domingo, 15 de novembro de 2009

Distúrbios do Movimento Intestinal


A função intestinal varia bastante, não apenas de um indivíduo para outro, mas também no mesmo indivíduo em momentos diferentes. A função intestinal pode ser afetada pela dieta, pelo estresse, por drogas, por doenças e inclusive por padrões sociais e culturais. Na maioria das sociedades ocidentais, o número normal de evacuações varia de 2 a 3 por semana até 2 a 3 por dia. As alterações da freqüência, da consistência ou do volume das evacuações ou a presença de sangue, muco, pus ou um excesso de matéria gordurosa (óleo, gordura) nas fezes podem indicar uma doença.

Constipação

A constipação é um distúrbio no qual o indivíduo apresenta evacuações desconfortáveis ou pouco freqüentes. O indivíduo com constipação produz fezes duras, cuja eliminação pode ser difícil. Ele também pode sentir como se o reto não tivesse sido totalmente esvaziado. A constipação aguda tem um início súbito e de modo perceptível. Por outro lado, a constipação crônica pode começar de modo insidioso e pode persistir por meses ou anos.

Freqüentemente, a causa da constipação aguda é apenas uma alteração recente da dieta ou uma diminuição da atividade física (p.ex., quando o indivíduo permanece no leito por um ou dois dias devido a uma doença). Muitos medicamentos podem causar constipação como, por exemplo, o hidróxido de alumínio (princípio ativo comum de antiácidos de venda livre), sais de bismuto, sais de ferro, anticolinérgicos, antihipertensivos, narcóticos e muitos tranqüilizantes e sedativos.

Ocasionalmente, a constipação aguda pode ser causada por problemas graves como, por exemplo, a obstrução do intestino grosso, o suprimento insuficiente de sangue para o intestino grosso e uma lesão nervosa ou medular. A atividade física escassa e a dieta pobre em fibras são causas comuns da constipação crônica. Outras causas incluem a hipoatividade tireoidiana (hipotireoidismo), a concentração elevada de cálcio no sangue (hipercalcemia) e a doença de Parkinson. A redução das contrações do intestino grosso (cólon inativo) e o desconforto durante a defecação também levam à constipação crônica. Os fatores psicológicos são causas comuns de constipação aguda e crônica.

Tratamento

Quando a causa da constipação for uma doença, esta deve ser tratada. Caso contrário, a constipação é melhor prevenida e tratada com uma combinação de exercícios adequados, uma dieta rica em fibras e o uso ocasional de medicamentos adequados. São excelentes fontes de fibras os vegetais, as frutas e o farelo de cereais. Muitas pessoas consideram útil salpicar duas ou três colheres de chá de farinha integral ou de um cereal rico em fibras sobre as frutas, duas ou três vezes ao dia. Para serem eficazes, as fibras devem ser consumidas juntamente com uma grande quantidade de líquido.

Laxantes

Muitas pessoas utilizam laxantes para aliviar a constipação. Alguns são seguros para o uso prolongado e outros somente devem ser usados ocasionalmente. Alguns são úteis para prevenir a constipação e outros podem ser utilizados para tratála. Os agentes formadores de volume (farelo de cereais, psílio, policarbófilo de cálcio e metilcelulose) adicionam volume às fezes.

O volume maior estimula as contrações naturais do intestino, e as fezes volumosas são mais moles, sendo eliminadas mais facilmente. Os agentes formadores de volume atuam de forma lenta e suave e representam uma das formas mais seguras para promover evacuações regulares. Em geral, primeiramente esses agentes são tomados em pequenas quantidades. A dose é aumentada gradualmente até que ocorra regularização. O uso desses agentes de volume sempre exige a ingestão de muito líquido. Os emolientes fecais (p.ex., docusato) aumentam a quantidade de água retida pelas fezes.

Na verdade, esses laxantes são detergentes que diminuem a tensão superficial das fezes, permitindo que a água penetre com mais facilidade no bolo fecal, amolecendoo. O volume maior estimula as contrações naturais do intestino grosso e ajuda no deslocamento das fezes amolecidas para fora do corpo. O óleo mineral amolece as fezes e facilita a sua eliminação do corpo. Entretanto, ele também pode diminuir a absorção de determinadas vitaminas lipossolúveis. Se o indivíduo aspirar acidentalmente o óleo mineral, pode ocorrer uma irritação pulmonar grave. Além disso, o óleo mineral extravasa através do reto.

Os agentes osmóticos atraem grandes quantidades de água para o intestino grosso, tornando as fezes moles e frouxas. O excesso de líquido também distende as paredes do intestino grosso, estimulando as contrações. Esses laxantes são sais (normalmente de fosfato, de magnésio ou sulfato) ou açúcares que quase não são absorvidos (p.ex., lactulose e sorbitol). Alguns agentes osmóticos contêm sódio. Eles podem causar retenção líquida em indivíduos com doença renal ou insuficiência cardíaca, sobretudo quando esses agentes são administrados em altas doses ou freqüentemente.

Os agentes osmóticos que contêm magnésio e fosfato são parcialmente absorvidos para o interior da corrente sangüínea e, conseqüentemente, são nocivos para os indivíduos com insuficiência renal. Esses laxantes, que geralmente agem no prazo de três horas, são mais adequados para tratar a constipação do que para prevenila. Eles também são utilizados para se eliminar as fezes do intestino antes da realização de radiografias do trato digestivo (gastrointestinal) e antes de uma colonoscopia (exame do intestino grosso com o auxílio de um tubo de visualização flexível). Os laxantes estimulantes estimulam diretamente as paredes do intestino grosso, provocando sua contração e deslocando as fezes.

Esses laxantes contêm substâncias irritantes como, por exemplo, a sena, a cáscara sagrada, a fenolftaleína, o bisacodil ou o óleo de mamona. Geralmente, eles provocam a evacuação de fezes semisólidas em 6 a 8 horas, mas freqüentemente produzem cólicas. Sob a forma de supositórios, esses laxantes normalmente agem em aproximadamente 15 a 60 minutos. O uso prolongado de laxantes estimulantes pode lesar o intestino grosso.

Além disso, os indivíduos podem tornarse dependentes de laxantes estimulantes, desenvolvendo a síndrome do intestino preguiçoso. Freqüentemente, os laxantes estimulantes são utilizados para esvaziar o intestino grosso antes da realização de procedimentos diagnósticos e para prevenir ou tratar a constipação causada por medicamentos que reduzem as contrações do intestino grosso (p.ex., narcóticos).

Constipação Psicogênica

Muitas pessoas acreditam ter constipação quando não evacuam diariamente. Outras pensam que têm constipação quando o aspecto ou a consistência das fezes lhes parece anormal. Entretanto, evacuações diárias não são necessariamente normais e evacuações menos freqüentes não indicam necessariamente algum problema, exceto quando elas representam uma alteração importante do padrão de evacuação prévio. O mesmo é válido para a cor e a consistência das fezes. A não ser que haja uma alteração substancial dessas características, o indivíduo provavelmente não apresenta constipação.

Essas concepções errôneas sobre a constipação podem levar a um tratamento excessivo, especialmente no que diz respeito ao uso prolongado de laxantes estimulantes, de supositórios irritantes e de enemas. Este tratamento pode lesar gravemente o intestino grosso, acarretando a síndrome do intestino preguiçoso e a melanose do cólon (alterações anormais do revestimento do intestino grosso causadas por depósitos de um pigmento).

Antes de estabelecer o diagnóstico de constipação psicogênica, o médico deve primeiramente assegurarse de que não existe nenhum problema orgânico subjacente que possa ser responsável pelas evacuações irregulares. Pode ser necessária a realização de exames diagnósticos, como a sigmoidoscopia (exame do cólon sigmóide com o auxílio de um tubo de visualização flexível) ou um enema baritado. Quando não existe um problema orgânico subjacente, o indivíduo deve aceitar o seu padrão de evacuação e não insistir para conseguir um padrão mais irregular.

Inércia Colônica

A inércia colônica (cólon inativo) é uma redução das contrações no intestino grosso ou uma insensibilidade do reto à presença de fezes, resultando em uma constipação crônica. A inércia colônica ocorre com freqüência em idosos, em indivíduos debilitados ou acamados, mas também afeta mulheres jovens e saudáveis. O intestino grosso deixa de responder aos estímulos que normalmente provocam a evacuação: a ingestão de alimentos, o estômago cheio, o intestino grosso cheio e a presença de fezes no reto. Os medicamentos utilizados no tratamento de algumas doenças freqüentemente produzem ou agravam o problema, sobretudo os narcóticos (p.ex., codeína) e drogas anticolinérgicas (p.ex., a amitriptilina para a depressão ou a propantelina para a diarréia). Algumas vezes, a inércia colônica ocorre em indivíduos que têm o hábito de retardar a evacuação ou que fizeram uso prolongado de laxantes ou de enemas.

Sintomas

A constipação é um problema diário e deve ser analisada a longo prazo. O indivíduo pode ou não apresentar desconforto abdominal. Freqüentemente, o médico detecta um reto cheio de fezes moles, inclusive quando o indivíduo não apresenta necessidade de defecar e só consegue fazêlo com dificuldade.Os indivíduos com esse distúrbio podem apresentar impactação fecal, na qual as fezes localizadas na porção distal do intestino grosso e no reto endurecem e bloqueiam a passagem. Esse bloqueio acarreta cólicas, dor retal e esforços intensos, porém inúteis, para evacuar. Freqüentemente, ocorre a passagem de um muco aquoso em torno do bloqueio, que, algumas vezes, dá a falsa impressão de diarréia.

Tratamento

Para a inércia colônica, o médico algumas vezes recomenda a utilização de supositórios ou de enemas com 60 a 90 ml de água, com água e sais (enemas salinos) ou com óleos (p.ex., azeite de oliva). Para a impactação fecal, também se faz necessário o uso de laxantes, geralmente do tipo osmótico. Algumas vezes, o médico ou o enfermeiro deve retirar as fezes impactadas com o auxílio de uma sonda ou de um dedo enluvado.Os indivíduos com inércia colônica devem tentar evacuar diariamente, preferivelmente 15 a 45 minutos após uma refeição, pois a ingestão de alimentos estimula a evacuação. A realização de exercícios freqüentemente é útil.

Disquezia

A disquezia é a dificuldade para evacuar causada por uma incapacidade de controlar os músculos pélvicos e anais. Para realizar uma evacuação adequada, é necessário o relaxamento dos músculos da pelve e dos músculos circulares (esfíncteres) que mantêm o ânus fechado. Caso contrário, os esforços para evacuar serão inúteis, mesmo quando eles forem consideráveis. Os indivíduos com disquezia sentem a necessidade de evacuar, mas não conseguem fazêlo. Mesmo a eliminação de fezes moles pode ser difícil.

