Cinemática do Trauma
Inesperadas lesões
traumáticas são responsáveis anualmente por milhares de mortes. Os acidentes
automobilísticos respondem pela maior parte destas mortes. O tratamento destas
vítimas depende da identificação rápida das lesões. Contudo, mesmo com avaliações
de profissionais, muitas lesões podem passar despercebidas. Conhecer lesões é
tão importante quanto saber o que fazer após encontrá-las. Um completo, preciso e
apropriado histórico bem como a interpretação destas informações pode
proporcionar ao Socorrista de Resgate predizer mais de 90% das lesões da vítima
antes de ter posto a mão sobre a vítima.
As lesões podem ser
descrita como interações entre o hospedeiro (vítima) e o agente (energia) em um
ambiente. O agente (energia) se apresenta em cinco formas básicas: (1) mecânica
ou cinética, (2) térmica, (3) química, (4) elétrica, e (5) radiação. A energia mecânica (movimento) permanece
como o agente de lesão mais comum e é o agente dos acidentes
automobilísticos, quedas, traumatismos penetrantes e por explosão.
A
transmissão de energia segue as leis da física; deste modo, as lesões se
apresentam em padrões previsíveis. O conhecimento e a apreciação do mecanismo
de trauma permitem que o Socorrista mantenha um elevado índice de
suspeita para auxiliar na busca de lesões. As vítimas envolvidas em eventos de
alta energia são propensos a possuir lesões graves, e 5% a 15% deles, apesar de
sinais vitais normais e de não possuírem lesões corporais na primeira
avaliação, evidenciam lesões graves em exames posteriores.Os
fatores que devem ser considerados são a direção e velocidade do impacto,
tamanho do paciente e os sinais de liberação de energia. Existe uma forte
correlação entre a severidade das lesões e as alterações da velocidade. Sem a
compreensão do mecanismo do trauma, não será possível predizer as lesões. O
mecanismo de trauma é uma ferramenta importante de triagem e deve ser reportada
a equipe que prestará atendiemtno na unidade de emergência. A severidade dos
danos ao veículo é utilizada como um instrumento de triagem. As lesões por
movimento (mecânicas) são as principais causas de mortalidade por trauma.
Sempre considerar a lesão potencial como presente até que esta seja afastada no
ambiente hospitalar.
Existem três mecanismos
básicos de lesões por movimento:
1. Desaceleração frontal rápida.
2. Desaceleração vertical
rápida.
3. Penetração de projétil.
Para possibilitar o estudo
do mecanismo do trauma e facilitar o reconhecimento de lesões é necessário que
o Socorrista conheça algumas leis básicas da física:
Lei da Conservação da Energia: a energia não pode
ser criada nem destruída, mas sua forma pode ser modificada.
Primeira Lei de Newton: um corpo em movimento ou em
repouso permanece neste estado até que uma força externa atue sobre ele.
Segunda Lei de Newton: força é igual à massa (peso)
do objeto multiplicada por sua aceleração.
Energia Cinética: é a energia do movimento. É igual
à metade da massa multiplicada pela velocidade elevada ao quadrado.
Troca de Energia: quando
dois corpos movimentando em velocidades diferentes interagem, as velocidades
tendem a se igualarem. A rapidez com que um corpo perde velocidade para o outro,
depende da densidade (número de partículas por volume) e da área de contato
entre os corpos. Quanto maior a densidade, maior a troca de energia. Por
exemplo, o osso é mais denso que o fígado e este são mais denso que o pulmão.
TRAUMATISMOS FECHADOS
O trauma fechado difere do
penetrante no seguinte aspecto: o impacto se distribui em uma área mais extensa
de maneira que a superfície do corpo não é penetrada. Ocorre uma cavidade temporária formada
pela deformação dos tecidos que depois voltam à sua posição normal.
