ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Distúrbios da Ansiedade


Todo mundo tem medo e ansiedade. O medo é uma resposta emocional, fisiológica e comportamental a uma ameaça externa definida (p.ex., um intruso ou um veículo descontrolado). A ansiedade é um estado emocional desagradável que possui uma causa menos clara e, freqüentemente, é acompanhada por alterações fisiológicas e comportamentais similares àquelas causadas pelo medo. Devido a essas semelhanças, as pessoas comumente utilizam os termos ansiedade e medo de modo indistinto. A ansiedade é uma resposta ao estresse como, por exemplo, o rompimento de uma relação importante ou a exposição a um desastre potencialmente letal. Uma teoria defende que a ansiedade também pode ser uma reação a um impulso sexual ou agressivo reprimido, o qual ameaça suplantar as defesas psicológicas que normalmente mantêm tais impulsos sob controle. Portanto, a ansiedade indica a presença de um conflito psicológico.

A ansiedade pode manifestar-se subitamente (p.ex., no pânico) ou gradualmente, ao longo de minutos, horas ou dias. A duração da ansiedade pode ser muito variável, desde alguns segundos até vários anos. Sua intensidade pode variar desde uma angústia praticamente imperceptível até um pânico estabelecido. A ansiedade atua como um elemento dentro de uma ampla gama de respostas de adaptação que são essenciais para a sobrevivência em um mundo perigoso. Um certo grau de ansiedade provê um componente adequado de precaução em situações potencialmente perigosas. Na maior parte do tempo, o nível de ansiedade de um indivíduo apresenta alterações adequadas e imperceptíveis ao longo de um amplo espectro de estados de consciência que vai desde o sono ao estado de vigília, passando pela ansiedade e o medo, e assim sucessivamente. Entretanto, em alguns casos, o sistema de resposta à ansiedade funciona incorretamente ou é superado pelos acontecimentos. Neste caso, pode ocorrer um distúrbio da ansiedade. Os seres humanos reagem diferentemente às situações. Por exemplo, alguns acham que falar diante de uma platéia é algo estimulante, enquanto outros se apavoram à simples idéia de fazê-lo.

A capacidade de tolerar a ansiedade varia muito e, por isso, muitas vezes é difícil de se determinar o que significa “ansiedade anormal”. No entanto, quando ela ocorre em momentos inadequados ou é tão intensa e duradoura que chega a interferir nas atividades normais, ela será então adequadamente considerada como um distúrbio. Os distúrbios da ansiedade podem ser tão angustiantes e interferir de tal maneira na vida do indivíduo que podem levá-lo à depressão. Alguns apresentam distúrbio da ansiedade e depressão ao mesmo tempo, outros apresentam inicialmente um quadro depressivo e, em seguida, um quadro de ansiedade. Os distúrbios da ansiedade são o tipo mais comum de distúrbio psiquiátrico.

O diagnóstico de um distúrbio da ansiedade baseia-se fundamentalmente nos seus sintomas. Contudo, sintomas idênticos aos de um distúrbio da ansiedade podem ser causados por uma doença (p.ex., hiperatividade da tireóide) ou pelo uso de um medicamento ou de uma droga (p.ex., corticosteróides ou cocaína). Uma história familiar de distúrbio da ansiedade pode ajudar o médico a estabelecer o diagnóstico, uma vez que tanto a predisposição a uma ansiedade específica quanto a predisposição geral à ansiedade freqüentemente têm um caráter hereditário. É importante realizar um diagnóstico preciso, pois o tratamento varia de um distúrbio da ansiedade a outro. Dependendo do distúrbio, a terapia comportamental, o tratamento medicamentoso ou a psicoterapia, isoladamente ou combinados adequadamente, podem aliviar significativamente a angústia e a disfunção da maioria dos pacientes.