As condições que podem interferir no movimento muscular incluem a discinesia do assoalho pélvico (distúrbio da coordenação muscular), o anismo (uma condição na qual os músculos não relaxam ou contraem de forma paradoxal durante a evacuação), a retocele (herniação do reto no interior da vagina), a enterocele (herniação do intestino delgado no interior do reto), a úlcera retal e o prolapso retal. Geralmente, o tratamento com laxantes é insatisfatório. Atualmente, estão sendo testados exercícios de relaxamento e biofeedback para o tratamento da discinesia do assoalho pélvico, e eles parecem ser muito promissores. A cirurgia pode ser necessária para a reparação de uma enterocele ou de uma retocele volumosa. A constipação pode tornarse tão severa que as fezes devem ser removidas por um médico ou por um enfermeiro com o auxílio de uma sonda ou de um dedo enluvado.

Diarréia

A diarréia é um aumento do volume, da aquosidade ou da freqüência das evacuações. Os indivíduos com diarréia causada por um problema clínico significativo geralmente apresentam volumes excessivos de fezes, eliminando normalmente mais de meio quilo de fezes por dia. Aqueles que ingerem grandes quantidades de fibras vegetais podem produzir uma quantidade ainda maior, mas as fezes são bem formadas e não são aquosas. Freqüentemente, as fezes contêm 60 a 90% de água. A diarréia ocorre principalmente quando a porcentagem excede 90%. A diarréia osmótica ocorre quando certas substâncias que não podem ser absorvidas para a corrente sangüínea permanecem no intestino.

Essas substâncias fazem com que quantidades excessivas de água permaneçam nas fezes, acarretando a diarréia. Certos alimentos (como algumas frutas e feijões) e hexitóis, sorbitol e manitol (usados como substitutos do açúcar em alimentos, doces e gomas de mascar dietéticos) podem causar diarréia osmótica. Além disso, a deficiência de lactase pode acarretar diarréia osmótica. A lactase é uma enzima normalmente encontrada no intestino delgado que converte o açúcar do leite (lactose) em glicose e galactose, de modo que estas possam ser absorvidas para o interior da corrente sangüínea.

Quando um indivíduo com deficiência de lactase consome leite ou produtos laticínios, a lactose não é convertida, . Quando a lactose acumulase no intestino, ela produz diarréia osmótica. A gravidade do quadro depende da quantidade da substância osmótica consumida. A diarréia cessa logo após a interrupção do consumo da substância, seja sob a forma líquida ou sólida. A diarréia secretora ocorre quando o intestino delgado e o grosso secretam sais (especialmente o cloreto de sódio) e água para o interior das fezes. Determinadas toxinas (p.ex., toxina produzida no cólera e as toxinas produzidas em outras diarréias infecciosas) podem causar esse tipo de secreção.

A diarréia pode ser abundante, podendo ser eliminado mais de um litro por hora em casos de cólera. Outras substâncias que causam secreção de sal e água incluem certos laxantes (p.ex., o óleo de rícino) e os ácidos biliares (que podem acumularse após uma cirurgia de remoção de parte do intestino delgado). Certos tumores raros (p.ex., carcinóide, gastrinoma e vipoma) também causam diarréia secretória. As síndromes de má absorção também causam diarréia. Os indivíduos com essas síndromes não conseguem digerir os alimentos normalmente.

Na má absorção generalizada, as gorduras que permanecem no intestino grosso devido à má absorção podem causar diarréia secretória. Os carboidratos podem causar diarréia osmótica. A má absorção pode ser causada por condições como o espru não tropical, a insuficiência pancreática, a remoção cirúrgica de parte do intestino, o suprimento sangüíneo inadequado ao intestino delgado, a ausência ou a deficiência de determinadas enzimas no intestino delgado e doenças do fígado. A diarréia exsudativa ocorre quando o revestimento do intestino grosso tornase inflamado, ulcerado ou congesto e libera proteínas, sangue, muco e outros líquidos que aumentam o volume e o conteúdo líquido das fezes.

Este tipo de diarréia pode ser causado por muitas doenças como, por exemplo, a colite ulcerativa, a doença de Crohn (enterite regional), a tuberculose, linfomas e cânceres. Quando o revestimento do reto é afetado, o indivíduo freqüentemente sente uma necessidade urgente de defecar e as evacuações são freqüentes porque o reto inflamado é mais sensível à distensão produzida pelas fezes. O trânsito intestinal alterado pode causar diarréia. Para que as fezes apresentem uma consistência normal, elas devem permanecer no intestino grosso durante um certo tempo. As fezes que deixam o intestino grosso muito rapidamente são aquosas e as que permanecem durante um tempo excessivo tornamse duras e secas.

Muitos distúrbios e tratamentos podem diminuir o tempo de permanência das fezes no intestino grosso. Os exemplos incluem a hiperatividade da tireóide (hipertireoidismo); a remoção cirúrgica de parte do intestino delgado, do intestino grosso ou do estômago, a secção do nervo vago para tratamento de úlceras; a derivação (bypass) cirúrgica de parte do intestino e medicamentos (p.ex., antiácidos e laxantes contendo magnésio, as prostaglandinas, a serotonina e mesmo a cafeína).

A hiperproliferação bacteriana (crescimento de bactérias intestinais normais em quantidades anormalmente elevadas ou o crescimento de bactérias normalmente não encontradas nos intestinos) pode causar diarréia. As bactérias intestinais normais possuem um papel importante na digestão. Por essa razão, qualquer alteração destas pode provocar diarréia.

Complicações

Além do desconforto, das situações embaraçosas e da interrupção das atividades quotidianas, a diarréia grave pode levar à perda de água (desidratação) e de eletrólitos (p.ex., sódio, potássio, magnésio e cloreto). Quando a perda hídrica e eletrolítica é acentuada, pode ocorrer uma queda acentuada da pressão arterial a ponto de o indivíduo desmaiar (síncope), apresentar arritmias cardíacas (alterações do ritmo cardíaco) e outros distúrbios graves. Os indivíduos muito jovens, muito idosos, debilitados e aqueles com diarréia intensa apresentam um maior risco de complicações. Também pode ocorrer perda de bicarbonato através das fezes, acarretando uma acidose metabólica, um tipo de desequilíbrio ácidobásico do sangue.

Alimentos e Medicamentos que Podem Causar Diarréia

Alimentos e Medicamentos Ingrediente Que Causa a Diarréia
Suco de maçã, suco de pêra, gomas de mascar sem açúcar, menta Hexitóis, sorbitol, manitol
Suco de maçã, suco de pêra, uvas, mel, tâmaras, nozes, figos, refrigerantes (sobretudo aqueles com sabores de frutas) Frutose
Açúcar refinado Sacarose
Leite, sorvetes, iogurte congelado, iogurte, queijos moles, chocolate Lactose
Antiácidos contendo magnésio Magnésio
Café, chá, refrigerantes do tipo cola, remédios para cefaléia de venda livre Cafeína

Diagnóstico

Primeiramente, o médico tenta definir se o a diarréia apresentou um início súbito e foi de curta duração ou se ela é persistente. Ele tenta determinar se a causa pode ser alterações da dieta, se o indivíduo apresenta outros sintomas (p.ex., febre, dor, erupção cutânea) e se ele teve contato com outras pessoas que apresentaram um quadro similar. Baseandose no relato do indivíduo e no resultado de exames de fezes, o médico e a equipe laboratorial determinam se as fezes são formadas ou aquosas, se elas apresentam um odor inusual e se elas contêm gordura, sangue ou materiais não digeridos. O volume de fezes durante um período de 24 horas também é determinado.

Quando a diarréia persiste, uma amostra de fezes comumente deve ser examinada microscopicamente para se verificar a presença de células, muco, gordura e outras substâncias. Também pode ser realizada a pesquisa de sangue oculto nas fezes e de substâncias que podem causar diarréia osmótica. Também pode ser realizada a pesquisa de microrganismos infecciosos (p.ex., certas bactérias, amebas e Giardia) nas fezes. Se o indivíduo estiver tomando laxantes, eles também podem ser detectados em uma amostra de fezes. Pode ser realizada uma sigmoidoscopia (exame do cólon sigmóide com o auxílio de um tubo de visualização de fibra óptica), que permite ao médico examinar o revestimento do ânus e do reto. Algumas vezes, é realizada uma biópsia (remoção de amostras de tecido do revestimento do reto para exame microscópico).

Tratamento

A diarréia é um sintoma e o seu tratamento depende da causa. Para a maioria dos indivíduos com diarréia, basta remover a causa (p.ex., goma de mascar dietética ou determinado medicamento) para suprimir a diarréia e permitir que o organismo se recupere espontaneamente. Algumas vezes, a diarréia crônica é curada pela eliminação do consumo de café ou de refrigerantes do tipo cola, que contêm cafeína.

Para ajudar a aliviar a diarréia, o médico pode prescrever um medicamento como, por exemplo, o difenoxilato, a codeína, o elixir paregórico (tintura de ópio) ou a loperamida. Algumas vezes, mesmo um agente formador de volume utilizado no tratamento da constipação crônica (p.ex., psílio ou metilcelulose) ajuda a aliviar a diarréia. O caolim, a pectina e a atapulgita ativada podem ajudar a tornar as fezes mais consistentes. Quando a diarréia grave causa desidratação, pode ser necessária a hospitalização do indivíduo para submetêlo a reposição líquida e eletrolítica intravenosa. Desde que o indivíduo não esteja vomitando e não se sinta nauseado, a ingestão de líquidos contendo água, açúcares e sais balanceados pode ser muito eficaz.

Incontinência Fecal

A incontinência fecal é a perda do controle das evacuações. A incontinência fecal pode ocorrer por um curto período durante episódios de diarréia ou quando fezes endurecidas ficam alojadas no reto (impactação fecal). Os indivíduos com lesões anais ou medulares, prolapso retal (protrusão do revestimento do reto através do ânus), demência, lesão neurológica causada pelo diabetes, tumores do ânus ou lesões pélvicas ocorridas durante o parto podem desenvolver uma incontinência fecal persistente.

O médico examina o indivíduo, verificando a existência de qualquer anormalidade estrutural ou neurológica que possa estar causando a incontinência fecal. Isto envolve o exame do ânus e do reto, verificando a extensão da sensibilidade em torno do ânus. Geralmente, é realizada uma sigmoidoscopia (exame do cólon sigmóide usando um tubo de visualização flexível). Algumas vezes, é necessária a realização de outros exames, inclusive um exame da função dos nervos e dos músculos da pelve.

