O avanço do conhecimento científico dos fenômenos físicos em obstetrícia tem proporcionado habilidades fundamentais a médicos e enfermeiros, permitindo-lhes a prática de atendimento que gera, realmente, estado de confiança maior na mulher. No entanto, as condutas baseadas somente nos aspectos físicos não são suficientes. Elas necessitam ser potencializadas, especialmente pela compreensão dos processos psicológicos que permeiam o período grávido-puerperal, notadamente, no caso de gestantes adolescentes que, pelas especificidades psicossociais da etapa evolutiva, vivenciam sobrecarga emocional trazida pela gravidez. Nesse sentido, faz-se necessário que o profissional de saúde aborde a mulher na sua inteireza, considerando a sua história de vida, os seus sentimentos e o ambiente em que vive, estabelecendo uma relação entre sujeito e sujeito e valorizando a unicidade e individualidade de cada caso e de cada pessoa. Muitos dos sintomas físicos manifestos mascaram problemáticas subjacentes. Por isso, em vez de fazer uma série de rápidas perguntas, específicas e fechadas, é importante encorajar a mulher a falar de si. Essa abordagem é chamada de “entrevista centrada na pessoa”. Saber ouvir é tão importante quanto saber o que dizer, pois essa habilidade pode ser crucial para a elaboração de um diagnóstico correto. Outra habilidade importante de ser desenvolvida pelos profissionais de saúde é a empatia, que se refere à habilidade de compreender a realidade de outra pessoa, mesmo quando não se teve as mesmas experiências. Uma presença sensível infunde serenidade e confiança à mulher. Hoje, os aspectos emocionais da gravidez, do parto e do puerpério são amplamente reconhecidos, e a maioria dos estudos converge para a idéia de que esse período é um tempo de grandes transformações psíquicas, de que decorre importante transição existencial. O presente objetivo aqui, portanto, é enumerar alguns desses aspectos emocionais – ansiedades, medos e mudanças nos vínculos afetivos – e sugerir formas possíveis de abordá-los no espaço de interação do profissional com a gestante, visando, principalmente, aliviar e trabalhar os problemas mais emergentes.
NA PRIMEIRA CONSULTA DE PRÉ-NATAL
NA PRIMEIRA CONSULTA DE PRÉ-NATAL
Ao procurar o profissional para a primeira consulta de pré-natal, pressupõese que a mulher já pôde refletir sobre o impacto do diagnóstico da gravidez. Nesse momento, de certa maneira, já ocorreram decisões conscientes quanto a dar continuidade à gestação. No entanto, existem inseguranças e, no primeiro contato com o profissional, a gestante busca:
• Confirmar sua gravidez;
• Amparar suas dúvidas e ansiedades;
• Certificar-se de que tem bom corpo para gestar;
• Certificar-se de que o bebê está bem;
• Apoiar-se para seguir nessa “aventura”.
É importante que o profissional de saúde:
• Reconheça o estado normal de ambivalência com relação à gravidez. Toda gestante quer e não quer estar grávida. É um momento em que muitas ansiedades e medos primitivos afloram, daí a necessidade de compreender essa circunstância, sem julgamentos;
• Acolha as dúvidas que surjam na gestante quanto à sua capacidade de
gerar um bebê saudável, de vir a ser mãe e desempenhar esse novo papel
de forma adequada;
• Reconheça as condições emocionais dessa gestação: se a gestante tem
um companheiro ou está sozinha, se tem outros filhos, se conta com o
apoio da família, se teve perdas gestacionais, se desejou conscientemente
engravidar e se planejou a gravidez. Enfim, o contexto em que essa
gravidez ocorreu e as repercussões dela na gestante;
• Compreenda esse estado de maior vulnerabilidade psíquica da gestante
para acolhê-la, sem banalizar suas queixas;
• Perceba que a gestante pode estar buscando figura de apoio; assim, o
profissional fica muito idealizado e, por isso, passa a ser constantemente
procurado, às vezes por dúvidas que possam ser insignificantes para ele,
mas terrivelmente ameaçadoras para ela;
• Estabeleça relação de confiança e respeito mútuos;
• Proporcione espaço na consulta para a participação do parceiro, para que
ele possa, também, se envolver no processo gravídico-puerperal ativamente,
favorecendo equilíbrio adequado nas novas relações estabelecidas com a
chegada de um novo membro à família.
