ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Infecções por Riquétsias


As riquétsias são microrganismos que apresentam tanto características das bactérias quanto dos vírus. Como as bactérias, as riquétsias possuem enzimas e paredes celulares, utilizam o oxigênio e podem ser controladas ou destruídas por antibióticos. Como os vírus, as riquétsias somente conseguem viver e multiplicar-se no interior das células. Normalmente, as riquétsias vivem em carrapatos, ácaros, pulgas e piolhos e podem ser transmitidas para o ser humano através de picadas desses insetos hematófagos (sugadores de sangue). No ser humano, as riquétsias geralmente vivem no interior das células que revestem os pequenos vasos sangüíneos, causando inflamação ou obstrução dos mesmos ou sangramento para o tecido circunvizinho.

Sintomas e Diagnóstico

Uma infecção causada por riquétsias pode causar febre, erupção cutânea e uma sensação de malestar generalizado. Como a erupção característica comumente leva vários dias para surgir, o diagnóstico precoce é difícil. A infestação por pulgas ou piolhos ou uma picada prévia de um carrapato, sobretudo nas regiões geográficas onde uma doença causada por riquétsias é comum (endêmica) é uma pista útil para o estabelecimento do diagnóstico. O diagnóstico de uma infecção causada por riquétsias pode ser confirmado através da identificação do microrganismo em culturas especiais de amostras de sangue ou de tecido, da identificação do microrganismo ao microscópio com o uso de certos corantes ou da identificação de anticorpos contra o microrganismo em uma amostra de sangue.

Tratamento

A infecção causada por riquétsias responde imediatamente à antibioticoterapia precoce (com cloranfenicol ou tetraciclina). Esses dois medicamentos são administrados pela via oral. Geralmente, ocorre uma melhoria perceptível em 24 a 36 horas e, geralmente, a febre desaparece em 2 a 3 dias. Quando o tratamento é instituído tardiamente, a melhoria é mais lenta e a febre persiste por mais tempo. A antibioticoterapia deve ser mantida pelo menos 24 horas após o desaparecimento da febre. Os antibióticos podem ser administrados pela via intravenosa aos pacientes gravemente doentes que não conseguem ingeri-los. Quando o paciente está gravemente doente ou em um estágio avançado da doença, um corticosteróide pode ser prescrito por alguns dias, além do antibiótico, para aliviar os sintomas tóxicos graves e também para ajudar a reduzir a inflamação dos vasos sangüíneos.

Tifo Murino

O tifo murino (tifo da pulga do rato, tifo urbano da Malásia) é causado pela Rickettsia typhi e provoca febre e uma erupção cutânea. A Rickettsia typhi vive em pulgas que infestam ratos, camundongos e outros roedores. As pulgas do rato transmitem as riquétsias para os seres humanos. A doença ocorre em todo o mundo, freqüentemente em surtos, sobretudo em áreas urbanas populosas onde os ratos são comuns.

Sintomas e Tratamento

Os sintomas iniciam 6 a 18 dias após a infecção. Normalmente, os sintomas iniciais são os calafrios com tremores, a cefaléia e a febre. A febre persiste por aproximadamente 12 dias. Aproximadamente 80% dos pacientes com a infecção apresentam uma erupção cutânea rosa pálido discretamente elevada após 4 ou 5 dias. Inicialmente, a erupção afeta apenas uma pequena parte do corpo e é difícil de ser observada. Após 4 a 8 dias, ela desaparece gradualmente. Como as demais infecções causadas por riquétsias, o tifo murino é tratado com antibióticos. A maioria dos pacientes com tifo murino recuperam-se totalmente. Contudo, os indivíduos idosos e os debilitados, sobretudos aqueles com comprometimento do sistema imunológico, podem morrer.

