ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

sábado, 21 de novembro de 2009

Nefrite


Nefrite é a inflamação dos rins.

A inflamação dos rins geralmente é causada por uma infecção, como na pielonefrite, ou por uma reação imune anormal que ataca os rins. Uma reação imune anormal pode ocorrer de duas formas: (1) Um anticorpo pode atacar o próprio rim ou um antígeno (substância que estimula uma reação imune) aderido às células renais, ou (2) um antígeno e um anticorpo podem combinar-se em qualquer outro local no corpo e, em seguida, aderem às células renais. Os sinais da nefrite (p.ex., presença de sangue e de proteínas na urina e comprometimento da função renal) dependem do tipo, da localização e da intensidade da reação imune. No entanto, os vários distúrbios que lesam os rins podem produzir tipos diferentes de lesão, de sintomas e de conseqüências.

Em geral, a inflamação não afeta todo o rim. A doença resultante depende da inflamação afetar basicamente os glomérulos (a primeira parte do aparelho de filtragem do rim), os túbulos e os tecidos que circundam os glomérulos (tecido tubulointersticial) ou os vasos sangüíneos intrarenais, causando uma vasculite.

Inflamação dos Rins
Área Afetada Doença Resultante

Vasos sangüíneos
• Vasculite
Glomérulos • Síndrome nefrítica aguda
• Síndrome nefrítica rapidamente progressiva
• Síndrome nefrótica • Síndrome nefrítica crônica
Tecido tubulointersticial • Nefrite tubulointersticial aguda
• Nefrite tubulointersticial crônica

Glomerulopatias

Os distúrbios renais nos quais a inflamação afeta principalmente os glomérulos são denominados glomerulopatias. Embora as causas variem, as glomerulopatias são semelhantes porque os glomérulos sempre respondem de modo similar, independentemente da causa.

Existem quatro tipos principais de glomerulopatias. A síndrome nefrítica aguda começa repentinamente e, geralmente, apresenta uma resolução rápida. A síndrome nefrítica rapidamente progressiva inicia subitamente e piora rapidamente. A síndrome nefrótica acarreta a perda de uma grande quantidade de proteínas na urina. A síndrome nefrítica crônica apresenta um início gradual e piora muito lentamente, freqüentemente ao longo de vários anos.

Quando o glomérulo é lesado, as substâncias presentes no sangue que normalmente não são filtradas (p.ex., proteínas, sangue, leucócitos e resíduos) podem passar através do glomérulo e serem eliminadas na urina. Pode ocorrer a formação de minúsculos coágulos sangüíneos (microtrombos) nos capilares que irrigam o glomérulo. Esses coágulos, juntamente com outras alterações, podem reduzir enormemente a quantidade de urina produzida. Além disso, os rins podem tornar-se incapazes de concentrar a urina, de excretar ácido do organismo, ou de equilibrar a excreção de sais. Inicialmente, o glomérulo pode compensar parcialmente essa situação, mas o comprometimento progressivo acarreta a diminuição da produção de urina e o acúmulo de produtos tóxicos da degradação metabólica no sangue.

Diagnóstico

Para todas as glomerulopatias, o diagnóstico preciso é estabelecido através da realização de uma biópsia renal.

É realizada a coleta de uma pequena amostra do tecido renal, comumente através da inserção de uma agulha através da pele até o rim. A amostra é submetida ao exame microscópico antes e após ser corada, para se observar o tipo e a localização das reações imunes no interior do rim.

Um exame de urina (urinálise) ajuda no diagnóstico e os exames de sangue de rotina sugerem a extensão do comprometimento da função renal. A determinação dos níveis de anticorpos em amostras de sangue pode ajudar a determinar se os níveis estão aumentando (piora do quadro) ou caindo (melhoria do quadro).

