terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Infecções Fúngicas da Pele




Os fungos que infectam a pele (dermatófitos) vivem somente na camada superior de células mortas (estrato córneo) e não penetram mais profundamente. Algumas infecções fúngicas são assintomáticas ou produzem apenas uma discreta irritação, descamação e hiperemia (rubor). Outras infecções fúngicas causam prurido, inflamação, bolhas e descamação grave. Geralmente, os fungos estabelecem-se nas á reas úmidas do corpo onde duas superfícies cutâneas atritam entre si (p.ex., entre os dedos dos pés, na virilha e sob as mamas). Os indivíduos obesos apresentam uma maior probabilidade de contrair esse tipo de infecção, pois apresentam um excesso de pregas cutâneas.

Estranhamente, as infecções fúngicas localizadas em uma parte do corpo podem causar erupções cutâneas em outras partes não infectadas. Por exemplo, uma infecção fúngica do pé pode causar uma erupção cutânea proeminente e pruriginosa nos dedos das mãos. Essas erupções (dermatofítides ou erupções ide) representam reações alérgicas ao fungo. O médico pode suspeitar de uma infecção fúngica quando observa uma erupção cutânea vermelha e irritada sobre uma das áreas comumente afetadas. Habitualmente, o médico pode confirmar o diagnóstico raspando uma pequena porção de pele para examiná-la ao microscópio ou colocando-a em um meio de cultura que permite o crescimento dos fungos de modo que seja possível identificá-los.

Tinha

A tinha é uma infecção fúngica cutânea causada por vários fungos diferentes e, geralmente, classificada de acordo com a sua localização no corpo. O pé-de-atleta (tinha dos pés) é uma infecção fúngica comum que ocorre comumente durante o tempo quente. Geralmente, a tinha dos pés é causada pelo Trichophyton ou pelo Epidermophyton, fungos que podem crescer nas áreas quentes e úmidas localizadas entre os dedos dos pés. O fungo pode produzir uma descamação muito discreta sem qualquer outro sintoma ou uma descamação mais intensa acompanhada por uma erupção cutânea pruriginosa, dolorosa e que deixa a pele em carne viva entre os dedos e nas laterais dos pés.

Além disso, pode ocorrer a formação de bolhas cheias de líquido. Como o fungo pode produzir fissuras na pele, o pé-de-atleta pode acarretar uma infecção bacteriana, especialmente nos indivíduos idosos e naqueles com uma má circulação sangüínea nos pés. O prurido do suspensor (tinha crural) pode ser causada por vários fungos e leveduras. Ele é muito mais comum nos homens que nas mulheres e ocorre mais freqüentemente no tempo quente. A infecção causa o surgimento de áreas vermelhas, anulares, com pequenas bolhas sobre a pele em torno da virilha e na parte superior da face interna das coxas. Esse distúrbio pode ser muito pruriginoso e inclusive, pode ser doloroso.

A sua recorrência é comum, pois os fungos podem persistir indefinidamente sobre a pele. Mesmo com o tratamento adequado, um indivíduo pode apresentar infecções repetidas. A tinha do couro cabeludo é causada pelo Trichophyton ou pelo Microsporum, um outro fungo. A tinha do couro cabeludo é altamente contagiosa, especialmente entre as crianças. Ela pode causar uma erupção descamativa e hiperemiada que pode ser discretamente pruriginosa ou pode causar uma área de alopécia sem erupção cutânea. A tinha das unhas é uma infecção ungueal causada pelo Trichophyton. O fungo atinge a parte recém-formada da unha e, em decorrência de sua ação, a unha torna-se espessa, sem brilho e deformada.

A infecção é muito mais comum nas unhas dos dedos dos pés que nas dos dedos das mãos. Uma unha do pé infectada pode descolar do leito ungueal, quebrar ou descamar. A tinha corpórea também é causada pelo Trichophyton. Geralmente, a infecção causa uma erupção cutânea rosada ou vermelha que, algumas vezes, forma áreas arredondadas com á reas claras nos centros. A tinha corpórea pode ocorrer em qualquer área da pele. A tinha da barba é rara. A maioria das infecções da área da barba são causadas por bactérias e não por fungos.

Tratamento

A maioria das infecções fúngicas cutâneas, excetuando-se as do couro cabeludo e das unhas, são leves e, os cremes antifúngicos comumente as curam. Muitos cremes antifúngicos eficazes podem ser adquiridos sem a necessidade de prescrição médica. Geralmente, os pós antifúngicos não são tão eficazes para o tratamento das infecções fúngicas. Os ingredientes ativos das medicações antifúngicas incluem o miconazol, o clotrimazol, o econazol e o cetoconazol. Comumente, os cremes são aplicados duas vezes ao dia e o tratamento deve ser mantido por 7 a 10 dias após o desaparecimento completo da erupção.

