terça-feira, 22 de novembro de 2016

Ministério da Saúde amplia acesso a diagnóstico e cuidado das gestantes e bebês


A partir de agora, os bebês cujas mães foram infectadas pelo vírus zika durante a gestação passam a ser acompanhados até os três anos de idade. Além da medida da cabeça, principal critério para notificação de microcefalia, outras malformações decorrentes do vírus serão investigadas. O cuidado com as gestantes também será ampliado. O Ministério da Saúde recomenda uma segunda ultrassonografia no pré-natal para identificar alterações neurológicas durante a gestação. Assim, o exame deverá ser realizado no primeiro trimestre, como já era previsto, e repetido por volta do sétimo mês de gravidez. Os repasses federais para esse atendimento serão de R$ 52,6 milhões por ano.
As medidas, anunciadas um ano depois da declaração de emergência de saúde por causa da microcefalia, atendem às recentes evidências científicas sobre os efeitos do zika na formação do bebê durante a gestação. A ampliação do período para o diagnóstico possibilita a inclusão de mais crianças no monitoramento da síndrome congênita associada à infecção pelo vírus, qualificando a vigilância. Além da microcefalia, já foram identificadas outras malformações, como problemas na visão, audição ou nos membros. Essas alterações podem ser observadas nos três primeiros anos do bebê, período fundamental para o seu desenvolvimento.
Clique na imagem e confira apresentação com balanço de 1 ano com o zika
De acordo com o ministro da Saúde, Ricardo Barros, a recomendação de realização da segunda ultrassonografia obstétrica durante o pré-natal, em torno da 30ª semana gestacional, será importante para identificar, antes do nascimento, alterações no desenvolvimento do feto. Durante o anúncio da nova recomendação, nesta sexta-feira (18), o ministro assinou portaria que libera R$ 52,6 milhões para o custeio de 2,1 milhões de exames neste período gestacional. A quantidade atende todas as mulheres que fazem o acompanhamento da gestação no Sistema Único de Saúde (SUS).
“A realização da segunda ultrassonografia no SUS e os novos investimentos em serviços de reabilitação, associados ao acompanhamento até os três anos dos bebês de mães submetidas ao vírus zika, vão permitir uma assistência mais qualificada tanto para os que tiveram a microcefalia identificada ao nascimento quanto, agora, para os que apresentarem consequências dessa infecção identificadas ao longo deste primeiro período da vida, ampliando a oportunidade de desenvolvimento”, afirmou o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
A investigação dos casos nas gestantes e nos bebês também será reforçada com a disponibilidade do Teste Rápido de Zika, que mostra se já houve infecção pelo vírus. Em outubro deste ano, o Ministério da Saúde anunciou a compra de 3,5 milhões de testes e o primeiro lote, de 2,5 milhões, chega até o fim do ano. O investimento na aquisição foi de R$ 119 milhões.
O ministro reforçou também a importância das ações de prevenção e enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, do vírus zika e da febre chikungunya. Ele convocou a população para manter a mobilização de combate ao vetor, especialmente às sextas-feiras, dia escolhido para intensificação das ações. No próximo dia 2 de dezembro haverá o Dia D de Mobilização contra o mosquito Aedes aegypti. “O engajamento de todos os cidadãos, assim como a continuidade do bom trabalho desenvolvido pelo setor público, com as forças de combate e agentes de saúde, é fundamental para continuarmos avançando na eliminação do mosquito e na garantia de mais segurança para a população”, alertou Ricardo Barros.
Assistência
A rede de reabilitação vinculada ao SUS conta com 1.541 serviços, sendo 147 Centros Especializados em Reabilitação (CER), que trabalham com a estimulação precoce e a reabilitação dos bebês, 4.375 Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF, que apoiam o atendimento da estimulação precoce), 2.338 Centros de Apoio Psicossocial (Caps, que atendem as famílias das crianças). Até dezembro, haverá a habilitação de 16 novos serviços, por meio do Plano Estratégico de Apoio aos Estados e Municípios, que tem o objetivo de melhorar a capacidade de atendimento das crianças e suas famílias, no contexto da epidemia do vírus zika.
Além das habilitações, a proposta deste programa é ampliar a resposta de profissionais e gestores à demanda assistencial, com a realização de encontros locais e regionais, e um processo de apoio para a realização de ações que deverão estar previstas em cada plano de ação municipal e estadual definidas nos eixos: 1) saúde sexual e saúde reprodutiva; 2) atenção as crianças com microcefalia ou alteração do sistema nervoso central; 3) cuidado as famílias; e 4) capacitação permanente.
Orientação para o cuidado
Serão utilizados como instrumentos para qualificar o atendimento os novos manuais desenvolvidos pelo Ministério da Saúde, como a Unificação de protocolos de Vigilância e de Atenção à Saúde e Resposta à Ocorrência de Microcefalia relacionada à infecção pelo Vírus Zika. Este documento aponta novas orientações para qualificar a atenção e a vigilância, modificando a definição de caso, ampliando os casos a serem notificados e investigados. Agora, não serão somente as crianças com suspeita de microcefalia que serão investigadas, mas também aquelas com outras malformações, como craniofaciais, comprometimento de membros, perda de visão e audição, entre outras.
O Ministério também está ofertando aos profissionais a nova versão das Diretrizes de Estimulação Precoce: crianças de 0 a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor (2ª edição), que atualiza as iniciativas de cuidado para os recém-nascidos com alterações neurológicas decorrentes do vírus zika. Também será voltado aos profissionais o Guia para abordagem do desenvolvimento neuropsicomotor pelas equipes de Atenção Básica, Saúde da Família e Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) no contexto da Síndrome Congênita por Zika, um material de orientação para qualificar profissionais da Atenção Básica para o cuidado às crianças com alterações no desenvolvimento psicomotor, reforçando que muitos cuidados podem ser realizados na atenção básica, presente em todos os municípios.
Clique na imagem e veja vídeo com detalhes do manual: 'O cuidado às crianças em desenvolvimento'
Também direcionado à ampliação da assistência, o Ministério desenvolveu O Cuidado às Crianças em Desenvolvimento: orientações para famílias e cuidadores, que oferece informações às famílias e cuidadores dos bebês, com práticas simples, de cuidado e estimulação, que podem ser aplicadas em casa, no dia a dia, como massagens e estímulos orofaciais para a amamentação (crianças a partir de 3 meses podem perder o estímulo natural de sucção). As práticas não dispensam os tratamentos por profissionais de saúde.