Prognóstico e Tratamento

A evolução e prognóstico de uma glomerulopatia variam bastante e dependem da causa subjacente. Embora, atualmente, conheça-se as reações imunes causadoras de muitas doenças renais, não existe tratamento para a maioria dos casos ou o tratamento não é específico para o distúrbio imune. Os médicos tentam modificar a reação imune removendo o antígeno, o anticorpo ou o complexo antígenoanticorpo através de procedimentos como a plasmaferese, a qual remove substâncias nocivas do sangue, ou tentam suprimir a reação imune com medicamentos antiinflamatórios e imunossupressores como, por exemplo, os corticosteróides, a azatioprina e a ciclofosfamida. Em alguns casos, a administração de anticoagulantes pode ser útil. Sempre que possível, é instituído o tratamento específico para o distúrbio subjacente (p.ex., antibióticos para combater uma infecção).

Síndrome Nefrítica Aguda

A síndrome nefrítica aguda aguda; glomerulonefrite pós-infecciosa) é uma flamação dos glomérulos que acarreta o surgimen to repentino de sangue na urina, com aglomera dos de eritrócitos (cilindros) e quantidades variáveis de proteínas na urina.

A síndrome nefrítica aguda pode ocorrer após uma infecção estreptocócica (p.ex., faringoa-migdalite estreptocócica). Nesses casos, o distúrbio é denominado glomerulonefrite pós-estreptocócica. Os glomérulos são lesados devido ao acúmulo de antígenos dos estreptococos mortos, aglomerados com os anticorpos que os neutralizaram. Esses aglomerados (complexos imunes) recobrem as membranas dos glomérulos e interferem na sua função de filtração. Como a nefrite inicia 1 a 6 semanas (média de 2 semanas) após a infecção e como os estreptococos já estão mortos, os antibióticos não têm qualquer utilidade. A glomerulonefrite pós-estreptocócica é mais comum em crianças com mais de 3 anos de idade e em adultos jovens. Aproximadamente 5% dos casos ocorrem em indivíduos com mais de 50 anos de idade.

A síndrome nefrítica aguda também pode ser causada por uma reação a outras infecções como, por exemplo, a infecção de uma parte artificial do corpo (prótese), a endocardite bacteriana, pneumonias, abcessos de órgãos abdominais, a varicela, a hepatite infecciosa, a sífilis e a malária. As três últimas infecções podem causar a síndrome nefrótica ao invés de uma síndrome nefrítica aguda.

Sintomas e Diagnóstico

Aproximadamente 50% dos indivíduos com síndrome nefrítica são assintomáticos. Quando são sintomáticos, os sintomas iniciais são a retenção líquida com edema (aumento de volume dos tecidos), o baixo volume urinário e a urina escura contendo sangue. Inicialmente, o edema pode manifestar-se como um inchaço da face e das pálpebras, mas, posteriormente, ele torna-se mais proeminente nos membros inferiores. Ele pode tornar-se grave. A hipertensão arterial e o edema cerebral podem causar cefaléia (dor de cabeça), distúrbios visuais e distúrbios mais graves da função cerebral. O exame de urina revela a presença de quantidades variáveis de proteínas. A concentração de uréia e de creatinina (dois produtos da degradação metabólica) no sangue freqüentemente está elevada.

O médico investiga a possibilidade de glomerulonefrite pós-estreptocócica em indivíduos que apresentam esses sintomas e cujos resultados dos exames laboratoriais indicam uma disfunção renal após uma faringite, um infecção cutânea (impetigo) ou, de forma mais convincente, após uma infecção estreptocócica confirmada através da cultura. Os níveis séricos dos anticorpos anti-estreptococos podem encontrar-se mais elevados do que o normal. A síndrome nefrótica ocorre em cerca de 30% desses indivíduos. Raramente, a produção de urina cessa totalmente assim que a glomerulonefrite pós-estreptococócica se instala. O volume sangüíneo aumenta subitamente e a concentração de potássio no sangue também au-menta. A não ser que a diálise seja instituída rapidamente, o indivíduo pode morrer.

Normalmente, é mais fácil se diagnosticar a síndrome nefrítica aguda que ocorre após uma infecção por outros microrganismos que não os estreptococos, pois os seus sintomas freqüentemente começam enquanto a infecção é ainda evidente.

