ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

ESTRUTURAS E FUNÇÕES DA PELE



A pele é sede de muitos processos complexos e dinâmicos. Entre esses processos estão funções de barreira e imunológicas, produção de melanina, síntese de vitamina D, sensações, regulação térmica, proteção contra traumatismos e composição estética.
FUNÇÃO DE BARREIRA
A barreira epidérmica protege a pele de microrganismos, substâncias químicas, traumatismos físicos e ressecamento por perda transepidérmica de água. Essa barreira é criada pela diferenciação dos queratinócitos à medida que se movem da camada de células basais para o estrato córneo. Os queratinócitos da epiderme são produzidos e renovados por células-tronco existentes na camada basal, o que resulta em substituição da epiderme a aproximadamente cada 28 dias. Essas células levam 14 dias para atingir o estrato córneo e outros 14 dias para descamar. Os queratinócitos produzem as queratinas, proteínas estruturais que formam filamentos que fazem parte do citoesqueleto do queratinócito. No estrato espinhoso, filamentos de queratina irradiam a partir do núcleo e conectam-se aos desmossomos, estruturas proeminentes ao microscópio, conferindo às células um aspecto “espinhoso”. À medida que as células se movem para o estrato granuloso, formam-se grânulos querato-hialinos compostos por queratina e profilagrina. A profilagrina é convertida em filagrina (proteína de agregação de filamento), responsável por agregar e alinhar os filamentos de queratina em feixes paralelos e altamente comprimidos que formam a matriz para as células do estrato córneo. Mutações no gene da filagrina estão associadas à ictiose vulgar e à dermatite atópica. Conforme os queratinócitos se movem para o estrato córneo, perdem seus núcleos e organelas e desenvolvem uma forma hexagonal plana. Essas células são empilhadas, formando um padrão em “tijolos e argamassa” com 15 a 25 camadas de células (tijolos) circundadas por lipídeos (argamassa).
Os lipídeos são ceramidas, ácidos graxos livres e colesterol.
FUNÇÃO IMUNOLÓGICA
As células epiteliais na interface entre a pele e o meio ambiente representam a primeira linha de defesa via sistema imune inato. As células epiteliais estão equipadas para responder a estímulos ambientais por meio de diversas estruturas, incluindo os receptores semelhantes ao toll (TLRs), que são no mínimo 10, o receptor semelhante a NOD (domínio de oligomerização ligado ao nucleotídeo), lectinas tipo C e proteína de reconhecimento de peptideoglicanos. A ativação mediada por TLR das células epiteliais também está associada à produção de defensinas e catelicidinas, famílias de peptídeos antimicrobianos. Células dendríticas fazem a ponte entre o sistema imune inato e o adaptativo. Células dendríticas dérmicas podem induzir a autoproliferação de células T e a produção de citocinas, assim como do óxido nítrico sintase. A função exata das células dendríticas epidérmicas de Langerhans tem sido objeto de muitas
pesquisas, sugerindo que essas células sejam muito importantes para a modulação da resposta imune adaptativa.
PRODUÇÃO DE MELANINA E PROTEÇÃO CONTRA LESÕES POR RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA
Os melanócitos representam 10% das células na camada de células basais.8 Há outra população de melanócitos no folículo piloso responsável pela cor do cabelo e pela substituição dos melanócitos epidérmicos, quando necessário. Os melanócitos produzem melanina, um polímero pigmentado que absorve a faixa ultravioleta (UV) do espectro luminoso. A melanina é sintetizada a partir da tirosina, passando por várias etapas que requerem a enzima tirosinase. A melanina produzida é armazenada nos melanossomos, uma organela especializada. Os melanossomos são fagocitados por queratinócitos e transportados para uma região acima do núcleo do queratinócito, atuando como um escudo protetor contra a radiação UV. Um melanócito fornece melanossomos para até 30 a 40 queratinócitos. Todos os humanos apresentam o mesmo número de melanócitos. A variedade nos tons de cor da pele decorre de variações nos melanossomos. Os indivíduos com pele mais escura apresentam melanossomos em maior número, maiores e mais dispersos. A exposição à radiação UV estimula a produção de melanina no interior dos melanossomos e confere à pele um tom “bronzeado”. A deficiência de tirosinase está associada ao albinismo; o vitiligo é
causado por ausência de melanócitos.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

