ENFERMAGEM, CIÊNCIAS E SAÚDE

Gerson de Souza Santos - Bacharel em Enfermagem, Especialista em Saúde da Família, Mestrado em Enfermagem, Doutorado em Ciências da Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Atualmente professor do Curso de Medicina do Centro Universitário Ages - Irecê-Ba.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

ENVELHECIMENTO DO CORPO


A expectativa média de vida aumentou significativamente nos Estados Unidos. Uma criança do sexo masculino nascida em 1900 apresentava uma expectativa de vida de apenas 46 anos, enquanto que uma criança do mesmo sexo nascida hoje pode viver mais de 72 anos. Uma criança do sexo feminino nascida em 1900 apresentava uma expectativa de vida de aproximadamente 48 anos, enquanto que uma nascida atualmente pode esperar viver cerca de 79 anos. Apesar do aumento da expectativa média de vida, o período máximo de vida – a idade mais avançada alcançada pelas pessoas – alterou pouco desde que esse tipo de registro vem sendo realizado. Apesar do maior conhecimento sobre a constituição genética e da melhoria dos cuidados médicos, ninguém parece ter vivido além dos 120 anos.

Teorias do Envelhecimento

Todas as espécies envelhecem e sofrem alterações notáveis desde o nascimento até a morte. Os cientistas desenvolveram teorias tentando explicar a razão pela qual as pessoas envelhecem, embora nenhuma delas tenha sido comprovada. Em última instância, podem ser extraídas de cada teoria explicações da razão das pessoas envelhecerem e morrerem. No caso da teoria do envelhecimento programado, a velocidade com que uma espécie envelhece é predeterminada por seus genes. Os genes determinam quanto tempo as células viverão.

À medida que as células morrem, os órgãos começam a apresentar um mal funcionamento e, finalmente, não conseguem manter as funções biológicas necessárias para a manutenção da vida. O envelhecimento programado ajuda na preservação da espécie; os membros mais idosos morrem em uma velocidade que permite o espaço para os mais jovens. A teoria dos radicais livres propõe que as células envelhecem em decorrência de danos acumulados devidos às reações químicas que ocorrem no interior das células.

Durante essas reações, são produzidas toxinas denominadas radicais livres. Os radicais livres terminam lesando as células e fazendo com que o indivíduo envelheça. Com o passar do tempo, mais e mais lesões são causadas, até muitas células não funcionarem normalmente ou morrerem. Quando isso acontece, o organismo também morre. Espécies diferentes envelhecem em velocidades diferentes, dependendo de como as células produzem e respondem aos radicais livres.

Alterações Corpóreas

Com o envelhecimento, ocorre uma alteração de vários aspectos perceptíveis do organismo O primeiro sinal de envelhecimento talvez seja quando o olho não consegue focalizar com facilidade objetos próximos (presbiopia). Freqüentemente, em torno dos 40 anos de idade, muitas pessoas acham difícil ler sem usar óculos. A audição também altera com a idade. As pessoas tendem a perder parte da capacidade de ouvir as tonalidades mais agudas (presbiacusia).

Por isso, algumas pessoas idosas acham que a música de um violino já não soa de modo tão emocionante quanto na juventude. Do mesmo modo, como a maioria das consoantes fechadas são emitidas com tonalidades agudas (sons como k, t, s, p e ch), as pessoas mais idosas podem pensar que seus interlocutores estão murmurando. Na maioria das pessoas, a proporção de gordura corpórea aumenta em mais de 30% com o envelhecimento.

A distribuição da gordura também muda: há uma menor quantidade de gordura sob a pele e uma maior quantidade na área abdominal. Conseqüentemente, a pele torna-se mais delgada, enrugada e frágil e a forma do tronco muda. Não é surpreendente que a maioria das funções internas também altere ao longo do tempo. Em geral, essas funções atingem seu ápice um pouco antes dos 30 anos e, em seguida, sofrem um declínio gradual, porém contínuo. Entretanto, mesmo frente a esse declínio, a maioria das funções permanece adequada durante toda a vida, pois quase todos os órgãos possuem uma capacidade funcional consideravelmente superior às necessidades do organismo (reserva funcional).