Prognóstico e Tratamento

A maioria dos indivíduos com síndrome nefrítica aguda recupera-se completamente. No entanto, quando os exames laboratoriais revelam grandes quantidades de proteínas na urina ou uma diminuição rápida da função renal, é possível que o indivíduo desenvolva uma insuficiência renal e uma lesão renal permanente. Em 1% das crianças e em 10% dos adultos, a síndrome nefrítica aguda evolui para a síndrome nefrítica rapidamente progressiva. Em aproximadamente 85 a 95% das crianças, a função renal retorna ao normal, mas elas apresentam um maior risco de apresentar hipertensão arterial posteriormente, ao longo da vida. Cerca de 40% dos adultos não se recuperam completamente e continuam a apresentar alterações da função renal.

Para a maioria dos casos, não existe tratamento. Os medicamentos que suprimem o sistema imune (drogas imunossupressoras) e os corticosteróides não são eficazes. Inclusive, os corticosteróides podem piorar o quadro. Quando o indivíduo ainda apresenta uma infecção bacteriana no momento do diagnóstico da síndrome nefrítica aguda, a antibioticoterapia é iniciada. Quando o distúrbio é decorrente de uma infecção de uma prótese (parte artificial do corpo) como, por exemplo, uma válvula cardíaca, o prognóstico permanece sendo bom, desde que a infecção possa ser erradicada. Freqüentemente, a erradicação exige, além da antibioticoterapia, a remoção e a substituição da prótese.

Pode ser necessária a instituição de uma dieta pobre em proteínas e sal até a função renal ser recuperada. Diuréticos podem ser administrados para auxiliar os rins a excretar o excesso de sal e de água. Pode ser necessário tratar a hipertensão arterial. Os indivíduos que apresentam insuficiência renal grave podem necessitar de diálise.

Síndrome Nefrítica Rapidamente Progressiva

A síndrome nefrítica rapidamente progressiva (glomerulonefrite rapidamente progressiva) é um distúrbio incomum no qual a maioria dos glomérulos é parcialmente destruída, resultando em uma insuficiência renal grave com a presença de proteínas, sangue e aglomerados de eritrócitos (cilindros) na urina.

A síndrome nefrítica rapidamente progressiva faz parte de um distúrbio que, além dos rins, também afeta outros órgãos em aproximadamente 40% dos casos. Dentre os 60% de casos nos quais os rins são os principais órgãos afetados, aproximadamente um terço parece ser causado por anticorpos que atacam os glomérulos, aproximadamente metade é de causa desconhecida e o restante é causado por depósitos de anticorpos e antígenos produzidos em outros locais do corpo (doenças de complexos imunes).

Desconhece-se o que faz com que o organismo produza anticorpos contra seus próprios glomérulos. A produção desses anticorpos nocivos pode estar relacionada a infecções virais ou a distúrbios autoimunes (p.ex., lúpus eritematoso sistêmico). Em alguns indivíduos que produzem anticorpos contra seus glomérulos, os anticorpos também reagem contra os alvéolos (pequenos sacos aéreos pulmonares), acarretando a síndrome de Goodpasture, um distúrbio no qual os pulmões e os rins são lesados. Os hidrocarbonetos (p.ex., etileno glicol, tetracloreto de carbono, clorofórmio e tolueno) podem lesar os glomérulos, mas eles não desencadeiam uma reação imune nem a produção de anticorpos.

Sintomas e Diagnóstico

A fraqueza, a fadiga e a febre são os sintomas iniciais mais evidentes. A náusea, a inapetência, o vômito, as dores articulares e a dor abdominal também são comuns. Aproximadamente 50% dos indivíduos apresentaram um quadro semelhante a uma gripe no mês anterior ao início da insuficiência renal. Esses indivíduos apresentam edema causado pela retenção líquida e, normalmente, produzem muito pouca urina. A hipertensão arterial é incomum e, quando ocorre, ela raramente é grave. Quando os pulmões são afetados (síndrome de Goodpasture), o indivíduo apresenta uma tosse com expectoração sanguinolenta e dificuldade respiratória.

