ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

domingo, 28 de fevereiro de 2010


A enfermagem vem percorrendo um caminho para seu reconhecimento como ciência. Ela enfatiza que o cuidado é a essência de sua prática, o foco central da enfermagem. Visa seus esforços no resgate do cuidado humano na saúde, na enfermidade e na morte. O cuidado visto e vivenciado desta maneira, além de ser princípio da assistência de enfermagem, é filosofia desta disciplina de Fundamentos do Cuidado Humano I e também do nosso Currículo do Curso de Enfermagem.
Abordaremos abaixo algumas considerações, idéias, pensamentos, princípios e conceitos evocados pelas teoristas de enfermagem M.LEININGER e J.WATSON. LEININGER, M.M.
LEININGER(1991) refere que o cuidado Humano é Universal, sendo vivenciado nas diversas culturas, e, em sua Teoria sobre a Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural, enfatiza que o mesmo é necessário para o desenvolvimento da prática assistencial de enfermagem. Esta teorista desvelou o termo Enfermagem Transcultural como sendo um comparativo e análise de culturas em relação às práticas de cuidado de enfermagem, visando um atendimento significativo e eficaz às pessoas de acordo com seus valores culturais e seu contexto saúde-doença.
LEININGER(1991) apresenta três tipos de interação entre enfermeiro/cliente:
1- Preservação do cuidado cultural (as ações do enfermeiro precisam apoiar, facilitar ou capacitar o cliente para o restabelecimento da saúde ou enfrentamento da morte.
2- Ajustamento do cuidado cultural (a assistência profissional visa à adaptação, ajustamento ou negociação do cliente, visando alcançar um resultado de saúde benéfico ou satisfatório.
3- Repadronização/reestruturação do cuidado cultural (intervenções profissionais que necessitam modificar os padrões de saúde do cliente para alcançar adequada qualidade de vida, respeitando os valores culturais e crenças dos pacientes(clientes).
Através desta visão, a assistência de enfermagem será adaptada à cultura do cliente não havendo incongruências entre o cliente e o cuidador.
Um dos conceitos centrais de sua teoria diz que cuidar é um verbo que se refere a ações de assistir, ajudar, facilitar o outro indivíduo ou grupo, com necessidades evidentes ou que podem ser antecipadas, que levam a melhorar ou aperfeiçoar uma condição humana ou modo de vida. E cuidado é um substantivo que se refere às atividades empregadas na assistência, ajuda ou facilitação desse indivíduo ou grupo com necessidades evidentes ou antecipadas, a fim de melhorar a condição ou modo de vida humana ou para se defrontar com a morte (LEININGER, 1981). Na sua visão transcultural, Leininger considera o ser humano inseparável do seu conhecimento cultural e social; refere que o cuidar humano é um fenômeno universal e que suas expressões, processos e padrões variam entre culturas. Acrescenta que o cuidar tem várias dimensões que podem ser estudadas e praticadas para prestar cuidados holísticos às pessoas.
A teorista diferencia o cuidar no sentido genérico, do cuidar no sentido profissional. No sentido genérico, o cuidar se refere a atos de assistência, suporte ou facilitação dirigidos a um indivíduo ou grupo. No sentido profissional, refere-se aos modos, cognitivamente aprendidos, humanísticos e científicos de ajudar e capacitar o indivíduo, a família ou a comunidade a receber serviços personalizados, através de processos, técnicas e padrões de cuidados específicos e culturalmente definidos, para melhorar ou manter uma condição favoravelmente saudável para a vida ou morte.
Os estudos de LEININGER (1991) e de outras pesquisadoras da área de enfermagem investigam comportamentos de cuidar entre algumas culturas, ilustrando como as pessoas mantêm muitos dos rituais de cuidar que representam os valores de suas culturas; inclusive muitos desses rituais de cuidado permanecem fiéis às suas origens, passando de geração a geração através dos tempos.
