Negros e Miscigenados
A prevalência da hipertensão arterial na população
negra é mais elevada, bem como é maior sua gravidade,
particularmente quanto à incidência de hipertensão arterial
maligna, acidente vascular encefálico e insuficiência renal
crônica. Esse comportamento pode estar relacionado a fatores
étnicos e/ou socioeconômicos. Predominam, em nosso país, os
miscigenados, uma população que pode diferir dos negros
quanto às características da hipertensão.
Recomenda-se especial atenção quanto às medidas
não-medicamentosas para os negros, principalmente redução
do consumo de sal e perda de peso. Com relação ao tratamento
medicamentoso, existem evidências de que nesse grupo de
indivíduos os diuréticos têm eficácia aumentada e, assim
como em brancos, diminuem a morbidade e a mortalidade
cardiovasculares. Outras drogas, como os antagonistas dos
canais de cálcio e os alfabloqueadores, são boas opções.
A eficácia dos betabloqueadores e dos inibidores da ECA
parece ser menor na população negra americana. Para a
população brasileira negra e miscigenada, não existem dados
disponíveis que permitem avaliar adequadamente a eficácia
dessas drogas. Assim, se houver indicação preferencial para
betabloqueadores (como, por exemplo, angina do peito e
pós-infarto agudo do miocárdio) ou inibidores da ECA (como,
por exemplo, nefropatia diabética e disfunção sistólica
ventricular esquerda), essas drogas devem ser prescritas e sua
eficácia pode ser melhorada com elevação das doses,
restrição dietética de sal e/ou uso associado de
diuréticos.
Idosos
Embora haja tendência de aumento da pressão arterial com
a idade, níveis de pressão sistólica acima de 140 mmHg e/ou
de pressão diastólica acima de 90 mmHg não devem ser
considerados fisiológicos para os idosos. No Brasil, o grupo
etário de 60 anos ou mais é o que apresenta maior
crescimento na população. Estima-se que, em 2025, haverá
mais de 30 milhões de idosos no Brasil. Estudos
epidemiológicos brasileiros demonstram que a prevalência de
hipertensão arterial entre idosos, à semelhança da
observada em todo o mundo, é bastante elevada. Cerca de 65%
dos idosos são hipertensos, e entre as mulheres com mais de
75 anos a prevalência de hipertensão pode chegar a 80%.
Entre os idosos, a hipertensão sistólica isolada é a
mais prevalente e parece estar mais associada a eventos
cardiovasculares que a hipertensão diastólica ou sistólica
e diastólica. Especial atenção deve ser dada à presença
de pseudo-hipertensão (medidas falsamente aumentadas devido a
rigidez arterial), à presença de hiato auscultatório
(subestimação da pressão sistólica e superestimação da
pressão diastólica), e à possibilidade de hipertensão do
avental branco, principalmente com elevações da pressão
arterial sistólica, que pode ser minimizada por meio de
aferições repetidas no próprio consultório ou no
domicílio.
O objetivo do tratamento deve ser a redução da pressão
arterial a níveis abaixo de 140/90 mmHg, como nos indivíduos
adultos jovens. Nos pacientes com níveis muito elevados de
pressão sistólica, podem ser mantidos níveis
intermediários abaixo de 160 mmHg. Nesse grupo, deve-se
iniciar o tratamento com metade da menor dose recomendada e
aumentar lentamente até atingir a dose terapêutica.
A maioria dos estudos clínicos controlados com idosos
demonstrou que a redução da pressão arterial com
diuréticos e betabloqueadores diminui a incidência de
eventos cardiovasculares (acidente vascular encefálico e
insuficiência cardíaca em particular) e a mortalidade geral,
mesmo em casos de hipertensão sistólica isolada e de
pacientes com mais de 80 anos portadores de cardiopatia.
Estudo recente, utilizando o antagonista dos canais de cálcio
- nitrendipina e o inibidor da enzima conversora da
angiotensina - enalapril para tratamento da hipertensão
arterial sistólica isolada do idoso, também demonstrou
diminuição da morbidade e da mortalidade cardiovasculares.