O sangue é freqüentemente visível na urina e aglomerados de eritrócitos sempre são visíveis ao microscópio. Os exames de sangue detectam anemia, algumas vezes grave, e, normalmente, detectam uma quantidade normalmente elevada de leucócitos. Os exames de sangue que avaliam a função renal detectam algum acúmulo de produtos tóxicos da degradação metabólica.

Inicialmente, a ultra-sonografia ou as radiografias podem revelar rins aumentados de volume. No entanto, eles atrofiam gradualmente. Freqüentemente, é realizada uma biópsia renal (coleta de uma amostra de tecido renal para exame microscópico com o auxílio de uma agulha) para a confirmação do diagnóstico e para a certificação de que o indivíduo não apresenta qualquer outra condição que poderia ser tratada.

Prognóstico

O prognóstico depende da gravidade dos sintomas, os quais variam muito. Como os sintomas iniciais são sutis, muitos indivíduos com a doença não percebem que estão doentes e somente procuram um médico quando a insuficiência renal é grave. Os indivíduos que apresentam insuficiência renal morrem em poucas semanas, exceto quando são submetidos à diálise.

O prognóstico também depende da causa e da idade do indivíduo afetado. Quando a causa é uma doença auto-imune, na qual o organismo produz anticorpos contra suas próprias células, o tratamento geralmente não melhora a situação. O prognóstico é pior quando a causa é des-conhecida ou o indivíduo é idoso. A maioria dos indivíduos não tratados apresenta insuficiência renal em 2 anos.

Tratamento

Quando o médico suspeita de uma síndrome nefrítica rapidamente progressiva, uma biópsia renal é realizada o mais breve possível, a qual permite o estabelecimento do diagnóstico, a estimativa do prognóstico e o planejamento do tratamento. Além disso, são realizados exames de sangue que visam detectar os níveis de anticorpos e infecções.

Quando os resultados da biópsia revelam uma doença glomerular grave, o médico institui imediatamente o tratamento medicamentoso para que sua eficácia seja máxima. Normalmente, são administradas altas doses de corticosteróides pela via intravenosa durante aproximadamente uma semana. Em seguida, os corticosteróides são administrados pela via oral. A ciclofosfamida ou a azatioprina, medicamentos que suprimem o sistema imune, também podem ser administradas. Além disso, o paciente pode ser submetido à plasmaferese, na qual o sangue é removido do corpo do indivíduo, é filtrado por uma aparelho que remove os anticorpos e é retornado ao corpo.

Quando a doença evolui para um estágio mais avançado, o único tratamento útil pode ser a diálise. A alternativa é o transplante renal, embora a doença original possa afetar o rim transplantado.

Síndrome Nefrótica

A síndrome nefrótica é uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas) causada por muitas doenças que afetam os rins e que acarreta uma perda intensa e prolongada de proteínas na urina, uma redução da concentração de proteínas (principalmente de albumina) no sangue, uma retenção excessiva de sal e água no organismo e um aumento dos níveis de gorduras (lipídeos) no sangue.

A síndrome nefrótica pode ocorrer em qualquer idade. Nas crianças, ela é mais comum entre os 18 meses e 4 anos de idade. Os meninos são mais freqüentemente afetados que as meninas. Entre os indivíduos idosos, ambos os sexos são igualmente afetados.

Causas

A síndrome nefrótica pode ser causada por qualquer uma das glomerulopatias ou por uma ampla variedade de doenças. Várias drogas nefrotóxicas (tóxicas para os rins) também podem causar síndrome nefrótica, assim como o uso intravenoso de heroína. A síndrome pode estar associada a determinadas sensibilidades. Alguns tipos de síndrome são hereditárias.

A síndrome nefrótica que é associada à infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) ocorre principalmente em indivíduos infectados da raça negra. A síndrome evolui para a insuficiência renal total em 3 a 4 meses.

