ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Surdez


A perda auditiva é uma deterioração da audição. A surdez é uma perda auditiva profunda.

A perda auditiva pode ser causada por um problema mecânico do canal auditivo ou do ouvido médio que bloqueia a condução do som (perda auditiva condutiva) ou por uma lesão do ouvido interno, do nervo auditivo ou das vias do nervo auditivo no cérebro (perda auditiva neurossensorial). Os dois tipos de perda auditiva podem ser diferenciados comparando como um indivíduo ouve os sons conduzidos pelo ar e como ele ouve os conduzidos pelos ossos.

A perda auditiva neurossensorial é classificada como sensorial (quando o ouvido interno é afetado) ou como neural (quando existe um comprometimento do nervo auditivo ou de suas vias). A perda auditiva sensorial pode ser hereditária ou pode ser causada por um ruído muito intenso (trauma acústico), por uma infecção viral do ouvido interno, por determinados medicamentos ou pela doença de Ménière.A perda auditiva neural pode ser causada por tumores cerebrais que também lesam os nervos próximos e o tronco encefálico. Outras causas possíveis incluem infecções, vários distúrbios cerebrais e nervosos (p.ex., acidente vascular cerebral) e algumas doenças hereditárias (p.ex., doença de Refsum). Na infância, o nervo auditivo pode ser lesado pela parotidite (caxumba), pela rubéola, pela meningite ou por infecções do ouvido interno. As vias do nervo auditivo no cérebro podem ser lesadas por doenças desmielinizantes (doenças que destróem a membrana que reveste os nervos).

Diagnóstico

Os testes da audição com diapasões podem ser realizados no consultório médico, mas a audição é mais adequadamente testada em uma câmara à prova de som por um audiólogo (especialista em perda auditiva) que utiliza um dispositivo eletrônico que emite sons em tons e volumes específicos. A audição através da condução aérea é testada colocando-se um diapasão próximo do ouvido, de modo que o som tem que viajar através do ar para chegar ao ouvido. Uma perda auditiva ou um limiar auditivo (o som mais baixo que pode ser ouvido) subnormal pode indicar um problema em qualquer parte do aparelho auditivo (canal auditivo, ouvido médio, ouvido interno, nervo auditivo ou vias do nervo auditivo no cérebro).

Nos adultos, a audição através da condução óssea é testada colocando-se a base de um diapasão que está vibrando contra a cabeça. A vibração propaga-se por todo o crânio, incluindo a cóclea óssea do ouvido interno. A cóclea contém células ciliadas que convertem as vibrações em impulsos nervosos, os quais são em seguida transmitidos ao longo do nervo auditivo. Este teste evita o ouvido externo e o ouvido médio e avalia apenas o ouvido interno, o nervo auditivo e as vias do nervo auditivo no cérebro. São utilizados diapasões com diversos tons (freqüências), pois alguns indivíduos conseguem ouvir sons de determinadas freqüências e não de outras.

Quando a audição por condução aérea está reduzida mas a audição por condução óssea está normal, a perda auditiva é condutiva. Quando a audição por condução aérea e a por condução óssea estão reduzidas, a perda auditiva é neurossensorial. Ocasionalmente, a perda auditiva é tanto condutiva quanto neurossensorial.

A audiometria mensura a audição de forma precisa com o auxílio de um dispositivo eletrônico (audiômetro) que produz sons em freqüências (tons puros) e volumes específicos. O limiar auditivo para uma variedade de tons é determinada através da redução do volume de cada tom até o indivíduo não conseguir mais ouvi-lo. Cada ouvido é testado separadamente. Para mensurar a audição por condução aérea são utilizados fones, assim como um dispositivo que vibra aplicado contra o osso localizado atrás da orelha (processo mastóide). Como os tons altos apresentados a um ouvido também podem ser percebidos pelo outro, o tom do teste é mascarado pela apresentação de um som diferente, normalmente um ruído. Desta maneira, o indivíduo ouve o teste do tom apenas através do ouvido que está sendo testado.

A audiometria do limiar da inteligibilidade mensura o quão alto as palavras devem ser pronunciadas para serem compreendidas. O indivíduo ouve uma série de palavras de duas sílabas acentuadas da mesma maneira (p.ex., pilha, torre e drama) apresentadas em volumes específicos. O volume ao qual o indivíduo pode repetir corretamente metade das palavras (limiar de repetição) é registrado.

A discriminação, a capacidade de ouvir as diferenças entre palavras que soam de maneira similar é testada através da apresentação de pares de palavras monossilábicas semelhantes. O índice de discriminação (a porcentagem de palavras corretamente repetidas) geralmente encontra-se dentro dos parâmetros normais quando a perda auditiva é condutiva, abaixo do normal quando a perda auditiva é sensorial e muito abaixo do normal quando a perda auditiva é neural.