NAS CONSULTAS SUBSEQÜENTES
Dando continuidade ao pré-natal, observam-se, ao longo da gestação, algumas
• Confirmar sua gravidez;
• Amparar suas dúvidas e ansiedades;
• Certificar-se de que tem bom corpo para gestar;
• Certificar-se de que o bebê está bem;
• Apoiar-se para seguir nessa “aventura”.
É importante que o profissional de saúde:
• Reconheça o estado normal de ambivalência com relação à gravidez. Toda gestante quer e não quer estar grávida. É um momento em que muitas ansiedades e medos primitivos afloram, daí a necessidade de compreender essa circunstância, sem julgamentos;
• Acolha as dúvidas que surjam na gestante quanto à sua capacidade de
gerar um bebê saudável, de vir a ser mãe e desempenhar esse novo papel
de forma adequada;
• Reconheça as condições emocionais dessa gestação: se a gestante tem
um companheiro ou está sozinha, se tem outros filhos, se conta com o
apoio da família, se teve perdas gestacionais, se desejou conscientemente
engravidar e se planejou a gravidez. Enfim, o contexto em que essa
gravidez ocorreu e as repercussões dela na gestante;
• Compreenda esse estado de maior vulnerabilidade psíquica da gestante
para acolhê-la, sem banalizar suas queixas;
• Perceba que a gestante pode estar buscando figura de apoio; assim, o
profissional fica muito idealizado e, por isso, passa a ser constantemente
procurado, às vezes por dúvidas que possam ser insignificantes para ele,
mas terrivelmente ameaçadoras para ela;
• Estabeleça relação de confiança e respeito mútuos;
• Proporcione espaço na consulta para a participação do parceiro, para que
ele possa, também, se envolver no processo gravídico-puerperal ativamente,
favorecendo equilíbrio adequado nas novas relações estabelecidas com a
chegada de um novo membro à família.
NAS CONSULTAS SUBSEQÜENTES
Dando continuidade ao pré-natal, observam-se, ao longo da gestação, algumas
ansiedades típicas, que podem ser percebidas de acordo com o período gestacional.
Primeiro trimestre:
• Ambivalência (querer e não querer a gravidez);
• Medo de abortar;
• Oscilações do humor (aumento da irritabilidade);
• Primeiras modificações corporais e alguns desconfortos: náuseas,
sonolência, alterações na mama e cansaço;
• Desejos e aversões por determinados alimentos.
Segundo trimestre:
• Introspecção e passividade;
• Alteração do desejo e do desempenho sexual;
• Alteração da estrutura corporal, que, para a adolescente, tem uma
repercussão ainda mais intensa;
• Percepção dos movimentos fetais e seu impacto (presença do filho é
concretamente sentida).
Terceiro trimestre:
• As ansiedades intensificam-se com a proximidade do parto;
• Manifestam-se mais os temores do parto (medo da dor e da morte);
• Aumentam as queixas físicas.
É importante que o profissional:
• Evite o excesso de tecnicismo, estando atento, também, para essas características comuns das diferentes etapas da gravidez, criando condições para escuta acolhedora, em que os sentimentos bons e ruins possam aparecer;
• Observe e respeite a diferença de significado da ecografia para a mãe e para o médico. Os médicos relacionam a ecografia com embriologia do feto, e os pais, com as características e a personalidade do filho. Eles necessitam ser guiados e esclarecidos, durante o exame, pelo especialista e pelo obstetra;
• Forneça, para alívio das ansiedades da mulher, orientações antecipatórias sobre a evolução da gestação e do parto: contrações, dilatação, perda do tampão mucoso, rompimento da bolsa. Deve-se, no entanto, evitar informações excessivas, procurando transmitir orientações simples e claras e observar o seu impacto em cada mulher, na sua individualidade;
• Prepare a gestante para o parto normal, ajudando a diminuir sua ansiedade e insegurança, assim como o medo do parto, da dor, de o bebê nascer com problemas e outros.