Ansiedade Generalizada

A ansiedade generalizada consiste em uma preocupação e em uma ansiedade excessivas e quase diárias (com duração superior ou igual a 6 meses) sobre uma variedade de atividades ou eventos. A ansiedade e a preocupação decorrentes do distúrbio da ansiedade generalizada são tão extremas que se tornam difíceis de serem controladas. Além disso, o indivíduo apresenta três ou mais dos seguintes sintomas: agitação, fadiga fácil, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular e distúrbio do sono. As preocupações são de ordem geral. As preocupações comuns incluem as responsabilidades do trabalho, finanças, saúde, segurança, conserto do carro e outras. A gravidade, a freqüência ou a duração das preocupações é desproporcionalmente maior do que as exigidas pela situação. A ansiedade generalizada é comum. Cerca de 3 a 5% dos adultos apresentam esse problema em algum momento da vida. As mulheres apresentam o dobro de probabilidade de apresentá-lo. Esse distúrbio é freqüente na infância e na adolescência, mas pode começar em qualquer idade. Para a maioria das pessoas, o problema é oscilante, piora em determinadas ocasiões (especialmente durante os momentos de estresse) e persiste por muitos anos.

Tratamento

Para a ansiedade generalizada, o tratamento de eleição é o medicamentoso. Geralmente, são prescritos medicamentos ansiolíticos como, por exemplo, os benzodiazepínicos. Mas como o uso prolongado dessas substâncias pode levar à dependência física, o medicamento deve ser reduzido gradualmente e não abruptamente no caso de interrupção de seu uso. O alívio proporcionado pelos benzodiazepínicos habitualmente compensam os efeitos colaterais leves que eles podem produzir. A buspirona é outro medicamento eficaz para muitos indivíduos que apresentam ansiedade generalizada. Aparentemente, a sua utilização não acarreta dependência física, mas a buspirona leva no mínimo duas semanas para começar a atuar, em comparação com os benzodiazepínicos que começam a agir em minutos. Geralmente, a terapia comportamental não é útil, pois não existem situações bem definidas que desencadeiam a ansiedade. As técnicas de relaxamento e de biofeedback podem ter alguma utilidade. A ansiedade generalizada pode estar associada a conflitos psicológicos subjacentes que estão freqüentemente relacionados à insegurança e a atitudes autocríticas que são autodestrutivas. Em alguns casos, a psicoterapia pode ser eficaz para ajudar a compreender e a solucionar conflitos psicológicos internos.

Ansiedade Induzida por Drogas ou Problemas Médicos

A ansiedade pode ser decorrente de um distúrbio médico ou do uso de uma droga. Os exemplos de distúrbios médicos que causam ansiedade incluem os distúrbios neurológicos (p.ex., traumatismo crânio encefálico, uma infecção cerebral ou uma doença do ouvido interno), distúrbios cardiovasculares (p.ex., insuficiência cardíaca e arritmias cardíacas), distúrbios endócrinos (p.ex., hiperatividade adrenal ou da tireóide) e distúrbios respiratórios (p.ex., asma e doença pulmonar obstrutiva crônica). As drogas que podem induzir à ansiedade incluem o álcool, estimulantes, cafeína, cocaína e muitos medicamentos de receita obrigatória. A ansiedade também pode ser decorrente da suspensão de um medicamento. Ela pode desaparecer após o tratamento do problema médico ou da interrupção do uso de uma droga por tempo suficiente para que os sintomas da abstinência desapareçam. Qualquer grau de ansiedade remanescente pode ser tratado com medicamentos ansiolíticos adequados, terapia comportamental ou psicoterapia.

Crises de Pânico e Pânico Patológico

O pânico é uma ansiedade aguda e extrema, que é acompanhada por sintomas fisiológicos. As crises de pânico podem ocorrer em qualquer distúrbio da ansiedade, geralmente em resposta a uma situação específica relacionada às principais características da ansiedade. Por exemplo, um indivíduo com fobia a cobras pode entrar em pânico quando depara-se com uma. No entanto, essas situações de pânico diferem das crises espontâneas, não provocadas, e são as que definem o problema de um pânico patológico. As crises de pânico são comuns e mais de um terço dos indivíduos as apresentam cada ano. As mulheres apresentam uma probabilidade de duas a três vezes maior de apresentar esse tipo de crise. Os distúrbios do pânico são incomuns e afetam menos de 1% da população. Geralmente, o pânico patológico inicia no final da adolescência e início da vida adulta.