Quando a aplicação do creme é interrompida muito precocemente, a infecção pode não ser erradicada e a erupção retorna. Podem transcorrer vários dias até os efeitos dos cremes antifúngicos serem observados. Neste período, cremes de corticosteróides são freqüentemente utilizados para aliviar o prurido e a dor. A hidrocortisona em baixa concentração pode ser adquirida sem prescrição médica. Os corticosteróides mais potentes exigem prescrição médica. Para as infecções mais graves ou resistentes, o médico pode prescrever vários meses de tratamento com griseofulvina, algumas vezes concomitante com cremes antifúngicos.

A griseofulvina, a qual é administrada pela via ora, é muito eficaz, mas pode produzir efeitos colaterais como cefaléia, desconforto gástrico, fotossensibilidade (sensibilidade à luz), erupções cutâneas, edema e redução do número de leucócitos. Após o término do tratamento com griseofulvina, a infecção pode retornar. O médico também pode prescrever o cetoconazol para tratar as infecções fúngicas cutâneas. Assim como a griseofulvina, o cetoconazol oral pode produzir efeitos colaterais graves, incluindo distúrbios hepáticos. Manter as áreas infectadas limpas e secas ajuda a evitar um maior crescimento dos fungos e favorece a cura da pele. As áreas infectadas devem ser lavadas freqüentemente com água e sabão e, em seguida, polvilhadas com talco.

Freqüentemente, o médico recomenda evitar os pós que contêm amido de milho, pois eles podem favorecer o crescimento de fungos. Quando uma infecção fúngica cutânea tornase exsudativa, é possível que tenha ocorrido uma infecção bacteriana. Essa infecção pode exigir um tratamento com antibióticos. Alguns médicos prescrevem antibióticos tópicos (aplicados sobre a pele), enquanto outros prescrevem antibióticos orais. A solução diluída de Burrow ou a pomada de Whitfield (ambos produtos de venda livre) também podem ser utilizadas para ajudar a secar a pele que exsuda.

Candidíase

A candidíase (infecção por leveduras, monilíase) é uma infecção causada pelo fungo Candida, antes denominado Monilia. Geralmente, a Candida infecta a pele e as membranas mucosas (p.ex., revestimento da boca e da vagina). Raramente, ela invade tecidos profundos ou o sangue, causando uma candidíase sistêmica potencialmente letal. Essa infecção mais grave é comum entre os indivíduos com depressão do sistema imune (p.ex., indivíduos com AIDS e aqueles submetidos à quimioterapia). A Candida é um habitante normal do trato digestivo e da vagina e, normalmente, não causa qualquer dano.

Quando as condições ambientais são particularmente favoráveis (p.ex., tempo úmido e quente) ou quando as defesas imunes do indivíduo encontram-se comprometidas, o fungo pode infectar a pele. Como os dermatófitos, a Candida cresce bem em condições quentes e ú midas. Às vezes, os indivíduos que fazem uso de antibióticos apresentam infecções por Candida, pois os antibióticos matam as bactérias que normalmente habitam nos tecidos, permitindo que a Candida cresça sem qualquer resistência. O uso de corticosteróides ou um tratamento com imunossupressores após um transplante de órgão também pode deprimir as defesas do organismo contra as infecções fúngicas. As mulheres grávidas, os indivíduos obesos e os diabéticos também apresentam uma maior probabilidade de serem infectados pela Candida.

Sintomas

Os sintomas variam de acordo com a localização da infecção. As infecções nas pregas cutâneas (infecções intertriginosas) ou no umbigo causam freqüentemente uma erupção vermelha, muitas vezes com placas delimitadas que exsudam pequenas quantidades de um líquido esbranquiçado. Pode ocorrer a formação de pequenas pústulas, especialmente nas bordas da erupção, e a erupção pode ser pruriginosa ou produzir uma sensação de queimação. Uma erupção por Candida em torno do ânus pode ser pruriginosa, deixar a pele em carne viva e apresentar uma coloração esbranquiçada ou vermelha. As infecções vaginais por Candida (vulvovaginite) são comuns, especialmente em mulheres grávidas, em diabéticas ou naquelas que estão fazendo uso de antibióticos.

Os sintomas dessas infecções incluem uma secreção vaginal branca ou amarela, uma sensação de queimação, prurido e hiperemia ao longo das paredes e na á rea externa da vagina. As infecções penianas por Candida afetam mais freqüentemente os homens com diabetes ou aqueles cujas parceiras sexuais apresentam infecções vaginais por Candida. Habitualmente, a infecção causa uma erupção descamativa, vermelha e algumas vezes dolorosa na parte inferior do pênis. No entanto, uma infecção peniana ou vaginal pode ser assintomática. O “sapinho” é uma infecção por Candida localizada no interior da boca. As placas brancas cremosas típicas do “sapinho” aderem a língua e a ambos os lados da boca e, freqüentemente, são dolorosas.