Drogas que exacerbam alterações posturais da pressão
arterial (como bloqueadores adrenérgicos periféricos,
alfabloqueadores e diuréticos em altas doses), ou que possam
causar alterações cognitivas (alfametildopa), devem ser
utilizadas com cautela no idoso. O risco de interações
medicamentosas deve ser sempre lembrado, devido à alta
prevalência de co-morbidade no idoso.
Crianças e Adolescentes
A prevalência de hipertensão arterial em crianças e
adolescentes pode variar de 2% a 13%. Estudos epidemiológicos
brasileiros têm demonstrado prevalência de hipertensão
arterial, nessa faixa etária, entre 6% e 8%. Atualmente,
considera-se obrigatória a medida da pressão arterial a
partir de 3 anos de idade, anualmente, ou antes dessa idade,
quando a criança apresentar antecedentes mórbidos neonatais,
doenças renais, ou fatores de risco familiares.
O método empregado na medida da pressão arterial deve ser
bastante criterioso, utilizando-se manguito e técnica
adequados, devendo-se considerar a fase V de Korotkoff para
aferição da pressão diastólica. Os valores obtidos devem
ser comparados a valores normativos de idade, sexo e percentil
de altura específicos, já descritos no capítulo 1.
Na infância e adolescência, considera-se pressão
arterial normal valores de medida abaixo do percentil 90,
tanto para pressão sistólica como para diastólica. Valores
entre os percentis 90 e 95 são considerados faixa normal
limítrofe; valores maiores que o percentil 95, em pelo menos
três determinações em ocasiões diferentes, definem
hipertensão arterial.
Quanto mais altos os níveis da pressão arterial e quanto
mais jovem o paciente, maior a possibilidade de ser
hipertensão arterial de causa secundária, com maior
prevalência das causas renais. Atenção especial deve ser
dada à presença de fatores de riscos, tais como história
familiar, obesidade, erros dietéticos, tabagismo e
sedentarismo. Cabe ressaltar a importante associação entre
excesso de peso e pressão arterial predominantemente no
adolescente. A ingestão de álcool, o uso de drogas
(particularmente a cocaína) e a utilização de hormônios
esteróides, anabolizantes e anticoncepcionais orais devem ser
considerados como possíveis causas de hipertensão arterial.
O tratamento não-medicamentoso é obrigatório a partir do
percentil 90 de pressão sistólica/diastólica, com ênfase
para adoção de medidas em âmbito familiar, em especial a
correção do excesso de peso. A presença de hipertensão
arterial por si não contra-indica a prática de esportes.
Essa atividade deve ser estimulada, sob supervisão, como uma
das modalidades de terapêutica não-medicamentosa.
Reserva-se o uso de medicamentos aos hipertensos moderados
e graves, aos indivíduos sintomáticos, aos não-responsivos
ao tratamento não-medicamentoso e aos com evidência de dano
em órgãos-alvo. A escolha das drogas obedece aos critérios
utilizados para adultos, com ressalva ao uso de inibidores da
enzima conversora da angiotensina e de antagonistas do
receptor da angiotensina II em adolescentes do sexo feminino
em idade fértil. Os betabloqueadores devem ser evitados em
asmáticos, atletas (limitação do desempenho físico) e
jovens de ambos os sexos (interferência na atividade sexual).
Mulheres
As mulheres são relativamente protegidas de eventos
cardiovasculares antes da menopausa. Entretanto, estudos
clínicos de longo prazo têm demonstrado que as mulheres não
diferem dos homens quanto à resposta pressórica
anti-hipertensiva e ao prognóstico; entretanto, recomenda-se
evitar o uso de inibidores da ECA e de antagonistas do
receptor da angiotensina II em mulheres em idade fértil que
não utilizam métodos anticoncepcionais comprovadamente
seguros.