O primeiro passo na correção da incontinência fecal é a tentativa de estabelecer um padrão regular de evacuações que produza fezes bem formadas. As alterações dietéticas, incluindo a adição de uma pequena quantidade de fibras freqüentemente são úteis. Se tais alterações não surtirem efeito, um medicamento que retarda a evacuação (p.ex., loperamida) pode ser útil. O exercício dos músculos anais (esfíncteres) aumenta seu tônus e força e ajuda a evitar a saída do material fecal. Com o uso do biofeedback, o indivíduo pode retreinar os esfíncteres e aumentar a sensibilidade retal à presença de fezes. Cerca de 70% dos indivíduos com boa motivação são beneficiados pelo biofeedback.

No caso da incontinência fecal persistir, a cirurgia pode ser útil em um pequeno número de casos (p.ex., quando a causa é uma lesão anal ou um defeito anatômico do ânus). Como último recurso, é realizada uma colostomia (criação cirúrgica de uma abertura entre o intestino grosso e a parede abdominal). O ânus é suturado e o indivíduo evacua em um saco plástico removível fixado à abertura da parede abdominal.

Síndrome do Cólon Irritável

A síndrome do cólon irritável é um distúrbio da motilidade de todo o trato gastrointestinal que produz dor abdominal, constipação ou diarréia. A síndrome do cólon irritável afeta as mulheres três vezes mais freqüentemente que os homens. Nesta síndrome, o trato gastrointestinal é especialmente sensível a muitos estímulos. O estresse, a dieta, medicamentos, hormônios ou irritantes menores podem acarretar contratilidade anormal do trato gastrointestinal.

Os períodos de estresse e de conflito emocional que causam depressão ou ansiedade freqüentemente exacerbam os episódios da síndrome do cólon irritável. Alguns indivíduos com essa doença parecem ter uma consciência muito maior de seus sintomas, avaliandoos mais seriamente e apresentar uma maior incapacitação que outros. Outros indivíduos com síndrome do cólon irritável e que vivenciam situações de estresse e conflitos emocionais semelhantes apresentam sintomas gastrointestinais menos intensos ou reagem a eles com menor preocupação e incapacitação.

Durante um episódio, as contrações do trato gastrointestinal tornamse mais fortes e freqüentes e o trânsito rápido dos alimentos e das fezes através do intestino delgado freqüentemente acarreta diarréia. A dor tipo cólica parece ser decorrente das fortes contrações do intestino grosso ou de um aumento da sensibilidade dos receptores da dor do intestino grosso. Os episódios quase sempre ocorrem quando o indivíduo está acordado e eles raramente despertam o indivíduo do sono. Em alguns indivíduos, as refeições ricas em calorias ou uma dieta com elevado teor de gordura podem ser as responsáveis. Em outros, parece que o trigo, os laticínios, o café, o chá ou as frutas cítricas agravam os sintomas, mas não está claro se esses alimentos são realmente a causa.

Sintomas

Existem dois tipos principais de síndrome do cólon irritável. O cólon espástico, que é comumente desencadeado pela ingestão de alimentos, freqüentemente causa constipação ou diarréia periódica acompanhada de dor. Algumas vezes, ocorre alternância de constipação e diarréia e é freqüente a presença de muco nas fezes. A dor pode ocorrer sob a forma de crises de dor contínua e inespecífica ou de cólicas, quase sempre na região abdominal inferior.

O indivíduo pode apresentar distensão abdominal, flatulência, náusea, cefaléia, fadiga, depressão, ansiedade e dificuldade de concentração. A evacuação freqüentemente alivia a dor. O segundo tipo produz principalmente uma diarréia indolor ou uma constipação relativamente indolor. A diarréia pode iniciar de forma muito abrupta e o indivíduo pode sentir uma urgência extrema de defecar. Caracteristicamente, ela ocorre logo após uma refeição, embora, algumas vezes, ela possa ocorrer ao acordar. Às vezes, a urgência é tão intensa que o indivíduo perde o controle e não consegue chegar a tempo ao banheiro. A diarréia noturna é rara. Alguns indivíduos apresentam distensão abdominal e constipação com uma dor discreta.

Diagnóstico

A maioria dos indivíduos com síndrome do cólon irritável apresenta um aspecto saudável. Geralmente, o exame físico não revela nada de extraordinário, exceto a sensibilidade sobre o intestino grosso. Normalmente, o médico realiza alguns exames (p.ex., de sangue, de fezes e a sigmoidoscopia) para diferenciar a síndrome do cólon irritável da doença inflamatória intestinal e de muitos outros distúrbios que podem causar dores abdominais e alterações do hábito intestinal. Comumente, esses exames são normais, embora as fezes possam ser aquosas. A sigmoidoscopia (exame do cólon sigmóide usando um tubo de visualização flexível) pode causar espasmos e dor, mas, excetuandose esses sintomas,o resultado do exame é normal. Algumas vezes, são realizados outros exames (p.ex., ultrasonografia abdominal, estudos radiográficos dos intestinos ou colonoscopia).

Tratamento

O tratamento da síndrome do cólon irritável varia de um indivíduo a outro. Aqueles que conseguem identificar determinados alimentos ou tipos de estresse que desencadeiam o quadro devem procurar evitálos sempre que possível. Para a maioria dos indivíduos, especialmente para aqueles que apresentam tendência à constipação, a atividade física regular ajuda a manter o trato gastrointestinal funcionando normalmente.

Geralmente, o melhor é uma dieta normal. Os individuos com distensão abdominal e aumento de gases (flatulência) devem evitar feijões, repolho e outros alimentos de difícil digestão. O sorbitol, um adoçante artificial utilizado em alimentos dietéticos e em alguns medicamentos e gomas de mascar, não deve ser consumido em grandes quantidades. A frutose (um constituinte comum de frutas, bagas e algumas plantas) deve ser ingerida apenas em pequenas quantidades. A dieta pobre em gorduras ajuda algumas pessoas. Os indivíduos que apresentam concomitantemente síndrome do cólon irritável e deficiência de lactase não devem consumir produtos laticínios. Alguns indivíduos com síndrome do cólon irritável podem melhorar sua condição consumindo mais fibras, especialmente quando o problema principal é a constipação. Eles podem ingerir uma colher de sopa de farelo de cereal cru misturada em um grande volume de água ou de outros líquidos em cada refeição ou complementos de psílio mucilóide com dois copos de água.

O aumento de fibras dietéticas pode piorar alguns sintomas (p.ex., flatulência e distensão abdominal). Apesar deles serem freqüentemente prescritos, não foi comprovada a eficácia de medicamentos que retardam o funcionamento do trato gastrointestinal e que são considerados antiespasmódicos (p.ex., propantelina). Os medicamentos antidiarréicos (p.ex., difenoxilato e loperamida) podem ser úteis para os indivíduos com diarréia. Os antidepressivos, os tranqüilizantes leves, a psicoterapia, a hipnose e técnicas comportamentais podem ajudar alguns indivíduos com síndrome do cólon irritável.

Flatulência

A flatulência é a sensação de apresentar uma maior quantidade de gases no trato gastrointestinal. O ar é um gás que pode ser deglutido juntamente com os alimentos. A deglutição de pequenas quantidades de ar é normal, mas alguns indivíduos deglutem inconscientemente grandes quantidades, sobretudo quando estão ansiosos. Quase todo o ar deglutido é posteriormente eructado e, conseqüentemente, apenas uma pequena quantidade passa do estômago para o restante do trato gastrointestinal. A deglutição de grandes volumes de ar faz com que o indivíduo sintase “cheio” e ele pode eructar excessivamente ou eliminar flatos (expulsão do ar através do ânus).

Outros gases são produzidos no sistema gastrointestinal de várias maneiras. O hidrogênio, o metano e o dióxido de carbono são produzidos pelo metabolismo bacteriano dos alimentos no intestino, especialmente após a ingestão de certos alimentos (p.ex., feijões e repolho). Os indivíduos com deficiências das enzimas que metabolizam determinados açúcares também tendem a produzir grandes quantidades de gases quando consomem alimentos que contêm esses açúcares. A deficiência de lactase, o espru tropical e a insuficiência pancreática são problemas que podem acarretar a produção de grandes quantidades de gases. O corpo elimina os gases através da eructação, da sua absorção através das paredes do trato gastrointestinal para o sangue e, em seguida, excretando-os através dos pulmões e elimininando-os através do ânus. As bactérias presentes no sistema gastrointestinal também metabolizam alguns gases.

Sintomas

Acredita-se que a flatulência pode provocar dor abdominal, distensão abdominal, eructação e eliminação excessiva de gases através do ânus. No entanto, não se conhece a relação exata entre a flatulência e qualquer desses sintomas. Alguns indivíduos parecem ser particularmente sensíveis aos efeitos dos gases do sistema gastrointestinal; enquanto outros conseguem tolerar grandes volumes sem apresentar qualquer sintoma.

A flatulência pode produzir eructação repetida. As pessoas normalmente eliminam gases pelo ânus mais de 10 vezes por dia, mas a flatulência pode fazer com que a freqüência dessa eliminação seja maior. Algumas vezes, lactentes com cólicas abdominais eliminam quantidades excessivas de gases. Ainda não está claro se essas crianças realmente produzem mais gases que outras ou se elas são simplesmente mais sensíveis.

Tratamento

A distensão abdominal e eructação são difíceis de aliviar. Se a distensão abdominal for o problema principal, a redução do volume de ar deglutido pode ser útil. No entanto, isto pode ser difícil, pois as pessoas geralmente não têm consciência de que deglutem ar. Evitar o uso de goma de mascar e alimentar-se mais lentamente em um ambiente tranqüilo pode ser útil. Os indivíduos que eructam ou eliminam gases excessivamente podem ter de alterar a dieta, evitando alimentos de difícil digestão.

Descobrir quais são os alimentos que causam o problema pode requerer a eliminação de um alimento ou de um grupo de alimentos por vez. O indivíduo pode começar eliminando o leite e laticínios. A seguir, ele elimina as frutas frescas e, finalmente, determinados vegetais e outros alimentos. A eructação também pode ser decorrente da ingestão de bebidas carbonatadas ou do uso de antiácidos (p.ex., bicarbonato de sódio).

Apesar deles geralmente não serem eficazes, o uso de medicamentos algumas vezes ajuda o indivíduo a reduzir a produção de gases. O simeticone, presente em alguns antiácidos e também disponível isoladamente, pode prover um pequeno alívio. Algumas vezes, outros medicamentos (p.ex., determinados antiácidos, metoclopramida e betanecol) podem ser úteis. O consumo de uma maior quantidade de fibras ajuda algumas pessoas, mas, em outras, ele piora os sintomas.