Medicamentos Ansiolíticos: Alívio para Muitos Sintomas

Os medicamentos que combatem a ansiedade, também denominados ansiolíticos, sedativos e tranqüilizantes, visam eliminar os sintomas da ansiedade. Muitos deles produzem relaxamento muscular, reduzem a tensão, são úteis no caso de insônia e, conseqüentemente, provêem um alívio temporário quando a ansiedade limita a capacidade de enfrentar os desafios do dia-a-dia. Vários tipos de medicamentos são utilizados para aliviar a ansiedade; os denominados benzodiazepínicos são os mais comuns. Eles têm efeitos ansiolíticos gerais, promovem o relaxamento mental e físico através da redução da atividade nervosa cerebral. No entanto, o uso dos benzodiazepínicos pode acarretar dependência física e, portanto, eles devem ser utilizados com cuidado por aqueles que apresentam ou apresentaram problema de dependência alcóolica. São exemplos de benzodiazepínicos o alprazolam, o clordiazepóxido, o diazepam, o flurazepam, o lorazepam, o oxazepam, o temazepam e o triazolam. Antes da descoberta dos benzodiazepínicos, os barbitúricos eram os medicamentos de escolha para o tratamento da ansiedade. Contudo, a possibilidade de uso abusivo dos barbitúricos é elevada, os problemas de abstinência são comuns e no caso de dose excessiva ou ingestão proposital de uma quantidade excessiva, os barbitúricos, apresentam maior probabilidade de serem letais que os benzodiazepínicos. Por essas razões, os barbitúricos raramente são prescritos para os distúrbios da ansiedade. Uma droga ansiolítica denominada buspirona não apresenta afinidade química ou farmacológica com os benzodiazepínicos ou outros medicamentos ansiolíticos. Não se sabe como a buspirona atua, mas ela não causa sedação e nem interage com o álcool. Entretanto, como a buspirona pode levar duas semanas ou mais para produzir os seus efeitos ansiolíticos, ela somente é útil para os indivíduos com ansiedade generalizada e não para aqueles com ansiedade aguda e intermitente. Algumas vezes, os medicamentos antidepressivos também são prescritos para os distúrbios da ansiedade. Diferentes tipos de antidepressivos podem ser usados deste modo, incluindo os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (p.ex., fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina), os inibidores da monoamino oxidase (p.ex., fenelzina, tranilcipromina) e os antidepressivos tricíclicos (p.ex., amitriptilina, amoxapina, clomipramina, imipramina, nortriptilina, protriptilina). Os antidepressivos podem ajudar a diminuir as características primordiais de alguns distúrbios como, por exemplo, as obsessões e as compulsões no distúrbio obsessivo-compulsivo ou o pânico no distúrbio de pânico. Embora os antidepressivos não causem dependência física, muitos deles apresentam efeitos adversos importantes. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina são particularmente bem tolerados. Alguns medicamentos ansiolíticos podem ser tomados uma vez por dia, enquanto outros exigem várias doses diárias. A maioria dos pacientes tolera bem os medicamentos ansiolíticos, mas a escolha do medicamento e seu uso adequado exigem uma discussão entre o paciente e o médico.

Sintomas e Diagnóstico

Os sintomas de uma crise de pânico (entre outros, falta de ar, tontura, aumento da freqüência cardíaca, sudorese, sufocação e dor no peito) atingem o máximo em dez minutos e, em geral, desaparecem em minutos; por essa razão, não podem ser observados pelo médico, excetuando-se o medo que o indivíduo apresenta de uma nova crise. Como as crises de pânico freqüentemente são inesperadas ou ocorrem sem razão aparente, os indivíduos que as apresentam freqüentemente antecipam e preocupam-se com a possibilidade de uma nova crise – condição denominada ansiedade antecipatória – e evitam os locais onde eles apresentaram uma crise de pânico anteriormente. Essa atitude de evitar locais é denominada agorafobia. Se a agorafobia for suficientemente intensa, o indivíduo poderá acabar confinando-se em sua casa. Como os sintomas de uma crise de pânico envolvem muitos órgãos vitais, os indivíduos freqüentemente preocupam-se com o fato de poderem estar apresentando um problema médico perigoso envolvendo o coração, os pulmões ou o cérebro, e procuram a ajuda de um médico ou do serviço de emergência de um hospital. Embora as crises de pânico sejam desconfortáveis (algumas vezes de modo extremo), elas não são perigosas.

