ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Aspectos Gerais dos Cuidados com a Saúde Mental


Os distúrbios da saúde mental (psiquiátricos) envolvem as alterações do pensamento (raciocínio), das emoções e do comportamento. Esses distúrbios são causados por interações complexas entre influências físicas, psicológicas, sociais, culturais e hereditárias.

A Doença Mental na Sociedade

O desenvolvimento de medicamentos antipsicóticos eficazes tornou possível o surgimento de um movimento que defende a manutenção dos indivíduos com distúrbios mentais fora das instituições psiquiátricas. Com o movimento da desinstitucionalização, tem sido dada uma maior ênfase à visão do doente mental como um membro da família e da comunidade. As pesquisas têm demonstrado que determinadas interações entre as famílias e os pacientes podem melhorar ou piorar a doença mental. Por essa razão, foram desenvolvidas técnicas de terapia familiar que evitam, de forma dramática, a necessidade da internação de indivíduos com doença mental crônica. Atualmente, a família de um doente mental está mais que nunca envolvida como um aliado no tratamento. O médico da família também desempenha um papel importante na reabilitação do paciente e na sua reintegração na comunidade. Além disso, aqueles que necessitam de internação apresentam menos riscos de serem isolados ou contidos do que no passado, e freqüentemente eles são mais precocemente transferidos para os programas de internação parcial ou de hospital-dia.

Esses esquemas são menos onerosos por envolverem um menor número de profissionais, a ênfase ser sobre a terapia de grupo e não sobre a terapia individual e os pacientes dormirem em casa ou em casas compartilhadas. No entanto, o movimento de desinstitucionalização também apresentou problemas. Como os indivíduos com doenças mentais que não representam perigo para si próprios ou para a sociedade não podem mais ser internados contra a vontade, muitos deles transformaram-se em sem tetos. Embora essas medidas legais protejam os direitos civis do indivíduo, elas tornam mais difícil prover o tratamento necessário a muitos pacientes, alguns dos quais podem ser extremamente irracionais. Essa falta de domicílio também tem um impacto social. Todo mundo depende de uma rede social para satisfazer as necessidades humanas de ser cuidado, aceito e apoiado emocionalmente, sobretudo nos períodos de estresse. As pesquisas revelam que forte suporte social pode melhorar significativamente a recuperação de doenças físicas e mentais. As mudanças na sociedade diminuíram o tradicional apoio proveniente de vizinhos e famílias. Como alternativa, surgiram em todo o país grupos de auto-ajuda e de ajuda mútua. Alguns grupos de auto-ajuda, como os Alcoólicos Anônimos e os Narcóticos Anônimos, centralizam- se nas adições a drogas. Outros atuam como defensores de certos grupos, como deficientes e idosos. Existem ainda outros grupos, como a National Alliance for the Mentally Ill (Aliança Nacional para os Doentes Mentais), que fornecem apoio aos membros das famílias de indivíduos com doença grave.

Classificação e Diagnóstico da Doença Mental

Na medicina, a classificação das doenças muda constantemente, à medida que o conhecimento avança. De modo similar, na psiquiatria, o conhecimento da função cerebral e como ela é influenciada pelo ambiente e por outros fatores vem se tornando cada vez mais sofisticado. Apesar dos avanços, o conhecimento dos intricados mecanismos envolvidos no funcionamento cerebral encontra- se ainda no início. Entretanto, como muitas pesquisas demonstraram que as doenças mentais podem ser diferenciadas entre si com um alto grau de confiabilidade, vêm sendo estabelecidos protocolos de diagnóstico cada vez mais refinados. Em 1952, a American Psychiatric Association publicou pela primeira vez o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-I). A edição mais recente – o DSM-IV – foi publicada em 1994.

Esse manual fornece um sistema de classificação que tenta separar as doenças mentais em categorias diagnósticas baseando-se tanto nas descrições dos sintomas (o que os pacientes dizem e fazem como reflexos de como pensam e sentem) quanto na evolução da doença. A International Classification of Disease 9th Revision, Clinical Modification (ICD-9-CM), um livro publicado pela Organização Mundial de Saúde, usa categorias diagnósticas parecidas com as do DSM-IV. Essa similitude sugere que os diagnósticos de doenças mentais específicas estão se tornando cada vez mais padronizados e consistentes em todo o mundo. Foram realizados avanços nos métodos diagnósticos e, atualmente, existem diversas técnicas recentes de diagnóstico por imagem do cérebro, como a tomografia computadorizada (TC), a ressonância magnética (RM) e a tomografia por emissão de pósitrons (TEP), um tipo de escaneamento que mede o fluxo sangüíneo em áreas específicas do cérebro. Essas técnicas de diagnóstico por imagem vêm sendo utilizadas no mapeamento de estrutura e funções do cérebro em indivíduos com comportamento normal e anormal, provendo aos cientistas uma maior compreensão de como o cérebro funciona em indivíduos com e sem doença mental. As pesquisas que conseguiram diferenciar um distúrbio psiquiátrico de outro levaram a uma maior precisão diagnóstica.