Fonte:  https://agencia.fiocruz.br/

Estudo inédito alerta para vetor de Chagas no ambiente urbano

Vetores reconhecidos da doença de Chagas, insetos triatomíneos da espécie Triatoma maculataforam foram identificados, pela primeira vez, colonizando um ambiente domiciliar no Brasil. O achado inédito é relatado na edição de novembro da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. No artigo, os cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), da Universidade Federal de Roraima, da Secretaria estadual de Saúde de Roraima e do Núcleo de Entomologia do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami contam que 127 triatomíneos, popularmente conhecidos como barbeiros, foram encontrados no interior de um tijolo em um nicho de ar condicionado em um condomínio residencial em Boa Vista, Roraima. Segundo os autores, a descoberta inesperada aponta para um possível aumento do risco de transmissão do agravo no ambiente urbano. Além disso, considerando a associação do T. maculata com pombos, o estudo reforça a importância de manejo adequado desses animais.
De acordo com os pesquisadores, a identificação de barbeiros em diferentes fases de desenvolvimento, desde ovos até adultos, mostra que a colônia estava estabelecida no ambiente urbano (foto: Alice Ricardo-Silva et al)

Entre os dez artigos publicados na edição, destaca-se ainda uma pesquisa que traça um panorama internacional da oferta de cursos na área da biologia de vetores. Liderado pelo Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais (TDR, na sigla em inglês), ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS), e pela Universidade de Tours, na França, o trabalho revela desafios, como a concentração regional e o baixo uso de tecnologias de ensino à distância. O estudo também sugere soluções para o problema, incluindo a criação de um portal mundial com informações para orientar os estudantes, que deve ser apoiado pelo TDR. Todos os artigos publicados no periódico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz podem ser acessados gratuitamente online. A seguir, confira mais sobre as pesquisas em destaque.
Infestação em condomínio residencial
A identificação de 127 insetos triatomíneos em um edifício residencial em Boa Vista, Roraima, é o primeiro relato de colonização domiciliar por insetos da espécie T. maculata no Brasil. O achado foi realizado durante uma aula prática de entomologia, em setembro de 2015. O condomínio foi escolhido como local para coleta devido a relatos de moradores sobre a presença de barbeiros. No entanto, a descoberta da infestação massiva em um imóvel com boas condições de construção surpreendeu os pesquisadores. “O fato de que barbeiros T. maculata podem viver em nichos externos em paredes bem rebocadas da habitação humana é um fato novo na epidemiologia da doença de Chagas nas Américas que não deve ser negligenciado”, ressaltam os autores no artigo.
Vetores reconhecidos do parasito Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, os barbeiros T. maculata estão presentes na Colômbia, Guiana, Suriname e Venezuela, além de Roraima, no Brasil. Geralmente, os insetos são detectados no entorno dos domicílios; em ninhos de pássaros, principalmente pombos; galinheiros; chiqueiros e currais. No caso relatado no estudo, os insetos foram encontrados em um condomínio de uma área residencial urbanizada, limitada por uma floresta secundária. Os 127 barbeiros estavam dentro de um tijolo em um nicho de ar condicionado de concreto, no qual também havia presença de pombos. A identificação de insetos em diferentes fases de desenvolvimento, desde ovos até adultos, mostra que a colônia estava estabelecida.