Tratamento

A maioria dos indivíduos recupera-se das crises de pânico sem tratamento. Poucos desenvolvem o pânico patológico. A recuperação sem tratamento é possível, mesmo para aqueles que apresentam crises de pânico recorrentes ou de ansiedade antecipatória, sobretudo quando são repetidamente expostos ao estímulo ou à situação desencadeante. Aqueles que não se recuperam espontaneamente ou que não buscam tratamento continuam a apresentar crises de pânico ocasionais e indefinidamente. Os indivíduos respondem melhor ao tratamento quando compreendem que o pânico patológico envolve processos biológicos e psicológicos. Os medicamentos e a terapia comportamental geralmente conseguem controlar os sintomas.

Além disso, a psicoterapia pode ajudar a solucionar qualquer conflito psicológico que possa estar subjacente aos sentimentos e comportamentos ansiosos. Os medicamentos utilizados no tratamento dos distúrbios do pânico são os antidepressivos e os ansiolíticos (p.ex., benzodiazepínicos). Todos os tipos de antidepressivos – tricíclicos (p.ex., imipramina), inibidores da monoamino oxidase (p.ex., fenelzina) e inibidores seletivos da recaptação da serotonina (p.ex., fluoxetina) – mostraram-se eficazes. Embora vários benzodiazepínicos tenham se mostrado eficazes em estudos experimentais controlados, apenas o alprazolam foi especificamente aprovado para o tratamento dos distúrbios do pânico. Os benzodiazepínicos atuam mais rapidamente que os antidepressivos, mas podem causar dependência física e apresentam maior probabilidade de causar determinados efeitos adversos como, por exemplo, a sonolência, alterações da coordenação e redução do tempo de reação.

Quando um medicamento é eficaz, ele impede ou reduz muito o número de crises de pânico. Um medicamento pode ter que ser utilizado durante muito tempo no caso de as crises de pânico retornarem após a sua interrupção. Freqüentemente, a terapia de exposição, um tipo de terapia comportamental no qual o indivíduo é repetidamente exposto a algo que desencadeia uma crise de pânico, ajuda a reduzir o medo. A terapia de exposição é continuada até o indivíduo desenvolver um grau elevado de conforto frente à situação desencadeadora da ansiedade. Além disso, os indivíduos que temem desmaiar durante uma crise de pânico podem realizar um exercício no qual eles giram em uma cadeira ou respiram rapidamente (hiperventilam) até sentirem que vão desmaiar. Esse exercício demonstra a esses indivíduos que eles irão desmaiar durante uma crise de pânico. A prática da respiração superficial e lenta (controle respiratório) ajuda muitos indivíduos que apresentam uma tendência à hiperventilação. A psicoterapia visando o conhecimento e a maior compreensão dos conflitos psicológicos subjacentes também pode ser útil. O psiquiatra avalia o indivíduo para determinar se esse tipo de tratamento é adequado. Uma psicoterapia de apoio, menos intensiva, é sempre adequada, pois o terapeuta pode fornecer informações gerais sobre o distúrbio, o seu tratamento, a esperança realista de melhoria e o suporte decorrente de uma relação de confiança estabelecida com o médico.

Sintomas de uma Crise de Pânico


Uma crise de pânico implica no súbito surgimento de no mínimo quatro dos sintomas a seguir.

• Falta de ar ou sensação de asfixia
• Tontura, instabilidade ou desmaio
• Palpitações ou aumento da freqüência cardíaca
• Tremor ou agitação
• Sudorese
• Sufocação
• Náusea, dor de estômago ou diarréia
• Sensação de irrealidade, estranheza ou distanciamento do ambiente
• Sensações de dormência ou formigamento
• Rubor ou calafrios
• Dor ou desconforto torácico
• Medo de morrer
• Medo de “enlouquecer” ou de perder o controle

Fobias

As fobias implicam uma ansiedade intensa, não realista e persistente em resposta a situações externas específicas como, por exemplo, olhar para baixo de locais altos ou aproximar-se de um cachorro pequeno. Os indivíduos que apresentam uma fobia evitam situações que desencadeiam a sua ansiedade ou as suportam com um grande sofrimento. No entanto, eles reconhecem que sua ansiedade é excessiva e, portanto, eles têm consciência de que apresentam um problema.