Embora não haja contra-indicação formal, o uso de
anticoncepcionais orais deve ser evitado em mulheres com mais
de 35 anos de idade e em obesas, pelo maior risco de
hipertensão arterial. Em mulheres com mais de 35 anos e
fumantes irredutíveis, o anticoncepcional oral está
formalmente contra-indicado, devendo-se prescrever outros
métodos contraceptivos. O aparecimento de hipertensão
arterial durante o uso de anticoncepcional oral implica a
descontinuação imediata desse contraceptivo. Em geral, a
pressão arterial tende a se normalizar no prazo de alguns
meses.
A reposição hormonal pós-menopausa pode ser recomendada
mesmo para mulheres hipertensas, pois tem pouca interferência
sobre a pressão arterial e representa indiscutíveis
benefícios sobre o perfil de risco cardiovascular.
Eventualmente, pequeno número de mulheres pode apresentar
elevação da pressão arterial atribuível à terapia com
estrogênio. Assim sendo, a pressão arterial deve ser
monitorizada periodicamente após o início da reposição
hormonal, em hipertensas ou não. O efeito do estrogênio ou
da progesterona transdérmicos sobre a pressão arterial não
está bem estabelecido.
No tratamento anti-hipertensivo da mulher pós-menopausa,
particularmente, deve ser lembrado o efeito benéfico dos
diuréticos na osteoporose.
Gravidez
Considera-se hipertensão arterial na gravidez quando o
nível da pressão arterial for maior ou igual a 140/90 mmHg,
em duas aferições, com intervalo mínimo de 4 horas (se a
pressão arterial diastólica for maior ou igual a 110 mmHg,
confirmada após 1 hora, caracteriza-se forma grave de
hipertensão); ou quando a elevação da pressão sistólica
for maior ou igual a 30 mmHg e/ou a pressão diastólica for
maior ou igual a 15 mmHg, independentemente dos níveis de
pressão iniciais e finais. A medida deve ser realizada com a
paciente sentada, considerando-se a fase V como indicativa de
pressão arterial diastólica e, eventualmente, quando os
batimentos arteriais permanecerem até o nível zero, a fase
IV de Korotkoff.
Duas formas principais de hipertensão arterial podem
complicar a gravidez: hipertensão arterial crônica
(preexistente) e hipertensão induzida pela gravidez
(pré-eclâmpsia/eclâmpsia). A presença de hipertensão
arterial crônica aumenta o risco de pré-eclâmpsia
sobreposta.
Hipertensão arterial crônica
Corresponde a hipertensão de qualquer etiologia, presente antes da gravidez ou diagnosticada até a vigésima semana da gestação. Evidências de alterações vasculares ao exame de fundo de olho e presença de hipertrofia ventricular esquerda confirmam a hipertensão preexistente e têm implicações prognósticas materno-fetais.
Corresponde a hipertensão de qualquer etiologia, presente antes da gravidez ou diagnosticada até a vigésima semana da gestação. Evidências de alterações vasculares ao exame de fundo de olho e presença de hipertrofia ventricular esquerda confirmam a hipertensão preexistente e têm implicações prognósticas materno-fetais.
Toda grávida hipertensa deve ter acompanhamento quinzenal,
após a vigésima semana, e semanal, após a trigésima semana
de gestação. Os níveis de pressão que requerem tratamento
medicamentoso durante a gravidez permanecem controversos. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o
tratamento seja iniciado quando a pressão arterial
diastólica ultrapassar 95 mmHg. Em contraste com relatos da
literatura, em nosso meio observou-se expressiva incidência
de complicações materno-fetais em grávidas com hipertensão
arterial moderada. A alfametildopa é considerada a melhor
opção, face à ampla experiência e à ausência de efeitos
sobre o feto. Caso não seja bem tolerada, betabloqueadores
(particularmente com atividade simpatomimética intrínseca),
antagonistas dos canais de cálcio e diuréticos em baixas
doses (principalmente se já utilizados antes da gestação)
constituem boas opções alternativas ou aditivas. Inibidores
da ECA, que podem agravar a isquemia uterina e causar
insuficiência renal no feto, assim como antagonistas do
receptor da angiotensina II estão formalmente
contra-indicados na gravidez.