As causas principais de
trauma fechado são os impactos diretos de objetos em movimento e
aceleração/desaceleração. Em colisões de veículos, o dano depende da energia
cinética, da utilização de equipamentos de segurança tais como: cintos de
segurança, banco com encosto e bolsas de ar. As lesões corporais são mais
frequentes em passageiros não contidos e ocorrem na cabeça, tórax, abdome e
ossos longos. O dispositivo mais eficaz é o cinto de segurança, que, apesar de
causar compressão de órgãos durante colisões, impede que o corpo se choque com
o painel, volante e o para-brisa.
As lesões por desaceleração
são causadas principalmente por acidentes automobilísticos e quedas de grandes
alturas. À medida que o corpo desacelera, os órgãos continuam a se mover com a
mesma velocidade que apresentavam, rompendo vasos e tecidos nos pontos de
fixação.
COLISÕES DE VEÍCULOS
A absorção de energia
cinética do movimento é o componente básico da
produção de lesão. Você deve
considerar as colisões de veículo como ocorrendo em três eventos distintos:
colisão da máquina, colisão do corpo e colisão dos órgãos internos.
A energia cinética do movimento
do veículo é absorvida à medida que ele é freado subitamente pelo impacto. O
corpo do ocupante que está viajando assume a mesma velocidade que o carro
trafega até que colida com alguma estrutura interna do carro como o pára-brisa,
volante ou painel.
Ao examinar o carro
colidido observamos as seguintes evidências de trauma da vítima:
- Deformidade do veículo (indicação
das forças envolvidas).
- Deformidade de estruturas
interiores (indicação de onde a vítima colidiu).
- Padrões de lesão da vítima (indicação
de quais partes do corpo podem ter colidido).
As colisões de veículos
ocorrem em várias formas e cada uma delas é associada com certos padrões de
lesão. As quatro formas comuns de acidentes com veículos automotores são:
- Colisão frontal.
- Colisão lateral.
- Colisão traseira.
- Capotagem
COLISÃO FRONTAL
Neste tipo de acidente, um
corpo não contido é freado subitamente e a transferência de energia é capaz de
produzir lesões múltiplas.
PADRÕES NAS COLISÕES FRONTAIS
O ocupante “do banco”
dianteiro direcionado para baixo: o passageiro
não contido por cinto de segurança pode ser direcionado para baixo, e seu
joelho ou tíbia colidem com o painel. Se os pés estiverem fixos no piso, o
tornozelo absorve grande parte da energia cinética, podendo se luxar ou
fraturar. Quando o joelho é o ponto de impacto, pode ocorrer fratura de fêmur e
luxação posterior de quadril. Se o ponto de impacto for a tíbia ocorre danos
aos ligamentos do joelho. Em seguida o tórax se choca contra o painel ou
volante. Após o tronco parar seu movimento, a cabeça continua até se chocar contra
o pára-brisa, pode ocorrer traumatismo da cabeça e coluna cervical.
O ocupante do banco
dianteiro direcionado para cima e para frente: em algumas colisões frontais o corpo do ocupante pode ser
arremessado para cima e para frente, atingindo com a cabeça o pára-brisa sem
nenhuma dissipação prévia de energia cinética. Existem grandes probabilidades
de traumatismos da cabeça e de coluna cervical. O impacto secundário é com o tórax
e abdômen.
CORRELAÇÃO ENTRE LESÕES E PARTES lNTERNAS DO VEÍCULO
Lesões viscerais
causadas por impacto do volante (Lesões pelo volante): São mais freqüentes no motorista de um veículo, sem cinto de
segurança após uma colisão frontal. O motorista posteriormente pode colidir com
o pára-brisa. O volante é a causa mais comum de lesões para o motorista sem
cinto e qualquer grau de deformidade ao volante deve ser tratada com elevado
índice de suspeita para lesões de face, pescoço, torácicas ou abdominais. Utilizando
o conceito das três colisões, deve-se verificar:
1. Colisão da máquina:
deformidade frontal.
