A infecção causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) é provocada por um dos dois vírus que destróem progressivamente os linfócitos (um tipo de leucócito), causando a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) e outras doenças decorrentes do comprometimento da imunidade. No início da década de 1980, os epidemiologistas (profissionais que estudam os fatores que afetam a freqüência e a distribuição das doenças) identificaram um súbito aumento de duas doenças entre os homossexuais masculinos americanos: o sarcoma de Kaposi, um câncer raro, e a pneumonia por Pneumocystis, um tipo de pneumonia que ocorre apenas em indivíduos com comprometimento do sistema imunológico.
A falha do sistema imunológico que permite o desenvolvimento de cânceres raros e a ocorrência de infecções raras tornouse conhecida como AIDS (Acquired Immunodeficiency Syndrome, síndrome da imunodeficiência adquirida). O comprometimento do sistema imunológico também foi observado em usuários de drogas injetáveis, hemofílicos e outros receptores de transfusões de sangue, além de homens bissexuais. Algum tempo depois, a síndrome começou a ocorrer em heterossexuais que não eram usuários de drogas, hemofílicos ou receptores de transfusões de sangue.
Os pesquisadores logo descobriram que um vírus estava causando a AIDS. Os dois vírus que causam a AIDS são o HIV-1 e o HIV-2. O HIV-1 é o mais comum no hemisfério ocidental, na Europa, na Ásia e na África Central, Meridional e Oriental. O HIV-2 é o principal vírus causador da AIDS na África Ocidental, embora muitos indivíduos dessa região estejam infectados pela cepa HIV-1. A AIDS atingiu proporções epidêmicas, com mais de 500.000 casos e 300.000 mortes relatadas nos Estados Unidos até outubro de 1995. A Organização Mundial da Saúde estima que, em 1996, 20 milhões de indivíduos em todo o mundo estavam infectados pelo HIV.
Patogênese
Para estabelecer a infecção em um indivíduo, o vírus deve invadir células como os linfócitos, um tipo de leucócito. O material genético do vírus é incorporado ao DNA da célula infectada. O vírus se reproduz no interior da célula e acaba destruindo a célula e liberando novas partículas virais. A seguir, essas novas partículas virais infectam outros linfócitos e també podem destruí-los. O vírus fixa-se aos linfócitos que apresentam uma proteína receptora denominada CD4 em sua membrana externa. As células com receptores CD4 são comumente denominadas células CD4-positivas (CD4+), ou linfócitos T auxiliares. Os linfócitos T auxiliares atuam ativando e coordenando outras células do sistema imunológico, como os linfócitos B (produtores de anticorpos), os macrófagos e os linfócitos T citotóxicos (CD8+). Todas elas auxiliam na destruição de células cancerosas e de microrganis mos invasores.
Como a infecção pelo HIV destrói os linfócitos T auxiliares, ele enfraquece o sistema do organismo responsável por sua proteção contra infecções e cânceres. Ao longo de meses ou anos, os indivíduos infectados pelo HIV perdem os linfócitos T auxiliares (células CD4+) em três fases. Um indivíduo saudável apresenta uma contagem de linfócitos CD4+ de aproximadamente 800 a 1.300 células por microlitro de sangue. Nos primeiros meses após a infecção pelo HIV, essa contagem pode diminuir 40 a 50%. Durante esses meses iniciais, o indivíduo pode transmitir o HIV a outros porque existem muitas partículas virais circulando no sangue. Embora o corpo combata o vírus, ele é incapaz de eliminar a infecção. Após aproximadamente 6 meses, o número de partículas virais no sangue atinge um nível constante, o qual varia de indivíduo a indivíduo.