Sintomas

Os sintomas iniciais são inapetência, sensação de mal-estar generalizado, edema palpebral, dor abdominal, perda de massa muscular, edema tissular devido à retenção de sal e água e urina espumosa. O abdômen pode estar distendido devido ao grande acúmulo de líquido e o indivíduo pode apresentar dificuldade respiratória devido ao derrame pleural (acúmulo de líquido no espaço pleural). Outros sintomas podem incluir o edema dos joelhos e, nos homens, da bolsa escrotal. Mais freqüentemente, o edema (retenção líquida) desloca-se no corpo, acumulando-se nas pálpebras pela manhã e nos tornozelos ao longo do dia. A perda de massa muscular pode ser mascarada pelo edema.

Nas crianças, a pressão arterial geralmente é baixa e pode ocorrer uma queda da mesma quando elas ficam em pé. A hipotensão arterial pode levar ao choque. Os indivíduos adultos podem ser hipertensos, hipotensos ou normotensos. O débito urinário pode diminuir e a insuficiência renal pode ocorrer em decorrência do baixo volume sangüíneo e da redução do suprimento sangüíneo aos rins. Ocasionalmente, a insuficiência renal com baixo débito urinário ocorre subitamente. Quando o indivíduo é visto pela primeira vez pelo médico, a concentração de proteínas na urina geralmente encontra-se elevada.

Devido à perda de nutrientes (p.ex., glicose) na urina, o indivíduo pode apresentar deficiências nutricionais. O crescimento pode ser comprometido. Pode ocorrer perda de cálcio dos ossos. Os fâneros (cabelos, pêlos e unhas) podem tornar-se quebradiços e pode ocorrer queda de cabelo. Por razões desconhecidas, pode ocorrer a formação de linhas brancas horizon-tais nos leitos ungueais das mãos.

Pode ocorrer inflamação do peritôneo (revestimento da cavidade abdominal), condição denominada peritonite. As infecções oportunistas (causadas por bactérias normalmente inofensivas) são comuns. Acredita-se que a alta incidência de infecções é devida ao fato dos anticorpos que normalmente combatem as infecções são eliminados na urina ou não são produzidos em quantidades normais. A coagulação sangüínea torna-se anormal, aumentando significativamente o risco de coagulação intravascular (trombose), sobretudo no interior da veia principal do rim. Por outro lado, o sangue pode não coagular, acarretando geralmente um sangramento excessivo. A hipertensão arterial acompanhada por complicações cardíacas e cerebrais é mais provável nos indivíduos diabéticos e naqueles que apresentam uma doença do tecido conjuntivo.

Diagnóstico

O
diagnóstico de síndrome nefrótica é baseado nos sintomas e nos achados laboratoriais. Os exames de urina revelam uma concentração elevada de proteínas e aglomerados de células (cilindros). A concentração de albumina no sangue encontra-se baixa em decorrência da perda desta proteína vital na urina e do comprometimento de sua síntese. A concentração de sódio na urina encontra-se baixa e a de potássio encontra-se elevada.

As concentrações sangüíneas de lipídeos (gorduras) estão elevadas, algumas vezes até dez ou mais vezes que o normal. A concentração de lipídeos na urina também encontra-se elevada. O hemograma pode revelar uma anemia. Os fatores da coagulação podem estar aumentados ou diminuídos.

O médico investiga as causas possíveis da síndrome nefrótica, incluindo drogas. Os exames de urina e de sangue podem revelar o distúrbio subjacente. Quando o indivíduo apresenta perda de peso ou é idoso, deve ser investigada a existência de um câncer. A biópsia renal é parti-cularmente útil para se classificar a lesão específica do tecido renal.

Prognóstico

O prognóstico varia de acordo com a causa da síndrome nefrótica, com a idade do indivíduo e com o tipo de lesão renal (determinado pelo exame microscópico de uma amostra de tecido). Os sintomas podem desaparecer completamente quando a síndrome nefrótica é causada por um distúrbio tratável (p.ex., infecção, câncer) ou por drogas. Esta situação ocorre em cerca de metade dos casos infantis, porém ela é menos freqüente entre os adultos. Normalmente, o prognóstico é bom quando o distúrbio subjacente responde ao tratamento com corticosteróides. Quando a síndrome é causada por uma infecção pelo HIV, o quadro evolui de maneira inexorável. As crianças nascidas com a síndrome nefrótica raramente atingem o primeiro ano de vida, embora existam casos de sobrevida mais longa com o auxílio da diálise ou do transplante renal.