CINEMÁTICA DO TRAUMA




Cinemática do Trauma


Inesperadas lesões traumáticas são responsáveis anualmente por milhares de mortes. Os acidentes automobilísticos respondem pela maior parte destas mortes. O tratamento destas vítimas depende da identificação rápida das lesões. Contudo, mesmo com avaliações de profissionais, muitas lesões podem passar despercebidas. Conhecer lesões é tão importante quanto saber o que fazer após encontrá-las. Um completo, preciso e apropriado histórico bem como a interpretação destas informações pode proporcionar ao Socorrista de Resgate predizer mais de 90% das lesões da vítima antes de ter posto a mão sobre a vítima.
As lesões podem ser descrita como interações entre o hospedeiro (vítima) e o agente (energia) em um ambiente. O agente (energia) se apresenta em cinco formas básicas: (1) mecânica ou cinética, (2) térmica, (3) química, (4) elétrica, e (5) radiação. A energia mecânica (movimento) permanece como o agente de lesão mais comum e é o agente dos acidentes automobilísticos, quedas, traumatismos penetrantes e por explosão.
A transmissão de energia segue as leis da física; deste modo, as lesões se apresentam em padrões previsíveis. O conhecimento e a apreciação do mecanismo de trauma permitem que o Socorrista mantenha um elevado índice de suspeita para auxiliar na busca de lesões. As vítimas envolvidas em eventos de alta energia são propensos a possuir lesões graves, e 5% a 15% deles, apesar de sinais vitais normais e de não possuírem lesões corporais na primeira avaliação, evidenciam lesões graves em exames posteriores.Os fatores que devem ser considerados são a direção e velocidade do impacto, tamanho do paciente e os sinais de liberação de energia. Existe uma forte correlação entre a severidade das lesões e as alterações da velocidade. Sem a compreensão do mecanismo do trauma, não será possível predizer as lesões. O mecanismo de trauma é uma ferramenta importante de triagem e deve ser reportada a equipe que prestará atendiemtno na unidade de emergência. A severidade dos danos ao veículo é utilizada como um instrumento de triagem. As lesões por movimento (mecânicas) são as principais causas de mortalidade por trauma. Sempre considerar a lesão potencial como presente até que esta seja afastada no ambiente hospitalar.
Existem três mecanismos básicos de lesões por movimento:

1. Desaceleração frontal rápida.
2. Desaceleração vertical rápida.
3. Penetração de projétil.

Para possibilitar o estudo do mecanismo do trauma e facilitar o reconhecimento de lesões é necessário que o Socorrista conheça algumas leis básicas da física:

Lei da Conservação da Energia: a energia não pode ser criada nem destruída, mas sua forma pode ser modificada.

Primeira Lei de Newton: um corpo em movimento ou em repouso permanece neste estado até que uma força externa atue sobre ele.

Segunda Lei de Newton: força é igual à massa (peso) do objeto multiplicada por sua aceleração.

Energia Cinética: é a energia do movimento. É igual à metade da massa multiplicada pela velocidade elevada ao quadrado.

Troca de Energia: quando dois corpos movimentando em velocidades diferentes interagem, as velocidades tendem a se igualarem. A rapidez com que um corpo perde velocidade para o outro, depende da densidade (número de partículas por volume) e da área de contato entre os corpos. Quanto maior a densidade, maior a troca de energia. Por exemplo, o osso é mais denso que o fígado e este são mais denso que o pulmão.

TRAUMATISMOS FECHADOS



O trauma fechado difere do penetrante no seguinte aspecto: o impacto se distribui em uma área mais extensa de maneira que a superfície do corpo não é penetrada. Ocorre uma cavidade temporária formada pela deformação dos tecidos que depois voltam à sua posição normal.
As causas principais de trauma fechado são os impactos diretos de objetos em movimento e aceleração/desaceleração. Em colisões de veículos, o dano depende da energia cinética, da utilização de equipamentos de segurança tais como: cintos de segurança, banco com encosto e bolsas de ar. As lesões corporais são mais frequentes em passageiros não contidos e ocorrem na cabeça, tórax, abdome e ossos longos. O dispositivo mais eficaz é o cinto de segurança, que, apesar de causar compressão de órgãos durante colisões, impede que o corpo se choque com o painel, volante e o para-brisa.
As lesões por desaceleração são causadas principalmente por acidentes automobilísticos e quedas de grandes alturas. À medida que o corpo desacelera, os órgãos continuam a se mover com a mesma velocidade que apresentavam, rompendo vasos e tecidos nos pontos de fixação.

