ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Distúrbios da Nutrição e do Metabolismo - Obesidade


A obesidade é o acúmulo excessivo de gordura no corpo. Excetuando-se aqueles que são extremamente musculosos, os indivíduos cujo peso encontra-se 20% ou mais acima do ponto médio de uma escala padrão de altura-peso são considerados obesos. A obesidade pode ser classificada como leve (20 a 40% de sobrepeso), moderada (41 a 100% de sobrepeso) ou grave (mais de 100% de sobrepeso). A obesidade é grave em apenas 0,5% dos indivíduos obesos.

Obesidade na Vida Adulta

Nos Estados Unidos, a prevalência da obesidade vem crescendo (até 33% somente na década passada). De modo geral, 31% dos homens e 35% das mulheres sofrem de obesidade, mas a prevalência varia com a idade e a raça. A obesidade é duas vezes mais comum entre os indivíduos idosos que entre os mais jovens. A prevalência da obesidade é mais ou menos a mesma entre homens da raça negra e da raça branca, sendo discretamente maior entre os homens de origem hispânica que entre os homens negros e brancos e muito maior entre as mulheres da raça negra e de origem hispânica que entre as mulheres brancas. Por exemplo, cerca de 60% das mulheres negras de meia-idade são obesas, em comparação com 33% das mulheres brancas.

Causas

A obesidade é resultado do consumo de uma quantidade de calorias maior que a que o corpo utiliza. Os fatores genéticos e ambientais influenciam o peso corpóreo, mas ainda não está totalmente claro como eles interagem para determinar o peso de um indivíduo. Uma explicação proposta é que o peso corpóreo é ajustado em torno de um ponto fixo, similar ao ajuste de um termostato. Um ponto fixo acima do normal pode explicar a razão pela qual alguns indivíduos são obesos e porque a perda de peso e a manutenção da perda são difíceis para eles.

Fatores Genéticos: Pesquisas recentes sugerem que, em média, a influência genética contribui em aproximadamente 33% do peso corpóreo, mas a contribuição pode ser maior ou menor em um determinado indivíduo.

Fatores Socioeconômicos: Esses fatores têm uma forte influência sobre a obesidade, sobretudo entre as mulheres. Nos Estados Unidos, a obesidade é mais do que 2 vezes mais comum entre as mulheres de nível socioeconômico mais baixo que entre as mulheres de um nível socioeconômico mais elevado. Ainda não está totalmente clara a razão pela qual os fatores socioeconômicos têm uma influência tão forte sobre o peso das mulheres, mas as sanções contra a obesidade aumentam à medida que o nível socioeconômico aumenta.

Fatores Psicológicos: Os distúrbios emocionais, antigamente considerados uma causa importante da obesidade, são atualmente considerados uma reação contra o forte preconceito e a discriminação contra os indivíduos obesos. Um tipo de distúrbio emocional, a imagem corpórea negativa, é um problema grave para muitas mulheres jovens obesas. Ele acarreta uma autocrítica extrema e desconforto em situações sociais. Dois padrões anormais de alimentação que contribuem para a obesidade em algumas pessoas, o distúrbio da ingestão exagerada de alimentos e a síndrome da alimentação noturna, podem ser desencadeados pelo estresse e por distúrbios emocionais. O distúrbio da ingestão exagerada de alimentos é semelhante à bulimia nervosa, exceto pelo fato dos excessos não serem seguidos por vômitos auto-induzidos. Como conseqüência, mais calorias são consumidas. Na síndrome da alimentação noturna, a falta de apetite pela manhã é seguida por uma ingestão exagerada, agitação e insônia durante a noite.

Fatores Relacionados ao Desenvolvimento: Um aumento de tamanho e/ou da quantidade de células adiposas aumenta a quantidade de gordura armazenada no corpo. Os indivíduos obesos, sobretudo aqueles que se tornaram obesos durante a infância, podem ter até cinco vezes mais células adiposas do que aqueles que possuem um peso normal. Como o número de células não pode ser reduzido, o peso somente pode ser perdido através da redução da quantidade de gordura existente em cada célula.

Atividade Física: A atividade física reduzida é provavelmente uma das principais razões para o aumento da obesidade entre os indivíduos que vivem em sociedades abastadas. Nos Estados Unidos, a obesidade é atualmente mais de duas vezes mais freqüente que em 1900, apesar da quantidade média de calorias consumidas diariamente tenha diminuído uns 10%. Os indivíduos sedentários necessitam de uma menor quantidade de calorias. O aumento da atividade física faz com que os indivíduos com peso normal comam mais, mas o mesmo pode não ocorrer em indivíduos obesos.

