ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Bexiga neurogênica



A bexiga neurogênica é a perda da função normal da bexiga provocada pela lesão de uma parte do sistema nervoso.

A bexiga neurogênica pode ser decorrente alguma doença, de uma lesão ou de um defeito congênito que afeta o cérebro, a medula espi nhal ou os nervos que se dirigem à bexiga, seu esfíncter (orifício de saída para o interior uretra) ou a ambos. A bexiga neurogênica pode ser hipoativa, isto é, o órgão é incapaz de contrair (não contrátil) e é incapaz de esvaziar ade quadamente, ou pode ser hiperativa (espástica), esvaziando por reflexos incontroláveis.

Causas

Normalmente, a bexiga hipoativa é decorrente da interrupção dos nervos que a inervam. Nas crianças, a causa mais comum é um defeito congênito da medula espinhal como, por exemplo, a espinha bífida ou a mielomeningocele (protrusão da medula espinhal através das vértebras).

A bexiga hiperativa comumente é decorrente da interrupção do controle normal da bexiga pela medula espinhal e pelo cérebro. As causas mais comuns são as lesões ou um distúrbio (p.ex., esclerose múltipla) que afetam a medula espinhal, os quais também podem acarretar paralisia dos membros inferiores (paraplegia) ou dos membros superiores e inferiores (quadriplegia).

Freqüentemente, esse tipo de lesão inicialmente faz com que a bexiga torne-se flácida durante dias, semanas ou meses (a fase de choque). Posteriormente, a bexiga torna-se hiperativa e esvazia sem controle voluntário.

Sintomas

Os sintomas variam de acordo com a bexiga ser hipoativa ou hiperativa.

Como a bexiga hipoativa comumente não chega a esvaziar, ela dilata até tornar-se muito volumosa. Este aumento de volume geralmente é indolor, pois a bexiga expande lentamente e possui pouca ou nenhuma atividade nervosa local. Algumas vezes, a bexiga permanece dilatada, mas, constantemente, ela deixa escapar uma pequena quantidade de urina (incontinência por transbordamento). As infecções vesicais são comuns em indivíduos com bexiga hipoativa, pois o acúmulo de urina residual na bexiga cria as condições que estimulam o crescimento bacteriano. Pode ocorrer formação de cálculos na bexiga, sobretudo quando o indivíduo apresenta uma infecção crônica da bexiga que exige uma sonda de demora. Os sintomas de uma infecção da bexiga podem variar, dependendo do grau de atividade nervosa que resta.

A bexiga hiperativa pode encher e esvaziar sem controle e com graus variáveis de “alerta”, pois ela contrai e esvazia por reflexo (involuntariamente).

Quando existe uma bexiga hipoativa ou hiperativa, a pressão e o refluxo de urina da bexiga através dos ureteres pode lesar os rins. Nos indivíduos com lesão medular, a contração da bexiga e o relaxamento do esfíncter vesical podem não estar coordenados e, conseqüentemente, a pressão na bexiga permanece elevada e não permite que a urina saia dos rins

Diagnóstico

Freqüentemente, o médico pode palpar uma bexiga volumosa durante o exame da região abdominal inferior. Os estudos radiográficos utilizando um contraste injetado por meio da via intravenosa (urografia intravenosa) ou através de um cateter diretamente na bexiga (cistografia) e na uretra (uretrografia) fornecem informações adicionais. As radiografias podem revelar o tamanho dos ureteres e da bexiga e, possivelmente, cálculos e lesões renais. Além disso, elas podem prover ao médico algumas informações sobre a função renal. A ultra-sonografia fornece informações similares. A cistoscopia é um procedimento, normalmente indolor, que permite ao médico observar diretamente o interior da bexiga com o auxílio de um tubo de visualização flexível, o qual é inserido através da uretra.

A quantidade de urina que permanece na bexiga após a micção pode ser mensurada através da passagem de um cateter vesical (sonda vesical) para drenar a urina. A pressão no interior da bexiga e da uretra pode ser medida conectando-se o cateter a um medidor (cistometrografia).

Tratamento

Quando a causa da bexiga hipoativa é uma lesão neurológica, o médico pode passar um cateter pela uretra para drenar a bexiga contínua ou intermitentemente. Após a lesão, o cateter é passado assim que possível para impedir que os músculos da bexiga sejam lesados pela dilatação excessiva e para evitar uma infecção da bexiga.

A manutenção de uma sonda de demora (permanente) causa menos problemas físicos na mulher que no homem. Em um homem, ela pode causar inflamação da uretra e do tecido circunjacente. No entanto, tanto para os homens quanto para as mulheres, é preferível o uso de um cateter (sonda) que possa ser passado periodicamente pelo próprio paciente (4 a 6 vezes ao dia) e removido após o esvaziamento da bexiga (autosondagem intermitente).

Os indivíduos com bexiga hiperativa também podem necessitar da passagem de uma sonda para drenagem quando os espasmos do esfíncter vesical impedem o seu esvaziamento completo. Para os homens com quadriplegia que não conseguem realizar a autosondagem, pode ser necessária a realização da secção do esfíncter vesical (anel muscular que fecha um orifício), para permitir o esvaziamento da bexiga. Uma bolsa de coleta externa pode ser utilizada. A estimulação elétrica pode ser aplicada à bexiga, aos nervos que a controlam ou à medula espinhal para induzir a contração da bexiga. No entanto, este tipo de tratamento ainda encontra-se em fase experimental.

O tratamento medicamentoso pode melhorar o armazenamento de urina na bexiga. Geralmente, o controle de uma bexiga hiperativa pode ser melhorado por medicamentos que a relaxam (p.ex., anticolinérgicos). Entretanto, essas drogas comumente causam efeitos colaterais (p.ex., boca seca e constipação) e a melhoria do esvaziamento da bexiga com o uso de medicamen-tos é difícil para aqueles que apresentam uma bexiga neurogênica.

Algumas vezes, é recomendada a cirurgia de desvio da urina até uma abertura externa (ostomia) criada na parede abdominal ou de a cirurgia para aumentar a bexiga. O desvio da urina proveniente dos rins para a superfície do corpo pode ser realizado por meio da remoção de um pequeno segmento do intestino delgado e, em seguida, da conexão dos ureteres a esse segmento, o qual é fixado à ostomia, permitindo que a urina seja coletada em uma bolsa. Este procedimento é denominado alça ileal. A bexiga pode ser aumentada com um segmento do intestino, em um procedimento denominado cistoplastia de aumento e o indivíduo pode re-alizar a autosondagem. Para os lactentes, como medida temporária até a criança atingir a idade para a cirurgia definitiva, é criada uma conexão entre a bexiga e uma abertura na pele (vesicostomia).

Independentemente do fluxo urinário ter sido desviado ou não ou se o indivíduo faz uso de uma sonda ou não, são realizados grandes esforços para reduzir o risco da formação de cál-culos urinários. A função renal é rigorosamente monitorizada. Uma infecção renal é tratada imediatamente. A ingestão de 8 copos de líquido por dia é recomendada. Um indivíduo com paralisia deve ser mudado de posição freqüentemente e os outros são estimulados a deam-bular o mais breve possível. Embora a recuperação completa seja incomum em qualquer tipo de bexiga neurogênica, alguns indivíduos apresentam uma recuperação considerável com o tratamento.

fonte: Manual Merck