LEININGER, expressa que cada cultura tem maneiras próprias de definir, compreender, refletir e explicar a saúde e a doença, sendo assim o cuidado, um fenômeno culturalmente construído. COMO LEININGER – TEORIA TRANSCULTURAL DO CUIDADO – DESCREVE:
ENFERMAGEM : Ciência e arte humanística que enfoca comportamentos de cuidado, (individual ou de grupo), funções e processos direcionados à promover e manter comportamentos de saúde ou recuperação de doença os quais tem significância física, psicocultural e social pelos seres assistidos geralmente por um profissional de enfermagem ou alguém com papel similar em termos de competência. É um fenômeno transcultural. Enfermagem é cuidar/cuidado.
PESSOA/SER HUMANO : Um ser que apresenta comportamentos de cuidar/cuidado que variam segundo as culturas, porém é universalmente um fenômeno humano. As pessoas se caracterizam por padrões de cuidar/cuidado. Pessoas expressam cuidado de acordo com valores.
SAÚDE : Fala de saúde, doença e bem estar – são culturais e baseados em valores. O cuidado é um processo. A cura não existe sem o cuidar.
MEIO AMBIENTE : O ambiente influencia a forma de expressar cuidar/cuidado assim como política, religião, parentesco e valores culturais. O cuidado é um construto social.
WATSON, J.
Watson (1988), teorista do cuidado humano, iniciou sua conceitualização a respeito da ciência do cuidado humano enquanto escrevia um livro para subsidiar o currículo de estudantes de bacharelado em enfermagem. Sua teoria sofreu influências do humanista Carl Rogers, através da ênfase dada ao cuidado humano, aos processos interpessoais e transpessoais.
Ela considera como fontes teóricas do desenvolvimento de sua filosofia humanística e existencial, os trabalhos de Nigthingale, Henderson, Hall, Leininger, Hegel, Kierkegaard e Gadow.
Esta teoria guia a educação, a prática e a investigação clínica, baseada no cuidado como um ideal moral, permite o espiritual, o transcendente, o todo, enquanto atende o ser e fazer,
totalmente integrados. Watson atribui sua ênfase às qualidades interpessoais e transpessoais de congruência, empatia e emoção. A ênfase espiritual de sua teoria foi influenciada pelos conceitos de Gadow sobre ideal, moral, intersubjetividade, dignidade humana.
Watson estabelece que a proposta de sua teoria é a de oferecer pressupostos filosóficos que desvelem o processo de cuidado humano em enfermagem, bem como, permitir e ressaltar na enfermagem o conceito de pessoa integral. Através de sua teoria buscou uma maior profundidade e poder nas transações de cuidado entre o enfermeiro e o cliente. A natureza da enfermagem está relacionada a ajudar as pessoas a obterem um grau mais elevado de harmonia entre mente-corpo-alma, gerando auto-conhecimento, auto-respeito, auto-cura, e processos de auto-cuidado. O enfermeiro está engajado como co-participante nas transações de cuidado humano, possibilitando ao cliente, progredir para níveis mais elevados de consciência, ao encontrar significado e harmonia na existência, através do uso da mente ( Watson, 1985). Watson considera que um EU perturbado pode levar ao desequilíbrio e esta desarmonia, pode resultar em patologia. O enfermeiro e o paciente desenvolvem relações interpessoais onde cada um tem funções a desempenhar. Ao enfermeiro cabe fornecer um ambiente de apoio, proteção com tomada de decisão científica, o cliente por sua vez, terá suas necessidades humanas satisfeitas através de experiências positivas que levarão à mudanças no processo de ser saudável. Enfatiza a relação ensino-aprendizagem, ajuda-confiança, expressão de sentimentos positivos e negativos. O foco da enfermagem na teoria de Watson é o indivíduo e o processo de interação entre pessoa-enfermeiro e pessoa-paciente. A teoria de Watson tem sido utilizada nas áreas de adultos, crianças, unidades neonatais, geriartria, clientes com AIDS, clientes com enfarto, mulheres socialmente de risco. Segundo Watson (1988), cuidar é visto como ideal moral da enfermagem, cuja característica fundamental é a preservação da dignidade humana, compreendendo assim um valor humano que envolve o conhecimento, as ações e os resultados do cuidado. Ressalta