2. Colisão do corpo: fratura ou
deformidade do anel pélvico, lesões de coluna
3. Colisão dos órgãos: tatuagem
traumática da pele.
O volante é capaz de produzir
lesões ocultas e devastadoras. A deformidade do volante é uma causa de
preocupação.
Lesões pelos pára-brisas: Ocorrem nos tipos
de evento por desaceleração frontal rápida. O ocupante
sem cinto de segurança colide fortemente com o pára-brisa e a possibilidade de
lesões é maior sob estas condições. Lembrando as três colisões separadas deve-se
observar:
1. Colisão da máquina:
deformidade da frente.
2. Colisão do corpo: rachaduras
do pára-brisa.
3. Colisão de órgãos:
golpe/contragolpe do cérebro, lesão de partes moles (couro cabeludo, face, pescoço)
e hiperextensão da coluna cervical.
Lesões pelo painel: Ocorrem
geralmente no passageiro não contido. O painel tem a capacidade de produzir uma
variedade de lesões, dependendo da área do corpo que impacte com ele. Geralmente
as lesões envolvem a face e os joelhos, porém vários tipos de lesões têm sido descritas.
A lesão de joelho pode sugerir
que outros ferimentos estão presentes. Os joelhos freqüentemente atingem o
painel, causando desde uma simples contusão até uma fratura exposta da patela.
A luxação franca dos joelhos pode ocorrer e a energia cinética pode ser
transmitida para a coxa e resultar em fratura do fêmur ou quadril. Às vezes a
pelve pode colidir com o painel, resultando em fraturas. Estas lesões são
associadas com hemorragia que pode levar ao choque.
Outros fatores: Os objetos soltos no veículo
como bagagem, livros e passageiros podem se tornar mísseis mortais nos eventos por desaceleração rápida.
COLlSÃO LATERAL
Em cruzamentos ou derrapagens os impactos podem ser
na lateral do veículo. A porta ou a lateral do veículo pode atingir o ocupante.
O braço e o ombro tendem a ser atingidos em primeiro lugar, podendo ocorrer
fratura de úmero e de clavícula. Se o braço estiver
fora do local de impacto e este atingir o tórax, podem ocorrer fraturas de
costelas e estruturas intratorácicas. O abdome também sofre impacto, e as
vísceras mais atingidas são o baço do motorista e o fígado do passageiro. O
trocanter maior do fêmur pode ser atingido fazendo com que a cabeça do fêmur entre
no acetábulo. As fraturas de ilíaco também são comuns. Existe um grande risco
de dano à coluna cervical, pois ocorre flexão lateral do pescoço e rotação da
cabeça na direção oposta à do tronco.
Utilizando o conceito das
três colisões, deve-se procurar pela presença de:
1. Colisão da
máquina: deformidade primária do carro, verificar o lado do impacto
(motorista / passageiro).
2. Colisão do corpo: grau de deformidade da
porta (entortamento do descanso do braço, deformidade para fora ou para dentro
da porta).
3. Colisão de órgãos: inclui múltiplas
possibilidades. Aplicando o conceito das três
colisões:
1. Colisão da máquina:
deformidade do carro.
2. Colisão do corpo: fratura ou
deformidade do painel.
3. Colisão dos órgãos: trauma
facial, golpe/contragolpe no cérebro, hiperextensão flexão da coluna cervical.
traumatismo de joelho.
- Cabeça: golpe/contragolpe
pelo desposicionamento lateral.
- Pescoço: as
lesões pelo desposicionamento lateral variam de estiramento muscular cervical a
subluxação com déficit neurológico.
- Pelve / pernas: ocupantes
no lado do impacto são propensos a apresentar fraturas de pelve, quadril ou
fêmur.
- Lesões de membro superior e ombro do lado do impacto.
- Tórax / abdome: lesão
direta por desposicionamento da porta no lado do impacto ou pelo passageiro
solto sendo lançado através do assento.