O melhor prognóstico para a síndrome nefrótica é quando ela é causada por um tipo leve de glomerulonefrite, a doença de alterações mínimas. Noventa por cento das crianças e quase o mesmo percentual de adultos respondem ao tratamento. A doença raramente evolui para a insuficiência renal, apesar de poder ocorrer recorrência do quadro. No entanto, após um período de 1 ano sem a doença, é improvável que o indivíduo apresente recorrência.

A glomerulonefrite membranosa, um tipo mais grave de glomerulonefrite que causa a síndrome nefrótica, é contraída principalmente por adultos e evolui lentamente até a insuficiência renal em 50% dos indivíduos com mais de 15 anos de idade. Os 50% restantes estão livres da doença ou apresentam uma proteinúria (presença de proteínas na urina) persistente, mas a função renal é normal. Na maioria das crianças com glomerulonefrite membranosa, a proteinúria desaparece totalmente e espontaneamente nos 5 anos que sucedem o diagnóstico.

Dois outros tipos, a síndrome nefrótica familiar e a glomerulonefrite membranoproliferativa, respondem insatisfatoriamente ao tratamento e o prognóstico é menos otimista. Mais de metade dos indivíduos que apresentam o tipo familiar apresentam insuficiência renal em 10 anos. Vinte por cento deles apresentam um prognóstico ainda pior, apresentando uma nefropatia grave em 2 anos. A doença evolui mais rapidamente em adultos que em crianças. Analogamente, 50% dos indivíduos com glomerulonefrite membrano-proliferativa evoluem para a insuficiência renal em dez anos. A doença desaparece em menos de 5%. Um outro tipo, a glomerulonefrite proliferativa mesangial, praticamente nunca responde aos corticosteróides.

Para a síndrome nefrótica decorrente do lúpus eritematoso sistêmico, da amiloidose ou do diabete, o tratamento visa principalmente suprimir os sintomas ao invés de tentar a cura. Apesar dos tratamentos mais recentes do lúpus eritematoso sistêmico reduzirem os sintomas e estabilizarem ou melhorarem os resultados dos exames anormais, a maioria dos indivíduos apresenta uma insuficiência renal progressiva. Na síndrome nefrótica diabética, o indivíduo normalmente evolui para uma nefropatia grave em 3 a 5 anos.

Nos casos de síndrome nefrótica decorrentes de condições como, por exemplo, uma infecção, uma alergia ou o uso de heroína intravenosa, o prognóstico varia de acordo com a rapidez e a eficácia com que o distúrbio subjacente é tratado.
O Que Pode Causar a Síndrome Nefrótica?
Doenças
• Amiloidose
• Câncer
• Diabetes
• Glomerulopatias
• Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)
• Leucemias
• Linfomas
• Gamopatia monoclonal
• Mieloma múltiplo
• Lúpus eritematoso sistêmico

Medicamentos e Drogas
•Analgésicos similares à aspirina
•Ouro
•Heroína administrada pela via intravenosa
•Penicilamina Alergias
• Picadas de insetos
• Hera venenosa
• Toxicodendro (sumagre) venenoso
• Luz solar

Tratamento

O tratamento visa a causa subjacente. O tratamento de uma infecção que causa a síndrome nefrótica pode curá-la. Quando a síndrome nefrótica é causada por uma doença tratável (p.ex., doença de Hodgkin ou um outro tipo de câncer), o tratamento da doença pode eliminar os sintomas renais. Quando um indivíduo com dependência de heroína e apresentando uma síndrome nefrótica interrompe o uso da droga nos estágios iniciais da doença, os sintomas podem desaparecer. Os indivíduos sensíveis à luz solar, ao toxicodendro (sumagre) venenoso, à hera venenosa ou a picadas de insetos devem evitar esses irritantes. O uso de alergenos (dessensibilização) pode reverter a síndrome nefrótica associada ao toxicodendro (sumagre) venenoso, à hera venenosa ou a picadas de insetos. Quando as responsáveis pela síndrome são drogas, a interrupção do seu uso pode eliminar os problemas renais.