COLISÕES DE VEÍCULOS

A absorção de energia cinética do movimento é o componente básico da
produção de lesão. Você deve considerar as colisões de veículo como ocorrendo em três eventos distintos: colisão da máquina, colisão do corpo e colisão dos órgãos internos.
A energia cinética do movimento do veículo é absorvida à medida que ele é freado subitamente pelo impacto. O corpo do ocupante que está viajando assume a mesma velocidade que o carro trafega até que colida com alguma estrutura interna do carro como o pára-brisa, volante ou painel.
Ao examinar o carro colidido observamos as seguintes evidências de trauma da vítima:
- Deformidade do veículo (indicação das forças envolvidas).
- Deformidade de estruturas interiores (indicação de onde a vítima colidiu).
- Padrões de lesão da vítima (indicação de quais partes do corpo podem ter colidido).
As colisões de veículos ocorrem em várias formas e cada uma delas é associada com certos padrões de lesão. As quatro formas comuns de acidentes com veículos automotores são:

- Colisão frontal.
- Colisão lateral.
- Colisão traseira.
- Capotagem

COLISÃO FRONTAL
Neste tipo de acidente, um corpo não contido é freado subitamente e a transferência de energia é capaz de produzir lesões múltiplas.

PADRÕES NAS COLISÕES FRONTAIS
O ocupante “do banco” dianteiro direcionado para baixo: o passageiro não contido por cinto de segurança pode ser direcionado para baixo, e seu joelho ou tíbia colidem com o painel. Se os pés estiverem fixos no piso, o tornozelo absorve grande parte da energia cinética, podendo se luxar ou fraturar. Quando o joelho é o ponto de impacto, pode ocorrer fratura de fêmur e luxação posterior de quadril. Se o ponto de impacto for a tíbia ocorre danos aos ligamentos do joelho. Em seguida o tórax se choca contra o painel ou volante. Após o tronco parar seu movimento, a cabeça continua até se chocar contra o pára-brisa, pode ocorrer traumatismo da cabeça e coluna cervical.
O ocupante do banco dianteiro direcionado para cima e para frente: em algumas colisões frontais o corpo do ocupante pode ser arremessado para cima e para frente, atingindo com a cabeça o pára-brisa sem nenhuma dissipação prévia de energia cinética. Existem grandes probabilidades de traumatismos da cabeça e de coluna cervical. O impacto secundário é com o tórax e abdômen.
CORRELAÇÃO ENTRE LESÕES E PARTES lNTERNAS DO VEÍCULO
Lesões viscerais causadas por impacto do volante (Lesões pelo volante): São mais freqüentes no motorista de um veículo, sem cinto de segurança após uma colisão frontal. O motorista posteriormente pode colidir com o pára-brisa. O volante é a causa mais comum de lesões para o motorista sem cinto e qualquer grau de deformidade ao volante deve ser tratada com elevado índice de suspeita para lesões de face, pescoço, torácicas ou abdominais. Utilizando o conceito das três colisões, deve-se verificar:
1. Colisão da máquina: deformidade frontal.
2. Colisão do corpo: fratura ou deformidade do anel pélvico, lesões de coluna
3. Colisão dos órgãos: tatuagem traumática da pele.
O volante é capaz de produzir lesões ocultas e devastadoras. A deformidade do volante é uma causa de preocupação.
Lesões pelos pára-brisas: Ocorrem nos tipos de evento por desaceleração frontal rápida. O ocupante sem cinto de segurança colide fortemente com o pára-brisa e a possibilidade de lesões é maior sob estas condições. Lembrando as três colisões separadas deve-se observar:

1. Colisão da máquina: deformidade da frente.
2. Colisão do corpo: rachaduras do pára-brisa.
3. Colisão de órgãos: golpe/contragolpe do cérebro, lesão de partes moles (couro cabeludo, face, pescoço) e hiperextensão da coluna cervical.