As lesões do tórax podem afetar tecidos moles,
arcabouço ósseo com tórax instável, pulmões com contusão, pneumotórax ou
hemotórax. Lesões abdominais incluem aquelas de órgãos sólidos ou ocos. Lesões
pélvicas podem incluir fratura/luxação, ruptura da bexiga e lesões uretrais. As
lesões da cintura escapular ou de extremidades inferiores são comuns dependendo
da força do impacto.
COLISÃO TRASEIRA
As duas formas de colisão
traseira são: quando o carro parado é atingido por outro veículo em movimento
ou quando o carro é atingido na traseira por outro carro deslocando-se mais
rápido e na mesma direção. O aumento súbito da aceleração produz deslocamento
posterior dos ocupantes e hiperextensão da coluna cervical se o descanso de
cabeça não estiver propriamente ajustado. Pode também haver desaceleração
frontal rápida se o carro colidir de frente com um objeto ou se o motorista
frear subitamente.
CAPOTAGEM
Durante a capotagem, o
corpo pode sofrer impacto em qualquer direção, chocando-se com o pára-brisa,
teto, laterais e assoalho do veículo. O potencial de lesões é grande. As lesões
são um misto dos padrões anteriormente descritos. A possibilidade de lesões por
compressão da coluna vertebral aumenta nesta forma de acidente. O socorrista
deve estar alerta para indicadores de que o carro capotou (mossas, arranhões e
deformidade das colunas da capota). Existem mais lesões letais nesta forma de
acidente, pois o ocupante tem mais chances de ser ejetado do veículo. O
ocupante ejetado do carro tem 25 vezes mais chance de morrer do que os não
ejetados.
SISTEMAS DE CONTENÇÃO DO OCUPANTE CINTO DE SEGURANÇA
Ocupantes contidos têm mais chance de sobreviver, pois
eles são protegidos de grande parte do impacto no interior do carro e são
impedidos de ser ejetados do auto. Estes ocupantes são, todavia, ainda
suscetíveis a certas lesões.
Cinto abdominal: Deve cruzar a pelve
(cristas ilíacas), não o abdome. Caso o cinto esteja bem posicionado e a vítima submetida a uma colisão com
desaceleração frontal, seu corpo tende a se dobrar.
A cabeça pode ser atirada contra
o volante ou painel. Lesões faciais, de cabeça ou pescoço são comuns. As lesões
abdominais ocorrem se o cinto estiver posicionado incorretamente. As forças de
compressão produzidas quando o corpo é subitamente dobrado na linha da cintura
podem lesar o abdome ou a coluna lombar.
Cinto com fixação em três pontos ou cruzado: Prende o corpo bem melhor que o cinto abdominal isolado. O
tórax e a pelve são contidos, assim, lesões com risco de vida são bem menos
comuns. A cabeça não é contida, assim o pescoço é arremessado para frente e pode
causar fraturas, luxações ou lesões de medula espinhal. Fraturas de clavícula
(onde a faixa torácica cruza) são comuns. A lesão de órgãos internos pode
ocorrer ainda devido ao movimento de órgãos dentro do corpo.
AIR BAGS
Os air bags reduzirão as
lesões das vítimas de colisão. Os air bags são feitos para inflar do centro do
volante e do painel para proteger os ocupantes do assento dianteiro em caso de
um acidente por desaceleração frontal. Se funcionarem corretamente, amortecem a
cabeça e o tórax no momento do impacto. São muito eficientes em reduzir as lesões
em face, pescoço e tórax. Os air bags esvaziam-se imediatamente assim protegem
contra um só impacto. O motorista cujo carro atinge mais de um objeto está
desprotegido após a colisão inicial. Os air bags também não impedem os
movimentos para baixo, assim, o motorista pode bater com as pernas e sofrer
lesões na pelve ou no abdome. É vital para os ocupantes utilizarem o cinto de segurança mesmo
quando o carro está equipado com air bags. O volante danificado é uma evidência
da presença de lesões internas no motorista.
