo que a articulação mova-se suavemente.

Ocorre alteração da articulação em decorrência da deterioração de todos os seus componentes, isto é, os ossos, a cápsula articular (tecido que envolve algumas articulações), a membrana sinovial (tecido que reveste a articulação), os tendões e a cartilagem. A osteoartrite é classificada como primária (idiopática), quando a sua causa é desconhecida, e como secundária, quando ela é decorrente de um outro problema (p.ex., doença de Paget ou uma infecção, deformidade, lesão ou uso excessivo da articulação).

Os indivíduos que utilizam determinadas articulações de forma repetitiva, como os operários de fundições mineiros e motoristas de ônibus, apresentam maior risco. Entretanto, os corredores de longa distãncia treinados não apresentam um maior risco de desenvolver esse distúrbio. A obesidade pode ser um fator importante no desenvolvimento da osteoartrite. No entanto, não existem evidências conclusivas a respeito.

Sintomas

Ao atingirem os 40 anos de idade, muitos indivíduos apresentam algumas evidências radiográficas de osteoartrite, especialmente nas articulações que sustentam o peso, como a do quadril. No entanto, um número relativamente pequeno apresenta sintomas. Geralmente, os sintomas apresentam um desenvolvimento gradual e afetam apenas uma ou algumas poucas articulações.

As articulações dos dedos das mãos, da base dos polegares, do pescoço, da região lombar, dos dedos dos pés, dos quadris e dos joelhos são as comumente afetadas. A dor, a qual geralmente piora com a prática de exercícios, é o primeiro sintoma. Alguns indivíduos podem apresentar rigidez articular após um período de sono ou após um período de inatividade, mas, normalmente, a rigidez desaparece 30 minutos após a articulação começar a ser movimentada. À medida que a lesão causada pela osteoartrite piora, a articulação pode tornar-se menos móvel e, finalmente, ela pode congelar em flexão.

O novo crescimento da cartilagem, do osso ou de qualquer outro tecido pode fazer com que as articulações aumentem de tamanho. A cartilagem irregular produz rangido e crepitação quando as articulações são movimentadas. Freqüentemente, ocorre a formação de protuberâncias ósseas (nódulos de Heberden) nas pontas dos dedos das mãos. Em algumas articulações, como a do joelho, os ligamentos (que circundam e sustentam a articulação) são distendidos e provocam instabilidade articular. A palpação ou a movimentação da articulação podem ser muito dolorosas.

Em contraste, o quadril torna-se mais rígido, com redução da amplitude dos movimentos. A movimentação dessa articulação também é muito dolorosa. Freqüentemente, a osteoartrite afeta a coluna vertebral. A dor nas costas é o sintoma mais comum. Em geral as articulações lesadas da coluna vertebral causam somente dor leve e rigidez. Entretanto, no caso do crescimento ósseo excessivo comprimir nervos, a osteoartrite da coluna cervical (pescoço) ou da região lombar (porção baixa das costas) pode causar adormecimento, sensações incomuns, dor e fraqueza de um membro superior ou inferior.

Raramente, ocorre compressão dos vasos sangüíneos que irrigam a parte posterior do cérebro. Quando isto ocorre, o indivíduo pode apresentar problemas de visão, vertigem, náusea e vômito. Algumas vezes, os crescimentos ósseos comprimem o esôfago, dificultando a deglutição. Mais freqüentemente, a osteoartrite evolui lentamente após o surgimento dos sintomas e muitos indivíduos terminam apresentando um certo grau de invalidez, mas, ocasionalmente, a degeneração articular cessa ou chega mesmo a ser revertida.

Tratamento

Exercícios apropriados, incluindo os de alongamento, de musculação e posturais – ajudam a manter a cartilagem saudável, aumentam a amplitude dos movimentos da articulação e fortalecem os músculos circunvizinhos, de modo que eles possam absorver melhor os choques. O exercício deve ser equilibrado com o repouso das articulações doloridas. No entanto, é mais provável que a imobilização de uma articulação piore a osteoartrite ao invés de aliviá-la. O uso de cadeiras, poltronas reclináveis, colchões e assentos de carro excessivamente macios pode piorar os sintomas. Comumente, recomenda-se o uso de cadeiras de encosto reto, colchões duros e estrados de cama inteiriços.

Para a osteoartrite da coluna vertebral, exercícios específicos algumas vezes são úteis e, quando o quadro é grave, pode ser necessário o uso de suportes ou coletes ortopédicos para as costas. A manutenção das atividades cotidianas, de um papel ativo e independente no seio da família e da atividade laborativa é importante. A fisioterapia, freqüentemente terapia com calor, pode ser útil. Por exemplo, para o tratamento de dor nos dedos das mãos, pode ser recomendado o uso de cera de parafina quente misturada a um óleo mineral a temperaturas de 47°C-52°C, o banho de parafina e banhos com água quente ou morna. As talas ou os suportes podem proteger articulações específicas durante a realização de atividades que provocam dor. Nos casos de osteoartrite da região cervical, a massagem realizada por terapeutas treinados, a aplicação de tração e o tratamento térmico profundo com diatermia ou ultra-som podem ser úteis.

As drogas são o aspecto menos importante do programa global de tratamento. Um analgésico (p.ex., acetaminofeno) pode ser suficiente. O paciente pode tomar uma droga antiinflamatória não esteróide (p.ex., aspirina ou ibuprofeno) para diminuir a dor e o edema. Se uma articulação torna- se abruptamente inflamada, edemaciada e dolorida, pode ser realizada a injeção intra-articular de corticosteróides. Geralmente, esse tratamento proporciona apenas um alívio de curta duração. A cirurgia pode ser útil quando todos os demais tratamentos não propiciaram alívio ao paciente. Algumas articulações, mais comumente a do quadril e a do joelho, podem ser substituídas por uma articulação artificial. A substituição costuma ser muito eficaz, quase sempre melhorando os movimentos e a função e reduzindo a dor de forma dramática. Por essa razão, quando a função torna-se limitada, a substituição da articulação deve ser aventada.

fonte: Manual Merck