A timpanometria, um tipo de audiometria, mensura a impedância (resistência à pressão) do ouvido médio. A timpanometria é utilizada para determinar a causa da perda auditiva condutiva. Este procedimento não exige a participação ativa do indivíduo que está sendo testado e é comumente utilizado em crianças. Um dispositivo contendo um microfone e uma fonte sonora que produz um som contínuo é ajustado no canal auditivo. O dispositivo detecta a quantidade de som que passa pelo ouvido médio e a quantidade que é refletida à medida que ocorrem alterações de pressão no canal auditivo. Os resultados deste teste indicam se o problema é devido a um bloqueio na tuba auditiva (o tubo que conecta o ouvido médio com a parte posterior do nariz), à presença de líquido no ouvido médio ou a uma ruptura na cadeia de três ossículos que transmitem os sons através do ouvido médio.

A timpanometria também detecta alterações da contração do músculo estapédio, o qual encontra- se fixado ao estribo (stapes), um dos três ossículos do ouvido médio. Este músculo normalmente contrai em resposta aos ruídos altos (reflexo acústico), reduzindo a transmissão do som e, conseqüentemente, protegendo o ouvido interno. O reflexo acústico altera ou reduz quando a perda auditiva é neural. Quando o reflexo acústico diminui, o músculo estapédio não pode permanecer contraído durante uma exposição contínua a ruídos intensos.

A resposta auditiva do tronco encefálico é um outro teste que pode diferenciar a perda auditiva sensorial da neural. Este teste mensura os impulsos nervosos cerebrais resultantes da estimulação dos nervos auditivos. A amplificação por computador produz uma imagem do padrão de onda dos impulsos nervosos. Quando a causa da perda auditiva parece estar localizada no cérebro, pode ser realizada uma ressonância magnética (RM) da cabeça.

A eletrococleografia mensura a atividade da cóclea e do nervo auditivo. Este teste e a resposta auditiva do tronco cerebral podem ser utilizados para mensurar a audição em indivíduos que não conseguem ou não querem responder voluntariamente ao som. Por exemplo, esses testes são utilizados para descobrir se os lactentes e as crianças apresentam uma perda auditiva profunda ou se um indivíduo está fingindo ou exagerando a perda auditiva (hipoacusia psicogênica). Algumas vezes, os testes podem ajudar a determinar a causa da perda auditiva neurossensorial. A resposta auditiva do tronco encefálico também pode ser utilizada para controlar determinadas funções cerebrais em indivíduos comatosos ou naqueles submetidos a uma cirurgia cerebral.

Alguns testes auditivos podem detectar distúrbios nas áreas do cérebro responsáveis pelo processamento da audição. Esses testes mensuram a capacidade de interpretar e de compreender a fala distorcida, de compreender uma mensagem apresentada a um ouvido enquanto uma outra mensagem chega ao ouvido oposto, de unir mensagens incompletas recebidas por ambos os ouvidos e formar uma mensagem coerente e de determinar de onde o som provém quando sons chegam a ambos os ouvidos ao mesmo tempo.

Como as vias nervosas de cada ouvido cruzam para o outro lado do cérebro, uma alteração em um lado do cérebro afeta a audição do ouvido oposto. As lesões do tronco encefálico podem comprometer a capacidade de unir mensagens incompletas e formar uma mensagem coerente e de localizar de onde os sons provêm.

Tratamento

O tratamento da perda auditiva depende de sua causa. Por exemplo, quando a causa da perda auditiva condutiva é a presença de líquido no ouvido médio ou de cerume no canal auditivo, é realizada a drenagem do líquido ou a remoção do cerume. Freqüentemente, não existe uma cura disponível. Nesses casos, o tratamento consiste na compensação máxima possível da perda auditiva. A maioria dos indivíduos utiliza um aparelho auditivo. Raramente, é realizado um implante coclear.

Aparelhos Auditivos

A amplificação sonora produzida pelos aparelhos auditivos ajuda os indivíduos que apresentam perda auditiva condutiva ou neurossensorial, particularmente quando eles apresentam uma dificuldade de ouvir as freqüências da fala normal. Os aparelhos auditivos também podem ser úteis para os indivíduos com perda auditiva neurossensorial predominantemente de alta freqüência e para aqueles que apresentam perda auditiva em apenas um ouvido. Os aparelhos auditivos possuem um microfone para captar os sons, um amplificador para aumentar o seu volume e um alto-falante para transmitir os sons amplificados.

Os aparelhos auditivos de condução aérea, os quais são geralmente superiores aos de condução óssea, são utilizados com mais freqüência. Normalmente, eles são encaixados no canal auditivo com o auxílio de uma vedação hermética ou um pequeno tubo aberto. Os tipos de aparelhos auditivos de condução aérea incluem os dispositivos corpóreos, os colocados atrás da orelha, os encaixados no interior da orelha, os colocados no interior do canal auditivo, os chamados CROS e os BICROS.

O dispositivo corpóreo, utilizado pelos indivíduos com uma perda auditiva profunda, é o mais potente. Ele é carregado no bolso da camisa ou junto ao corpo e é conectado através de um cabo à peça auricular, a qual possui um molde plástico da orelha que se encaixa ao canal auditivo. Os lactentes e as crianças jovens com perda auditiva freqüentemente utilizam dispositivos corpóreos porque o seu manuseio é mais fácil e apresentam menor risco de quebrar. Além disso, eles eliminam os problemas causados por moldes auriculares mal adaptados. Para a perda auditiva moderada a grave, pode ser usado um aparelho que é encaixado atrás da orelha e é conectado ao molde auricular através de um tubo flexível.