Hormônios: Os distúrbios hormonais raramente causam obesidade.

Lesão cerebral: Raramente, uma lesão cerebral (sobretudo do hipotálamo) pode acarretar obesidade.

Medicamentos: Vários medicamentos freqüentemente utilizados produzem aumento de peso. Eles incluem os corticosteróides (p.ex., prednisona), muitos antidepressivos e também a maioria dos outros medicamentos que são utilizados no tratamento de distúrbios psiquiátricos.

Sintomas

O acúmulo do excesso de gordura abaixo do diafragma e na parede torácica pode exercer pressão sobre os pulmões, causando dificuldade respiratória e falta de ar, mesmo com um esforço mínimo. A dificuldade respiratória pode interferir gravemente no sono, provocando a parada momentânea da respiração (apnéia do sono), acarretando sonolência durante o dia e outras complicações. A obesidade pode causar vários problemas ortopédicos, incluindo a dor na região dorsal baixa e o agravamento da osteoartrite, particularmente nos quadris, joelhos e tornozelos. Os distúrbios cutâneos são particularmente comuns. Como os indivíduos obesos possuem uma superfície corpórea pequena em relação ao seu peso, eles não conseguem eliminar o calor do corpo de modo eficaz e suam mais do que os indivíduos magros. O inchaço dos pés e tornozelos, causado pela retenção de uma quantidade pequena a moderada de líquido (edema), também é comum.

Complicações

Os indivíduos obesos apresentam um maior risco de adoecer ou de morrer por qualquer doença, lesão ou acidente, e esse risco aumenta proporcionalmente ao aumento da obesidade. O risco também é influenciado pela localização do excesso de gordura. A gordura tende a acumular-se no abdômen (obesidade abdominal) dos homens e nas coxas e nádegas (obesidade da parte inferior do corpo) das mulheres. A obesidade abdominal foi relacionada a um risco muito mais elevado de doença coronariana e com três des seus principais fatores de risco: a hipertensão arterial, o diabetes com início na vida adulta e a concentração alta de gorduras (lipídeos) no sangue.

Desconhece-se a razão pela qual a obesidade abdominal aumenta esses riscos, mas a perda de peso reduz dramaticamente os riscos em indivíduos com obesidade abdominal. Na maioria dos indivíduos hipertensos, a perda de peso reduz a pressão arterial e permite que mais de 50% dos indivíduos que apresentam diabetes na vida adulta interrompam o uso da insulina ou outro tratamento medicamentoso. Certos tipos de câncer são mais comuns nos indivíduos obesos que naqueles que não o são. Eles incluem o câncer da mama, de útero e de ovário nas mulheres e o câncer de cólon, de reto e de próstata nos homens. Os distúrbios menstruais também são mais comuns e as colecistopatias (doenças da vesícula biliar) ocorrem três vezes mais freqüentemente nos obesos.

Diagnóstico e Tratamento

Embora a obesidade seja evidente, a sua extensão é determinada pela mensuração da altura e peso. Freqüentemente, essas medidas são convertidas no índice de massa corpórea, o peso (em quilogramas) dividido pela altura (em metros quadrados). Um valor superior a 27 indica obesidade leve, enquanto que um valor de 30 ou mais indica a necessidade de tratamento. Paradoxalmente, as mulheres que apresentam obesidade da parte inferior do corpo, a qual tem um risco muito menor de acarretar um problema de saúde, procuram tratamento para a obesidade em uma proporção oito vezes maior que os homens. A obesidade não tratada tende a piorar, mas os efeitos a longo prazo do tratamento são desapontadores. Embora tenham sido realizados progressos consideráveis para ajudar os indivíduos a diminuir de peso, este geralmente é recuperado em 3 anos.

As preocupações sobre o fato da recuperação do peso (denominada ciclagem do peso) provoca vários problemas de saúde são infundadas, de modo que essas preocupações não devem impedir que os indivíduos obesos tentem perder peso. Para perder peso, os indivíduos obesos devem consumir menos calorias do que as despendidas. Os métodos utilizados para atingir esse objetivo podem ser classificados em três grupos: autoajuda, no qual os indivíduos, sozinhos ou em grupos com interesses comuns, utilizam informações provenientes de livros ou de outras fontes; programas não clínicos fornecidos por conselheiros que não são profissionais da saúde licenciados; e programas clínicos fornecidos por profissionais licenciados da área da saúde. A maioria dos programas de controle de peso baseiam-se na mudança comportamental.