Tratamento da Doença Mental

A maioria dos métodos de tratamento psiquiátrico podem ser categorizados como somáticos ou psicoterapêuticos. Os tratamentos somáticos incluem as terapias medicamentosas e eletroconvulsivantes. Os tratamentos psicoterapêuticos incluem a psicoterapia (individual, em grupo ou familiar), as técnicas de terapia comportamental (como os métodos de relaxamento e a hipnose) e a hipnoterapia. Muitos distúrbios psiquiátricos dependem de uma combinação de terapia medicamentosa e psicoterapia. De fato, muitos estudos sugerem que, para os principais distúrbios psiquiátricos, uma abordagem terapêutica que inclua tanto medicamentos quanto a psicoterapia é mais eficaz que qualquer um desses métodos terapêuticos utilizado isoladamente.

Tratamento Medicamentoso

Durante os últimos quarenta anos, foram desenvolvidos vários medicamentos psiquiátricos de eficácia comprovada e amplamente utilizados pelos psiquiatras e outros médicos. Freqüentemente, esses medicamentos são categorizados de acordo com o distúrbio para o qual foram prescritos inicialmente. Por exemplo, os antidepressivos (p.ex., imipramina, fluoxetina e bupropiona) são utilizados no tratamento da depressão, enquanto que os antipsicóticos (p.ex., clorpromazina, aloperidol e tiotixeno) são úteis no tratamento de distúrbios psicóticos como a esquizofrenia. Novos medicamentos antipsicóticos (p.ex., clozapina e risperidona), são úteis para alguns pacientes que não respondem a outros medicamentos antipsicóticos. Por sua vez, os medicamentos contra a ansiedade (ansiolíticos), como o clonazepam e o diazepam, são os indicados no tratamento dos distúrbios da ansiedade (p.ex., síndrome do pânico e fobias). Os estabilizadores do humor (p.ex., lítio e carbamazepina) vêm sendo utilizados com algum êxito em pacientes com doença maníaco-depressiva.

Terapia Eletroconvulsivante

Na terapia eletroconvulsivante, eletrodos são fixados à cabeça do paciente e é realizada uma série de descargas elétricas no cérebro visando induzir convulsões. Já foi claramente demonstrado que esse procedimento é o mais eficaz para a depressão grave. Ao contrário do que é propagado pelos meios de comunicação, a terapia eletroconvulsivante é segura e raramente causa qualquer complicação grave. O uso moderno de anestésicos e miorrelaxantes (relaxantes musculares) reduziu enormemente qualquer tipo de risco para o paciente.

Psicoterapia

Nos últimos anos, têm sido obtidos avanços significativos no campo da psicoterapia. A psicoterapia é o tratamento que o terapeuta aplica ao paciente através de técnicas psicológicas, fazendo uso sistemático da relação terapeuta-paciente. Os psiquiatras não são os únicos profissionais da saúde mental especializados na prática da psicoterapia. Também estão incluídos os psicólogos clínicos, os assistentes sociais, os enfermeiros, alguns conselheiros religiosos e muitos profissionais paramédicos. No entanto, os psiquiatras são os únicos profissionais da saúde mental que podem prescrever medicamentos. Embora a psicoterapia individual seja praticada de muitas formas diferentes, quase todos os profissionais da saúde mental estão filiados a uma das quatro escolas de psicoterapia: a dinâmica, a cognitiva-comportamental, a interpessoal ou a comportamental. A psicoterapia dinâmica deriva da psicanálise e a sua base é ajudar o paciente a compreender as estruturas e padrões inconscientes que podem estar criando sintomas e dificuldades dificuldades de relacionamento. A escola cognitivacomportamental centraliza-se principalmente nas distorções do pensamento do paciente. A terapia interpessoal enfoca como uma perda ou uma alteração em uma relação afeta o paciente. A terapia comportamental visa ajudar os pacientes a modificarem as maneiras condicionadas de reagir a eventos que ocorrem ao seu redor. Na prática, muitos psicoterapeutas combinam técnicas, de acordo com as necessidades do paciente. A psicoterapia é adequada em uma grande variedade de condições. Mesmo os indivíduos que não apresentam qualquer distúrbio psiquiátrico podem considerar que a psicoterapia lhes é útil para enfrentrar problemas como, por exemplo, dificuldades no trabalho, perda de um ente querido ou uma doença crônica na família. A psicoterapia de grupo e a terapia familiar também são amplamente utilizadas.

Características da Psicoterapia



• Empatia e aceitação das dificuldades do indivíduo
• Uma explicação para o sofrimento do indivíduo e um método para aliviá-lo
• Informações sobre a natureza e a origem dos problemas do indivíduo e a sugestão de possíveis alternativas para tratá-los
• Um reforço das expectativas do indivíduo em relação à sua saúde através de uma relação confidencial e de confiança com o terapeuta.
• Aumento do conhecimento das emoções por parte do indivíduo, que permite uma mudança de atitude e de comportamento



Hipnose e Hipnoterapia

A hipnose e hipnoterapia vêm sendo cada vez mais utilizadas no tratamento da dor e de distúrbios físicos que possuem um componente psicológico. Essas técnicas podem promover o relaxamento e, conseqüentemente, reduzem a ansiedade e a tensão. Por exemplo, a hipnose e a hipnoterapia podem ajudar os indivíduos com câncer que, além da dor, apresentam ansiedade ou depressão.

fonte: Manual Merck