Contudo, permanece existindo uma quantidade suficiente para destruir os linfócitos CD4+ e para transmitir a doença para outras pessoas. Durante muitos anos, o indivíduo infectado pelo HIV apresenta uma redução lenta e gradual da contagem de linfócitos CD4+ que passa a ser inferior à normal. A concentração alta de partículas virais e a contagem baixa de linfócitos CD4+ ajudam o médico a identificar os indivíduos com maior risco de desenvolver a AIDS. Um ou dois anos antes da ocorrência uma AIDS identificável, a contagem de linfócitos CD4+ geralmente diminui mais rapidamente.
A vulnerabilidade do indivíduo à infecção aumenta quando a contagem desses linfócitos cai para menos de 200 células por microlitro de sangue. A infecção pelo HIV também altera a função dos linfócitos B, componentes do sistema imunológico que produzem anticorpos, fazendo com que eles produzam um excesso de anticorpos. Esses anticorpos são direcionados sobretudo contra o próprio HIV e contra as infecções com as quais o indivíduo teve contato prévio, mas não são úteis contra muitas infecções oportunistas que ocorrem na AIDS. Ao mesmo tempo, a destruição de linfócitos CD4+ pelo vírus reduz a capacidade do sistema imunológico de reconhecer os novos invasores e identificá-los para o ataque.
O Que é um Retrovírus?
O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um retrovírus, um tipo de vírus que armazena informação genética como RNA e não como DNA. Quando ele invade uma célula alvo do hospedeiro, o vírus libera o seu RNA e uma enzima (transcriptase reversa) e, em seguida, sintetiza o DNA usando o RNA viral como padrão. A seguir, o DNA viral é incorporado ao DNA da célula hospedeira. Cada vez que a célula hospedeira se divide, ela também produz uma nova cópia do DNA viral integrado juntamente com seus próprios genes. O DNA viral pode assumir as funções da célula (torna-se ativado), fazendo com que a célula produza novas partículas virais. Esses novos vírus são liberados da célula infectada e invadem outras células. |
Transmissão da Infecção
A transmissão do HIV exige o contato com um líquido corpóreo que contenha células infectadas ou partículas virais. Esses líquidos incluem o sangue, o sêmen, as secreções vaginais, o líquido cefalorraquidiano e o leite materno. O HIV também está presente nas lágrimas, na urina e na saliva, mas em concentrações muito mais baixas. O HIV é transmitido das seguintes maneiras:
• Relações sexuais com uma pessoa infectada, durante as quais a membrana mucosa da boca, da vagina ou do reto é exposta aos líquidos corpóreos;
• Injeção ou infusão de sangue contaminado, como ocorre nas transfusões de sangue, no compartilhamento de agulhas contaminadas ou em uma picada acidental com uma agulha contaminada;
• Transferência do vírus da mãe infectada ao filho, antes do nascimento, durante o parto ou através da amamentação.
A suscetibilidade à infecção pelo HIV aumenta quando a pele ou a membrana mucosa apresenta uma laceração ou uma lesão, como pode ocorrer durante uma relação vaginal ou anal vigorosa. Muitos estudos demonstraram que a transmissão sexual do HIV é mais provável quando um dos parceiros apresenta herpes, sífilis ou outras doenças sexualmente transmissíveis que possam produzir soluções de continuidade na pele. No entanto, o HIV pode ser transmitido por um indivíduo infectado a um não infectado através de uma relação vaginal ou anal mesmo na ausência de outras doenças sexualmente transmissíveis ou de soluções de continuidade evidentes na pele. A transmissão do HIV também pode ocorrer durante o sexo oral, embora seja menos comum que durante o intercurso. Nos Estados Unidos e na Europa, a transmissão do HIV entre homossexuais masculinos e usuários de drogas injetáveis tem sido mais comum que a transmissão entre heterossexuais.
Entretanto, a porcentagem de transmissão entre heterossexuais vem aumentando rapidamente. Nos Estados Unidos, mais de 20% das pessoas com AIDS são do sexo feminino e a infecção pelo HIV vem aumentando mais rapidamente entre as mulheres que entre os homens. A transmissão do HIV na África, no Caribe e na Ásia basicamente ocorre entre heterossexuais e a infecção pelo HIV ocorre igualmente entre homens e mulheres. Antes de 1992, a maioria das mulheres norteamericanas com HIV haviam sido infectadas através da injeção de drogas com agulhas contaminadas.