Por exemplo, mesmo que metade do fígado seja destruída, permanecerá uma quantidade de tecido hepático mais que suficiente para manter o funcionamento normal. Geralmente as doenças são responsáveis pela perda da função nas pessoas idosas, mais do que o envelhecimento normal. Mesmo assim, o declínio na função significa que as pessoas com mais idade estão mais sujeitas a efeitos adversos com o uso de medicamentos, mudanças de ambiente, toxinas e doenças.

Embora o declínio da função de muitos órgãos tenha pouco efeito sobre o modo de vida dos indivíduos, o declínio de certos órgãos pode afetar significativamente a saúde e o bem-estar. Por essa razão, apesar da quantidade de sangue que o coração bombeia em repouso não sofrer grande redução na pessoa idosa, o coração não consegue bombear o suficiente quando forçado ao máximo. Isto significa que atletas idosos não são capazes de apresentar desempenhos tão bons como os atletas mais jovens.

As alterações da função renal podem afetar drasticamente o modo com que as pessoas idosas são capazes de eliminar certas drogas do organismo. É difícil se determinar com exatidão quais alterações estão exclusivamente relacionadas ao envelhecimento e quais são decorrentes do estilo de vida do indivíduo. Um estilo de vida sedentário, uma alimentação inadequada, o fumo e o abuso do álcool e de drogas podem causar danos a muitos órgãos ao longo do tempo, freqüentemente de forma mais intensa que o processo de envelhecimento. Os indivíduos que se expuseram a toxinas podem apresentar uma redução mais importante ou mais rápida da função de alguns órgãos, especialmente os rins, os pulmões e o fígado.

As pessoas que trabalham em ambientes altamente ruidosos podem apresentar redução da capacidade auditiva. Algumas alterações podem ser evitadas com a mudança para um estilo de vida mais saudável. A interrupção do tabagismo, mesmo aos 80 anos de idade, ajuda a melhorar o funcionamento pulmonar e reduz a chance de desenvolver câncer pulmonar. Exercícios com sustentação do peso ajudam a manter a força dos músculos e ossos, independentemente da idade do indivíduo.

Como o Corpo Altera com a Idade


  • Diminução do fluxo sangüíneo para os rins, fígado e o cérebro
  • Diminuição da capacidade dos rins de eliminar toxinas e medicamentos
  • Diminuição da capacidade do fígado de eliminar toxinas e metabolizar a maioria dos medicamentos
  • Diminuição da freqüência cardíaca máxima, mas sem alteração da freqüência cardíaca em repouso
  • Diminuição do débito cardíaco (saída de sangue do coração) máximo
  • Diminuição da tolerância à glicose
  • Diminuição da capacidade pulmonar demobilização do ar
  • Aumento da quantidade de ar retido nos pulmões depois de uma expiração
  • Diminuição da função celular de combate às infecções

Implicações da Doença

A geriatria é a especialidade médica que se ocupa das pessoas idosas e suas doenças. A gerontologia é o estudo do envelhecimento. Não há idade específica na qual uma pessoa tornase “idosa”, embora, tradicionalmente, ela tenha sido estabelecida como sendo de 65 anos, pelo fato de ser quando os trabalhadores adultos costumam aposentar.

Diversos distúrbios, às vezes denominados síndromes geriátricas ou doenças geriátricas, ocorrem quase que exclusivamente em adultos idosos. Outros distúrbios afetam pessoas de todas as idades, sendo, no entanto, mais graves ou causando sintomas ou complicações diferentes nas pessoas idosas. Com freqüência, as pessoas idosas padecem de uma doença de forma diferente à das pessoas mais jovens.

