Uma nova geração de exames está revolucionando a maneira pela qual é
possível descobrir as doenças, de preferência antes que elas se tornem
incuráveis. Cada vez mais sofisticados, eles fornecem os resultados
rapidamente e com maior precisão. Na semana passada, cientistas
apresentaram os dois mais recentes representantes dessa classe de
testes. O primeiro é uma técnica capaz de fazer uma análise completa do
DNA de crianças recém-nascidas em até 50 horas, muito menos do que as
seis semanas necessárias usualmente. O exame, divulgado na última edição
da revista científica “Science Translational Medicine”, rastreia 3,5
mil enfermidades genéticas. Os pesquisadores esperam que a ferramenta
esteja disponível a partir do próximo ano. Por enquanto, foi avaliada
com sucesso em quatro bebês do Children’s Mercy Hospitals and Clinics,
dos Estados Unidos. “Cerca de um terço dos bebês admitidos nas unidades
de terapia intensiva americanas tem uma doença genética”, afirmou
Stephen Kingsmore, diretor do Centro de Medicina Genômica Pediátrica do
Children’s Mercy. “Ao obterem o genoma interpretado em cerca de dois
dias, os médicos poderão usar os resultados para aplicar tratamentos
personalizados e mais eficazes”, completou o especialista. A segunda novidade foi divulgada por pesquisadores do Institute of
Cancer Research, da Inglaterra. Em um artigo publicado na revista “The
Lancet Oncology”, eles descreveram um exame por meio do qual é possível
conhecer o grau de agressividade do câncer de próstata após análise de
suas características genéticas. Como o teste para os recém-nascidos, o
exame criado pelos ingleses também irá auxiliar os médicos a adotar
tratamentos mais individualizados, de acordo com o perfil do tumor de
cada paciente.
No Brasil, uma das novidades na área do diagnóstico genético é um
mapeamento criado pelo laboratório Alta Excelência Diagnóstica, em São
Paulo. Ele traça um perfil que responde a questões como de que forma o
organismo responde à cafeína até sua capacidade de aproveitar melhor as
vitaminas. As respostas ajudam a pautar uma dieta focada nas
necessidades individuais, algo bastante útil, por exemplo, para atletas
de alto desempenho. Profundidade semelhante também pode ser obtida por meio do teste criado
pelo bioquímico brasileiro Alexandre Cosendey e apresentado no 39º
Congresso Brasileiro de Análises Clínicas. O exame faz uma análise do
conjunto de reações químicas desencadeadas dentro do organismo. Com uma
amostra de sangue, ele aponta o nível de estresse a que as células estão
submetidas, indicando o surgimento de possíveis problemas logo mais à
frente. “As células estão sob forte demanda o tempo todo”, explica
Cosendey. “Em uma situação-limite, suas membranas se rompem e algumas
substâncias podem vazar, indicando um desequilíbrio”, completa. O atleta
amador Diogo Menegaz, 39 anos, fez a análise. “Sentia-me exausto o
tempo todo e não conseguia entender a razão”, diz. “Com o exame,
descobri que algumas vitaminas, apesar de estarem em níveis altos, não
estavam sendo bem aproveitadas pelas células. Voltei a ganhar
disposição”, conta.
No Hospital Nove de Julho, em São Paulo, os médicos estão se valendo
da termografia, ou termometria cutânea, para rastrear a origem de dores
crônicas e enfermidades como hipotireoidismo (disfunção na glândula
tireoide). O teste é feito usando uma câmera que capta o calor emitido
pelo corpo. Quanto maior a temperatura em alguma região, mais intensa é a
atividade inflamatória no local. Isso é indicativo de que algo vai mal
naquele ponto. “Antes de aparecer uma lesão, existe a alteração da
circulação local, detectada pelas imagens”, explica o médico Marcos
Brioschi, do Nove de Julho. Foi por meio do exame que Patrícia Zylbergeld, 30 anos, descobriu que
estava no início de um hipotireoidismo. “O exame de sangue tinha
identificado uma alteração hormonal pequena”, diz. “Mas a termometria
indicou que havia mesmo uma atividade maior na região”, lembra. O exame
também pode ser usado no diagnóstico precoce de câncer de mama. Nesse
caso, a inflamação indica crescimento de vasos sanguíneos na região, o
que sugere a formação de uma rede vascular para alimentar um futuro
tumor. “É possível analisar a área antes de qualquer alteração
anatômica”, afirma Brioschi.
A revolução está dando também nova roupagem a exames convencionais.
Hoje, já é possível realizar ultrassom em três dimensões do feto com a
possibilidade de impressão das formas da criança em um molde de resina,
como se fosse um boneco. “O molde ajuda a visualizar melhor qualquer
má-formação existente”, explica a hematologista Regina Biasoli. O objetivo de outras inovações é aumentar o conforto do paciente. Nesta
categoria, uma das opções é o Accuvein. Por meio da emissão de luz
infravermelha, o exame auxilia na visualização de veias. “O teste
facilita a aplicação de medicamentos em crianças e obesos, por exemplo”,
diz a enfermeira Célia de Fátima Moraes, de São Paulo, que usa o
aparelho. Para o futuro, uma das promessas é um kit capaz de identificar a
probabilidade de uma pessoa vir a ser hipertensa. Ele está em
desenvolvimento pela Sociedade Brasileira de Hipertensão, a partir de um
estudo comandado pela nefrologista Dulce Elena Casarini, da
Universidade Federal de São Paulo. “Descobrimos a existência de uma
enzima que indica a instalação da doença precocemente”, explica Dulce.
Fonte: www.istoe.com.br