Entretanto, o número de casos resultante da transmissão sexual ultrapassou lentamente o número atribuído ao uso de drogas injetáveis. A probabilidade de um profissional da área da saúde contrair o HIV é de 1:300, que se pica acidentalmente com uma agulha contaminada pelo HIV. O risco de infecção pelo HIV aumenta quando a agulha penetra profundamente ou quando ocorrer injeção do sangue contaminado. O uso de uma droga anti-retroviral, como o AZT (zidovudina), parece reduzir a probabilidade do indivíduo tornar-se infectado após uma picada de agulha, mas não elimina o risco. Atualmente, a AIDS é a principal causa de morte entre os hemofílicos, os quais necessitam de infusões freqüentes de sangue total ou de outros produtos derivados do plasma.
Nos Estados Unidos, antes de 1985, muitos indivíduos hemofílicos receberam produtos derivados do sangue contaminados pelo HIV. Desde então, todo sangue coletado é testado para o HIV e os produtos derivados do plasma atualmente são tratados com o calor para eliminar o risco de infecção pelo HIV. A infecção pelo HIV em um grande número de mulheres em idade fértil levou à ocorrência da mesma em crianças. O vírus pode ser transmitido ao feto no início da gestação, através da placenta, ou ao nascimento, durante a passagem do feto através do canal do parto.
As crianças que são amamentadas podem adquirir a infecção pelo HIV através do leite materno. Algumas crianças adquirem a infecção pelo HIV em decorrência do abuso sexual. O HIV não é transmitido através do contato casual ou mesmo através do contato mais íntimo, não sexual, como no ambiente de trabalho ou no ambiente escolar. Não foi detectado nenhum caso de transmissão do HIV através da tosse ou do espirro de um indivíduo infectado ou de picada de mosquito. A transmissão do vírus de um médico ou dentista infectado para um paciente é extremamente rara.
Ciclo de Vida Simplificado do Vírus da Imunodeficiência Humana
Como todos os vírus, o vírus da imunodeficiência humana (HIV) se reproduz utilizando a maquinaria genética da célula hospedeira, geralmente um linfócito CD4. As drogas atualmente disponíveis para uso inibem duas enzimas virais – a transcriptase reversa e a protease, as quais o vírus utiliza para a reprodução – e estão sendo desenvolvidas drogas que têm como alvo uma terceira enzima, a integrase. 1. Primeiramente, o vírus fixa-se à célula alvo e a invade. 2. O RNA do HIV, o código genético do vírus, é liberado no interior da célula. Para se reproduzir, o RNA deve ser convertido em DNA.
A enzima que realiza a conversão é denominada transcriptase reversa. Neste ponto, o vírus HIV sofre mutação facilmente, pois a transcriptase reversa apresenta tendência a erros durante a conversão do RNA viral em DNA. 3. Em seguida, o DNA viral entra no núcleo da célula. 4. Com o auxílio de uma enzima denominada integrase, o DNA viral integra-se ao DNA da célula. 5. A seguir, o DNA replica e reproduz o RNA e proteínas. As proteínas adotam a forma de cadeias longas que devem ser cindidas em vários fragmentos após o vírus deixar a célula. 6. Um novo vírus é formado a partir do RNA e de fragmentos protéicos curtos 7.
O vírus atravessa a membrana celular, envolvendo-se num fragmento da mesma (envelope). 8. Para tornar-se infectante para as outras células, uma outra enzima viral (protease do HIV) deve cindir as proteínas estruturais no interior do vírus novo, fazendo com que elas se rearrangem transformando-o na forma madura do HIV.