Quando a causa não é detectada, poderá ser realizada a administração de corticosteróide e de medicamentos imunossupressores (depressores do sistema imune) como, por exemplo, a ciclofosfamida. Contudo, esses medicamentos causam problemas para crianças, pois podem causar retardo de crescimento e suprimir o desenvolvimento sexual.

O tratamento geral consiste em uma dieta contendo quantidades normais de proteínas e de potássio, mas pobre em gorduras saturadas e sódio. A ingestão de quantidades excessivas de proteínas eleva a sua concentração na urina. Os inibidores da enzima conversora da angiotensina (p.ex., enalapril, captopril e lisinopril) normalmente reduzem a excreção de proteínas na urina e a concentração de lipídeos no sangue. Entretanto, esses medicamentos podem aumentar a concentração de potássio no sangue em indivíduos que apresentam uma disfunção renal moderada a grave.

Quando o indivíduo apresenta ascite (acúmulo de líquido no interior da cavidade abdominal), o consumo freqüente de pequenas refeições pode ajudar a reduzir os sintomas. A hipertensão arterial normalmente é tratada com diuréticos. Estes medicamentos também podem reduzir o edema (retenção de líquido nos tecidos), mas podem aumentar o risco de formação de coágulos sangüíneos. Quando ocorre a formação de coágulos sangüíneos, os anticoagulantes podem ajudar a controlar esta complicação. As infecções podem ser letais e devem ser tratadas imediatamente.

Síndrome Nefrítica Crônica

A síndrome nefrítica crônica (glomerulonefrite crônica, doença glomerular lentamente progressiva) é um distúrbio que ocorre em várias doenças nas quais os glomérulos são lesados e a função renal degrada ao longo dos anos.

A sua causa é desconhecida. Em aproximadamente 50% dos indivíduos com síndrome nefrítica crônica, existem evidências de uma glomerulopatia subjacente, embora eles não apresentem um antecedente de sintomas.

Sintomas e Diagnóstico

Como a síndrome não causa sintomas durante anos, ele permanece indetectado na maioria dos indivíduos. A síndrome nefrítica crônica evolui gradualmente e, por essa razão, o médico pode ser incapaz de dizer exatamente quando ela iniciou. Ela pode ser descoberta por acaso durante um exame médico de rotina de um indivíduo que está se sentindo bem, apresenta uma função renal normal e não apresenta sintomas de um problema, exceto uma proteinúria (presença de proteínas na urina) e a presenca de células sangüíneas na urina. Em outros casos, o indivíduo pode apresentar insuficiência renal, a qual causa náusea, vômito, dificuldade respiratória, prurido ou fadiga. Ele pode apresentar edema (retenção de líquido). A hipertensão arterial é comum.

Como os sintomas de muitas doenças renais são idênticos, o método mais confiável para se diferenciar, no estágio inicial, a síndrome nefrítica crônica dessas doenças é a biópsia renal. A biópsia renal raramente é realizada nos estágios avançados, quando os rins encontram-se atrofiados ou fibrosados, pois as chances de se obter informações específicas sobre a causa são pequenas.

Prognóstico e Tratamento

Embora tenham sido tentadas muitas formas de tratamento, nenhuma delas conseguiu evitar a evolução da doença. Acredita-se que o uso de medicamentos antihipertensivos e a restrição da ingestão de sódio são úteis. A restrição da quantidade de proteínas consumidas tem pouca utilidade na redução da velocidade da deterioração renal. A insuficiência renal deve ser tratada com a diálise ou o transplante renal.

Nefrite Turbulointersticial

A nefrite tubulointersticial pode ser aguda ou crônica. Ela pode ser causada por várias doenças, medicamentos ou distúrbios que lesam os rins.