Fonte: Manual Merck

Gastroenterite


A gastroenterite é um termo geral que se refere a um grupo de distúrbios cujas causas são as infecções e cujos sintomas incluem a perda de apetite, a náusea, o vômito, a diarréia leve a intensa, a dor tipo cólica e o desconforto abdominal. Juntamente com a água, ocorre a perda de eletrólitos (sobretudo de sódio e potássio) do organismo. Para o adulto saudável, o desequilíbrio eletrolítico é apenas inconveniente. No entanto, ele pode causar uma desidratação potencialmente letal em indivíduos muito doentes, muito jovens ou idosos.

Causas

As epidemias de diarréia em lactentes, crianças e adultos geralmente são causadas por microrganismos presentes na água ou em alimentos contaminados por fezes infectadas. As infecções também podem ser transmitidas de pessoa para pessoa, sobretudo quando um indi víduo com diarréia não realiza uma lavagem de mãos adequada após evacuar. As infecções causada por Salmonella podem ser adquiridas por meio da colocação dos dedos na boca após um contato com répteis (p. Ex., tartaruga ou iguana).Determinadas bactérias produzem toxinas que fazem com que as células da parede intestinal secretem eletrólitos e água.

Uma dessas toxinas é responsável pela diarréia aquosa, a qual é um sintoma do cólera. Uma toxina produzida por uma bactéria comum, a Escherichia coli (E. coli) pode causar a diarréia de viajante e alguns surtos de diarréia em berçários hospitalares. Algumas bactérias, como certas cepas de E. coli, Campylobacter, Shigella e Salmonella (inclusive o tipo que causa a febre tifóide), invadem o revestimento interno do intestino. Esses microrganismos lesam as células subjacentes e causam pequenas ulcerações que sangram e permitem uma considerável perda de um líquido que contém proteínas, eletrólitos e água.

Além das bactérias, vários vírus (p. Ex., vírus de Norwalk e o coxsackievírus) causam gastroenterite. Durante o inverno nas zonas temperadas, os rotavírus causam a maioria dos casos de diarréia grave o suficiente para exigir a internação de lactentes e crianças maiores. Além do estômago e do intestino, as infecções por enterovírus e adenovírus também podem afetar os pulmões. Determinados parasitas intestinais, particularmente a Giardia lamblia, invadem ou aderem ao revestimento intestinal e causam náusea, vômito, diarréia e uma sensação de malestar geral.

A doença resultante, denominada giardíase, é mais comum nos climas frios, como nas Montanhas Rochosas, norte dos Estados Unidos e norte da Europa. Se a doença tornarse crônica, ela pode impedir que o organismo absorva nutrientes, uma condição denominada síndrome de má absorção. Outro parasita intestinal, denominado Cryptosporidium, causa uma diarréia aquosa, a qual é algumas vezes acompanhada por cólicas abdominais, náusea e vômito. Nos indivíduos sadios, a doença quase sempre é leve, mas, naqueles com depressão do sistema imune, ela pode ser grave ou mesmo fatal. Tanto a Giardia quanto o Cryptosporidium são comumente adquiridos pela ingestão de água contaminada.

A gastroenterite pode ser decorrente da ingestão de substâncias químicas tóxicas encontradas em frutos do mar, plantas (p. Ex., cogumelos e batatas) ou em alimentos contaminados. Além disso, a intolerância à lactose – in capacidade de digerir e absorver o açúcar do leite (lactose) – pode causar gastroenterite. Os sintomas, que ocorrem após a ingestão de leite, algumas vezes são erroneamente considerados como indicadores de uma alergia ao leite. A ingestão acidental de metais pesados (p. Ex., arsênico, chumbo, mercúrio ou cádmio) na água ou em alimento pode desencadear o início súbito de náusea, vômito e diarréia. Muitos medicamentos, incluindo os antibióticos, também causam cólicas abdominais e diarréia.

Sintomas

O tipo e a gravidade dos sintomas dependem do tipo e da quantidade do microrganismo ou da toxina ingerida. Os sintomas também variam de acordo com a resistência do indivíduo à doença. Freqüentemente, os sintomas iniciam-se de forma súbita e, algumas vezes, dramática, com perda do apetite, náusea ou vômito. O indivíduo pode apresentar borgorimos (ruídos intestinais audíveis), cólicas abdominais e diarréia com ou sem sangue e muco visíveis. A distensão de alças intestinais pelo acúmulo de gás pode provocar dor.

O indivíduo pode apresentar febre, malestar generalizado, dores musculares e uma fadiga extrema.O vômito e a diarréia intensos podem acarretar uma desidratação importante e uma queda grave da pressão arterial (choque). O vômito ou a diarréia excessiva causa uma perda grave de potássio, com conseqüente redução da concentração do mesmo no sangue (hipocalemia). A concentração baixa de sódio no sangue (hiponatremia) também pode ocorrer, especialmente quando a reposição líquida é realizada com a ingestão de líquidos contendo pouco ou nenhum sal (p. Ex., água e chá). Todos esses desequilíbrios são potencialmente graves.

Diagnóstico

O diagnóstico da gastroenterite normalmente é óbvio a partir da sintomatologia. No entanto, a sua causa freqüentemente não é evidente. Algumas vezes, outros membros da família ou colegas de trabalho adoeceram recentemente e apresentaram sintomas semelhantes. Outras vezes, o indivíduo pode relacionar a doença com a ingestão de alimentos cozidos de modo inadequado, estragados ou contaminados, como uma maionese que permaneceu durante muito tempo fora da geladeira ou frutos do mar crus. Uma viagem recente, em especial para determinados países, também pode fornecer pistas.

Quando os sintomas são graves ou persistem por mais de 48 horas, devem ser realizados exames de fezes, investigando se a presença de leucócitos, bactérias, vírus ou parasitas. A análise do vômito, de alimentos ou do sangue também podem ser úteis na identificação da causa.Quando os sintomas persistem por mais do que alguns dias, o médico pode realizar um exame do intestino grosso com o auxílio de um colonoscópio (um tubo de visualização flexível) para descartar a existência de um distúrbio como, por exemplo, uma colite ulcerativa ou uma disenteria amebiana (amebíase).

Tratamento

Normalmente, o único tratamento necessário para a gastroenterite é ingestão de uma quantidade adequada de líquidos. Mesmo o indivíduo que apresenta vômito deve ingerir pequenas quantidades de líquido, pois este corrige a desidratação, o que, por sua vez, ajuda a interromper o vômito. Quando o vômito for prolongado ou quando o indivíduo apresentar uma desidratação grave, deve ser realizada a reposição hidroeletrolítica (água e eletrólitos) por via intravenosa.

Como as crianças desidratam mais rapidamente, elas devem receber líquidos com uma mistura adequada de sais e açúcares. Qualquer solução de reidratação comercial é eficaz. Entretanto, os líquidos comumente utilizados (p. Ex., refrigerantes, chás, isotônicos e sucos de frutas) não são adequados para as crianças com diarréia. Quando o vômito é muito intenso, o médico deve administrar uma injeção ou prescrever um supositório.

À medida que os sintomas melhoram, o indivíduo pode adicionar gradualmente alimentos leves (p. Ex., cereais cozidos, bananas, arroz, compota de maçã e torradas) à sua dieta. Se a dieta modificada não eliminar a diarréia em12 a 24 horas e se o indivíduo apresentar sangue nas fezes (indicando uma infecção bacteriana mais grave), drogas como o difenoxilato, a loperamida ou o subsalicilato de bismuto podem ser administradas. Como os antibióticos podem causar diarréia e estimular o crescimento de microrganismos resistentes a eles, raramente eles são adequados, mesmo quando uma bactéria conhecida é a cau sadora da gastroenterite. No entanto, os antibióticos podem ser usados quando a causa do distúrbio são determinadas bactérias (p. Ex.,Campylobacter, Shigella e Vibrio cholerae ).

Colite Hemorrágica

A colite hemorrágica é um tipo de gastroenterite na qual determinadas cepas de Escherichia coli (E. coli) infectam o intestino grosso e produzem uma toxina que causa uma diarréia sanguinolenta súbita e, algumas vezes, outras complicações graves. Na América do Norte, a cepa mais comum de E. coli que causa a colite hemorrágica é denominada E. coli. Esta cepa está presente no intestino do gado saudável. No Brasil, estudos recentes revelaram que mais de 80% do rebanho bovino é portador da Escherichia coli enterohemorrágica (EHEC), a qual causa a colite hemorrágica e pode disseminarse por meio do processamento industrial. Surtos podem ser causados pela ingestão da carne bovina não cozida adequadamente (especialmente carne moída) ou do leite não pasteurizado. A doença também pode ser transmitida de pessoa para pessoa, em particular entre crianças que ainda usam fraldas. A colite hemorrágica pode ocorrer em indivíduos de todas as faixas etárias. As toxinas de E. coli lesam o revestimento do intestino grosso. Quando elas são absorvidas para o interior da corrente sangüínea, elas também podem afetar outros órgãos (p. Ex., rins).

Sintomas

As cólicas abdominas intensas iniciam subitamente e são acompanhadas por uma diarréia aquosa, a qual, em 24 horas, normalmente tornase sanguinolenta. Comumente, o indivíduo apresenta uma temperatura corpórea normal ou discretamente elevada, mas, ocasionalmente, ela pode ser superior a 38,8°C. Habitualmente, a diarréia dura de 1 a 8 dias. Aproximadamente 5% dos indivíduos infectados pela E. coli apresentam a síndrome hemolíticourêmica.

Os sintomas incluem a anemia causada pela destruição dos eritrócitos (anemia hemolítica), a contagem plaquetária baixa (trombocitopenia) e a insuficiência renal aguda. Alguns indivíduos também apresentam crises convulsivas, acidentes vasculares cerebrais ou outras complicações derivadas de lesões nervosas ou cerebrais. Essas complicações ocorrem tipicamente na segunda semana da doença e podem ser precedidas por uma elevação da temperatura corpórea. A ocorrência da síndrome hemolíticourêmica é mais provável em crianças com menos de cinco anos de idade e em idosos. Mesmo sem essas complicações, a colite hemorrágica pode ser letal para os idosos.

Diagnóstico e Tratamento

Normalmente, o médico costuma suspeitar de uma colite hemorrágica quando o indivíduo refere apresentar uma diarréia sanguinolenta. Para o estabelecimento do diagnóstico, são realizados exames de fezes para se identificar a presença da E. coli. As amostras de fezes devem ser coletadas na primeira semana após o início dos sintomas. Outros exames como, por exemplo, a colonoscopia (exame do intestino grosso usando um tubo de visualização flexível), somente são realizados quando o médico suspeitar que a diarréia sanguinolenta é devida a uma outra causa.Os aspectos mais importantes do tratamento são a ingestão de quantidades suficientes de líquidos para repor a perda líquida e a manutenção de uma dieta leve. Os antibióticos não aliviam os sintomas, não eliminam as bactérias e nem impedem as complicações. Os indivíduos que apresentam complicações podem necessitar de internação na unidade de terapia intensiva e, inclusive, de diálise.

