Os cânceres e seus tumores-satélites (metástases) podem invadir e, conseqüentemente, alterar a função de um órgão ou comprimir os tecidos circunjacentes. Qualquer dessas complicações pode acarretar uma ampla variedade de sintomas e problemas médicos. Nos indivíduos com câncer metastático, a dor pode ser causada pelo crescimento do câncer no interior do osso (que não se expande) ou pela pressão do tumor sobre nervos ou sobre outros tecidos.
Muitos cânceres produzem substâncias (p.ex., hormônios, citocinas e proteínas) que podem
afetar a função de outros tecidos e órgãos, resultando em um a série de sintomas denominados síndromes paraneoplásicas. Algumas vezes, os problemas causados pelo câncer são tão graves que devem ser tratados como uma emergência.
Síndromes Paraneoplásicas
As emergências produzidas pelo câncer incluem o tamponamento cardíaco, o derrame pleural,
a síndrome da veia cava superior, a compressão da medula espinhal e a síndrome hipercalcêmica.
O tamponamento cardíaco é o acúmulo de líquido no pericárdio ( estrutura em forma de saco
que envolve o coração), exercendo pressão sobre o coração e interferindo em sua capacidade
de bombear o sangue. O acúmulo de líquido pode ocorrer quando um câncer invade o pericárdio e o irrita. Os cânceres com maior propensão a invadir o pericárdio são o câncer de pulmão, o câncer de mama e o linfoma.
O tamponamento cardíaco ocorre subitamente quando há uma quantidade tão grande de líquido acumulado que o coração não consegue bater normalmente. Antes do início do tamponamento, o indivíduo comumente sente uma dor vaga ou uma pressão no peito, que piora na posição deitada e melhora na posição sentada. Uma vez ocorrido o tamponamento, o indivíduo apresenta uma dificuldade respiratória grave e as veias do pescoço dilatam durante a inspiração.
Alguns Efeitos das Síndromes Paraneaplásicas
Area Afetada | Efeitos | Câncer Responsável |
Cérebro, nervos e músculos | Deficiências neurológicas, dores musculares, fraqueza | Câncer de pulmão |
Sangue e tecidos formadores do sangue | Anemia, contagem elevada de plaquetas no sangue, contagem elevada de leucócitos no sangue, coagulação disseminada nos vasos sangüíneos, baixa contagem de plaquetas, equimose fácil | Todos os cânceres |
Rins | Glomerulonefrite membranosa resultante da presença de anticorpos na corrente sangüínea | Câncer de cólon ou de ovário, linfoma, doença de Hodgkin, leucemia |
Ossos | Alargamento das pontas dos dedos (baqueteamento) | Câncer de pulmão ou metástases pulmonares de vários tipos de cânceres |
Pele | Várias lesões cutâneas, freqüentemente pigmentadas; por exemplo, acantose nigricans, uma erupção de tumores benignos macios e verrucosos e pigmentação escura na axila, no pescoço e em torno dos órgãos genitais | Câncer gastrointestinal ou de fígado, linfoma, melanoma |
Corpo inteiro | Febre | Leucemia, linfoma, doença de Hodgkin, câncer de rim ou de fígado |
O médico diagnostica o tamponamento cardíacoatravés de radiografias do tórax, eletrocardiogramas e ecocardiogramas. Para aliviar a pressão, o médico insere uma agulha no saco pericardíaco e remove o líquido em uma seringa (pericardiocentese). Uma amostra do líquido é examinada ao microscópio para verificar se ele contém células cancerosas. Posteriormente, o médico realiza uma incisão no pericárdio (janela pericardíaca) ou remove um
fragmento do mesmo para evitar a recorrência do tamponamento. O tratamento adicional depende do tipo de câncer presente.
O derrame pleural (acúmulo de líquido na estrutura em forma de bolsa que envolve os pulmões) pode causar dificuldade respiratória. Várias causas podem acarretar o acúmulo de líquido no saco pleural, e uma delas é o câncer. O médico drena o líquido inserindo uma agulha conectada a uma seringa entre as costelas até o saco pleural. Quando o líquido volta a acumular-se rapidamente após o procedimento, o médico insere um tubo de drenagemdrenagem através da parede torácica e este é mantido no saco pleural até a condição do indivíduo melhorar. Substâncias químicas especiais podem ser instiladas no saco pleural para irritar suas paredes e induzir a sua adesão. Isto elimina o espaço onde o líquido pode acumular e reduz a possibilidade de recorrência.
A síndrome da veia cava superior ocorre quando o câncer bloqueia parcial ou completamente
as veias (veia cava superior) que levam o sangue da parte superior do corpo até o coração. O
bloqueio da veia cava superior faz com que as veias na parte superior do tórax e do pescoço
dilatem, provocando edema da face, do pescoço e da parte superior do tronco.
A síndrome da compressão da medula espinhal ocorre quando um câncer comprime a medula espinhal ou seus nervos, acarretando dor e perda da função. Quanto mais prolongado for o déficit neurológico, menor é a probabilidade do indivíduo recuperar a função nervosa normal. Geralmente, o melhor é iniciar o tratamento nas 12 a 24 horas que sucedem o início dos sintomas. O médico prescreve corticosteróides (p.ex., prednisona) pela via intravenosa (para reduzir o edema) e radioterapia. Raramente, quando a causa da compressão da medula espinhal é desconhecida, a cirurgia pode ser útil para o estabelecimento do diagnóstico e para
tratar o problema, pois ela permite ao cirurgião realizar a descompressão da medula espinhal.
A síndrome hipercalcêmica ocorre quando o câncer produz um hormônio que eleva a concentração sérica de cálcio ou invade diretamente os ossos. O paciente apresenta confusão mental, a qual pode evoluir para o coma e a morte. Vários medicamentos podem reduzir imediatamente a concentração de cálcio.