Nefrite Tubulointersticial Aguda

A nefrite tubulointersticial aguda é a insuficiência renal de início súbito causada pela lesão dos túbulos renais e dos tecidos adjacentes.

A causa mais comum de nefrite tubulointersticial aguda é um medicamento, ao qual o indivíduo é alérgico ou o qual produz uma intoxicação direta (uma reação tóxica). A reação tóxica pode ser causada por medicamentos como a anfotericina B e os aminoglicosídeos. Uma reação alérgica pode ser desencadeada por medicamentos como a penicilina, as sulfonamidas, os diuréticos e antiinflamatórios não esteróides (AINEs), inclusive a aspirina. As outras causas de nefrite tubulointersticial aguda incluem a pielonefrite (infecção bacteriana dos rins), cânceres (p.ex., leucemia) e doenças hereditárias.

Os sintomas variam bastante. Alguns indivíduos apresentam sintomas de uma infecção do tra-to urinário: febre, micção dolorosa, pus na urina e dor na região lombar ou no flanco. Outros apresentam poucos sintomas, mas os exames laboratoriais revelam sinais de insuficiência renal. A quantidade de urina produzida pode ser normal ou inferior à normal.
A urina pode ser quase normal, revelando apenas traços de proteínas ou pus, mas, freqüentemente, as alterações são acentuadas. A urina pode conter uma concentração suficientemente alta de proteínas para sugerir uma síndrome nefrótica. O sangue ou o pus contendo eosinófilos (um tipo de leucócitos) pode ser detectado através do exame microscópico ou a olho nu. Os eosinófilos raramente aparecem na urina, mas, quando isto ocorre, é quase certeza que o indivíduo apresenta uma nefrite tubulointersticial aguda causada por uma reação alérgica.

Quando a causa é uma reação alérgica, os rins normalmente apresentam um aumento de volume devido à inflamação causada pela alergia. O intervalo entre a exposição ao alergeno que causou a reação e a ocorrência das alterações renais varia de 5 dias a 5 semanas. Outros sintomas de uma reação alérgica incluem a febre, a erupção cutânea e o aumento do número de eosinófilos no sangue.

A biópsia renal é o único meio para se estabelecer o diagnóstico definitivo desse distúrbio.
Em alguns indivíduos, é necessária a instituição do tratamento da insuficiência renal aguda. Normalmente, a função renal retorna quando é interrompido o uso do medicamento responsável pelo quadro, embora a formação de algumas cicatrizes renais seja uma ocorrência comum. Em alguns casos, a lesão é irreversível. Quando o distúrbio é causado por uma reação alérgica, o tratamento com corticosteróides pode acelerar a recuperação da função renal.

Nefrite Turbulointersticial Crônica

A nefrite tubulointersticial crônica é qualquer doença renal crônica na qual a lesão dos túbulos ou dos tecidos adjacentes é mais importante que a lesão dos glomérulos ou dos vasos sangüíneos.

Esse tipo de distúrbio é responsável por cerca de um terço de todos os casos de insuficiência renal crônica. Aproximadamente 20% dos casos de nefrite tubulointersticial crônica são decorrentes do uso de um determinado medicamento ou de uma tóxico durante um período prolongado. Os 80% restantes podem acompanhar várias doenças.

Certos sintomas são comuns a todos os tipos de nefrite tubulointersticial crônica. Normalmente, o indivíduo não apresenta inchaço decorrente do edema (retenção de líquido). A perda de proteínas pela urina é pequena e a presença de sangue na urina é incomum. A pressão arterial permanece normal ou aumenta discretamente nos estágios iniciais da doença. Normalmente, quando o indivíduo apresenta uma grande quantidade de proteínas ou de sangue na urina, existe uma doença glomerular. Quando os túbulos renais não funcionam normalmente, os sintomas produzidos são semelhantes ao da nefrite tubulointersticial aguda. Em alguns tipos de nefrite tubulointersticial crônica, ocorre a formação de cálculos renais.