Pré-eclâmpsia
É uma doença hipertensiva peculiar à gravidez humana, que ocorre após a vigésima semana de gestação, mais freqüentemente próximo ao termo. Caracteriza-se pelo desenvolvimento gradual de hipertensão e proteinúria, reversíveis após a gravidez. A superveniência de convulsão define uma forma grave, chamada eclâmpsia. No terceiro trimestre de gravidez, a presença de dor epigástrica requer a exclusão definitiva de formas graves de pré-eclâmpsia com envolvimento hepático.
É uma doença hipertensiva peculiar à gravidez humana, que ocorre após a vigésima semana de gestação, mais freqüentemente próximo ao termo. Caracteriza-se pelo desenvolvimento gradual de hipertensão e proteinúria, reversíveis após a gravidez. A superveniência de convulsão define uma forma grave, chamada eclâmpsia. No terceiro trimestre de gravidez, a presença de dor epigástrica requer a exclusão definitiva de formas graves de pré-eclâmpsia com envolvimento hepático.
Diante do diagnóstico presuntivo de pré-eclâmpsia, a
internação hospitalar é obrigatória. Se já houver
maturidade pulmonar fetal (> 34 semanas), a gestação deve
ser interrompida. Quando a pré-eclâmpsia se desenvolve antes
da maturidade pulmonar fetal e não houver sinais de gravidade
materna, pode-se tentar prolongar a gestação. Entretanto, a
interrupção da gestação deve ser considerada na vigência
de sofrimento fetal ou de sinais de risco materno. Quando o
parto é iminente, a hipertensão arterial deve ser tratada
com hidralazina endovenosa (5 mg) e/ou com nifedipina oral (5
mg). Doses subseqüentes são ditadas pela resposta inicial.
As mesmas restrições já discutidas no capítulo de
tratamento medicamentoso (crise hipertensiva) aplicam-se ao
emprego na gravidez da nifedipina de curta duração de
ação. Uma preocupação adicional em relação aos
antagonistas de canais de cálcio relaciona-se ao uso
concomitante de sulfato de magnésio, que deve ser utilizado
como droga de escolha no tratamento e, possivelmente, na
prevenção da convulsão eclâmptica. O magnésio pode
potencializar os efeitos dos antagonistas de canais de cálcio
e provocar queda súbita e intensa da pressão arterial. É
contra-indicado o uso de nitroprussiato de sódio em gestantes
na iminência do termo, pelo risco de intoxicação fetal por
cianeto.
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica ou Asma Brônquica
A única restrição medicamentosa nesse grupo limita-se
aos betabloqueadores, pois podem desencadear broncoespasmos,
independentemente da cardiosseletividade do agente. Deve-se
atentar para o uso eventual de simpatomiméticos, tais como
teofilina e efedrina e/ou corticosteróides, que podem
dificultar o adequado controle da pressão, quando prescritos
simultaneamente. Entretanto, se indicados, podem ser usados
com cautela. Cromoglicato de sódio, brometo de ipratrópio,
ou corticosteróides por via inalatória podem ser usados com
segurança em indivíduos hipertensos.
Depressão
A depressão pode dificultar a aderência ao tratamento da
hipertensão arterial, bem como de outros fatores de risco
cardiovascular. Por outro lado, vários agentes hipotensores
(alfametildopa, clonidina e betabloqueadores de ação
central) também podem causar depressão. Os diuréticos
tiazídicos podem aumentar os níveis séricos de lítio. O
uso de antidepressivos tricíclicos, inibidores de
monoaminoxidase (IMAO) e venlafaxine exige atenção com os
níveis da pressão.