Normalmente, as dietas são consideradas menos importantes que as alterações permanentes dos hábitos alimentares e do exercício físico. Os programas reconhecidos ensinam os indivídos como realizar alterações seguras, sensatas e graduais dos hábitos alimentares que aumentam o consumo de carboidratos complexos (frutas, vegetais, pães e massas) e diminuem o consumo de gorduras. Para os indivíduos com obesidade leve, recomenda-se apenas uma restrição modesta de calorias e gorduras dietéticas. Para aqueles que apresentam obesidade moderada e desejam perder peso mais rapidamente, foram desenvolvidos programas baseados em dietas com um baixo conteúdo calórico, isto é, de 800 calorias diárias ou menos. Essas dietas são seguras quando supervisionadas por um médico.

No entanto, o entusiasmo por essas dietas diminuiu porque elas são caras e os indivíduos tendem a recuperar o peso ao deixarem de segui-las. De modo crescente, os médicos vêm prescrevendo medicamentos para reduzir o peso corpóreo. Geralmente, esse tipo de medicamento reduz o peso em aproximadamente 10% em seis meses e mantêm a perda de peso enquanto o seu uso for mantido. Quando o indivíduo interrompe o seu uso, o peso é imediatamente recuperado. As muitas complicações graves da obesidade grave (mais de 100% de sobrepeso) tornam o tratamento importante e a cirurgia vem se tornando o tratamento de escolha.

A cirurgia, geralmente para reduzir o tamanho do estômago e, conseqüentemente, a quantidade de alimento que pode ser consumido de uma vez, pode acarretar grandes perdas de peso, as quais comumente chegam a atingir a medade do sobrepeso do indivíduo, geralmente de 36 a 68 quilos. Inicialmente, a perda de peso é rápida e, em seguida, diminui gradualmente durante dois anos, até atingir um nível que, com freqüência, é mantdo. Geralmente, a perda alivia as complicações e melhora o humor, a auto-estima, a imagem corpórea, o nível de atividade e a capacidade laborativa e de relacionamento interpessoal do indivíduo. A cirurgia deve ser reservada aos indivíduos com obesidade grave e somente é realizada dentro de determinados programas especializados nesse tipo de cirurgia e que tenham demonstrado segurança e eficácica suficientes. Nesses programas, a cirurgia é geralmente bem tolerada. Menos de 10% desses pacientes de alto risco apresentam complicações decorrentes da cirurgia e 1% ou menos morre.

Obesidade na Adolescência

Os fatores que influenciam a obesidade de adolescentes são os mesmos que os dos adultos. Freqüentemente, o adolescente com obesidade leve ganha peso rapidamente e torna-se substancialmente obeso em poucos anos. Muitos adolescentes obesos possuem uma auto-imagem desfavorável e tornam-se progressivamente mais sedentários e socialmente isolados. Freqüentemente, os pais não sabem como ajudá-los. Não existem muitas opções terapêuticas disponíveis para os adolescentes obesos. Há poucos programas comerciais elaborados especificamente para os adolescentes, poucos médicos com experiência no tratamento específico de adolescentes e a experiência com o uso de medicamentos que possam ajudá-los é limitada.

As escolas proprorcionam várias oportunidades para a educação nutricional e para a atividade física. No entanto, esses programas raramente se preocupam o suficiente em ensinar aos adolescentes como controlar a obesidade. Quando a obesidade é grave, a cirurgia algumas vezes é realizada. A modificação comportamental pode ajudar os adolescentes no controle da obesidade. Ela consiste na redução da ingestão calórica através da instituição de uma dieta bem balanceada composta por alimentos comuns, em mudanças pernanentes dos hábitos alimentares e no aumento da atividade física (p.ex., marcha, ciclismo, natação, dança). Os acampamentos de verão para adolescentes obesos normalmente os ajudam a perder uma quantidade significativa de peso. No entanto, se não for mantido um \esforço contínuo, o peso é comumente recuperado. Um programa de aconselhamento para ajudar os adolescentes a enfrentar seus problemas e a sua má auto-estima pode ser útil.

Fonte: Manual Merck