Puerpério:
• Estado de alteração emocional essencial, provisório, em que existe maior vulnerabilidade psíquica, tal como no bebê, e que, por certo grau de identificação, permite às mães ligarem-se intensamente ao recém-nascido, adaptando-se ao contato com ele e atendendo às suas necessidades básicas. A puérpera adolescente é mais vulnerável ainda, portanto necessita
de atenção especial nessa etapa;
• A relação inicial entre mãe e bebê é, ainda, pouco estruturada, com o predomínio de uma comunicação não-verbal e, por isso, intensamente emocional e mobilizadora;
• A chegada do bebê desperta muitas ansiedades, e os sintomas depressivos são comuns;
• O bebê deixa de ser idealizado e passa a ser vivenciado como um ser real e diferente da mãe;
• As necessidades próprias da mulher são postergadas em função das necessidades do bebê;
• A mulher continua a precisar de amparo e proteção, assim como ao longo da gravidez;
• As alterações emocionais no puerpério manifestam-se basicamente das
seguintes formas:
– materno ou baby blues: mais freqüente, acometendo de 50 a 70% das puérperas. É definido como estado depressivo mais brando, transitório, que aparece em geral no terceiro dia do pósparto e tem duração aproximada de duas semanas.
Caracteriza-se por fragilidade, hiperemotividade, alterações do humor, falta de confiança em si própria, sentimentos de incapacidade;
– depressão: menos freqüente, manifestando-se em 10 a 15% das puérperas, e os sintomas associados incluem perturbação do apetite, do sono, decréscimo de energia, sentimento de desvalia ou culpa excessiva, pensamentos recorrentes de morte e ideação suicida, sentimento de inadequação e rejeição ao bebê;
– lutos vividos na transição entre a gravidez e a maternidade;
– perda do corpo gravídico e não retorno imediato do corpo original;
– separação entre mãe e bebê.
• Amamentação:
– medo de ficar eternamente ligada ao bebê;
– preocupação com a estética das mamas;
– “e se não conseguir atender às suas necessidades?”;
– “o meu leite será bom e suficiente?”;
– dificuldades iniciais sentidas como incapacitação.
• Puerpério do companheiro: ele pode se sentir participante ativo ou completamente excluído. A ajuda mútua e a compreensão desses estados podem ser fonte de reintegração e reorganização para o casal;
• Se o casal já tem outros filhos: é bem possível que apareça o ciúme,
a sensação de traição e o medo do abandono, que se traduz em
comportamentos agressivos por parte das outras crianças. Há a necessidade
de rearranjos na relação familiar;
• No campo da sexualidade, as alterações são significativas, pois há
necessidade de reorganização e redirecionamento do desejo sexual,
levando-se em conta as exigências do bebê, as mudanças físicas decorrentes
do parto e da amamentação.
É importante que o profissional:
• Esteja atento a sintomas que se configurem como mais desestruturantes e
que fujam da adaptação “normal” característica do puerpério;
• Leve em conta a importância do acompanhamento no pós-parto imediato
e no puerpério, prestando o apoio necessário à mulher no seu processo de
reorganização psíquica quanto ao vínculo com o seu bebê, nas mudanças
corporais e na retomada do planejamento familiar.
FONTE: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada – manual técnico/Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas – Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
163 p. color. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) – (Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos Caderno nº 5)
Primeiro trimestre:
• Ambivalência (querer e não querer a gravidez);
• Medo de abortar;
• Oscilações do humor (aumento da irritabilidade);
• Primeiras modificações corporais e alguns desconfortos: náuseas,
sonolência, alterações na mama e cansaço;
• Desejos e aversões por determinados alimentos.
Segundo trimestre:
• Introspecção e passividade;
• Alteração do desejo e do desempenho sexual;
• Alteração da estrutura corporal, que, para a adolescente, tem uma
repercussão ainda mais intensa;
• Percepção dos movimentos fetais e seu impacto (presença do filho é
concretamente sentida).
Terceiro trimestre:
• As ansiedades intensificam-se com a proximidade do parto;
• Manifestam-se mais os temores do parto (medo da dor e da morte);
• Aumentam as queixas físicas.