Obesidade
Hipertensão arterial e obesidade são condições
freqüentemente associadas, em especial a obesidade
centrípeta, fazendo parte de uma síndrome metabólica
caracterizada pela presença de resistência periférica à
insulina e hiperinsulinemia. A frequência dessa associação
pode variar com a idade, o sexo e a raça.
Redução do excesso de peso, restrição dietética de
sódio e prática de atividade física regular são
fundamentais para o controle da pressão e podem, por si só,
normalizar os níveis de pressão. Anorexígenos que contenham
anfetaminas ou seus derivados e hormônios tireoideanos podem
causar elevação da pressão arterial, não devendo ser
utilizados. A associação de obesidade e apnéia do sono deve
ser sempre lembrada como fator que pode dificultar o controle
da pressão arterial.
Os inibidores da ECA são benéficos para o paciente obeso,
pois aumentam a sensibilidade à insulina, enquanto os
antagonistas dos canais de cálcio poderiam ser recomendados
pela sua ação natriurética e neutralidade sobre o
metabolismo lipídico e glicêmico. Por outro lado, os
diuréticos e betabloqueadores devem ser utilizados com
cautela pela possibilidade de aumentar a resistência à
insulina e determinar intolerância à glicose.
Diabete Melito
A prevalência de hipertensão arterial em pacientes
diabéticos é pelo menos duas vezes a da população em
geral. Nesses pacientes, a pressão arterial deve ser medida
nas posições deitada, sentada e em pé, devido à maior
incidência de hipotensão postural decorrente da
disautonomia.
No diabete tipo I (dependente de insulina), a hipertensão
arterial associa-se claramente à nefropatia diabética.
Nesses pacientes, o controle da pressão arterial é crucial
para retardar a perda de função renal. No diabete tipo II
(não-dependente de insulina), a hipertensão arterial
associa-se comumente a outros fatores de risco cardiovascular,
tais como dislipidemia, obesidade, hipertrofia ventricular
esquerda e hiperinsulinemia. Nesses pacientes, o tratamento
não-medicamentoso (atividade física regular e dieta
apropriada) é obrigatório. O controle do nível glicêmico,
por sua vez, contribui para a redução do nível de pressão.
Todos os medicamentos podem ser usados. Os diuréticos
podem alterar a liberação ou até aumentar a resistência à
insulina e prejudicar o controle glicêmico, em alguns
pacientes, embora possam ser utilizados em baixas doses, como
recomendado atualmente. Os betabloqueadores podem interferir
na liberação de insulina e também aumentar a resistência
à insulina endógena. Em diabéticos tipo I, em uso de
insulina, os betabloqueadores podem mascarar os sintomas de
hipoglicemia e prolongar uma crise hipoglicêmica. Entretanto,
deve-se dar preferência a esses agentes em situações de
indicações específicas (angina e pós-infarto do
miocárdio). Inibidores adrenérgicos e vasodilatadores podem
exacerbar sintomas neuropáticos, tais como disfunção sexual
ou hipotensão postural. Os inibidores da ECA tornam-se
particularmente úteis por não interferir no metabolismo
glicêmico e por melhorar a resistência à insulina. Além
disso, exercem, comprovadamente, efeito de proteção renal em
pacientes com nefropatia diabética, caracterizada por micro
ou macroalbuminúria. Na impossibilidade de manter o
tratamento com inibidores da ECA, os antagonistas do receptor
da angiotensina II constituem alternativa promissora. Nos
casos de difícil controle da pressão, podem ser úteis os
antagonistas dos canais de cálcio, os alfabloqueadores e a
hidralazina.
O hipoaldosteronismo hiporreninêmico não é raro em
diabéticos; assim, os níveis de potássio séricos devem ser
vigiados, pela possibilidade de hiperpotassemia, especialmente
durante o uso de inibidores da ECA, antagonistas do receptor
da angiotensina II, diuréticos poupadores de potássio e
betabloqueadores.
Pela maior prevalência e gravidade da retinopatia em
pacientes diabéticos hipertensos, é obrigatória a
realização periódica de fundoscopia ocular.