Lesões pelo painel: Ocorrem geralmente no passageiro não contido. O painel tem a capacidade de produzir uma variedade de lesões, dependendo da área do corpo que impacte com ele. Geralmente as lesões envolvem a face e os joelhos, porém vários tipos de lesões têm sido descritas.
A lesão de joelho pode sugerir que outros ferimentos estão presentes. Os joelhos freqüentemente atingem o painel, causando desde uma simples contusão até uma fratura exposta da patela. A luxação franca dos joelhos pode ocorrer e a energia cinética pode ser transmitida para a coxa e resultar em fratura do fêmur ou quadril. Às vezes a pelve pode colidir com o painel, resultando em fraturas. Estas lesões são associadas com hemorragia que pode levar ao choque.
Outros fatores: Os objetos soltos no veículo como bagagem, livros e passageiros podem se tornar mísseis mortais nos eventos por desaceleração rápida.
COLlSÃO LATERAL

Em cruzamentos ou derrapagens os impactos podem ser na lateral do veículo. A porta ou a lateral do veículo pode atingir o ocupante. O braço e o ombro tendem a ser atingidos em primeiro lugar, podendo ocorrer fratura de úmero e de clavícula. Se o braço estiver fora do local de impacto e este atingir o tórax, podem ocorrer fraturas de costelas e estruturas intratorácicas. O abdome também sofre impacto, e as vísceras mais atingidas são o baço do motorista e o fígado do passageiro. O trocanter maior do fêmur pode ser atingido fazendo com que a cabeça do fêmur entre no acetábulo. As fraturas de ilíaco também são comuns. Existe um grande risco de dano à coluna cervical, pois ocorre flexão lateral do pescoço e rotação da cabeça na direção oposta à do tronco.
Utilizando o conceito das três colisões, deve-se procurar pela presença de:
1. Colisão da máquina: deformidade primária do carro, verificar o lado do impacto (motorista / passageiro).
2. Colisão do corpo: grau de deformidade da porta (entortamento do descanso do braço, deformidade para fora ou para dentro da porta).
3. Colisão de órgãos: inclui múltiplas possibilidades. Aplicando o conceito das três colisões:
1. Colisão da máquina: deformidade do carro.
2. Colisão do corpo: fratura ou deformidade do painel.
3. Colisão dos órgãos: trauma facial, golpe/contragolpe no cérebro, hiperextensão flexão da coluna cervical. traumatismo de joelho.
- Cabeça: golpe/contragolpe pelo desposicionamento lateral.
- Pescoço: as lesões pelo desposicionamento lateral variam de estiramento muscular cervical a subluxação com déficit neurológico.
- Pelve / pernas: ocupantes no lado do impacto são propensos a apresentar fraturas de pelve, quadril ou fêmur.
- Lesões de membro superior e ombro do lado do impacto.
- Tórax / abdome: lesão direta por desposicionamento da porta no lado do impacto ou pelo passageiro solto sendo lançado através do assento.

 As lesões do tórax podem afetar tecidos moles, arcabouço ósseo com tórax instável, pulmões com contusão, pneumotórax ou hemotórax. Lesões abdominais incluem aquelas de órgãos sólidos ou ocos. Lesões pélvicas podem incluir fratura/luxação, ruptura da bexiga e lesões uretrais. As lesões da cintura escapular ou de extremidades inferiores são comuns dependendo da força do impacto.
COLISÃO TRASEIRA
As duas formas de colisão traseira são: quando o carro parado é atingido por outro veículo em movimento ou quando o carro é atingido na traseira por outro carro deslocando-se mais rápido e na mesma direção. O aumento súbito da aceleração produz deslocamento posterior dos ocupantes e hiperextensão da coluna cervical se o descanso de cabeça não estiver propriamente ajustado. Pode também haver desaceleração frontal rápida se o carro colidir de frente com um objeto ou se o motorista frear subitamente.