Sintomas
Alguns indivíduos apresentam sintomas semelhantes aos da mononucleose infecciosa algumas semanas após contraírem a infecção pelo HIV. A febre, as erupções cutâneas, os linfonodos aumentados de volume e o mal-estar generalizado podem durar 3 a 14 dias. A seguir, a maioria dos sintomas desaparece, embora os linfonodos possam permanecer aumentados de volume. Sintomas adicionais podem levar anos para se manifestarem. No entanto, grandes quantidades do vírus circulam no sangue e em outros líquidos corpóreos logo após a infecção e, portanto, o indivíduo torna-se rapidamente infectante após ter sido infectado. Alguns meses após ter contraído o HIV, o indivíduo pode apresentar repetidamente sintomas leves, os quais ainda não se enquadram na definição de uma AIDS estabelecida.
O indivíduo pode apresentar sintomas da infecção pelo HIV durante anos antes de desenvolver as infecções ou tumores característicos que definem a AIDS. Esses sintomas incluem os linfonodos aumentados de volume, a perda de peso, a febre intermitente, o mal-estar generalizado, a fadiga, a diarréia recorrente, a anemia e a infecção bucal por fungos (“sapinho”). A perda de peso (emaciação) é um problema particularmente preocupante. Por definição, a AIDS começa com uma baixa contagem de linfócitos CD4+ (menos de 200 células por microlitro de sangue) ou com a ocorrência de infecções oportunistas (infecções por microrganismos que não causam doença em pessoas com um sistema imunológico normal). Cânceres, como o sarcoma de Kaposi e os linfomas não Hodgkin, também podem ocorrer. Tanto a infecção pelo HIV em si quanto as infecções oportunistas e os cânceres produzem os sintomas da AIDS.
Por exemplo, o HIV pode infectar o cérebro e causar demência, com perda de memória, dificuldade de concentração e redução da velocidade do processamento de informações. Contudo, somente poucos indivíduos com AIDS morrem em decorrência dos efeitos diretos da infecção pelo HIV. Geralmente, a morte é causada pelos efeitos cumulativos de muitas infecções oportunistas ou tumores. Os microrganismos e as doenças que normalmente representam uma pequena ameaça aos indivíduos sadios podem rapidamente levar à morte aqueles com AIDS, especialmente quando a contagem de linfócitos CD4+ é inferior a 50 células por microlitro de sangue.
Várias infecções oportunistas e cânceres são típicos do começo da AIDS. A primeira infecção a se manifestar pode ser um crescimento excessivo do fungo Candida (“sapinho”) na boca, na vagina ou no esôfago. Nas mulheres, o sintoma inicial de infecção pelo HIV pode ser a ocorrência de freqüentes infecções fúngicas vaginais de difícil tratamento. Contudo as infecções fúngicas vaginais são comumente observadas em mulheres sadias e podem ser causadas por outros fatores (p.ex., contraceptivos orais, antibióticos e alterações hormonais). A pneumonia causada pelo fungo Pneumocystis carinii é uma infecção comum e recorrente em indivíduos com AIDS. A primeira infecção oportunista que freqüentemente ocorre é a pneumonia por Pneumocystis . Antes do advento de métodos mais eficazes de tratamento e de prevenção da pneumonia, ela era a causa mais comum de morte entre os indivíduos infectados pelo HIV.
A infecção crônica pelo Toxoplasma (toxoplasmose) que persiste desde a infância é comum, mas causa sintomas em apenas uma minoria dos indivíduos com AIDS. Quando ela é reativada nestes pacientes, o Toxoplasma causa uma infecção grave, principalmente no cérebro. A tuberculose é mais freqüente e apresenta risco à vida nos indivíduos infectados pelo HIV que naqueles que não o são, e será difícil de ser tratada se as cepas da bactéria forem resistentes a vários antibióticos. Uma outra micobactéria, o complexo Mycobacterium avium, é uma causa comum de febre, perda de peso e diarréia nos estágios avançados da doença. Esta complicação pode ser tratada e prevenida com drogas recém-desenvolvidas. As infeccoes gastrointestinais tambem sao comuns nos casos de AIDS.