Dislipidemia
É freqüente a associação entre dislipidemia e
hipertensão arterial; quando presentes, as duas afecções
devem ser tratadas agressivamente. A abordagem
não-medicamentosa (dieta e atividade física regular) se
impõe para ambas as condições.
Inibidores da ECA, antagonistas dos canais de cálcio e
alfa-2-agonistas não interferem na lipemia, enquanto os
alfabloqueadores podem melhorar o perfil lipídico. Os
diuréticos em baixas doses não interferem nos níveis
séricos de lipídios. Os betabloqueadores podem aumentar,
temporariamente, os níveis de triglicerídeos e reduzir o
HDL-colesterol. Contudo, em portadores de infarto do
miocárdio, os benefícios proporcionados pelos
betabloqueadores superam as eventuais desvantagens.
Estudos mais recentes têm demonstrado que a redução
agressiva de lipídios séricos com o uso de vastatinas
confere proteção contra a doença coronariana.
Doença Vascular Encefálica
A hipertensão arterial é o maior fator de risco para
doença vascular encefálica. O risco tem maior correlação
com os níveis de pressão arterial sistólica e aumenta na
presença de outros fatores causais.
Nos acidentes vasculares encefálicos, em hipertensos,
recomenda-se observar o paciente por algumas horas antes de
intervir na pressão arterial, salvo se ocorrerem níveis de
pressão extremamente elevados. Sabe-se que hipertensos
crônicos sofrem desvio para a direita na curva de
auto-regulação de seu fluxo cerebral. Assim sendo,
reduções superiores a 20% na pressão arterial diastólica
podem comprometer a perfusão encefálica, devendo ser
evitadas. A redução da pressão arterial deve ser lenta e
gradual, principalmente nos idosos, observando-se
continuamente os parâmetros clínicos do quadro neurológico.
Convém lembrar que em muitas situações, como na hemorragia
subaracnóide, por exemplo, a elevação da pressão arterial
é um importante fator hemodinâmico para manter a perfusão
cerebral em condições de vasospasmo.
Devem-se evitar drogas que tenham ações no sistema
nervoso central (clonidina e alfametildopa, guanabenzo e
moxonidina). Estão particularmente indicados os inibidores da
ECA, os antagonistas dos canais de cálcio e os diuréticos.
Cardiopatia Isquêmica
Nesses pacientes, deve-se buscar o controle da pressão de
forma gradual, até níveis inferiores a 140/90 mmHg,
lembrando que reduções muito acentuadas podem comprometer o
fluxo coronariano. Adicionalmente, o controle de outros
fatores de risco presentes também é indicado, bem como o uso
de ácido acetilsalicílico em doses baixas.
Entre as drogas hipotensoras, os betabloqueadores são os
mais indicados, por sua ação antiisquêmica. Se os
betabloqueadores não forem efetivos ou estiverem
contra-indicados, os antagonistas dos canais de cálcio podem
ser utilizados, exceto os de ação rápida. Agentes
hipotensores que aumentam a freqüência cardíaca devem ser
evitados. Nos pacientes que já sofreram infarto agudo do
miocárdio, deve-se dar preferência aos betabloqueadores sem
atividade simpatomimética intrínseca e aos inibidores da
ECA, especialmente na presença de disfunção sistólica
ventricular. No infarto agudo do miocárdio sem onda Q, com
função sistólica preservada, podem ser utilizados diltiazem
ou verapamil.
Insuficiência Cardíaca
A hipertensão arterial pode promover alterações
estruturais no ventrículo esquerdo, acompanhadas ou não por
isquemia coronariana, que contribuem para o desenvolvimento de
insuficiência cardíaca com função sistólica preservada ou
não.