CAPOTAGEM
Durante a capotagem, o corpo pode sofrer impacto em qualquer direção, chocando-se com o pára-brisa, teto, laterais e assoalho do veículo. O potencial de lesões é grande. As lesões são um misto dos padrões anteriormente descritos. A possibilidade de lesões por compressão da coluna vertebral aumenta nesta forma de acidente. O socorrista deve estar alerta para indicadores de que o carro capotou (mossas, arranhões e deformidade das colunas da capota). Existem mais lesões letais nesta forma de acidente, pois o ocupante tem mais chances de ser ejetado do veículo. O ocupante ejetado do carro tem 25 vezes mais chance de morrer do que os não ejetados.
SISTEMAS DE CONTENÇÃO DO OCUPANTE CINTO DE SEGURANÇA
Ocupantes contidos têm mais chance de sobreviver, pois eles são protegidos de grande parte do impacto no interior do carro e são impedidos de ser ejetados do auto. Estes ocupantes são, todavia, ainda suscetíveis a certas lesões.
Cinto abdominal: Deve cruzar a pelve (cristas ilíacas), não o abdome. Caso o cinto esteja bem posicionado e a vítima submetida a uma colisão com desaceleração frontal, seu corpo tende a se dobrar.
A cabeça pode ser atirada contra o volante ou painel. Lesões faciais, de cabeça ou pescoço são comuns. As lesões abdominais ocorrem se o cinto estiver posicionado incorretamente. As forças de compressão produzidas quando o corpo é subitamente dobrado na linha da cintura podem lesar o abdome ou a coluna lombar.
Cinto com fixação em três pontos ou cruzado: Prende o corpo bem melhor que o cinto abdominal isolado. O tórax e a pelve são contidos, assim, lesões com risco de vida são bem menos comuns. A cabeça não é contida, assim o pescoço é arremessado para frente e pode causar fraturas, luxações ou lesões de medula espinhal. Fraturas de clavícula (onde a faixa torácica cruza) são comuns. A lesão de órgãos internos pode ocorrer ainda devido ao movimento de órgãos dentro do corpo.
AIR BAGS
Os air bags reduzirão as lesões das vítimas de colisão. Os air bags são feitos para inflar do centro do volante e do painel para proteger os ocupantes do assento dianteiro em caso de um acidente por desaceleração frontal. Se funcionarem corretamente, amortecem a cabeça e o tórax no momento do impacto. São muito eficientes em reduzir as lesões em face, pescoço e tórax. Os air bags esvaziam-se imediatamente assim protegem contra um só impacto. O motorista cujo carro atinge mais de um objeto está desprotegido após a colisão inicial. Os air bags também não impedem os movimentos para baixo, assim, o motorista pode bater com as pernas e sofrer lesões na pelve ou no abdome. É vital para os ocupantes utilizarem o cinto de segurança mesmo quando o carro está equipado com air bags. O volante danificado é uma evidência da presença de lesões internas no motorista.
MOTOCICLETAS

Os motociclistas não estão dentro de cabines com equipamentos de contenção. Quando o motociclista é submetido às colisões clássicas, colisões frontais, laterais, de traseira ou capotagens, as formas de proteção são:
- Manobras evasivas.
- Uso do capacete.
- Vestes de proteção (por exemplo, roupas de couro, capacete, botas).
É muito importante que os motociclistas usem o capacete. Os capacetes previnem traumas de cabeça (que causam 75% das mortes). Os capacetes não protegem a coluna e as áreas mais afetadas são cabeça, pescoço e extremidades.
ATROPELAMENTOS