AGORAFOBIA

Apesar do termo agorafobia significar literalmente “medo de áreas de comércio ou de espaços abertos”, ele descreve mais especificamente o medo de ficar preso em um lugar sem uma maneira prática e fácil de escapar no caso de uma crise de ansiedade. As situações típicas que são difíceis para um indivíduo com agorafobia incluem a espera em uma fila de banco ou de supermercado, sentar-se no meio de uma longa fileira de assentos em um teatro ou em uma sala de aula e viajar de ônibus ou de avião. Alguns indivíduos desenvolvem a agorafobia após terem apresentado uma crise de pânico em uma dessas situações. Outros indivíduos podem simplesmente sentir um desconforto e nunca apresentar, ou somente tardiamente, crises de pânico. Freqüentemente, a agorafobia interfere na vida quotidiana, algumas vezes de maneira tão drástica que faz com que o indivíduo isole-se em sua casa. A agorafobia é diagnosticada em 3,8% das mulheres e 1,8% dos homens em um período de seis meses. Esse distúrbio mais freqüentemente inicia no início da segunda década de vida e é raro que ele ocorra após os quarenta anos de idade.

Tratamento

O melhor tratamento para a agorafobia é a terapia de exposição, um tipo de terapia comportamental. Com o auxílio de um terapeuta, o indivíduo procura, enfrenta e permanece em contato com aquilo que lhe causa temor até que sua ansiedade seja lentamente reduzida pela familiaridade com a situação (um processo chamado habituação). Essa terapia ajuda mais de 90% dos que a praticam adequadamente. Se a agorafobia não for tratada, a sua gravidade irá aumentar ou diminuir, podendo inclusive desaparecer sem um tratamento formal, possivelmente porque o indivíduo levou a cabo algum tipo de terapia comportamental. Os indivíduos com agorafobia que se encontram profundamente deprimidos podem necessitar de um antidepressivo. As substâncias que deprimem o sistema nervoso central, como o álcool ou doses elevadas de medicamentos ansiolíticos, podem interferir na terapia comportamental e, por essa razão, devem ser reduzidas gradualmente antes do início da terapia. Como ocorre no distúrbio do pânico, em alguns casos de agorafobia a ansiedade pode ter suas raízes em conflitos psicológicos subjacentes. Nesses casos, a psicoterapia (na qual o indivíduo desenvolve um melhor conhecimento dos conflitos subjacentes) será de grande valia.


FOBIAS ESPECÍFICAS

As fobias específicas são os distúrbios da ansiedade mais comuns.Aproximadamente 7% das mulheres e 4,3% dos homens apresentam uma fobia específica em um período de seis meses. Algumas fobias específicas, como, por exemplo, o medo de animais de grande porte, do escuro ou de estranhos, começam precocemente. Muitas fobias desaparecem à medida que o indivíduo cresce. Outras fobias, como o medo de roedores, insetos, tempestades, água, alturas, voar ou de locais fechados, tipicamente ocorrem em indivíduos com mais idade. Pelo menos 5% dos indivíduos apresentam algum grau de fobia de sangue, injeções ou ferimentos e podem chegar a desmaiar, o que não ocorre com outras fobias e distúrbios da ansiedade. Por outro lado, muitos indivíduos com distúrbios da ansiedade hiperventilam, podendo apresentar uma sensação de desmaio, mas eles quase nunca desmaiam.

Tratamento

Freqüentemente, um indivíduo consegue conviver com uma fobia evitando o objeto ou a situação temida. Por exemplo, um habitante da cidade que tem medo de cobras não terá problemas em evitá-las. Contudo, um habitante da cidade que tem medo de espaços pequenos e fechados (p.ex., elevadores) terá problemas se o seu local de trabalho for em um andar alto de um arranha-céu. A terapia de exposição, um tipo de terapia comportamental no qual o indivíduo é exposto gradualmente ao objeto ou à situação que lhe causa medo, é o melhor tratamento para uma fobia específica. O terapeuta pode ajudar na realização correta da terapia, apesar dela poder ser realizada sem a orientação do terapeuta.

