ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Vacina fornece proteção de longa duração contra o HPV 16 e 18


Autora: Roxanne Nelson

A vacina Cervarix, fabricada pela GlaxoSmithKline, fornece um alto nível de proteção de longo prazo contra os tipos 16 e 18 do papilomavírus (HPV). Segundo novos dados publicados na edição eletrônica do Lancet, a vacina AS04-adjuvante contra os tipos 16/18 do HPV ofereceu uma proteção sustentada e eficácia a longo prazo por até 6,4 anos.

Os pesquisadores concluíram que a vacina foi 95,3% efetiva contra a infecção incidente com os tipos 16/18 do HPV, e foi 100% efetiva contra a infecção persistente por 12 meses. A efetividade contra neoplasia intra-epitelial cervical grau 2 ou mais (NIC 2+) foi de 100% para lesões associadas aos tipo 16/18 do HPV e de 71,9% para lesões independentes do HPV.

Eles também observaram que durante os meses 63 a 76, as concentrações de anticorpos contra o HPV 16 e o HPV 18 foram pelo menos 13 e 12 vezes mais altas, do que as concentrações registradas após o clearance da infecção natural, conforme demonstrado em um estudo anterior (Lancet. 2007;369:2161-2217).

O tempo que a imunogenicidade durará é uma pergunta muito importante que nosso trabalho responde parcialmente, explicou a autora do estudo Barbara Romanowski, médica, professora da divisão de doenças infecciosas na University of Alberta, em Edmonton. “Nossos resultados demonstram que os níveis de anticorpos estão excelentes em 6,4 anos de acompanhamento, e um subgrupo dessas mulheres continuará a ser acompanhado por pelo menos 9,5 anos”, disse ela à Medscape Oncology.

“Modelos matemáticos sugerem que os níveis de anticorpos podem durar pelo menos 20 anos, mas isso terá que ser confirmado por estudos de acompanhamento de longo prazo”, ela acrescentou. “A principal mensagem deste estudo é que a vacina bivalente contra o HPV apresenta elevada eficácia contra os tipos 16 e 18, e fornece proteção cruzada contra outras cepas do HPV que também são de alto risco. A vacina é altamente imunogênica e segura.

A US Food and Drug Administration aprovou a vacina em outubro de 2009 para o uso na prevenção do câncer cervical e de lesões pré-cancerosas causadas pelos tipos 16 e 18 do HPV em mulheres com 10 a 25 anos de idade. Ela tem sido disponibilizada comercialmente na União Européia e em outros países desde 2007.

Como anteriormente reportado pela Medscape Oncology, grandes ensaios clínicos concluíram que a vacina é 93% efetiva na prevenção de NIC 2+ associadas aos tipos 16 e 18 do HPV.


Acessibilidade e longa duração são necessárias nos países pobres

A evidência proveniente de grandes ensaios de fase 3 sugere que a vacinação contra os tipos 16 e 18 do HPV de garotas antes que elas alcancem a adolescência seria custo-efetiva na prevenção do câncer cervical mesmo nos países mais pobres, visto que o custo da vacinação cai para U$ 10, escreve Gary M Clifford, PhD, da International Agency for Research on Cancer, em Lyon, França, em um editorial adjunto.

Contudo, ele observa, “a maior fonte de incerteza em relação ao potencial efeito das vacinas contra o HPV continua sendo a duração da resposta imune. Se reforços da vacina serão necessários depois, a complexidade do programa de administração, especialmente em países com poucos recursos, aumenta consideravelmente”.

A GAVI Alliance, uma parceria global de saúde entre os setores público e privado, que subsidia vacinas para as nações mais pobres, está atualmente revisando a vacina contra o HPV como candidata para o financiamento sustentável, escreve ele, mas os países elegíveis precisarão obter o benefício máximo para cada dose administrada da vacina contra o HPV.

A idade-alvo para a vacina é um ato de equilíbrio – cedo o suficiente para imunizar garotas antes de sua iniciação sexual, mas tarde o bastante para fornecer uma ainda desconhecida duração da imunidade que oferecerá proteção o maior tempo possível, escreve o Dr. Clifford.

Ele observa que os resultados do ensaio atual sugerem que essa janela de proteção é de ao menos 6 anos, complementando que “isso nos leva a suspeitar fortemente que, se essas e outras mulheres vacinas forem acompanhadas, o período de proteção pode ser muito maior”.


O acompanhamento mostra uma resposta imune de alta eficácia e longa duração

O estudo foi conduzido pelo GlaxoSmithKline Vaccine HPV-007 Study Group, e consiste em um acompanhamento prolongado de um ensaio de eficácia que se iniciou em 2001. O estudo inicial avaliou 1.113 mulheres com idades entre 15 e 25 anos (560 no grupo da vacina e 553 no grupo placebo). Todas as participantes apresentaram citologia cervical normal e eram soronegativas para os tipos 16 e 18 do HPV, bem como negativos para DNAs de HPV oncogênicos (14 tipos) no rastreamento inicial.

O estudo de acompanhamento ocorreu em 27 locais, em 3 países entre 10 de novembro de 2003 e 9 de agosto de 2007. Das 1.113 mulheres no estudo inicial, 776 continuaram no estudo de acompanhamento e 700 (90%) completaram o estudo. Amostras cervicais foram testadas a cada 6 meses para o DNA do HPV, principalmente para avaliar a efetividade a longo prazo da vacina na prevenção da infecção cervical incidente com os tipos 16 ou 18 do HPV, ou ambos.

Os pesquisadores observaram que a alta eficácia da vacina foi alcançada contra qualquer mudança citológica anormal de células escamosas atípicas de significado indeterminado ou mais, ou contra lesões intra-epiteliais escamosas de baixo grau ou mais que foram associadas ao HPV 16, HPV 18, ou ambos.

A vacina foi 100% efetiva para as NIC 1+ e NIC 2+ associadas aos tipos 16 ou 18 do HPV, ou a ambos. Nenhuma das vacinadas apresentou um evento NIC durante os 6,4 anos de acompanhamento e todos os novos casos de NIC 2+ foram identificados durante o período de acompanhamento que ocorreu no grupo placebo.

Uma análise dos desfechos cito-histológicos independentes do DNA do HPV na lesão evidenciou que houve uma taxa de eficácia de 35,4% contra quaisquer mudanças citológicas anormais de células escamosas atípicas de significado indeterminado ou mais, e uma taxa de eficácia de 39,4% para lesões intra-epiteliais escamosas ou mais. Eles também observaram que a vacina foi altamente efetiva contra qualquer NIC 1+ e NIC 2+, e praticamente todas as vacinadas (99%) permaneceram soropositivas para anticorpos imunoglobulina G totais contra os tipos 16 e 18 do HPV.

Perfis de segurança foram semelhantes entre os grupos da vacina e do placebo. No grupo da vacina, 30 mulheres (8%) reportaram um evento adverso grave, assim como 37 (10%) no grupo placebo. Nenhum dos eventos adversos graves reportados foi considerado relacionado, ou possivelmente relacionado, à vacinação, observam os autores, e não houve mortes.

O estudo foi financiado pela GlaxoSmithKline Biologicals (Belgium). Alguns autores do estudo declararam relações financeiras relevantes; estas são detalhadas no artigo.


Lancet. Published online December 3, 2009.

Informação sobre a autora: Roxanne Nelson é jornalista da equipe de notícias da Medscape Oncology.