MOTOCICLETAS
Os motociclistas não estão
dentro de cabines com equipamentos de contenção. Quando o motociclista é
submetido às colisões clássicas, colisões frontais, laterais, de traseira ou
capotagens, as formas de proteção são:
- Manobras evasivas.
- Uso do capacete.
- Vestes de proteção (por
exemplo, roupas de couro, capacete, botas).
É muito importante que os motociclistas
usem o capacete. Os capacetes previnem traumas de cabeça (que causam 75% das
mortes). Os capacetes não protegem a coluna e as áreas mais afetadas são cabeça,
pescoço e extremidades.
ATROPELAMENTOS
As lesões produzidas nos
atropelamentos tendem a ser mais graves, pois o pedestre tem menos proteção que
o ocupante de um veículo em que a carroceria absorve parte da energia cinética
da colisão. O pedestre atingido por um carro quase sempre sofre lesões internas
graves, mesmo que o carro esteja à baixa velocidade. A massa do veículo é tão
grande que ocorre transferência de grande quantidade de energia mesmo com
baixas velocidades, e se o veículo estiver em alta velocidade, os resultados
geralmente são desastrosos.
Mecanismos de Lesão
1. Pára-choque atinge o corpo.
2. Corpo acelerado pela
transferência de energia atinge o chão ou outro objeto.
Os danos tendem a ocorrer
em três estágios:
1. Impacto inicial com o corpo,
impacto secundário do corpo com o veículo e com o solo. Nos adultos o impacto
inicial é na altura do joelho, que se move na mesma direção do carro, o impacto
pode ser lateral, anterior ou posterior. Nos impactos laterais e frontais tende
a haver lesão do ligamento cruzado, além de luxações da tíbia e fíbula.
2. Após o impacto inicial a
vítima pode ser lançada sobre o veículo, sofrendo danos no tórax e abdome,
dependendo da posição em que se encontrava no momento do impacto.
3. O estágio final é a queda da
vítima sobre o solo, quando os traumatismos da cabeça e coluna cervical são
frequentes.
Padrões de Lesão
Os padrões de lesão variam
com o tamanho da vítima e a altura do párachoque do veículo:
Adulto: geralmente tem fraturas bilaterais baixas
nas pernas ou fraturas de joelho associadas a lesões secundárias que ocorrem
quando o corpo atinge o carro e depois o chão.
Crianças: são mais baixas e o pára-choque tem maior
chance de atingi-las na pelve ou no tronco. Geralmente caem sobre suas cabeças
no impacto secundário.
TRAUMATISMOS POR DESACELERAÇÃO VERTICAL
Constituem um importante
subgrupo dos traumatismos contusos e está associado com quedas da vítima de pé
em curtas distâncias. A lesão tecidual resulta da absorção cinética acumulada
durante o período de queda, variando com uma série de fatores.
1. Altura da queda.
2. Área do corpo que sofre o
impacto.
3. Superfície atingida.
Área do corpo atingida: as lesões da cabeça
são comuns em crianças, pois esta é a parte mais
pesada do corpo e deste modo é a primeira a sofrer o impacto. As quedas de
adultos são geralmente acidentes de trabalho ou ocorrem sob influência de
álcool e drogas. Os adultos tentam aterrissar sobre os pés e suas quedas são
mais controladas. Nesta forma de aterrissar, a vítima geralmente sofre o
primeiro impacto nos pés e depois cai para trás atingindo o solo com as nádegas
e as mãos estendidas. Este padrão de queda pode resultar em múltiplas lesões,
tais como:
- Fraturas dos pés ou das
pernas.
- Lesões de quadril e pelve.
- Compressão axial da coluna
lombar e cervical.
- Forças de desaceleração
vertical para os órgãos.
- Fraturas de Colles nos punhos.