Até mesmo os indivíduos com fobia de sangue ou de agulhas respondem bem à terapia de exposição. Por exemplo, para um indivíduo que apresenta esse tipo de problema, pode-se aproximar uma agulha de uma veia e, em seguida, quando a freqüência cardíaca diminuir, removêla. A repetição desse processo permite que a freqüência cardíaca retorne ao normal. Finalmente, poderá ser realizada a coleta de sangue sem que haja risco de desmaio. Os medicamentos não são de grande utilidade para as fobias específicas. Contudo, os benzodiazepínicos (medicamentos ansiolíticos) podem permitir o controle de uma fobia durante um período curto (p.ex., medo de viajar de avião). A psicoterapia, com o objetivo de conhecimento e compreensão dos conflitos internos, pode ajudar na identificação e no tratamento dos conflitos subjacentes a uma fobia específica.


FOBIA SOCIAL

A capacidade de um indivíduo de se relacionar de modo cordial com outros afeta muitos aspectos da vida, incluindo as relações familiares iniciais, a educação, o trabalho, o lazer, as relações sociais e a vida conjugal. Embora seja normal alguma ansiedade em situações sociais, pessoas com fobia social demonstram tamanha ansiedade que evitam situações sociais ou as suportam com grande angústia. Uma pesquisa recentemente realizada comprovou que cerca de 13% das pessoas têm uma fobia social em algum momento de suas vidas. As situações que comumente desencadeiam uma situação de ansiedade entre os indivíduos com fobia social incluem falar em público; desempenhar uma atividade pública (p.ex., atuar em uma peça ou tocar um instrumento musical), comer na frente dos outros, assinar um documento diante de testemunhas e usar um banheiro público.

Aqueles que sofrem de fobia social preocupam- se com seu desempenho e sempre acham que suas ações são inadequadas. Freqüentemente, eles preocupam-se com a possibilidade de sua ansiedade tornar-se evidente: eles transpiram, ficam ruborizados, vomitam, tremem ou a voz torna- se trêmula. Além disso, eles perdem a linha de pensamento ou são incapazes de achar as palavras adequadas para se expressar. Um tipo mais geral de fobia social caracteriza-se pela ansiedade em quase todas as situações sociais. Os indivíduos com fobia social generalizada normalmente preocupam-se com o fato de que se o seu desempenho ficar aquém das expectativas, eles irão sentir-se humilhados e envergonhados. Alguns indivíduos são tímidos por natureza e revelam essa timidez precocemente, a qual, mais tarde, converter-se-á em uma fobia social. Outros apresentam ansiedade pela primeira vez em situações sociais na puberdade. Quando não tratada, a fobia social freqüentemente persiste, fazendo com que muitos indivíduos evitem atividades das quais gostariam de participar.

Tratamento

A terapia de exposição, um tipo de terapia comportamental, funciona bem para a fobia social, mas pode não ser fácil criar condições para que a exposição dure o suficiente para permitir a habituação. Por exemplo, um indivíduo que tem medo de falar diante de seu chefe pode não conseguir várias sessões de conversa com o mesmo. As situações de substituição podem ajudar, como a filiação à Toastmasters (uma organização para os indivíduos que ficam ansiosos ao falar diante de uma audiência) ou a leitura de um livro para os moradores de um asilo. As sessões de substituição podem ou não reduzir a ansiedade durante as conversações com o chefe. Os antidepressivos (p.ex., sertralina e fenelzina) e os medicamentos ansiolíticos (p.ex., clonazepam) freqüentemente auxiliam no tratamento da fobia social. Existem indivíduos que utilizam bebidas alcóolicas para facilitar as relações sociais. No entanto, em alguns casos, isto pode levar ao uso abusivo e à dependência do álcool. A psicoterapia, que implica a manutenção de conversações com o terapeuta visando conhecer melhor os conflitos subjacentes, pode ser particularmente útil para aqueles que são capazes de examinar o próprio comportamento e modificar o modo de pensar a respeito e de reagir às situações.