Intoxicação Alimentar por Staphylococcus

A intoxicação alimentar por Staphylococcus é a intoxicação decorrente da ingestão de alimentos contaminados com toxinas de determinadas cepas de estafilococos, que são bactérias comuns. Geralmente, ela causa diarréia e vômito.O risco de um surto é alto quando as pessoas que manipulam alimentos apresentam infecções cutâneas e contaminam os alimentos mantidos na temperatura ambiente, permitindo que as bactérias proliferem e produzam sua toxina no alimento. Os alimentos mais comumente contaminados incluem manjares, pudins, doces recheados com creme, leite, carnes processadas e peixes.

Sintomas e Diagnóstico

Comumente, os sintomas iniciam abruptamente, com o indivíduo apresentando náusea e vômito intensos 2 a 8 horas após a ingestão do alimento contaminado. Outros sintomas podem incluir as cólicas abdominais, a diarréia e, às vezes, a cefaléia e a febre. A perda importante de líquidos e eletrólitos pode causar fraqueza e hipotensão arterial (choque). Os sintomas duram menos de 12 horas e, normalmente, a recuperação é completa.

Ocasionalmente, a intoxicação alimentar é fatal, particularmente em crianças de baixa idade, em idosos e em indivíduos debilitados devido a uma doença crônica. Para o estabelecimento do diagnóstico, tudo que o médico normalmente necessita é da sintomatologia. Comumente, outras pessoas que consumiram o mesmo alimento também são afetadas e o distúrbio pode ser relacionado a uma única fonte de contaminação. Para confirmação do diagnóstico, o laboratório deverá identificar a presença de estafilococos no alimento suspeito. Também pode ser identificada a presença de estafilococos no exame microscópico do vômito.

Prevenção e Tratamento

A preparação cuidadosa de alimentos previne a intoxicação alimentar por estafilococos. Qualquer um que apresente uma infecção cutânea causada por Staphylococcus (p. Ex., furúnculos ou impetigo) não deve preparar alimentos para outras pessoas até a infecção ser curada.Comumente, o tratamento consiste na ingestão de uma quantidade adequada de líquido. Quando os sintomas são graves, o médico pode administrar uma injeção ou prescrever um supositório para ajudar no controle da náusea. Algumas vezes, a perda líquida é muito importante, e a reposição deve ser feita por via intravenosa. A reposição hidroeletrolítica intravenosa rápida provê uma grande melhoria do quadro.

Botulismo

O botulismo é uma intoxicação alimentar pouco comum e potencialmente letal causada pelas toxinas produzidas pela bactéria Clostridium botulinum. Essas toxinas são os venenos mais potentes que se conhece e podem produzir danos graves dos nervos e músculos. Como elas produzem lesões nervosas, são denominadas neurotoxinas. A classificação médica do botulismo é feita de acordo com a sua origem. O botulismo de origem alimentar é resultante da ingestão de alimentos contaminados. O decorrente de uma ferida é resultante de uma ferida contaminada. O botulismo do lactente também é decorrente da ingestão de alimentos contaminados e afeta lactentes.

Causas

A bactéria Clostridium botulinum forma esporos. Como as sementes, os esporos podem permanecer em um estado de latência durante muitos anos e são muito resistentes à destruição. Em condições ideais (presença de umidade e de nutrientes e ausência de oxigênio), os esporos começam a crescer e produzem uma toxina. Algumas toxinas produzidas pelo Clostridium botulinum são proteínas altamente tóxicas que resistem à destruição por parte das enzimas protetoras do intestino.Quando o alimento contaminado é consumido, a toxina penetra no organismo pelo sistema digestivo, causando o botulismo alimentar. As conservas caseiras são a fonte mais freqüente do botulismo, embora alimentos comerciais tenham sido responsáveis em cerca de 10% dos surtos.

Os vegetais, os peixes, as frutas e os condimentos são as fontes alimentares mais comuns. A carne bovina, os laticínios, a carne suína e de aves e outros alimentos também foram responsabilizados por casos de botulismo.O botulismo devido a uma ferida ocorre quando esta é contaminada pelo Clostridium botulinum. No interior da lesão, as bactérias produzem uma toxina que é então absorvida para o interior da corrente sangüínea e produz os sintomas.

O botulismo do lactente ocorre mais freqüentemente em lactentes com dois a três meses. Ao contrário do botulismo alimentar, ele não é causado pela ingestão da toxina préformada, mas é resultante da ingestão de alimentos que contêm esporos, que desenvolvemse no intestino do lactente produzindo toxinas. A causa da maioria dos casos é desconhecida, mas alguns deles foram relacionados ao consumo de mel. O Clostridium botulinum é comum no meio ambiente e muitos casos podem ser decorrentes da ingestão de pequenas quantidades de poeira ou de terra.

Sintomas

Os sintomas manifestamse subitamente, comumente 18 a 36 horas após a entrada da toxina no organismo, embora eles possam manifestarse 4 a 8 horas após a entrada da toxina. Quanto maior for a quantidade de toxina que entra no organismo, mais precoce será a manifestação da doença. Geralmente, os indivíduos que adoecem nas 24 horas que sucedem a ingestão do alimento contaminado apresentam um quadro mais grave. Os primeiros sintomas comumente incluem a boca seca, a visão dupla, a ptose palpebral e a incapacidade de focar objetos próximos.

As pupilas não contraem normalmente quando expostas à luz durante o exame oftalmológico, inclusive podendo não contrair em absoluto. Em alguns indivíduos, os primeiros sintomas são a náusea, o vômito, as cólicas estomacais e a diarréia. Outros indivíduos não apresentam esses sintomas gastrointestinais, principalmente aqueles que apresentam o botulismo devido a uma ferida.O indivíduo afetado apresenta dificuldade de fala e de deglutição. A dificuldade de deglutição pode levar à aspiração de alimentos e à pneumonia aspirativa. Os músculos dos membros superiores e inferiores e os respiratórios apresentam uma fraqueza progressiva à medida que os sintomas avançam gradualmente, de cima para baixo.

A incapacidade dos nervos para funcionar adequadamente afeta a força muscular, apesar da sensibilidade ser preservada. Apesar da gravidade dessa doença, o estado mental geralmente permanece inalterado. Em aproximadamente dois terços dos casos de botulismo do lactente, a constipação é o sintoma inicial. Em seguida, ocorre a paralisia dos nervos e músculos, começando na face e na cabeça e atingindo finalmente os membros superiores, os membros inferiores e os músculos respiratórios. Os nervos de um dos lados do corpo podem ser mais lesados que os do outro lado. Os problemas variam de uma letargia discreta e um tempo prolongado para se alimentar até a perda acentuada do tônus muscular e a incapacidade de respirar adequadamente.

Diagnóstico

No botulismo alimentar, o padrão característico do comprometimento nervoso e muscular pode levar o médico a estabelecer o diagnóstico. No entanto, os sintomas são freqüente e equivocadamente considerados como devidos a causas mais comuns de paralisia como, por exemplo, um acidente vascular cerebral. Uma provável origem alimentar provê uma pista adicional. Quando o botulismo ocorre em duas ou mais pessoas que consumiram o mesmo alimento preparado no mesmo lugar, o diagnóstico tornase mais fácil, mas ele somente é confirmado através da detecção da toxina no sangue ou da cultura de fezes positiva para a bactéria.

A toxina também pode ser identificada no alimento suspeito. A eletromiografia (um exame que analisa a atividade elétrica dos músculos) revela contrações musculares anormais após a estimulação elétrica em quase todos os casos de botulismo.O diagnóstico de botulismo devido a uma ferida é confirmado quando a toxina é encontrada no sangue ou quando uma cultura de amostra de tecido da ferida é positiva para a bactéria. A identificação da bactéria ou de sua toxina em uma amostra das fezes do lactente confirma o diagnóstico do botulismo do lactente.

Prevenção e Tratamento

Os esporos são altamente resistentes ao calor e podem sobreviver à cocção por várias horas. Contudo, as toxinas são destruídas imediatamente pelo calor e, conseqüentemente, o cozimento do alimento a 80 °C durante 30 minutos previne o botulismo alimentar. O cozimento dos alimentos imediatamente antes de seu consumo quase sempre previne a ocorrência de botulismo alimentar, mas os alimentos cozidos de modo inadequado podem causálo quando guardados após a cocção. As bactérias podem produzir algumas toxinas em temperaturas baixas de até mesmo 3°C, a temperatura usual de um refrigerador.

É essencial que o acondicionamento de alimentos (caseiros ou comerciais) seja adequado, assim como o aquecimento dos alimentos enlatados utilizados em casa antes de serem servidos. Os alimentos enlatados que apresentam qualquer evidência de deterioração podem ser letais e devem ser descartados. Além disso, as latas inchadas ou com vazamentos devem ser imediatamente descartadas. O mel não deve ser dado a crianças com menos de 1 ano, pois ele pode conter esporos.

Mesmo quantidades mínimas de uma toxina que penetra no organismo por meio da ingestão, da inalação ou da absorção pelo olho ou de uma solução de continuidade cutânea podem causar uma doença grave. Por essa razão, todo alimento que possa estar contaminado deve ser descartado imediatamente e com cuidado. O indivíduo deve evitar o contato com a pele e as mãos devem ser lavadas imediatamente após a manipulação do alimento.

Um indivíduo com suspeita de botulismo deve procurar um hospital imediatamente. Freqüentemente, o tratamento é iniciado antes dos resultados de exames estarem disponíveis. De qualquer modo, eles devem ser solicitados para confirmação do diagnóstico. Para livrar o organismo de qualquer toxina não absorvida, o médi co pode induzir o vômito, realizar uma lavagem gástrica e pode administrar um laxante para acelerar a passagem do conteúdo intestinal.

O maior perigo do botulismo é o comprometimento respiratório. Os sinais vitais (pulso, freqüência respiratória, pressão arterial e temperatura) são controlados regularmente. Caso ocorram problemas respiratórios, o indivíduo deverá ser transferido para uma unidade de terapia intensiva e pode ser mantido temporariamente sob ventilação mecânica. A terapia intensiva reduziu a taxa de mortalidade por botulismo de aproximadamente 70% no início deste século para menos de 10% atualmente.

A alimentação parenteral (por via venosa) também pode ser necessária. A antitoxina botulínica não reverte o dano causado, mas pode retardar ou inclusive interromper a deterioração física e mental, o que permite que o corpo vá se recuperando espontaneamente ao longo dos meses. Assim que o diagnóstico for estabelecido, a antitoxina botulínica é administrada o mais rapidamente possível, pois a probabilidade de êxito é maior quando ela é administrada nas primeiras 72 horas após o início dos sintomas. Atualmente, a antitoxina botulínica não é recomendada no tratamento do botulismo do lactente, mas a sua eficácia para esse tipo de botulismo vem sendo estudada.