As lesões produzidas nos atropelamentos tendem a ser mais graves, pois o pedestre tem menos proteção que o ocupante de um veículo em que a carroceria absorve parte da energia cinética da colisão. O pedestre atingido por um carro quase sempre sofre lesões internas graves, mesmo que o carro esteja à baixa velocidade. A massa do veículo é tão grande que ocorre transferência de grande quantidade de energia mesmo com baixas velocidades, e se o veículo estiver em alta velocidade, os resultados geralmente são desastrosos.
Mecanismos de Lesão
1. Pára-choque atinge o corpo.
2. Corpo acelerado pela transferência de energia atinge o chão ou outro objeto.
Os danos tendem a ocorrer em três estágios:
1. Impacto inicial com o corpo, impacto secundário do corpo com o veículo e com o solo. Nos adultos o impacto inicial é na altura do joelho, que se move na mesma direção do carro, o impacto pode ser lateral, anterior ou posterior. Nos impactos laterais e frontais tende a haver lesão do ligamento cruzado, além de luxações da tíbia e fíbula.
2. Após o impacto inicial a vítima pode ser lançada sobre o veículo, sofrendo danos no tórax e abdome, dependendo da posição em que se encontrava no momento do impacto.
3. O estágio final é a queda da vítima sobre o solo, quando os traumatismos da cabeça e coluna cervical são frequentes.
Padrões de Lesão
Os padrões de lesão variam com o tamanho da vítima e a altura do párachoque do veículo:
Adulto: geralmente tem fraturas bilaterais baixas nas pernas ou fraturas de joelho associadas a lesões secundárias que ocorrem quando o corpo atinge o carro e depois o chão.
Crianças: são mais baixas e o pára-choque tem maior chance de atingi-las na pelve ou no tronco. Geralmente caem sobre suas cabeças no impacto secundário.
TRAUMATISMOS POR DESACELERAÇÃO VERTICAL
Constituem um importante subgrupo dos traumatismos contusos e está associado com quedas da vítima de pé em curtas distâncias. A lesão tecidual resulta da absorção cinética acumulada durante o período de queda, variando com uma série de fatores.
1. Altura da queda.
2. Área do corpo que sofre o impacto.
3. Superfície atingida.
Área do corpo atingida: as lesões da cabeça são comuns em crianças, pois esta é a parte mais pesada do corpo e deste modo é a primeira a sofrer o impacto. As quedas de adultos são geralmente acidentes de trabalho ou ocorrem sob influência de álcool e drogas. Os adultos tentam aterrissar sobre os pés e suas quedas são mais controladas. Nesta forma de aterrissar, a vítima geralmente sofre o primeiro impacto nos pés e depois cai para trás atingindo o solo com as nádegas e as mãos estendidas. Este padrão de queda pode resultar em múltiplas lesões, tais como:
- Fraturas dos pés ou das pernas.
- Lesões de quadril e pelve.
- Compressão axial da coluna lombar e cervical.
- Forças de desaceleração vertical para os órgãos.
- Fraturas de Colles nos punhos.
Altura: quanto maior a altura, maior o potencial da lesão. Porém, não seja enganado acreditando que existe pouco risco de lesão em quedas de baixa altura. A relação entre sobrevida e altura da queda não é absoluta, existem casos de óbito em quedas da própria altura e de sobrevida em quedas de grandes alturas.
Ponto de impacto: a densidade da superfície (concreto versus serragem) e irregularidade (chão de um ginásio de esportes versus uma escadaria) também influencia no potencial de severidade da lesão. A superfície onde ocorre o impacto tem grande importância, choques contra superfícies que se deformam têm um maior tempo para desaceleração e dissipação de energia cinética do que impactos contra superfícies rígidas.
FERIMENTOS PENETRANTES
Nos ferimentos penetrantes é produzida uma cavidade permanente pela passagem do objeto através do corpo.