Entre os diversos agentes, recomendam-se, em primeira
escolha, os inibidores da ECA, seguidos pelos vasodilatadores,
como hidralazina combinada a nitratos. O uso isolado desses
agentes ou associado a diuréticos e digitálicos reduz a
morbidade e a mortalidade cardiovasculares. Recentemente, foi
demonstrado que os antagonistas do receptor da angiotensina II
também seriam eficazes na redução de mortalidade dos
pacientes idosos com insuficiência cardíaca. Para controle
da angina e da hipertensão arterial em pacientes com
insuficiência cardíaca, amlodipina e felodipina podem ser
adicionados com segurança. O alfa e betabloqueador
carvedilol, associado aos inibidores da ECA, mostrou-se
benéfico no tratamento da insuficiência cardíaca.
Hipertrofia do Ventrículo Esquerdo
A hipertrofia do ventrículo esquerdo (HVE) pode ser
associada a hipertensão arterial, e constitui importante
indicador de risco para arritmias e morte súbita,
independentemente da própria hipertensão.
O tratamento medicamentoso é imperativo. Todas as drogas,
à exceção dos vasodilatadores de ação direta, são
eficazes na redução da hipertrofia do ventrículo esquerdo.
Até o momento, entretanto, os benefícios da regressão da
HVE não estão bem estabelecidos.
Nefropatias
A hipertensão arterial pode resultar de qualquer forma de
doença renal que diminua o número de néfrons funcionantes,
levando à retenção de sódio e água. A nefroesclerose
hipertensiva é a causa mais comum de doença renal
progressiva, particularmente em negros americanos. Estudos
prospectivos em pacientes do sexo masculino têm demonstrado
evidencias conclusivas e diretas da relação entre pressão
arterial e doença renal terminal.
A detecção precoce do dano renal associado à
hipertensão tem-se mostrado essencial na profilaxia da
progressão da lesão renal, devendo incluir avaliação da
creatinina sérica, exame de urina e, como complemento,
ultra-sonografia de rins e vias urinárias para detecção de
doença renal obstrutiva, doença policística renal e
determinação do tamanho renal. Pequenas elevações de
creatinina podem significar perdas funcionais renais
significativas.
Os níveis de pressão devem ser reduzidos para 130/85 mmHg
(ou 125/75 mmHg), principalmente em pacientes com proteinúria
superior a 1 grama em 24 horas, utilizando-se a terapêutica
anti-hipertensiva necessária. Dentre as medidas terapêuticas
consideradas importantes, ressalta-se a ingestão de sódio na
dieta inferior a 100 mEq/dia (dieta geral sem sal).
Recomenda-se cuidado com ingestão de potássio em pacientes
com creatinina sérica acima de 3 mg/dl.
Todas as classes de hipotensores podem ser utilizadas. O
uso de inibidores da ECA é recomendado para pacientes com
creatinina inferior a 3 mg/dl, particularmente em vigência de
proteinúria e/ou diabete melito. Em pacientes com creatinina
superior a 3 mg/dl, a utilização de inibidores da ECA exige
cautela. A introdução de inibidores da ECA para qualquer
paciente implica a necessidade de avaliação dos níveis
séricos de potássio e creatinina dentro de uma semana.
Elevações acima de 1 mg/dl na creatinina sérica podem ser
sugestivas de estenose de artéria renal bilateral ou em rim
único. Diuréticos tiazídicos não são eficazes em
pacientes com creatinina superior a 2,5 mg/dl. Nesses
pacientes, quando necessário, podem ser utilizados os
diuréticos de alça. Diuréticos poupadores de potássio,
como amilorida, espironolactona e triantereno, são
formalmente contra-indicados nesses pacientes, devido ao risco
de induzir hiperpotassemia.
Hipertensão Renovascular
A hipertensão renovascular deve ser suspeitada em
pacientes com hipertensão arterial de:
— início precoce (abaixo de 30 anos) ou recente (após
50 anos);
— sopro abdominal;
— hipertensão acelerada ou resistente;
— edema pulmonar recorrente;
— insuficiência renal de causa desconhecida com exame de urina normal;
— coexistência de doença aterosclerótica difusa, especialmente em fumantes;
— insuficiência renal aguda precipitada por anti-hipertensivos, particularmente inibidores da ECA ou antagonistas do receptor da angiotensina II.