Embora os barbeiros tenham sido encontrados na fachada externa do edifício, os pesquisadores observaram que muitos nichos de ar condicionado eram separados do interior dos apartamentos apenas por papelões e moradores relataram já terem avistado triatomíneos dentro dos imóveis. Considerando a proximidade frequente entre ninhos de pombos e residências, os cientistas avaliam que a capacidade do T. maculata para colonizar imóveis pode aumentar o risco de transmissão da doença de Chagas no ambiente urbano. “A possibilidade de expansão da distribuição geográfica de T. maculata por meio de transporte passivo por pombos, a possibilidade de encontrar animais infectados pelo T. cruzi e a colonização da habitação humana são importantes fatores de risco para a transmissão vetorial urbana de T. cruzi que devem ser abordados com o devido cuidado e urgência”, destacam.
A Secretaria estadual de Saúde se responsabilizou pelos procedimentos de desinfestação. Os triatomíneos coletados na pesquisa ainda serão analisados para verificar a possibilidade de infecção pelo T. cruzi. Acesse o estudo.
Caminhos para aprimorar formação
Considerando a carência de especialistas em biologia de vetores e a importância desses profissionais para o enfrentamento de doenças como malária, zika, dengue e chikungunya, pesquisadores realizaram um mapeamento internacional dos cursos disponíveis na área. O trabalho contemplou formações em diferentes níveis, como técnico, mestrado e doutorado, oferecidas em seis idiomas: inglês, espanhol, francês, português, alemão e italiano. Por meio da pesquisa em sites de busca e nas páginas de universidades, foram identificados cerca de 140 cursos.
Ainda que deixe de fora países como Rússia, China e Japão, a pesquisa permite traçar um panorama amplo da área. A distribuição dos cursos revela concentração na região das Américas e representação reduzida da África ocidental. Além disso, quase 90% dos treinamentos são presenciais, enquanto pouco mais de meia dúzia são oferecidos a distância e dois de forma mista. “Os cursos online permanecem uma raridade e poucos parecem estar surfando na onda recente de cursos online abertos e massivos [conhecidos como MOOC, na sigla em inglês]”, comentam os autores no artigo.
A partir do levantamento, os pesquisadores chegam a três conclusões. Em primeiro lugar, é difícil avaliar o conteúdo dos cursos através das páginas na internet e identificar aqueles adequados às necessidades de cada estudante. Em segundo lugar, existe um descompasso entre a oferta de cursos e a demanda educacional para enfrentar problemas urgentes. Por fim, um esforço global em educação precisará recorrer à combinação de cursos tradicionais com inovações, como é o caso dos MOOCs.
Tendo em vista este cenário, os autores consideram que o campo da biologia de vetores precisa urgentemente de ações para harmonização, consolidação e modernização, com adoção de material didático de última geração e oferta de cursos voltados para grupos de organismos e questões epidemiológicas específicas. Além disso, a criação de um portal único a nível mundial para orientar os estudantes, especialmente aqueles que vivem em locais remotos, é apontada como uma medida necessária, que deve ser apoiada pelo TDR. 
 
fonte: https://agencia.fiocruz.br/estudo-inedito-alerta-para-vetor-de-chagas-no-ambiente-urbano?utm_source=Facebook&utm_medium=Fiocruz&utm_campaign=campaign&utm_term=term&utm_content=content