Altura: quanto maior a altura, maior o potencial da
lesão. Porém, não seja enganado acreditando que existe pouco risco de lesão em
quedas de baixa altura. A relação entre sobrevida e altura da queda não é
absoluta, existem casos de óbito em quedas da própria altura e de sobrevida em
quedas de grandes alturas.
Ponto de impacto: a densidade da superfície
(concreto versus serragem) e irregularidade (chão de um ginásio de esportes
versus uma escadaria) também influencia no potencial de severidade da lesão. A
superfície onde ocorre o impacto tem grande
importância, choques contra superfícies que se deformam têm um maior tempo para
desaceleração e dissipação de energia cinética do que impactos contra
superfícies rígidas.
FERIMENTOS PENETRANTES
Nos ferimentos penetrantes
é produzida uma cavidade permanente pela passagem do objeto através do
corpo.
PERFURAÇÃO POR ARMA DE FOGO
Balística: é a ciência que estuda o movimento de um
projétil através do cano de uma arma de fogo, sua trajetória no ar e após
atingir o alvo. O projétil é impulsionado através do cano de uma arma pela
expansão dos gases produzidos pela queima do propulsor. Quando o projétil
atinge o corpo humano sua energia cinética se transforma na força que afasta os
tecidos de sua trajetória.
Balística do Ferimento: Devido à energia cinética
(energia cinética = ½ da massa x velocidade2) produzida por um
projétil e dependente principalmente da velocidade,
as armas são classificadas em altas e baixas velocidades. As armas com
velocidades menores que 2000 pés/seg. são consideradas de baixa velocidade e
incluem essencialmente todas as armas de mão e alguns rifles. Lesões destas
armas são muito menos destrutivas do que aquelas que disparam mísseis que excedem
esta velocidade. As armas de baixa velocidade são capazes de lesões letais
dependendo da área do corpo que é atingida. Todas as lesões infligidas por
armas de alta velocidade apresentam o fator lesivo adicional de pressão
hidrostática.
1. Tamanho do míssil: Quanto maior à bala, maior a
resistência e maior a cavidade permanente.
2. Deformação do míssil: Balas ocas e ponta macia
se achatam com o impacto, resultando em maior superfície envolvida na troca de
energia.
3. Tamanho do míssil: A jaqueta se expande e se
adiciona à superfície.
4. Movimentação do projétil: Oscilação e rotação.
As feridas por
arma de fogo têm três componentes:
1. Orifício de entrada: Ao redor pode ter tatuagem
da pólvora, área de queimadura e abrasão da pele. Trata-se de uma ferida oval,
pois o projétil empurra os tecidos para dentro.
2. Orifício de saída: Nem todos os orifícios de
entrada têm um orifício de saída correspondente. Em alguns casos pode haver
múltiplos orifícios de saída devido à fragmentação óssea e do míssil.
Geralmente o orifício de saída é maior e tem as bordas irregulares para fora.
O
orifício de saída depende da energia cinética, deformação, inclinação e fragmentação
do projétil. Se o projétil gastar toda sua energia cinética cavitando o tecido,
o orifício de saída pode ter aparência inócua ou mesmo não existir.
Em outras situações com
pouca degradação da energia cinética, mas com
inclinação e deformação do
projétil, o orifício de saída pode ser irregular e maior que o orifício de
entrada.
3. Lesão
interna: Projéteis de baixa velocidade infligem dano principalmente aos
tecidos que estão em contato direto com eles; projéteis de alta velocidade infligem
dano por contato com o tecido e transferência de energia cinética aos tecidos circundantes. O dano é causado por:
- Ondas de choque.
- Cavidade temporária, que é 30
a 40 vezes o diâmetro do projétil e cria pressões imensas nos tecidos.
O grau da lesão produzida por
uma arma de fogo é dependente da troca de energia cinética entre o projétil e
os tecidos da vítima. Quanto maior a troca de
energia cinética maior será a
lesão.