PERFURAÇÃO POR ARMA DE FOGO


Balística: é a ciência que estuda o movimento de um projétil através do cano de uma arma de fogo, sua trajetória no ar e após atingir o alvo. O projétil é impulsionado através do cano de uma arma pela expansão dos gases produzidos pela queima do propulsor. Quando o projétil atinge o corpo humano sua energia cinética se transforma na força que afasta os tecidos de sua trajetória.
Balística do Ferimento: Devido à energia cinética (energia cinética = ½ da massa x velocidade2) produzida por um projétil e dependente principalmente da velocidade, as armas são classificadas em altas e baixas velocidades. As armas com velocidades menores que 2000 pés/seg. são consideradas de baixa velocidade e incluem essencialmente todas as armas de mão e alguns rifles. Lesões destas armas são muito menos destrutivas do que aquelas que disparam mísseis que excedem esta velocidade. As armas de baixa velocidade são capazes de lesões letais dependendo da área do corpo que é atingida. Todas as lesões infligidas por armas de alta velocidade apresentam o fator lesivo adicional de pressão hidrostática.
1. Tamanho do míssil: Quanto maior à bala, maior a resistência e maior a cavidade permanente.
2. Deformação do míssil: Balas ocas e ponta macia se achatam com o impacto, resultando em maior superfície envolvida na troca de energia.
3. Tamanho do míssil: A jaqueta se expande e se adiciona à superfície.
4. Movimentação do projétil: Oscilação e rotação.
As feridas por arma de fogo têm três componentes:
1. Orifício de entrada: Ao redor pode ter tatuagem da pólvora, área de queimadura e abrasão da pele. Trata-se de uma ferida oval, pois o projétil empurra os tecidos para dentro.
2. Orifício de saída: Nem todos os orifícios de entrada têm um orifício de saída correspondente. Em alguns casos pode haver múltiplos orifícios de saída devido à fragmentação óssea e do míssil. Geralmente o orifício de saída é maior e tem as bordas irregulares para fora.
O orifício de saída depende da energia cinética, deformação, inclinação e fragmentação do projétil. Se o projétil gastar toda sua energia cinética cavitando o tecido, o orifício de saída pode ter aparência inócua ou mesmo não existir.
Em outras situações com pouca degradação da energia cinética, mas com
inclinação e deformação do projétil, o orifício de saída pode ser irregular e maior que o orifício de entrada.
3. Lesão interna: Projéteis de baixa velocidade infligem dano principalmente aos tecidos que estão em contato direto com eles; projéteis de alta velocidade infligem dano por contato com o tecido e transferência de energia cinética aos tecidos circundantes. O dano é causado por:
- Ondas de choque.
- Cavidade temporária, que é 30 a 40 vezes o diâmetro do projétil e cria pressões imensas nos tecidos.
O grau da lesão produzida por uma arma de fogo é dependente da troca de energia cinética entre o projétil e os tecidos da vítima. Quanto maior a troca de
energia cinética maior será a lesão.
Perfil frontal do projétil: Altera significativamente a troca de energia com o alvo. É afetado por: forma do projétil, ângulo de penetração e fragmentação. Alguns projéteis como os de ponta oca e ponta macia podem alargar seu perfil frontal após penetrar nos tecidos, o efeito prático deste fato é aumentar a dissipação da energia cinética e consequentemente a lesão tecidual.
INFORMAÇÕES BALÍSTICAS ÚTEIS
Fragmentação: os projéteis que se fragmentam após penetração ou após deixarem o cano da arma (espingardas, por exemplo) também aumentam a área frontal. Os múltiplos fragmentos atingem mais tecidos, aumentando a troca de energia.
Cavitação: a aceleração dos tecidos no sentido lateral e de deslocamento do projétil cria um orifício ou cavidade. Nos projéteis de baixa velocidade o trajeto de destruição é apenas ligeiramente maior que o diâmetro, porém nos de alta velocidade o trajeto de destruição é muito maior. Durante alguns milissegundos é criada uma cavidade temporária várias vezes maior que o diâmetro do projétil (30 ou mais vezes). A cavidade temporária tem pressão interna menor que a atmosférica e pode aspirar corpos estranhos (pedaços de roupa) através do orifício de entrada para o interior do ferimento. Órgãos, vasos sangüíneos e nervos podem ser lesados, sem ter contato direto com o projétil.
O dano produzido é proporcional à densidade do tecido. Órgãos altamente densos como osso, músculo e fígado sustentam mais dano que órgãos menos densos como os pulmões. Quando um tecido denso como o osso é atingido, pode ocorrer fragmentação gerando projéteis secundários. Em tecidos como o fígado, a cavitação é mais grave devido à força tensional baixa. Uma vez que a bala entra no corpo, sua trajetória pode não ser mais uma linha reta. O indivíduo baleado utilizando colete à prova de balas deve ser tratado com cautela; devido à possível contusão cardíaca ou de outros órgãos. Qualquer paciente com uma penetração por um míssil na cabeça, no tórax ou abdome deve ser transportado imediatamente. Em ferimentos abdominais por arma de fogo, o socorrista deve sempre assumir a existência de lesão visceral, pois é muito raro que projéteis, mesmo os de baixa velocidade, não penetrem na cavidade.
FERIMENTOS POR ARMA BRANCA OU MÍSSIL DE BAIXA
VELOCIDADE
Armas de baixa energia incluem armas guiadas pela mão, tal como facas, picadores de gelo, chaves de parafuso, garrafas quebradas e flechas. A lesão produzida equivale geralmente ao trajeto do objeto, pois a energia cinética é pequena. Assim, o socorrista tem melhores condições de prever a extensão das lesões internas.
A severidade dos ferimentos por faca depende da área anatômica penetrada, comprimento da lâmina e do ângulo de penetração. Caso a arma tenha sido removida, deve-se identificar o tipo de arma utilizada e o sexo do agressor quando possível; homens tendem a esfaquear com a lâmina no lado do polegar da mão e com empurrão para cima, enquanto mulheres tendem esfaquear para baixo e seguram a lâmina pelo lado do dedo mínimo.
Ao avaliar uma vítima com um ferimento à faca, é importante procurar por mais de um ferimento. Múltiplos ferimentos à faca são possíveis e não deveria ser desconsiderado até o paciente ser exposto e examinado com atenção. Esta inspeção minuciosa pode ser feita no local ou a caminho do hospital, dependendo das circunstâncias em volta do incidente e condições da vítima.

Referências Bibliográficas:
1. CANETTI, M. Dominguez. Et al. Manual básico de socorro de emergência para técnicos em emergências médicas e socorristas. 2ª ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2007.