Outras Infecções Causadas por Riquétsias


Doença
Microrganismo Infeccioso
Localização da Infecção
Características da Infecção
Tifo epidêmico
Tifo epidêmico
No mundo todo
Após um período de incubação de 7 a 14 dias, o início é súbito com febre, cefaléia e fadiga extrema (prostração). Surge uma erupção cutânea em torno do 4º ou 6º dia. Quando não tratada, a infecção pode ser fatal, especialmente em indivíduos com mais de 50 anos de idade.
Tifo rural
Rickettsia tsutsugamushi, transmitida por ácaros Zona do Pacífico asiático, delimitada pelo Japão, Índia, Austrália e Tailândia Após um período de incubação de 6 a 21 dias, o início é súbito com febre, calafrios e cefaléia. Uma erupção surge entre o 5º e o 8º dia.
Erlichiose
Ehrlichia canis ou uma espécie muito próxima, transmitida pelo carrapato marrom do cão
No mundo todo
Semelhante à febre maculosa das Montanhas Rochosas, mas sem a erupção. Quando não tratada, a infecção é freqüentemente fatal.
Riquetsialpox
Rickettsia akari, transmitida por ácaros Observada pela primeira vez em Nova York, também tem ocorrido em outras áreas dos Estados Unidos, na Rússia, na Coréia e na África Aproximadamente uma semana antes do surgimento da febre, surge na pele uma pequena úlcera similar a um botão, com um centro preto, A febre é intermitente e persiste por aproximadamente uma semana. Ela é acompanhada por calafrios, sudorese profusa, cefaléia, sensibilidade ao sol e dores musculares.
Febre Q
Coxiella burnetii (Rickettsia burnetii), transmitida através da inalação de gotículas infectadas contendo as riquétsias ou pelo consumo de leite cru infectado Após um período de incubação de 9 a 28 dias, o início é súbito com febre, cefaléia intensa, calafrios, fraqueza extrema, dores musculares, dor torácica e pneumonite, mas sem erupção. Após um período de incubação de 9 a 28 dias, o início é súbito com febre, cefaléia intensa, calafrios, fraqueza extrema, dores musculares, dor torácica e pneumonite, mas sem erupção.
Após um período de incubação de 9 a 28 dias, o início é súbito com febre, cefaléia intensa, calafrios, fraqueza extrema, dores musculares, dor torácica e pneumonite, mas sem erupção. Bartonella uintana, transmitida por piolhos México, Tunísia, Eritréia, Polônia e Rússia Após um período de incubação de 14 a 30 dias, o início é súbito com febre, fraqueza, tontura, cefaléia e dores intensas nas costas e nos membros inferiores. A doença pode ser prolongada e debilitante.

Febre Maculosa das Montanhas Rochosas

A febre maculosa das Montanhas Rochosas (febre maculosa, febre do carrapato, tifo do carrapato) é causada pela Rickettsia rickettsii e é transmitida por carrapatos ixodídeos. A Rickettsia rickettsii é exclusiva do hemisfério ocidental. Embora este microrganismo tenha sido detectado pela primeira vez nos estados das Montanhas Rochosas, ele é encontrado em todos os Estados Unidos, exceto no Maine, no Havaí e no Alasca. Essa riquétsia é particularmente comum na costa atlântica. A doença costuma ocorrer entre os meses de maio e setembro, quando os carrapatos adultos estão ativos e é mais fácil encontrar pessoas em áreas infestadas por esses ácaros. Nos estados do sul dos Estados Unidos, os casos ocorrem durante o ano todo. Os indivíduos que passam muito tempo fora de casa nas áreas infestadas por carrapatos (p.ex., crianças com menos de 15 anos) apresentam um maior risco de adquirir a infecção. Os carrapatos infectados transmitem as riquétsias para coelhos, esquilos, veados, ursos, cães e seres humanos. A doença não é transmitida diretamente de pessoa a pessoa. As riquétsias vivem e multiplicam-se nas células que revestem os vasos sangüíneos. Os vasos sangüíneos comumente infectados são os da pele e do tecido subcutâneo, do cérebro, dos pulmões, de coração, dos rins, do fígado e do baço. Os vasos podem ser obstruídos por coágulos sangüíneos.