Distúrbio Obsessivo-Compulsivo

O distúrbio obsessivo-compulsivo caracteriza-se pela presença de idéias, imagens ou impulsos recorrentes, indesejados e intrusos que parecem tolos, esquisitos, indecentes ou horríveis (obsessões) e de uma urgência ou uma compulsão para fazer algo que elimine o desconforto causado pela obsessão. Os temas obsessivos onipresentes são o dano, o risco ou o perigo. Entre as obsessões comuns estão as preocupações no que diz respeito à contaminação, a dúvida, a perda e a agressividade. Caracteristicamente, os indivíduos com um distúrbio obsessivo-compulsivo sentem-se compelidos a realizar rituais (atos intencionais repetidos com um objetivo) para controlar uma obsessão, como, por exemplo, lavar-se e limpar-se para ficar livre de contaminação, verificações repetidas para suprimir as dúvidas, guardar as coisas para evitar perdas e evitar as pessoas que podem ser objeto de agressão. A maioria dos rituais, como o de lavar as mãos excessivamente ou de verificar várias vezes se uma porta foi trancada, podem ser observados.

Outros rituais são mentais, como as contagens repetidas ou as afirmações para diminuir o perigo. Esse distúrbio é diferente da personalidade obsessiva-compulsiva. Os indivíduos podem tornar-se obsessivos em relação a praticamente qualquer coisa e seus rituais nem sempre estão logicamente relacionados ao desconforto que eles procuram minimizar. Por exemplo, um indivíduo preocupado com a contaminação pode sentir diminuição do desconforto ao colocar casualmente a mão em um bolso. A partir desse momento, cada vez que ele sente uma obsessão relacionada à contaminação, ele irá colocar a mão repetidamente no bolso. A maioria dos indivíduos com um distúrbio obsessivo- compulsivo tem consciência de que suas obsessões não refletem riscos reais. Eles percebem que o seu comportamento físico e mental é exagerado a ponto de ser estranho. Por essa razão, o distúrbio obsessivo-compulsivo difere dos distúrbios psicóticos, nos quais os indivíduos perdem o contato com a realidade. O distúrbio obsessivo-compulsivo afeta cerca de 2,3% dos adultos e ocorre de forma aproximadamente igual em homens e mulheres. Como os indivíduos com distúrbio obsessivo-compulsivo temem passar vergonha ou ser estigmatizados, eles freqüentemente realizam seus rituais secretamente, embora estes possam exigir várias horas por dia. Aproximadamente um terço dos indivíduos com esse tipo de distúrbio apresenta depressão no momento que que ele é diagnosticado. Em conjunto, dois terços tornam-se deprimidos em algum momento.

Tratamento

A terapia de exposição, um tipo de terapia comportamental, freqüentemente ajuda os indivíduos com distúrbio obsessivo-compulsivo. Nesse tipo de terapia, o paciente é exposto a situações ou a pessoas que desencadeiam obsessões, rituais ou desconforto. O desconforto ou a ansiedade do paciente diminuem gradualmente se ele evitar de realizar o ritual durante exposições repetidas ao estímulo que o desencadeia. Desse modo, ele aprende que o ritual não é necessário para diminuir o desconforto. Em geral, o tratamento dura anos, provavelmente porque aqueles que conseguem aprender a utilizar esse método de auto-ajuda continuam a utilizá-lo como um modo de vida sem muito esforço após o término do tratamento. Os medicamentos também podem ajudar muitos indivíduos com distúrbio obsessivo-compulsivo. Três deles (a clomipramina, a fluoxetina e a fluvoxamina) foram aprovados especificamente para esse uso e foi demonstrado que outros dois (a paroxetina e a sertralina) também são eficazes. Outros medicamentos antidepressivos também são usados, mas com uma freqüência muito menor. A psicoterapia, com o objetivo de um maior conhecimento e compreensão dos conflitos subjacentes, , não tem se mostrado eficaz para aqueles que sofrem de um distúrbio obsessivocompulsivo. Comumente, o melhor tratamento consiste em uma combinação do tratamento medicamentoso e a terapia comportamental.