Intoxicação Alimentar pelo Clostridium perfringens

Esse tipo de gastroenterite é causado pela ingestão de alimento contaminado por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium perfringens. Algumas cepas produzem uma doença leve a moderada que melhora sem tratamento. Outras cepas produzem um tipo de gastroenterite grave, freqüentemente fatal. Algumas toxinas não são destruídas pela cocção e outras o são. Comumente, a responsável pelos surtos de intoxicação alimentar pelo Clostridium perfringens é a carne contaminada.

Sintomas, Diagnóstico, e Tratamento

Normalmente, a gastroenterite é leve, embora possa ocorrer um quadro grave com dor abdominal, distensão abdominal devida ao acúmulo de gás, diarréia intensa, desidratação e choque. Normalmente, o médico suspeita do diagnóstico quando ocorreu um surto local da doença. O diagnóstico é estabelecido por meio do exame do alimento contaminado que confirma a presença do Clostridium perfringens. É realizada a administração de líquidos ao indivíduo e o repouso é aconselhado. Nos casos mais graves, a penicilina pode ser útil. Quando a doença destrói uma parte do intestino delgado, esta será removida cirurgicamente.

Diarréia do Viajante

A diarréia do viajante (também denominada gripe intestinal ou intestino do turista) é um distúrbio caracterizado por diarréia, náusea e vômito que comumente afeta pessoas que viajam.Os microrganismos com maior propensão para causar a diarréia do viajante são os tipos de Escherichia coli que produzem determinadas toxinas e alguns vírus (p. Ex., vírus de Norwalk).

Sintomas e Diagnóstico

A náusea, o vômito, o borborigmo (ruídos intestinais audíveis), a cólica abdominal e a diarréia podem ocorrer combinados e com um grau de gravidade variado. O vômito, a cefaléia e a dor muscular são particularmente comuns em infecções causadas pelo vírus de Norwalk. A maioria dos casos é leve e desaparece espontaneamente. Exames raramente são necessários.

Prevenção e Tratamento

Os viajantes devem dar preferência a restaurantes com uma reputação de segurança e não devem consumir alimentos ou bebidas oferecidos por vendedores ambulantes. Todo alimento deve ser cozido e toda fruta deve ser descascada. Os viajantes devem tomar apenas refrigerantes ou bebidas preparadas com água previamente fervida. Eles devem evitar as saladas que contêm vegetais não cozidos.

O subsalicilato de bismuto pode prover alguma proteção. O benefício da antibioticoterapia preventiva é controverso, mas esses medicamentos podem ser recomendados para os indivíduos particularmente suscetíveis às conseqüências da diarréia do viajante (p. Ex., aqueles com depressão do sistema imune).

O tratamento consiste em ingerir grande volume de líquidos, e em uma dieta leve. Antibióticos não são recomendados para casos leves de diarréia, a menos que se observe febre ou sangue nas fezes. Esses medicamentos podem causar danos, por eliminar as bactérias que crescem normalmente nas fezes, ao mesmo tempo em que promovem o crescimento de bactérias resistentes aos medicamentos.

Intoxicação Alimentar por Substâncias Químicas

A intoxicação alimentar por substâncias químicas é resultado da ingestão de plantas ou de animais que contêm veneno. A intoxicação por cogumelo venenoso (“chapéu de cobra”) pode ocorrer devido à ingestão de qualquer uma das numerosas espécies de cogumelos venenosos. O potencial de intoxicação pode variar dentro das mesmas espécies, em diferentes momentos da época de crescimento e de acordo como o cogumelo é cozido. Nos casos de intoxicação causados por muitas espécies de Inocybe e algumas espécies de Clitocybe, a substância perigosa é a muscarina.

Os sintomas, que iniciam alguns minutos ou até 2 horas após a ingestão, incluem o aumento do lacrimejamento, sialorréia (aumento da salivação), constrição pupilar, sudorese, vômito, cólicas estomacais, diarréia, tontura, confusão mental, coma e, ocasionalmente, crises convulsivas. Com o tratamento apropriado, o indivíduo geralmente recuperase em 24 horas, apesar de poder ocorrer morte em poucas horas. Na intoxicação pela faloidina causada pela ingestão da Amanita phalloides e espécies relacionadas de cogumelos, os sintomas começam de 6 a 24 horas após a ingestão do alimento contaminado. Os indivíduos apresentam sintomas intestinais similares aos da intoxicação muscarínica, e a lesão renal pode acarretar uma redução ou inclusive a supressão da produção de urina.

A icterícia devido à lesão hepática é comum e ocorre em 2 a 3 dias. Algumas vezes, os sintomas desaparecem espontaneamente, mas aproximadamente 50% dos indivíduos com intoxicação pela faloidina morrem em 5 a 8 dias. A intoxicação por plantas e arbustos pode ser causada pela ingestão de folhas e frutos de plantas domésticas ou silvestres. As raízes ou os brotos verdes que crescem sob o solo e que contêm solanina produzem náusea discreta, vômito, diarréia e fraqueza. As favas podem acarretar a ruptura dos eritrócitos em indivíduos geneticamente suscetíveis (favismo).

A intoxicação pelo ergot ocorre devido à ingestão de cereais contaminados pelo fungo Claviceps purpurea. As frutas da árvore de Koenig causam a doença do vômito da Jamaica. A intoxicação por frutos do mar geralmente é causada por pescados ou mariscos. Normalmente, a intoxicação causada por pescados é decorrente da ação de uma das três toxinas seguintes: a ciguatera, o tetraodon ou a histamina. Mais de quatrocentas espécies de peixes dos recifes tropicais da Flórida, das Índias Ocidentais ou do Pacífico causam intoxicação. A toxina é produzida por certos dinoflagelados, que são microrganismos marinhos devorados pelos peixes e que se acumulam em sua carne. Os peixes maiores e mais velhos são mais tóxicos que os menores e mais jovens.

O sabor do peixe não é afetado. Os métodos atuais de processamento não conseguem destruir a toxina. Os sintomas podem manifestarse de 2 a 8 horas após a ingestão do peixe. As cólicas abdominais, a náusea, o vômito e a diarréia persistem por 6 a 17 horas. Os sintomas tardios podem incluir o prurido, a sensação de formigamento, a cefaléia, a fraqueza e a dor muscular, a inversão das sensações de calor e frio, a dor facial. Ao longo de vários meses, os transtornos podem ser incapacitantes.Os sintomas da intoxicação pelo tetraodon, causada pela ingestão de baiacu, o qual é encontrado mais freqüentemente nos mares que banham o Japão, são similares aos da intoxicação pela ciguatera.

A morte pode ser causada pela paralisia dos músculos respiratórios. A intoxicação pela histamina proveniente de peixes como a cavala, o atum e o golfinho azul (“mahimahi”) ocorre quando os tecidos do peixe sofrem decomposição após a captura e produzem altas concentrações de histamina. Após a ingestão, a histamina produz um rubor facial imediato. Ela também pode causar náusea, vômito, dor de estômago e urticária alguns minutos após a ingestão. Geralmente, os sintomas duram menos de 24 horas.

De junho a outubro, especialmente nas costas do Pacífico e da Nova Inglaterra, os moluscos (p. Ex., mexilhões, mariscos, ostras e vieiras) podem devorar certos dinoflagelados venenosos. Estes são encontrados em determinados momentos e em uma quantidade tão grande que a água adquire uma coloração vermelha, um fenômeno conhecido como “maré vermelha”.

Esses organismos produzem uma toxina que afeta os nervos (as toxinas são denominadas neurotoxinas). A toxina que causa a intoxicação paralítica por moluscos continua ativa mesmo após o alimento ser cozido. O sintoma inicial, uma sensação de formigamento (“agulhadas, alfinetadas”) ao redor da boca,começa de 5 a 30 minutos após a ingestão. Aseguir, o indivíduo apresenta náusea, vômito ecólica abdominal.

Cerca de 25% dos indivíduosapresenta fraqueza muscular durante as horasseguintes, a qual pode evoluir para a paralisiados membros superiores e inferiores ou dosmúsculos respiratórios, podendo ser tão gravea ponto de acarretar a morte. A intoxicação por contaminantes pode afetarindivíduos que ingeriram frutas e vegetais nãolavados e que haviam sido submetidos a pulverização com arsênico, chumbo ou inseticidasorgânicos, ou aqueles que ingeriram líquidosácidos servidos em recipientes que contêmchumbo ou alimentos armazenados em recipientes revestidos de cádmio.

Tratamento

A menos que o indivíduo tenha apresentadovômitos violentos ou diarréia ou que os sintomas tenham surgido somente várias horas apósa ingestão, devese tentar eliminar a substância tóxica utilizando um método de esvaziamento gástrico (lavagem gástrica). Para induzir ovômito, podem ser utilizados medicamentoscomo, por exemplo, o xarope de ipeca. Alémdisso, pode ser administrado um laxante parapromover o esvaziamento intestinal. No casode persitência da náusea e dos vômitos, podeser realizada a administração intravenosa delíquido contendo sais e dextrose para corrigira desidratação ou qualquer desequilíbrio ácido ou básico.

Medicamentos analgésicos podemser necessários quando as cólicas estomacaisforem intensas. Ocasionalmente, a instituiçãoda respiração artificial e os cuidados intensivos de enfermagem são necessários.Qualquer pessoa que adoecer após ingerir umtipo de cogumelo não identificado deve tentarvomitar imediatamente e deve guardar o vômitopara que ele seja submetido a exames laboratoriais, pois o tratamento é diferente para asintoxicações causadas por espécies diferentes.

Na intoxicação muscarínica, é realizada a administração de atropina. Na intoxicação pelafaloidina, é necessária a instituição de uma dieta rica em carboidratos e a administraçãointravenosa de dextrose e cloreto de sódiointravenosos podem ser úteis na correção da baixa concentração de açúcar no sangue (hipo glicemia) causada pela grave lesão hepática. Algumas vezes, o manitol (administrado por via intravenosa) é utilizado no tratamento da intoxicação grave pela ciguatera. Os bloqueadores da histamina (antihistamínicos) são eficazes na redução dos sintomas da intoxicação pela histamina oriunda de peixes.

Síndrome do Restaurante Chinês

O que popularmente se conhece como a síndrome do restaurante chinês não é um tipo de intoxicação alimentar por produto químico. Ao contrário, tratase de uma reação de hipersensibilidade ao glutamato monossódico (GMS), uma substância que acentua o sabor e é freqüentemente utilizada na culinária chinesa. Em indivíduos suscetíveis, o glutamato monossódico pode produzir uma sensação de pressão na face, dor torácica e sensação de queimação em todo o corpo. A quantidade de glutamato monossódico que pode causar esses sintomas varia consideravelmente de pessoa para pessoa.