O Cryptosporidium, um parasita que pode ser transmitido atraves da agua ou de alimentos contaminados, produz diarreia intensa, dor abdominal e perda de peso. A leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP), uma infeccao viral do cerebro, pode afetar a funcao neurologica.. Normalmente, os primeiros sintomas sao a perda da forca de um membro superior ou inferior e a perda da coordenacao motora ou do equilibrio. Em dias ou semanas, o individuo pode tornar-se incapaz de andar e ficar em pe e, em geral, a morte ocorre em poucos meses. O citomegalovirus comumente infecta os individuos com AIDS. A reinfeccao tende a ocorrer nos estagios avancados da doenca, frequentemente na retina, causando a cegueira. O tratamento com drogas antivirais consegue controlar o citomegalovirus. Os individuos com AIDS tambem sao altamente suscetiveis a muitas outras infeccoes bacterianas, fungicas e virais.
O sarcoma de Kaposi, um tumor que se manifesta como manchas elevadas, indolores, com uma coloracao que varia do vermelho ao violaceo, afeta os individuos com AIDS, especialmente os homossexuais masculinos. Os individuos com AIDS tambem podem apresentar linfomas (tumores do sistema imunologico), os quais podem aparecer inicialmente no cerebro ou em outros orgaos internos. As mulheres apresentam propensao ao desenvolvimento de cancer do colo uterino e os homossexuais masculinos apresentam uma propensao ao desenvolvimento do cancer de reto.
Diagnóstico
Um exame de sangue relativamente simples e altamente acurado, denominado ELISA, pode ser utilizado para determinar se um individuo esta infectado pelo HIV. Atraves deste exame, e possivel detectar a presenca de anticorpos contra o HIV em uma amostra de sangue. O resulta do do exame é rotineiramente confirmado por exames mais acurados. No entanto, podem passar várias semanas ou mais tempo após a infecção pelo vírus antes que o exame do anticorpo seja positivo.
Exames altamente sensíveis (antígeno P24) podem detectar o vírus neste período e atualmente são utilizados na triagem de sangue doado para transfusões. Algumas semanas após a infecção, a maioria dos indivíduos acaba produzindo anticorpos contra o HIV. Um pequeno número de indivíduos infectados não produz quantidades mensuráveis de anticorpos por vários meses ou mais. Finalmente, o exame ELISA detecta os anticor-pos em praticamente todos os indivíduos infectados.
Quase todos os indivíduos com anticorpos contra o HIV estão infectados e são infectantes. Quando o resultado do ELISA indica uma infecção pelo HIV, ele é repetido utilizando-se a mesma amostra de sangue para se confirmar o resultado. Quando o resultado do segundo exame é positivo para o HIV, o passo seguinte consiste na realização de um exame mais acurado e mais caro (p.ex., o Western blot) para confirmação. Este teste também identifica anticorpos contra o HIV, mas é mais específico que o ELISA. Em outras palavras, quando o resultado do Western Blot for positivo, é quase absolutamente certo que o indivíduo apresenta a infecção pelo HIV.
Prognóstico
A exposição ao HIV nem sempre acarreta infecção e alguns indivíduos que foram expostos repetidamente durante anos permanecem não infectados. Além disso, muintos indivíduos infectados permanecem bem por mais de uma década. Sem os benefícios dos modernos tratamentos medicamentosos, a probabilidade de um indivíduo infectado pelo HIV desenvolver a AIDS era de 1 a 2% nos primeiros anos após a infecção. A probabilidade continuava até aproximadamente 5% para cada ano subseqüente.
O risco de desenvolver AIDS 10 a 15 anos após a infecção pelo HIV era de aproximadamente 50%. Estima-se que 95 a 100% dos indivíduos infectados acabarão apresentando a AIDS, mas os efeitos a longo prazo das drogas recém-desenvolvidas e utilizadas em combinação podem melhorar este cenário. As primeiras drogas utilizadas no tratamento contra o HIV, como o AZT (zidovudina) e o ddI (didanosina), reduziram o número de infecções oportunistas e aumentaram a expectativa de vida dos indivíduos com AIDS e as combinações dessas drogas produzem resultados ainda melhores.