Estresse Pós-Traumático

O estresse pós-traumático é um distúrbio da ansiedade causado pela exposição a uma situação traumática avassaladora, no qual o indivíduo, posteriormente, vivencia repetidamente a situação. As situações que ameaçam a vida ou que lesam gravemente um indivíduo podem afetá-lo durante muito tempo após a sua ocorrência. O medo intenso, o desamparo ou o terror podem tornar-se uma obsessão. A situação traumática é repetidamente revivida, geralmente em pesadelos ou em imagens que vêm à memória (flashbacks). O indivíduo evita constantemente as coisas que fazem com que ele recorde do traumatismo. Algumas vezes, os sintomas manifestam-se apenas muitos meses ou inclusive anos após o evento traumático. O indivíduo apresenta uma redução de sua capacidade geral de reação e sintomas de hiperreatividade (como a dificuldade para conciliar o sono ou assustar-se com facilidade). Os sintomas de depressão são comuns. O estresse pós-traumático afeta pelo menos 1% das pessoas durante a vida. Os indivíduos de alto risco (p.ex., veteranos de guerra e vítimas de estupro ou de outros atos violentos) apresentam uma maior incidência. O estresse pós-traumático crônico não desaparece, mas, freqüentemente, torna-se menos intenso com o passar do tempo, mesmo sem tratamento. No entanto, alguns indivíduos permanecem indevidamente marcados por esse distúrbio.

Tratamento

O tratamento do estresse pós-traumático inclui a terapia comportamental, a terapia medicamentosa e a psicoterapia. Na terapia comportamental, o paciente é exposto a situações que podem desencadear recordações da experiência dolorosa. Após um aumento inicial do mal- estar, a terapia comportamental geralmente diminui o sofrimento do indivíduo. A contenção dos rituais, como o lavar-se excessivamente para sentir-se limpo após haver sofrido uma violência sexual, também pode ser útil. Os medicamentos antidepressivos e ansiolíticos parecem ser úteis. A psicoterapia de apoio tem um papel particularmente importante porque freqüentemente, o indivíduo apresenta uma ansiedade intensa em relação à recordação dos eventos traumáticos. O terapeuta demonstra uma empatia franca e reconhece de modo simpático a dor psicológica do indivíduo. Ele confirma ao indivíduo que a sua reação é normal, mas o estimula a encarar suas recordações durante a terapia comportamental dessensibilizante. Também lhe é ensinado como controlar a ansiedade, o que o ajuda a modular e integrar as recordações dolorosas em sua personalidade. Os indivíduos com estresse pós-traumático freqüentemente sentem-se culpados. Por exemplo, eles podem crer que se comportaram de forma inaceitavelmente agressiva e destrutiva durante o combate ou podem ter vivenciado uma experiência traumática na qual familiares ou amigos morreram e sentem culpa por terem sobrevivido. Se este for o caso, a psicoterapia orientada para a introspecção pode ajudar os indivíduos a compreender a razão pela qual eles estão se punindo e pode ajudá-los a eliminar os sentimentos de culpa. Essa técnica psicoterapêutica pode ser necessária para auxiliar o indivíduo a recuperar memórias traumáticas fundamentais que haviam sido reprimidas, de modo que elas possam ser trabalhadas de forma construtiva.

Estresse Agudo

O estresse agudo é similar ao estresse póstraumático, exceto pelo fato de ele iniciar nas 4 semanas que sucedem o evento traumático e durar somente 2 a 4 semanas. O indivíduo com um estresse agudo foi exposto a um acontecimento terrível. Ele revive mentalmente o evento traumático, evita coisas que possam lembrá-lo e apresenta um maior nível de ansiedade. O indivíduo também apresenta três ou mais dos sintomas a seguir:

  • Sensação de embotamento, distanciamento ou ausência de resposta emocional
  • Percepção reduzida do meio ambiente (p.ex., atordoamento)
  • Sensação de que as coisas não são reais
  • Sensação de que ele mesmo não é real
  • Incapacidade de lembrar-se de uma parte importante do evento traumático

Tratamento

Muitos indivíduos recuperam-se de um distúrbio de estresse agudo assim que são retirados da situação traumática e lhes é fornecido o apoio adequado sob a forma de compreensão, empatia com seu sofrimento e uma oportunidade para descrever o que lhe ocorreu e sua reação ao evento. Muitos indivíduos beneficiam-se com a descrição repetida da experiência. Os comprimidos soníferos podem ser úteis, mas outros medicamentos podem interferir no processo normal de cura.