— sopro abdominal;
— hipertensão acelerada ou resistente;
— edema pulmonar recorrente;
— insuficiência renal de causa desconhecida com exame de urina normal;
— coexistência de doença aterosclerótica difusa, especialmente em fumantes;
— insuficiência renal aguda precipitada por anti-hipertensivos, particularmente inibidores da ECA ou antagonistas do receptor da angiotensina II.
O tratamento de escolha para pacientes com estenose de
artéria renal é a angioplastia transluminal, associada ou
não ao implante de "stents". A revascularização
cirúrgica também apresenta bons resultados. Em pacientes sob
tratamento conservador, a piora da função renal impõe a
revascularização renal, com o objetivo de preservação
funcional do órgão.
Doença Vascular Arterial Periférica
A hipertensão arterial é importante fator de risco para
aterosclerose e doença vascular arterial periférica.
Nesses pacientes, os betabloqueadores não devem ser
utilizados, sendo indicados os vasodilatadores e os
antagonistas dos canais de cálcio. Os inibidores da ECA
também são úteis nessa afecção, devendo-se, entretanto,
lembrar que, embora rara, existe a possibilidade de
coexistência de estenose bilateral de artéria renal,
podendo, nessa eventualidade, ocorrer redução da função
renal.
Deve-se enfatizar o benefício do abandono do tabagismo,
que, seguramente, representa importante fator de risco para a
gravidade da doença vascular arterial periférica
incapacitante.
Outras Afecções
Em caso de gota, deve-se ter cautela com o uso dos
diuréticos. Por outro lado, a hiperuricemia induzida pelos
diuréticos não requer tratamento na ausência de gota ou
litíase úrica.
Na enxaqueca, os betabloqueadores e a clonidina podem ser
úteis, e a hidralazina é contra-indicada.
Em hepatopatas crônicos, a alfametildopa é
contra-indicada e o uso de betabloqueadores lipossolúveis
(propranolol, metoprolol,) deve ser cuidadoso. Convém evitar,
em hepatopatas, a asociação de betabloqueadores com
hidralazina, cimetidina e clorpromazina.
No glaucoma, os betabloqueadores são úteis. Contudo, em
pacientes suscetíveis, mesmo os colírios contendo
betabloqueador podem causar broncospasmo.
Na presença de arritmias cardíacas, especialmente nas
taquiarritmias supraventriculares, dá-se preferência a
betabloqueadores ou verapamil. Nos casos de bloqueios da
condução atrioventricular, deve-se evitar o uso de
betabloqueadores, verapamil, diltiazem e mibefradil.
Os antiinflamatórios não-hormonais reduzem a eficácia
anti-hipertensiva de diuréticos, betabloqueadores, inibidores
da ECA e antagonistas do receptor da angiotensina II. Além
disso, o uso de antiinflamatórios não-hormonais em pacientes
desidratados, como, por exemplo, sob o uso de diuréticos,
pode levar à perda de função renal, principalmente em
idosos.
Na hipertensão associada ao uso crônico de ciclosporina,
todos os agentes podem ser empregados, embora os inibidores da
ECA sejam menos efetivos. Os antagonistas dos canais de
cálcio diidropiridínicos também estão indicados. Diltiazem
e verapamil aumentam os níveis sanguíneos de ciclosporina e
digoxina.
O uso de eritropoetina recombinante humana pode causar
elevação da pressão arterial, mais relacionada ao aumento
da resistência vascular periférica do que ao aumento do
hematócrito ou da viscosidade. Deve-se manter controle
adequado do volume circulante e dos agentes
anti-hipertensivos. Em alguns casos, a dose de eritropoetina
pode ser reduzida e a via de administração modificada, de
endovenosa para subcutânea.
Fonte: http://departamentos.cardiol.br/dha/consenso /capitulo6.asp