Ao surgir, tinha como principal grupo de risco os homossexuais masculinos. Com o tempo, passou a atingir também os bissexuais e finalmente os heterossexuais não ficaram livres.
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O Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade de chamar atenção para os problemas e oportunidades singulares que as mulheres enfrentam em todo o mundo. É tanto uma celebração do que se conseguiu até hoje como um lembrete de quanto ainda há por fazer. Este ano, as agências das Nações Unidas estão ressaltando as várias questões ligadas à mulher e à AIDS, que inclusive será o tema de mobilização para a campanha mundial da AIDS de 2004-2005. A doença está prejudicando muitos avanços no desenvolvimento humano, incluindo os esforços para melhorar o status e o bem-estar das mulheres. É hora de se renovar os compromissos feitos em Pequim, em 1995, para fortalecer as mulheres, uma condição necessária para o desenvolvimento e a construção de um futuro sem HIV/AIDS.
Todas as infecções pelo HIV, tanto em mulheres como em homens, demandam igual atenção. Mas o dramático aumento no percentual de mulheres adultas infectadas pelo HIV é especialmente preocupante. Em 1997, 41% dos adultos infectados pelo HIV eram mulheres. Apenas quatro anos depois, essa taxa aumentou para 49,8% e, em 2003, alcançou a marca dos 50%. O padrão de crescimento das taxas de infecção é surpreendente entre mulheres jovens da região do sub-Saara, na África, onde 67% dos infectados entre 15 e 24 anos são mulheres. Mundialmente, quase metade das 14 mil novas infecções por dia em 2003 era em mulheres. E nada indica que essa tendência esteja sendo revertida.
O cenário é ainda mais assustador quando examinamos as conseqüências da epidemia na saúde das mulheres e meninas, nas condições de moradia, oportunidades de vida, status e dignidade. O direito à educação está sendo negado a milhares de garotas que sequer se matricularam ou foram obrigadas a deixar suas escolas para cuidar de parentes doentes ou por causa da pobreza provocada pela AIDS. Vítimas do estigma social e da discriminação, mulheres infectadas são muitas vezes rejeitadas por suas famílias e comunidades e condenadas à pobreza e à exploração antes de uma eventual morte. Os homens são prioridade para receber ajuda onde há tratamento disponível. A exceção pode existir quando a mulher está grávida.
HIV/AIDS é um desastre não só para os indivíduos e suas famílias, mas também para as comunidades como um todo. Alguns países correm o risco de entrar em colapso sob o impacto da epidemia. À medida que as taxas de infecção crescem entre as mulheres, que são o esteio das famílias e comunidades, a ameaça de colapso social também aumenta.
Assim, quando celebramos as realizações das mulheres e chamamos a atenção mundial para sua difícil situação, devemos aprender com essas tendências e desenvolver respostas sensíveis nas questões de gênero para a luta contra HIV/AIDS. Uma lição chave é que os métodos de prevenção e proteção existentes estão falhando com mulheres e meninas e continuarão ineficazes se a causa real da infecção não for trabalhada. Mulheres estão se infectando primeiramente por causa de sua aguda vulnerabilidade social. A falta de direitos e poder das mulheres em relação ao rendimento familiar, propriedade, escolhas de vida e até seus próprios corpos facilita a rápida difusão do vírus HIV/AIDS.
É necessário levar em conta as várias dimensões sócio-culturais na vulnerabilidade feminina e colocá-las no centro de nossas políticas e ações. Isso é particularmente importante na área de educação preventiva, que é a área de ação privilegiada pela UNESCO. A educação preventiva deveria fazer parte do aprendizado dentro e fora das escolas para todos os jovens e ser uma experiência de fortalecimento para homens e mulheres ao longo da vida. Para o máximo de impacto, ela deveria estar relacionada ao acesso à informação e aos recursos que ajudam a minimizar os riscos de infecção por HIV.
A expansão geral da educação - formal, não formal e informal - dá força para que homens e mulheres melhorem suas vidas e reduzam os riscos que têm pela frente. Mulheres educadas estão melhor preparadas para reivindicar seus direitos e, assim, ficarem livres da infecção pelo HIV. Em muitos dos países mais atingidos, mulheres educadas estão na linha de frente da mobilização da comunidade contra o vírus HIV/AIDS. Alcançar as metas do Programa Educação Para Todos, principalmente os compromissos relacionados à igualdade de gêneros, é uma contribuição vital para a prevenção do HIV. O fortalecimento por meio da educação contribui para a construção de relações seguras baseadas na igualdade de gêneros, respeito mútuo e consentimento.
O vírus HIV/AIDS é o flagelo mais mortal dos tempos modernos. É uma tragédia humana para as vítimas, para os infectados pelo vírus e para aqueles afetados pela doença, discriminação e morte. O impacto do HIV/AIDS nas mulheres agrava a desigualdade e mina o progresso em direção aos direitos humanos universais. Combatendo o vírus HIV/AIDS, podemos ajudar a construir um mundo com dignidade humana tanto para homens como para mulheres. A UNESCO está comprometida a desempenhar sua parte para enfrentar esse desafio.
*Koïchiro Matsuura é diretor geral da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)