É importante que o profissional:
• Evite o excesso de tecnicismo, estando atento, também, para essas características comuns das diferentes etapas da gravidez, criando condições para escuta acolhedora, em que os sentimentos bons e ruins possam aparecer;
• Observe e respeite a diferença de significado da ecografia para a mãe e para o médico. Os médicos relacionam a ecografia com embriologia do feto, e os pais, com as características e a personalidade do filho. Eles necessitam ser guiados e esclarecidos, durante o exame, pelo especialista e pelo obstetra;
• Forneça, para alívio das ansiedades da mulher, orientações antecipatórias sobre a evolução da gestação e do parto: contrações, dilatação, perda do tampão mucoso, rompimento da bolsa. Deve-se, no entanto, evitar informações excessivas, procurando transmitir orientações simples e claras e observar o seu impacto em cada mulher, na sua individualidade;
• Prepare a gestante para o parto normal, ajudando a diminuir sua ansiedade e insegurança, assim como o medo do parto, da dor, de o bebê nascer com problemas e outros.
Puerpério:
• Estado de alteração emocional essencial, provisório, em que existe maior vulnerabilidade psíquica, tal como no bebê, e que, por certo grau de identificação, permite às mães ligarem-se intensamente ao recém-nascido, adaptando-se ao contato com ele e atendendo às suas necessidades básicas. A puérpera adolescente é mais vulnerável ainda, portanto necessita
de atenção especial nessa etapa;
• A relação inicial entre mãe e bebê é, ainda, pouco estruturada, com o predomínio de uma comunicação não-verbal e, por isso, intensamente emocional e mobilizadora;
• A chegada do bebê desperta muitas ansiedades, e os sintomas depressivos são comuns;
• O bebê deixa de ser idealizado e passa a ser vivenciado como um ser real e diferente da mãe;
• As necessidades próprias da mulher são postergadas em função das necessidades do bebê;
• A mulher continua a precisar de amparo e proteção, assim como ao longo da gravidez;
• As alterações emocionais no puerpério manifestam-se basicamente das
seguintes formas:
– materno ou baby blues: mais freqüente, acometendo de 50 a 70% das puérperas. É definido como estado depressivo mais brando, transitório, que aparece em geral no terceiro dia do pósparto e tem duração aproximada de duas semanas.
Caracteriza-se por fragilidade, hiperemotividade, alterações do humor, falta de confiança em si própria, sentimentos de incapacidade;
– depressão: menos freqüente, manifestando-se em 10 a 15% das puérperas, e os sintomas associados incluem perturbação do apetite, do sono, decréscimo de energia, sentimento de desvalia ou culpa excessiva, pensamentos recorrentes de morte e ideação suicida, sentimento de inadequação e rejeição ao bebê;
– lutos vividos na transição entre a gravidez e a maternidade;
– perda do corpo gravídico e não retorno imediato do corpo original;
– separação entre mãe e bebê.
• Amamentação:
– medo de ficar eternamente ligada ao bebê;
– preocupação com a estética das mamas;
– “e se não conseguir atender às suas necessidades?”;
– “o meu leite será bom e suficiente?”;
– dificuldades iniciais sentidas como incapacitação.
• Puerpério do companheiro: ele pode se sentir participante ativo ou completamente excluído. A ajuda mútua e a compreensão desses estados podem ser fonte de reintegração e reorganização para o casal;
• Se o casal já tem outros filhos: é bem possível que apareça o ciúme,
a sensação de traição e o medo do abandono, que se traduz em
comportamentos agressivos por parte das outras crianças. Há a necessidade
de rearranjos na relação familiar;
• No campo da sexualidade, as alterações são significativas, pois há
necessidade de reorganização e redirecionamento do desejo sexual,
levando-se em conta as exigências do bebê, as mudanças físicas decorrentes
do parto e da amamentação.
É importante que o profissional:
• Esteja atento a sintomas que se configurem como mais desestruturantes e
que fujam da adaptação “normal” característica do puerpério;
• Leve em conta a importância do acompanhamento no pós-parto imediato
e no puerpério, prestando o apoio necessário à mulher no seu processo de
reorganização psíquica quanto ao vínculo com o seu bebê, nas mudanças
corporais e na retomada do planejamento familiar.
FONTE: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada – manual técnico/Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas – Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
163 p. color. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) – (Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos Caderno nº 5)