Uma doença pode causar sintomas diferentes em pessoas idosas. Por exemplo, uma glândula tireóide hipoativa habitualmente faz com que pessoas mais jovens ganhem peso e tornem-se mais lentas. Em uma pessoa idosa, a tireóide hipoativa também pode provocar confusão mental, a qual pode ser confundida com a demência. Já uma tireóide hiperativa faz com que as pessoas mais jovens tornem-se agitadas e apresentem perda de peso, enquanto que, nos idosos, ela pode causar sonolência, isolamento, depressão e confusão mental.

Em geral, a depressão faz com que adultos jovens tornem-se propensos ao choro, à retração e demonstrem tristeza. Nas pessoas idosas, a depressão algumas vezes acarreta confusão mental e perda de memória, podendo ser equivocadamente interpretado como demência. Antigamente, as doenças agudas, como o infarto do miocárdio, as fraturas do quadril e as pneumonias, quase sempre resultavam na morte de idosos. Hoje, essas doenças são tratáveis e controláveis, mesmo que elas não sejam curáveis. Por sua vez, uma doença crônica não significa necessariamente incapacidade.

Atualmente, muitas pessoas com diabetes, problemas renais, cardiopatias e outras doenças crônicas perceberam que podem manter-se funcionais, ativas e independentes. Fatores sociológicos e econômicos costumam influenciar a forma com que as pessoas idosas procuram e recebem cuidados médicos.

Muitos idosos tendem a ocultar pequenos problemas de saúde e não procuram ajuda médica até que estes se tornem realmente graves. As pessoas idosas tendem a apresentar mais de uma doença concomitantemente, sendo que uma pode exercer influência sobre a outra. Por exemplo, a depressão pode piorar a demência e o diabetes pode agravar uma infecção. Outros fatores sociológicos complicam a doença nas pessoas idosas. Quando a doença causa alguma perda temporária ou permanente da independência, a pessoa idosa pode tornar-se deprimida, passando a necessitar de auxílio psicológico e de um serviço social.

Por essas razões, é comum os geriatras recomendarem o tratamento multidisciplinar. Com esse tipo de tratamento, a equipe clínica, a qual pode ser formada por médicos, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas, farmacêuticos e psicólogos, planeja e implementa o tratamento sob a liderança do médico principal.

Distúrbios que Afetam Principalmente as Pessoas Idosas


Moléstia ou Distúrbio
Explicação
Moléstia ou Distúrbio
Explicação

Doença de Alzheimer e outras demências
Distúrbios cerebrais que acarretam a perda progressiva da memória e de outras funções intelectuais
Osteoartrite
Degeneração da cartilagem que reveste as articulações, causando dor

Úlceras de decúbito
Lesões da pele em decorrência da pres-
são prolongada
Osteoporose
Perda de cálcio dos ossos, que os tornam frágeis e pode acarretar fraturas

Hiperplasia benigna da próstata
Aumento da próstata (nos homens), que bloqueia o fluxo urinário
Doença de Parkinson
Doença cerebral degenerativa e lentamente progressiva que acarreta tremores, rigidez muscular, dificuldade nos movimentos e instabilidade postural

Catarata
Opacificação do crista-lino, com comprometi-mento da visão
Câncer de próstata
Câncer da glândula prostática (nos homens)

Leucemia linfocítica crônica
Tipo de leucemia
Herpes zoster
Reativação do vírus da catapora latente, produzindo uma erupção cutânea e podendo acarretar dor prolongada

Diabetes tipo 2 (início na vida adulta)
Tipo de diabetes que pode não exigir o tratamento com insu-
lina
Acidente Vascular Cerebral

Obstrução ou sangramento de um vaso sangüíneo do cérebro, acarretando fraqueza, perda de sensibilidade, dificuldade para falar ou outros problemas neurológicos

Glaucoma
Aumento da pressão
em uma das câmaras
do olho, podendo re-duzir a visão e causar cegueira
Incontinência urinária
Incapacidade de controlar a micção

Gamopatias monoclonais
Grupo de doenças diversas caracteriza-
das pela proliferação anormal de um mes-
mo tipo de célula que produz níveis elevados de uma imunoglobulina