Efeitos Adversos Medicamentosos

A náusea, o vômito e a diarréia são efeitos colaterais comuns de muitos medicamentos. Os responsáveis mais freqüentes são os antiácidos que contêm magnésio como ingrediente principal, os antibióticos, as drogas antineoplásicas, a colchicina (utilizada no tratamento da gota), os digitálicos (utilizados no tratamento da insuficiência cardíaca) e os laxantes. O uso abusivo de laxantes pode acarretar fraqueza, vômito, diarréia, perda de eletrólitos e outros distúrbios. Pode ser difícil reconhecer que um medicamento seja a causa da gastroenterite. Nos casos leves, o médico pode aconselhar o indivíduo a interromper o uso do medicamento e, posteriormente, retomar o seu uso. Se os sintomas desaparecerem durante o período de interrupção e retornarem quando o medicamento volta a ser utilizado, ele pode ser a causa dos sintomas gastrointestinais. Nos casos graves de gastroenterite, o médico pode orientar o indivíduo a suspender o medicamento e nunca mais utilizálo.

Indigestão


Indigestão é um termo impreciso que as pessoas utilizam para referir se a sintomas diferentes. Neste capítulo, o termo é empregado para indicar uma ampla gama de distúrbios do trato digestivo, incluindo a dispepsia, a náusea e o vômito, a regurgitação, a sensação de bolo na garganta e a halitose (mal hálito).

Dispepsia

A dispepsia é a dor ou o desconforto localizado na região abdominal superior ou no tórax e que, freqüentemente, é descrita como a sensação de acúmulo de gases, de plenitude ou como uma dor tipo queimação. A dispepsia possui muitas causas. Algumas são distúrbios graves como, por exemplo, úlceras gástricas, úlceras duodenais, gastrite (inflamação do estômago) e câncer gástrico.

A ansiedade também causa dispepsia, possivelmente pelo fato de o indivíduo ansioso tender a suspirar ou a inspirar deglutindo ar, o que pode acarretar distensão gástrica ou intestinal e também eructação (arrotos) e flatulência. Além disso, a ansiedade pode aumentar a sensibilidade do indivíduo a sensações desagradáveis, de modo que pequenos desconfortos tornamse muito estressantes. A bactéria Helicobacter pylori pode causar inflamação e úlceras gástricas ou duodenais, mas não está claro se ela pode causar dispepsia leve nos indivíduos que não apresentam úlcera.

Sintomas e Diagnóstico

A dor ou o desconforto na região abdominal superior ou no tórax pode ser acompanhada por eructação e borborigmos (ruídos intestinais audíveis). Para alguns indivíduos, a ingestão de alimentos piora a dor, enquanto que, para outros, a alimentação a alivia. Outros sintomas incluem a falta de apetite, a náusea, a constipação, a diarréia e a flatulência. Freqüentemente, um indivíduo com dispepsia é tratado sem que sejam realizados exames laboratoriais. Quando estes são realizados, eles não conseguem identificar qualquer anormalidade em cerca de 50% dos casos.

Mesmo quando anormalidades são detectadas, elas freqüentemente não são responsáveis por todos os sintomas. No entanto, como a dispepsia pode ser um sinal de alerta precoce de uma doença grave, exames são solicitados em determinados casos. Quando a dispepsia persiste por mais do que algumas poucas semanas, quando ela não é responsiva ao tratamento ou quando ela é acompanhada por perda de peso ou por outros sintomas inusuais, o indivíduo é submetido a exames. Normalmente, os exames laboratoriais incluem o hemograma completo e a pesquisa de sangue oculto nas fezes.

Estudos radiográficos contrastados (com bário) do esôfago, do estômago ou do intestino delgado podem ser realizados quando o indivíduo apresenta dificuldade de deglutição, vômitos, perda de peso ou uma dor que melhora ou piora com a ingestão de alimentos. Um endoscópio (tubo de visualização de fibra óptica) é utilizado para examinar o interior do esôfago, do estômago ou da porção inicial do intestino e para a realização de uma biópsia da mucosa gástrica. A amostra de tecido coletada é examinada ao microscópio para se detectar a presença do Helicobacter pylori. Algumas vezes, outros exames podem ser úteis como, por exemplo, aqueles que mensuram as contrações esofágicas ou a resposta do esôfago ao ácido.

Causas Comuns de Dispepsia

  • Deglutição de ar (aerofagia)
  • Regurgitação (refluxo) de ácido do estômago
  • Irritação gástrica (gastrite)
  • Úlcera gástrica ou duodenal
  • Câncer do estômago
  • Inflamação da vesícula biliar (colecistite)
  • Intolerância à lactose (incapacidade de digerir leite e produtos laticínios)
  • Distúrbio da motilidade intestinal (p.ex., síndrome do cólon irritável)
  • Ansiedade ou depressão

Tratamento

Se a causa da dispepsia não for identificada, o médico tratará os sintomas. Pode ser tentado um tratamento de curto prazo com um antiácido ou um bloqueador H2 (p.ex., cimetidina, ranitidinaou famotidina). Quando o indivíduo apresenta uma infecção do revestimento gástrico causada pelo Helicobacter pylori, o médico pode prescrever o subsalicilato de bismuto e um antibiótico (p.ex., amoxicilina ou metronidazol).

Náusea e Vômito

A náusea é uma sensação desagradável no abdômen que, freqüentemente, termina em vômito. O vômito é a eliminação forçada do conteúdo gástrico através da boca. A náusea e o vômito são causados pela ativação do centro do vômito localizado no cérebro. O vômito é uma das formas mais dramáticas de eliminação de substâncias nocivas pelo organismo. Ele pode ser causado pela ingestão ou deglutição de uma substância irritante ou tóxica ou de alimento estragado. Algumas pessoas apresentam náusea e podem vomitar devido aos movimentos de um barco, um carro ou um avião.

O vômito pode ocorrer durante a gravidez, particularmente nas primeiras semanas, sobretudo pela manhã, e pode ser intenso. Muitos medicamentos, como as drogas antineoplásicas (quimioterapia) e os analgésicos opiáceos (p.ex., morfina) podem causar náusea e vômito. A obstrução mecânica do intestino acaba causando vômito quando os alimentos e líquidos refluem a partir do bloqueio. Além disso, a irritação ou a inflamação do estômago, do intestino ou da vesícula biliar pode causar vômito. Os problemas psicológicos também podem causar náusea e vômito (vômito psicogênico).

Esse vômito pode ser intencional (p.ex., um indivíduo com bulimia vomita para perder peso). Ele pode ser nãointencional, sendo uma resposta condicionada para a obtenção de algum benefício (p.ex., evitar a ida à escola). O vômito psicogênico também pode ser resultante de uma situação ameaçadora ou desagradável que produz ansiedade. Algumas vezes, os fatores psicológicos que causam vômito dependem da base cultural do indivíduo.

Por exemplo, para a maioria dos americanos, comer formigas cobertas com chocolate é repulsivo, enquanto que em outras partes do mundo elas são consideradas uma iguaria. O vômito pode ser uma expressão de hostilidade (p.ex., uma criança que vomita durante uma crise de raiva) ou pode ser causado por um conflito psicológico grave. Por exemplo, uma mulher que deseja ter filhos pode vomitar na data ou próximo da data em que ela foi submetida à histerectomia (remoção cirúrgica do útero).

Sintomas, Diagnóstico e Tratamento

Logo antes do vômito, o indivíduo freqüentemente apresenta náusea, vômito seco e salivação excessiva. Embora o indivíduo geralmente sinta malestar durante o episódio de vômito, após vomitar ele sente uma sensação de alívio.Para identificar a causa, o médico primeiramente questiona o paciente sobre outros sintomas. A seguir, ele pode solicitar exames laboratoriais simples (p.ex., hemograma completo e urinálise) e exames de sangue mais sofisticados e estudos radiográficos e ultrasonográficos da vesícula biliar, do pâncreas, do estômago e do intestino.

Quando é detectada uma causa orgânica do vômito, esta deve ser tratada. Quando a sua causa é psicológica, o tratamento pode consistir na tranqüilização do paciente ou da prescrição de uma medicação. Para a resolução de problemas complexos, o indivíduo pode necessitar de consultas regulares. Para suprimir a náusea, o médico pode prescrever medicamentos antieméticos.

Regurgitação

A regurgitação é a expulsão de alimentos a partir do esôfago ou do estômago sem náusea ou contrações vigorosas da musculatura abdominal.Freqüentemente, a regurgitação é causada pelo refluxo gastroesofágico (passagem do suco gástrico para o esôfago). Ela também pode ser causada por uma estenose ou por uma obstrução do esôfago. A obstrução pode ser decorrente de várias causas, incluindo o câncer de esôfago.

Além disso, ela pode ser causada por uma incoordenação do controle nervoso do esôfago e de seu esfíncter na entrada do estômago (esfíncter esofágico inferior). A regurgitação sem causa orgânica é denominada ruminação. Ela é comum em lactentes, mas não o é em adultos. A ruminação em adultos ocorre sobretudo naqueles que apresentam distúrbios emocionais, especialmente durante períodos de estresse.

Sintomas, Diagnóstico e Tratamento

O ácido proveniente do estômago causa a regurgitação de um material com sabor acre ou amargo. Um esôfago estenosado ou obstruído causa a regurgitação de um líquido sem gosto que contém muco ou alimento não digerido. Na ruminação, os indivíduos regurgitam pequenas quantidades de alimento do estômago, geralmente 15 a 30 minutos após a alimentação Normalmente, eles mastigam o material novamente e tornam a deglutilo. Esse distúrbio não é acompanhado por náusea, dor ou dificuldade de deglutição. O médico procura uma causa orgânica que justifique a regurgitação.

O refluxo gastroesofágico é diagnosticado por estudos radiográficos, de mensurações da pressão e da acidez do esôfago e de outros testes. O diagnóstico de estenose ou de obstrução esofágica requer a realização de radiografias ou de uma endoscopia. O tratamento de uma estenose ou de uma obstrução esofágica depende de sua causa. Se não foi detectada qualquer causa orgânica, drogas que estimulam a contração normal (p.ex., metoclopramida ou cisaprida) podem ser úteis. Alternativamente, a terapia de relaxamento ou o biofeedback podem aliviar o quadro.