As drogas mais recentes do grupo dos nucleosídeos, como o d4T (estavudina) e o 3TC (lamivudina) e os inibidores da protease do HIV (p.ex., saquinavir, ritonavir e indinavir) são ainda mais potentes. Em alguns indivíduos, a terapia combinada reduz a quantidade de vírus no sangue a níveis indetectáveis. No entanto, ainda não existem casos de cura comprovados. As técnicas para medir a quantidade do vírus HIV (RNA no plasma) no sangue (p.ex., testes de reação da cadeia de polimerase[PCR] e do ácido desoxirribonucléico ramificado [rDNA]) podem ajudar o médico a controlar os efeitos dessas drogas.
Esses níveis variam amplamente, de menos de algumas centenas até mais de 1 milhão de vírus contendo RNA por mililitro de plasma, e ajudam a prever o prognóstico do paciente. As drogas potentes freqüentemente reduzem 10 a 100 vezes o nível de vírus presente no sangue. A capacidade de combinação das novas drogas e as técnicas de monitorização para melhorar a sobrevida dos pacientes são promissoras.
Contudo, esses procedimentos ainda não foram totalmente avaliados. No início da epidemia da AIDS, muitos indivíduos com AIDS apresentavam um rápido declínio na qualidade de vida após a primeira hospitalização, freqüentemente despendendo grande parte do tempo restante no hospital. A maioria dos indivíduos morria nos 2 anos após o desenvolvimento da AIDS. Com o surgimento de novas drogas antivirais e de melhores métodos de tratamento e prevenção das infecções oportunistas, muitos indivíduos preservam sua capacidade física e mental por anos, após o diagnóstico da AIDS. Portanto, a AIDS tornou-se uma doença tratável, apesar de ainda ser incurável.
Estratégias Para a Prevenção da Transmissão do HIV Para os indivíduos não infectados Para os indivíduos HIV-positivos Para os usuários de drogas Para os profissionais médicos e dentistas |
Prevenção
Os programas para a prevenção da disseminação do HIV são centrados sobretudo na educação da população sobre a transmissão do vírus, na tentativa de modificar comportamentos de risco. Os programas educacionais e motivacionais obtiveram um êxito moderado, pois muitos indivíduos têm dificuldade para mudar seu comportamento sexual e de adição a drogas. A campanha para o uso de preservativos, um dos melhores meios para se evitar a disseminação do HIV, continua sendo uma questão controversa para muitos.
O fornecimento de agulhas limpas para os usuários de drogas injetáveis, um outro método que comprova-damente reduz a disseminação da AIDS, também tem enfretado resistência por parte da população. Até o momento, as vacinas para prevenir a infecção pelo HIV ou para retardar o seu avanço em indivíduos já infectados revelaram ser pouco eficazes. Dezenas de vacinas estão sendo testadas atualmente e muitas fracassaram; mas as pesquisas continuam. Em geral, os pacientes HIV-positivos internados em hospitais e clínicas não são isolados, exceto quando apresentam infecções contagiosas (p.ex., tuberculose).
As superfícies contaminadas pelo HIV podem ser limpas e desin-fetadas facilmente, pois o HIV é inativado pelo calor e por desinfetantes comuns como, por exemplo, o peróxido de hidrogênio (água oxigenada) e o álcool. Os hospitais adotaram procedimentos rígidos para a manipulação de amostras de sangue e de outros líquidos corpóreos na tentativa de evitar a transmissão do HIV e de outros microrganismos contagiosos. Na verdade, essas precauções universais aplicam-se a todas as amostras de todos os pacientes e não apenas às amostras que sabidamente são provenientes de um indivíduo infectado pelo HIV.