Sintomas

Os sintomas começam subitamente, 3 a 12 dias após a picada de um carrapato. Quanto mais precocemente os sintomas surgirem após a infecção (isto é, quanto menor for o período de incubação), mais graves eles serão. O indivíduo apresenta cefaléia intensa, calafrios, fadiga extrema (prostração) e dores musculares. Após alguns dias, ele apresenta febre de 39,5 °C a 40 °C e, nos casos graves, a febre permanece alta durante 15 a 20 dias. A febre pode desaparecer temporariamente pela manhã. É comum o indivíduo apresentar uma tosse seca e intermitente. Em torno do quarto dia de febre, surge uma erupção sobre os pulsos, os tornozelos, a palma das mãos, a planta dos pés e os antebraços que se estende rapidamente até o pescoço, a face, as axilas, as nádegas e o tronco. No início, a erupcão é plana e rosada, mas, posteriormente, ela torna-se discretamente elevada e mais escura. A água quente (p.ex., um banho quente) torna a erupção cutânea mais evidente. Em aproximadamente 4 dias, surgem pequenas áreas violáceas (petéquias) decorrentes do sangramento cutâneo. Quando essas áreas se fundem, pode ocorrer a formação de uma úlcera. O envolvimento dos vasos sangüíneos cerebrais pode causar cefaléia, agitação, insônia, delírio e coma. O fígado pode aumentar de tamanho. A inflamação do fígado pode produzir icterícia, embora isto seja raro. Pode ocorrer inflamação das vias respiratórias (pneumonite). Além disso, o indivíduo pode apresentar pneumonia, lesão cerebral e lesão cardíaca. Apesar de incomuns, a hipotensão arterial e mesmo a morte súbita ocorrem em casos graves.

Prevenção e Tratamento

Não existe uma vacina contra a febre maculosa das Montanhas Rochosas. Os repelentes de carrapatos como a dietiltoluamida devem ser aplicados sobre a pele e as vestimentas de qualquer indivíduo que trabalha em áreas infestadas por esses ácaros. Esses repelentes são eficazes, mas, ocasionalmente, produzem reações tóxicas, sobretudo em crianças. A higiene corporal e a procura freqüente de carrapatos são medidas importantes de prevenção contra a infecção. Os carrapatos devem ser removidos cuidadosamente, pois as riquétsias podem ser transmitidas quando um carrapato infectado e cheio de sangue é esmagado com os dedos. Não existe qualquer meio prático para se eliminar os carrapatos de áreas ao ar livre inteiras. Contudo, o controle das populações de pequenos animais ajuda a reduzir a quantidade de carrapatos. Os inseticidas também podem ajudar. A febre maculosa das Montanhas Rochosas pode causar uma doença grave ou a morte. Por essa razão, quando um médico suspeita da doença, ele inicia a antibioticoterapia imediatamente, antes que os resultados dos exames laboratoriais se tornem disponíveis. Similarmente, qualquer indivíduo que vive em uma área florestal e apresente febre, cefaléia ou um mal-estar deve ser tratado com antibiótico antes de saber os resultados dos exames laboratoriais, mesmo que não seja detectada uma picada de carrapato. A antibioticoterapia reduziu significativamente a taxa de mortalidade, de aproximadamente 20% para 7%. Em geral, a morte ocorre nos casos em que o tratamento é retardado. Os pacientes gravemente doentes com febre maculosa das Montanhas Rochosas freqüentemente apresentam uma circulação sanguínea inadequada, que pode acarretar insuficiência renal, anemia, edema tecidual e coma. Eles também podem apresentar um extravasamento importante dos vasos sangüíneos infectados. Por essa razão, quando é necessária a reposição intravenosa de líquido, ela deve ser realizada com cautela para evitar o acúmulo de líquido nos pulmões ou no cérebro, sobretudo durante os estágios finais da enfermidade.