Para a perda auditiva discreta a moderada, um aparelho não tão potente contido totalmente no molde auricular pode ser utilizado. Ele encaixa no ouvido externo e é relativamente discreto. Os dispositivos que se encaixam inteiramente no canal auditivo (dispositivos de canal) são ainda menos visíveis e são utilizado pelos indivíduos que de outro modo se negariam a utilizar qualquer outro dispositivo.

O aparelho CROS (contralateral routing of signals, isto é, envio contralateral de sinais) é utilizado pelos indivíduos que ouvem somente com um ouvido. O microfone é colocado no ouvido que não funciona e o som é enviado (direcionado) ao ouvido funcionante através de um fio ou de um radiotransmissor miniaturizado. Este aparelho permite ao usuário ouvir os sons do lado do ouvido não funcionante e, até certo ponto, localizar os sons. Quando o ouvido funcionante também apresenta uma certa deficiência, o som proveniente de ambos os lados pode ser amplificado com o dispositivo BICROS (CROS bilateral).

Um aparelho auditivo de condução óssea pode ser utilizado pelos indivíduos que não conseguem utilizar os de condução aérea como, por exemplo, um indivíduo que nasceu sem o canal auditivo ou que apresenta uma otorréia (secreção líquida drenada através do ouvido). O aparelho é colocado em contato com a cabeça, comumente logo atrás da orelha, com uma faixa elástica sobre a cabeça. O dispositivo conduz o som através do crânio até o ouvido interno. Os aparelhos auditivos de condução óssea exigem mais potência, causam mais distorções e são menos cômodos que os de condução aérea. Alguns aparelhos de condução óssea podem ser implantados cirurgicamente no osso localizado atrás da orelha.

O aparelho auditivo deve ser selecionado pelo médico ou por um audiólogo, o qual se encarrega de adaptar as características do aparelho ao tipo de perda auditiva, inclusive o grau da perda e as freqüências afetadas. Por exemplo, as altas freqüências podem ser aumentadas através de aberturas no molde auricular que facilitam a passagem das ondas sonoras para o interior do ouvido. Um aparelho com um molde auricular contendo na abertura orifícios beneficia muitas pessoas cuja perda auditiva neurossensorial é maior para as altas freqüências que para as baixas. Os indivíduos que não conseguem tolerar os sons altos podem necessitar de aparelhos auditivos com circuitos eletrônicos especiais que mantém o volume do som a um nível tolerável.

Existem vários tipos de aparelhos disponíveis para os indivíduos que apresentam uma perda auditiva importante. Os sistemas de alerta luminosos permitem que eles saibam quando a campainha da porta está tocando ou quando uma criança está chorando. Os sistemas sonoros especiais ajudam esses indivíduos a ouvir em teatros, igrejas ou outros locais onde existe muito ruído. Também existem dispositivos especiais que permitem a comunicação telefônica.

Implante Coclear: Um Dispositivo para os indivíduos com Surdez Profunda

Um implante coclear, um tipo de aparelho auditivo destinado aos indivíduos que apresentam surdez profunda, é constituído por uma bobina interna, eletrodos, uma bobina externa, um processador da fala e um microfone. A bobina interna é implantada cirurgicamente no crânio, atrás e acima da orelha e os eletrodos são implantados na cóclea. A bobina externa é mantida no lugar por ímãs colocados na pele, sobre a bobina interna. O processador da fala, conectado à bobina externa por um cabo, pode ser transportado num bolso ou num dispositivo especial. O microfone é conectado ao aparelho auditivo localizado atrás da orelha.

Implantes Cocleares

Um indivíduo com surdez profunda que não consegue ouvir sons mesmo com um aparelho auditivo pode ser beneficiado com um implante coclear. O implante é constituído por eletrodos (inseridos na cóclea) e uma bobina interna (implantada no crânio). Os eletrodos são complementados por uma bobina externa, um processador da fala e um microfone localizado fora do corpo. O microfone capta as ondas sonoras e o processador as converte em impulsos elétricos, os quais são transmitidos pela bobina externa através da pele até a bobina interna e, a seguir, aos eletrodos. Os eletrodos estimulam o nervo auditivo.

O implante coclear não transmite sons tão bem quanto a cóclea normal, mas provê diferentes benefícios de acordo com o indivíduo. Ele ajuda alguns indivíduos a fazer a leitura labial. Outros conseguem distinguir algumas palavras sem ler os lábios. Alguns indivíduos podem manter conversações telefônicas.

O implante coclear também ajuda os indivíduos surdos a ouvir e a distinguir os sinais ambientais e de aviso (p.ex., campainhas de porta, telefones e alarmes). Ele ajuda esses indivíduos a modular a voz, tornando a sua fala mais fácil de ser compreendida pelos outros. O implante coclear é mais eficaz em um indivíduo cuja perda auditiva é recente ou que utilizou com sucesso um aparelho auditivo antes do implante.