também, que o cuidado humano está relacionado ainda com a interação, com o autoconhecimento, com a resposta humana à saúde-doença, conhecimento do processo de cuidar, das limitações de poder e transação de alguém. O cuidado transpessoal é componente essencial do cuidado, manifestando-se no encontro daqueles que estão envolvidos no ato de cuidar (Watson, 1988). Na área da educação, Watson (1989) refere que um currículo direcionado para o cuidar/cuidado, o qual é fundado nos princípios de uma educação emancipatória ou libertadora na enfermagem, é um compromisso político, filosófico, ético e moral. Este compromisso envolve risco, o risco de permitir o poder do cuidado humano no ato educacional no atual sistema que parece desvalorizar esta qualidade. Watson chama-nos a atenção para o fato das situações educacionais e da prática de enfermagem, desencorajarem o enfermeiro de ser sensível, resultando daí relações profissionais impessoais. Watson identificou 10 (dez) fatores estruturais para estudar e compreender cuidado os quais incluem: a formação de um sistema de valores humanístico-altruístico; a estruturação de fé e esperança; o cultivo da sensibilidade de nosso próprio eu e dos outros; o desenvolvimento de um relacionamento de ajuda e confiança; a promoção e aceitação de uma expressão de sentimentos positivos e negativos; o uso sistemático do método científico de resolução de problemas; a promoção de ensino-aprendizado interpessoal; a previsão de um meio ambiente físico, mental, sócio-cultural e espiritual adequado, de suporte e proteção; assistência e satisfação de necessidades humanas, e a permissão para o desenvolvimento de forças fenomenológico-existenciais. Para Watson, o cuidado como um valor moral envolve o ensino de uma ideologia de cuidado. O cuidar se desenvolve entre pessoas através de uma experiência relacional que engloba responsabilidades; responsabilidade não por obrigação, mas de um compromisso para o eu e o outro – Watson(1988) refere a isto como intersubjetividade, ou seja, o encontro real e autêntico entre seres humanos. Tal como diz Watson (1988), “ser humano é sentir- e a maior parte das vezes as pessoas permitem-se pensar os seus sentimentos mas não sentir os seus sentimentos e quem não é sensível aos seus próprios sentimentos dificilmente será sensível aos sentimentos dos outros”.
COMO WATSON – TEORIA TRANSPESSOAL DO CUIDADO – DESCREVE:
ENFERMAGEM: A enfermagem se caracteriza por cuidar e este é um imperativo ético e moral. A enfermagem caracteriza-se por uma relação transpessoal de cuidar. A enfermagem é um sistema de valores humanísticos-altruísticos. PESSOA/SER HUMANO: São seres com mentes e emoções as quais são as janelas para a alma. O corpo é sujeito, tempo e espaço; a mente e o espírito não. O ser humano é um todo. Pessoas necessitam umas das outras numa relação de cuidado e amor. SAÚDE : É mais do que ausência de doença, é uma experiência subjetiva – refere-se a unidade e harmonia da mente, corpo e espírito e é associado com o grau de congruência entre o self percebido e o self experenciado. Pessoas são capazes de auto-cura, ou do processo de auto-reparação/restauração.
MEIO AMBIENTE : Sistema energético. As atitudes de cuidar são transmitidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 LEININGER, M. Transcultural nursing: concepts, theories and practices. New York: John Wiley & Sons, 1978.
2 LEININGER, M. Caring na essential human need. Thorofore, New Jersey: Charles B., Slack Publishing. , 1981.
3 LEININGER, M.M.(Ed.). Culture care diversity and universality:a theory of nursing.New York: National League for Nursing, 1991.
4 WATSON, J. Nursing: human science and human care. East Norwalk, CT: Appleton-Cen- Tury – Grofts, 1985.
5 WATSON, J. Nursin: human science and human care: a Theory of nursing. New York : National League for Nursing Press, 1988.
6 WATSON, J. Transformative thinking and a caring curriculum.In:BEVIS,E.O.;WATSON J.(Eds). Toward a caring curriculum: a new pedagogy for nursing. New York: National League for Nursing, 1989. P.51-60.


fonte: http://www.ufrgs.br/eenf/enfermagem/disciplinas/enf01001/materia /teorias_de_enf_fundamentosI.pdf