Perfil frontal do projétil: Altera significativamente a troca de energia com o alvo. É
afetado por: forma do projétil, ângulo de penetração e fragmentação. Alguns
projéteis como os de ponta oca e ponta macia podem alargar seu perfil frontal
após penetrar nos tecidos, o efeito prático deste fato é aumentar a dissipação
da energia cinética e consequentemente a lesão tecidual.
INFORMAÇÕES BALÍSTICAS ÚTEIS
Fragmentação: os projéteis que se fragmentam após
penetração ou após deixarem o cano da arma (espingardas, por exemplo) também
aumentam a área frontal. Os múltiplos fragmentos atingem mais tecidos,
aumentando a troca de energia.
Cavitação: a aceleração dos tecidos no sentido
lateral e de deslocamento do projétil cria um orifício ou cavidade. Nos
projéteis de baixa velocidade o trajeto de destruição é apenas ligeiramente
maior que o diâmetro, porém nos de alta velocidade o
trajeto de destruição é muito maior. Durante alguns milissegundos é criada uma
cavidade temporária várias vezes maior que o diâmetro do projétil (30 ou mais
vezes). A cavidade temporária tem pressão interna menor que a atmosférica e
pode aspirar corpos estranhos (pedaços de roupa) através do orifício de entrada
para o interior do ferimento. Órgãos, vasos sangüíneos e nervos podem ser
lesados, sem ter contato direto com o projétil.
O dano produzido é
proporcional à densidade do tecido. Órgãos altamente densos como osso, músculo
e fígado sustentam mais dano que órgãos menos densos como os pulmões. Quando um
tecido denso como o osso é atingido, pode ocorrer fragmentação gerando
projéteis secundários. Em tecidos como o fígado, a cavitação é mais grave
devido à força tensional baixa. Uma vez que a bala entra no corpo, sua
trajetória pode não ser mais uma linha reta. O indivíduo baleado utilizando
colete à prova de balas deve ser tratado com cautela; devido à possível contusão
cardíaca ou de outros órgãos. Qualquer paciente com uma penetração por um
míssil na cabeça, no tórax ou abdome deve ser transportado imediatamente. Em
ferimentos abdominais por arma de fogo, o socorrista deve sempre assumir a
existência de lesão visceral, pois é muito raro que projéteis, mesmo os de
baixa velocidade, não penetrem na cavidade.
FERIMENTOS POR ARMA BRANCA OU MÍSSIL DE BAIXA
VELOCIDADE
Armas de baixa energia
incluem armas guiadas pela mão, tal como facas, picadores de gelo, chaves de
parafuso, garrafas quebradas e flechas. A lesão produzida equivale geralmente
ao trajeto do objeto, pois a energia cinética é pequena. Assim, o socorrista
tem melhores condições de prever a extensão das lesões internas.
A severidade dos ferimentos
por faca depende da área anatômica penetrada, comprimento da lâmina e do ângulo
de penetração. Caso a arma tenha sido removida, deve-se identificar o tipo de arma
utilizada e o sexo do agressor quando possível; homens tendem a esfaquear com a
lâmina no lado do polegar da mão e com empurrão para cima, enquanto mulheres
tendem esfaquear para baixo e seguram a lâmina pelo lado do dedo mínimo.
Ao avaliar uma vítima com
um ferimento à faca, é importante procurar por mais de um ferimento. Múltiplos
ferimentos à faca são possíveis e não deveria ser desconsiderado até o paciente
ser exposto e examinado com atenção. Esta inspeção minuciosa pode ser feita no
local ou a caminho do hospital, dependendo das circunstâncias em volta do
incidente e condições da vítima.
Referências Bibliográficas:
1. CANETTI, M. Dominguez. Et al. Manual básico de socorro de emergência para
técnicos em emergências médicas e socorristas. 2ª ed. São Paulo: Editora
Atheneu, 2007.