As placas podem ser facilmente removidas através da raspagem com um dedo ou uma colher. O “sapinho” não é incomum em crianças saudáveis, mas, nos adultos, pode indicar um comprometimento do sistema imune, possivelmente causado pelo diabetes ou pela AIDS. O uso de antibióticos que matam as bactérias competidoras aumenta a possibilidade do indivíduo apresentar “sapinho”. O perlèche (“boqueira”) é uma infecção dos cantos da boca por Candida, a qual produz fissuras e pequenos cortes. O perlèche pode ser conseqüência de próteses dentárias mal adaptadas que deixam as comissuras da boca úmidas o suficiente para permitir o crescimento de fungos. Na paroníquia por Candida, o fungo cresce nos leitos ungueais, produz uma inflamação dolorosa e a formação de pus. As unhas infectadas com Candida podem tornar-se brancas ou amarelas e podem descolar do leito ungueal, seja na mão ou no pé.

Diagnóstico

Geralmente, o médico consegue identificar uma infecção por Candida através da observação de sua erupção característica ou do resíduo espesso, pastoso e branco produzido pela infecção. Para estabelecer o diagnóstico, o médico pode raspar parte da pele ou do resíduo com o auxílio de um bisturi ou de um abaixador de língua. Em seguida, a amostra é examinada ao microscópio ou colocada em um meio de cultura para se identificar a causa da infecção.

Tratamento

Em geral, as infecções cutâneas causadas pela Candida são facilmente curadas com cremes e loções medicamentosas. Freqüentemente, os médicos prescrevem um creme com nistatina para as infecções cutâneas, vaginais e penianas. Geralmente, o creme é aplicado duas vezes ao dia durante 7 a 10 dias. Os medicamentos antifúngicos para tratar as infecções fúngicas vaginais ou anais também são produzidos sob a forma de supositórios.

Os medicamentos para tratar a monilíase oral (“sapinho”) podem ser aplicados sob a forma de um líquido para a higiene bucal que é, a seguir, cuspido ou sob a forma de pastilhas que se dissolvem lentamente na boca. Para as infecções cutâneas, pomadas de corticosteróides (p.ex., hidrocortisona) são utilizadas concomitantemente com cremes anti-fúngicos, pois as pomadas reduzem rapidamente o prurido e a dor (embora elas não ajudem a curar a infecção em si). Manter a pele seca ajuda a eliminar a infecção e impede o retorno do fungo. Um talco em pó simples ou um pó contendo nistatina pode ajudar a manter a superfície afetada seca.

Pitiríase Versicolor

A pitiríase versicolor é uma infecção fúngica a qual causa manchas que variam do branco ao castanho claro sobre a pele. A infecção é bastante comum, especialmente em adultos jovens. Ela raramente causa dor ou prurido, mas impedem o bronzeamento das áreas afetadas, causando o surgimento de manchas. Os indivíduos que possuem uma pele naturalmente escura podem perceber as manchas pálidas. Os indivíduos que possuem uma pele naturalmente clara podem apresentar manchas escuras. Freqüentemente, as manchas localizam-se sobre o tronco ou sobre as costas e podem descamar discretamente. Com o passar do tempo, as pequenas áreas afetadas podem confluir e formar manchas grandes.

Diagnóstico e Tratamento

O médico diagnostica a pitiríase versicolor pelo seu aspecto. Ele pode utilizar uma luz ultravioleta para detectar a infecção de modo mais acurado ou pode examinar raspados da área infectada ao microscópio. Os xampus anticaspa, como o de sulfeto de selênio a 1%, geralmente curam a pitiríase versicolor. Esses xampus são aplicados concentrados sobre as áreas afetadas (inclusive no couro cabeludo) na hora de dormir. O indivíduo deixa o xampu agir durante a noite e o lava pela manhã.

Comumente, o tratamento é realizado durante 3 a 4 noites. Os indivíduos que apresentam irritações cutâneas decorrentes desse tratamento podem ter que limitar o tempo de contato do xampu com a pele para 20 a 60 minutos ou podem ter que utilizar medicações prescritas pelo médico. A pele pode não recuperar a sua pigmentação normal por muitos meses após o desaparecimento da infecção. O quadro geralmente retorna após um tratamento bem sucedido porque o fungo responsável normalmente vive sobre a pele. Quando o quadro retorna, o tratamento deve ser repetido.