Tratamento
Atualmente, muitas drogas estão disponíveis para o tratamento da infecção pelo HIV, incluindo os inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa, como o AZT (zidovudina), o ddI (didanosina), o ddC (zalcitabina), o d4T (estavudina) e o 3TC (lamivudina); os inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa, como a nevirapina e a delavirdina; e os inibidores da protease, como o saquinavir, o ritonavir e o indinavir. Todas essas drogas evitam que o vírus se reproduza e, portanto, retardam a progressão da doença.
Geralmente, o HIV torna-se resistente a essas drogas quando elas são utilizadas isoladamente após um período de alguns dias a alguns anos, dependendo da droga e do indivíduo. O tratamento parece ser mais eficaz quando pelo menos duas das drogas são administradas em combinação. As combinações de drogas podem retardar o surgimento da AIDS em indivíduos HIV-positivos e aumentam a sua sobrevida quando comparadas com o uso de drogas isoladas. Os médicos não têm certeza sobre o momento adequado para iniciar a administração dessas drogas após a infecção, mas os indivíduos com concentrações elevadas de HIV no sangue, mesmo que apresentem uma contagem elevada de linfócitos CD4+ e estejam assintomáticos, devem ser tratados.
Estudos prévios que pareciam demonstrar que não existia qualquer vantagem em iniciar o tratamento precoce não são atualmente muito relevantes, uma vez que foram desenvolvidos muitos outros medicamentos e combinações. Contudo, o custo e os efeitos colaterais dos tratamentos com duas ou três drogas podem ser demasiadamente altos para alguns indivíduos que vivem em países desenvolvidos e para muitos daqueles que vivem em países menos desenvolvidos. O AZT, o ddI, o d4T e o ddC podem causar efeitos colaterais, como dor abdominal, náusea e cefaléia (especialmente o AZT).
O uso prolongado de AZT pode produzir lesão da medula óssea, causando anemia. O ddI, o ddC e d4T podem lesar os nervos periféricos e o ddI pode lesar o pâncreas. Entre os nucleosídeos, o 3TC parece estar associado ao menor número de efeitos colaterais. Todos os três inibidores da protease podem causar vários efeitos colaterais, como náusea, vômito, diarréia e desconforto abdominal. O indinavir causa uma elevação leve e reversível das enzimas hepáticas, não produzindo qualquer sintoma. Ele também pode causar uma intensa dor lombar semelhante à cólica renal (dor causada por um cálculo renal). O ritonavir apresenta a desvantagem de elevar e baixar o nível de muitas outras drogas devido aos seus efeitos sobre o fígado.
O saquinavir pode ser mais facilmente tolerado, mas é mal absorvido e, por isso, não é tão eficaz na forma atualmente disponível (1996). Normalmente, muitas drogas para prevenir as infecções são prescritas aos indivíduos com AIDS. Para evitar a pneumonia por Pneumocystis, quando a contagem de linfócitos CD4+ cai para menos de 200 células por microlitro de sangue, a combinação de sulfametoxazol-trimetoprim é altamente eficaz. Esta combinação também impede as infecções cerebrais causadas pelo Toxoplasma. Para os indivíduos com contagem de linfócitos CD4+ inferior a 75 ou 100 células por microlitro de sangue, a azitromicina tomada uma vez por semana ou a claritromicina ou a rifabutina tomadas diariamente podem impedir as infecções causadas pelo Mycobacterium avium.
Os indivíduos em recuperação de uma meningite criptocócica ou aqueles que estão apresentando episódios repetidos de candidíase (sapinho na boca, no esôfago ou na vagina, provocado pelo fungo Candida) podem ser medicados com fluconazol, uma droga antifúngica, durante períodos prolongados. Os indivíduos com episódios recorrentes de infecções pelo herpes simples na boca, nos lábios, nos órgãos genitais ou no reto podem necessitar de um tratamento prolongado com a droga antiviral aciclovir, para evitar recidivas.