Sensação de Bolo na Garganta

A sensação de bolo na garganta (antigamente denominada globo histérico) é a sensação de apresentar um bolo na garganta, quando ele na realidade não existe.Essa sensação pode ser decorrente de uma atividade muscular ou de sensibilidade anormal do esôfago. Ela também pode ser conseqüencia da deglutição freqüente e do ressecamento da garganta devidos à ansiedade, de uma outra emoção forte ou de respiração acelerada. A sensação de bolo na garganta pode fazer com que o indivíduo apresente relutância para alimentarse. Entretanto, o quadro (que é semelhante à reação normal de sufocação que ocasionalmente é desencadeada por sofrimento, ansiedade,raiva, orgulho ou alegria) é aliviado com aingestão de alimento ou bebida ou pelo choro.

Diagnóstico e Tratamento

Para identificar a causa da sensação de bolo,o médico interroga o indivíduo e realiza umexame físico. Ele pode solicitar um hemogramacompleto, uma radiografia torácica, um estudocontrastado do esôfago e a mensuração daspressões no esôfago. Quando os sintomas forem típicos, não for observada qualquer alteração orgânica e se tensões sociais ou psicológicas forem evidentes, o diagnóstico é estabelecido.Tranqüilizar o indivíduo, assegurandolhe quenão se trata de um distúrbio grave, pode proporcionar alívio. Não existe uma droga específica que alivie a sensação de bolo na garganta,mas os medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos podem ser úteis. Quando o problema for a ansiedade, a depressão ou um outroproblema psicossocial, ele deve ser tratado deforma específica, possivelmente com o auxíliode um psiquiatra ou psicólogo.

Halitose

A halitose (mau hálito) é um odor desagradável da respiração. Normalmente, a halitose é causada por determinados alimentos ou substâncias que foram deglutidos ou inalados, por alguma doença dentária ou gengival, ou pela fermentação de partículas alimentares na boca. A halitose pode ser um sintoma de determinadas doenças que afetam outros orgãos (p.ex., diabetes não controlado ou doenças hepáticas, pulmonares ou bucais). A halitose normalmente não é causada por distúrbios intestinais.

Como o esfíncter esofágico inferior permanece fechado (exceto durante a deglutição), os odores gástricos ou de regiões inferiores do trato digestivo não conseguem subir. Entretanto, um tumor esofágico ou gástrico pode provocar a regurgitação até a boca de líquido ou de gás com odor fétido. A halitose psicogênica é a crença de possuir mau hálito sem que isto seja verdade. Esse problema pode ocorrer em indivíduos que tendem a exagerar as sensações normais do corpo.

Algumas vezes, a halitose psicogênica é causada por um distúrbio mental grave (p.ex., esquizofrenia). Um indivíduo com pensamentos obsessivos pode apresentar uma sensação exagerada de estar sujo. Um indivíduo paranóico pode apresentar o delírio de que seus órgãos estão apodrecendo.

Tratamento

As causas orgânicas podem ser corrigidas ou removidas. Por exemplo, as pessoas podem parar de consumir alho ou podem melhorar a higiene dentária. Existem muitos sprays ou colutórios desodorizantes e um dos melhores ingredientes ativos é a clorofila. A ingestão de carvão ativado, que absorve odores, é uma outra medicação. A asseguração por parte do médico da não existência de halitose pode auxiliar alguns indivíduos com halitose psicogênica. No caso de persistência do problema, a psicoterapia pode ser benéfica.

Distúrbios do Pâncreas



O pâncreas é uma glândula em forma de folha, com aproximadamente 12,5 centímetros de comprimento. Ele é circundado pela borda inferior do estômago e pela parede do duodeno (a primeira porção do intestino delgado que se conecta ao estômago). O pâncreas possui duas funções principais: a secreção de um líquido que contém enzimas digestivas para o interior do duodeno e a secreção dos hormônios insulina e glucagon, os quais são necessários para metabolizar o açúcar, para a corrente sangüínea.

Esse órgão também secreta grandes quantidades de bicarbonato de sódio para o duodeno, o qual neutraliza o ácido proveniente do estômago. Essa secreção de bicarbonato de sódio flui através de um ducto coletor que avança ao longo do centro do pâncreas (ducto pancreático). Em seguida, esse ducto unese ao ducto biliar comum (proveniente da vesícula biliar e do fígado) para formar a ampola de Vater, a qual desemboca no duodeno ao nível do esfíncter de Oddi.

Pancreatite Aguda

A pancreatite aguda é uma inflamação aguda do pâncreas que pode ser leve ou letal.

Normalmente, o pâncreas secreta suco pancreático através do ducto pancreático ao duodeno. Esse suco contém enzimas digestivas em uma forma inativa e um inibidor que inativa qualquer enzima que é ativada no seu percurso até o duodeno. A obstrução do ducto pancreático (p.ex., por um cálculo biliar alojado no esfíncter de Oddi) interrompe o fluxo do suco pancreático. Geralmente, a obstrução é temporária e causa um dano limitado, o qual é logo reparado. Entretanto, quando a obstrução persiste, ocorre um acúmulo de enzimas ativadas no pâncreas, as quais suplantam a capacidade do inibidor e começam a digerir as células do pâncreas, causando uma grave inflamação.

A lesão pancreática pode permitir que as enzimas extravasem e penetrem na corrente sangüínea ou na cavidade abdominal, onde elas causam irritação e inflamação do revestimento da cavidade abdominal (peritonite) ou de outros órgãos. A parte do pâncreas que produz hormônios, especialmente a insulina, tende a não ser lesada ou afetada.

Os cálculos biliares e o alcoolismo são responsáveis por aproximadamente 80% das internações hospitalares devido à pancreatite aguda. As mulheres apresentam pancreatite aguda causada por cálculos biliares cerca de 1,5 vezes mais freqüentemente que os homens, enquanto que os homens apresentam pancreatite alcoólica seis vezes mais que as mulheres.

Os cálculos biliares que causam a pancreatite aguda podem ficar retidos no esfíncter de Oddi durante algum tempo, bloqueando a abertura do ducto pancreático, mas a maioria dos cálculos biliares passa para o trato intestinal. O consumo diário de mais de 120 ml de álcool durante vários anos pode provocar a obstrução dos pequenos dúctulos pancreáticos que drenam para o ducto pancreático, desencadeando finalmente a pancreatite aguda. Uma crise de pancreatite pode ser desencadeada por um consumo excessivo de álcool ou por uma refeição copiosa. Existem muitos outros distúrbios que podem causar uma pancreatite aguda.

Sintomas

Quase todos os indivíduos com pancreatite aguda apresentam uma dor abdominal intensa, na zona superior do abdômen médio, abaixo do esterno. Freqüentemente, a dor irradia para as costas. Raramente, a dor é sentida primeiramente na região abdominal inferior. Normalmente, a dor tem um início súbito e atinge a intensidade máxima em minutos, é constante e intensa, é do tipo penetrante e dura vários dias. Comumente, mesmo doses elevadas de um narcótico injetável não provêem alívio completo.

A tosse, os movimentos vigorosos e a respiração profunda pioram a dor. A posição sentada ereta e a inclinação para frente podem prover algum alívio. A maioria dos indivíduos sente náusea e tem que vomitar, algumas vezes chegando a a presentar vômito seco, isto é, vômito sem eliminação de qualquer conteúdo.

Alguns indivíduos, sobretudo aqueles que apresentam pancreatite alcoólica aguda, podem jamais apresentar qualquer sintoma além de uma dor moderada. Outros sentemse muito mal. Eles apresentam um aspecto enfermo, apresentam uma sudorese excessiva, um aumento da freqüência de pulso (100 a 140 batimentos por minuto) e uma respiração superficial e rápida. A inflamação dos pulmões pode contribuir para a respiração rápida.

Inicialmente, a temperatura corpórea pode ser normal, mas ela aumenta em algumas horas para 37,7° a 38,3°C. A pressão arterial pode estar elevada ou baixa, mas ela tende a cair quando o indivíduo fica em pé, provocando desmaio. À medida que a doença evolui, os indivíduos tendem a perder contato com o meio ambiente. Alguns tornamse quase inconscientes. Ocasionalmente, a esclera (o branco dos olhos) adquire uma coloração amarelada.

Um em cada cinco indivíduos com pancreatite aguda apresenta aumento de volume na região abdominal superior. Esse aumento de volume pode ocorrer devido à interrupção do movimento do conteúdo gástrico e intestinal (uma condição denominada íleo paralítico) ou porque o pâncreas inflamado aumenta de volume e empurra o estômago para frente. Além disso, pode ocorrer acúmulo de líquido no interior da cavidade abdominal (uma condição denominada ascite).

Na pancreatite aguda grave (pancreatite necrotisante), a pressão arterial pode cair e pode levar ao choque. A pancreatite aguda grave é potencialmente letal.

Diagnóstico

A dor abdominal característica faz com que o médico suspeite de pancreatite aguda, principalmente em um indivíduo com uma colecistopatia (doença da vesícula biliar) ou que é alcoolista. Ao exame, o médico freqüentemente observa rigidez da musculatura abdominal. Durante a ausculta abdominal, realizada com o auxílio de um estetoscópio, ele pode observar uma redução dos ruídos intestinais.

Nenhum exame de sangue isoladamente estabelece o diagnóstico de pancreatite aguda, mas alguns exames o confirmam. Normalmente, os níveis séricos de duas enzimas produzidas pelo pâncreas (a amilase e a lipase) aumentam no primeiro dia da doença. No entanto, elas retornam ao normal após três a sete dias. Contudo, algumas vezes, os níveis dessas enzimas não aumentam em decorrência de uma destruição extensa do pâncreas ocorrida em episódios anteriores de pancreatite, restando poucas células para a liberação das enzimas. Os indivíduos com pancreatite aguda grave freqüentemente possuem menos eritrócitos (glóbulos vermelhos) do que o normal por causa de hemorrágias pancreáticas ou abdominais.

As radiografias abdominais padrões podem revelar uma dilatação de alças intestinais ou, raramente, um ou mais cálculos biliares. A ultrasonografia pode mostrar a presença de cálculos biliares na vesícula biliar e, às vezes, no ducto biliar comum. Além disso, ela pode detectar o aumento de volume do pâncreas.

A tomografia computadorizada (TC) é particularmente útil na detecção de alterações do tamanho do pâncreas e é utilizada em casos graves ou naqueles que apresentam complicações, como, por exemplo, uma pressão arterial extremamente baixa. Como as imagens são muito nítidas, a tomografia computadorizada ajuda o médico a estabelecer um diagnóstico preciso.

Na pancreatite aguda grave, a tomografia computadorizada ajuda a determinar o prognóstico. Quando a TC indica que o pâncreas está apenas discretamente aumentado de volume, o prognóstico é excelente. Por outro lado, se ela revelar grandes áreas de destruição no pâncreas, o prognóstico não é tão bom.

A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (uma técnica radiográfica que revela a estrutura do ducto biliar comum e do ducto pancreático) normalmente é realizada somente quando a causa suspeita da pancreatite é um cálculo biliar alojado no ducto biliar comum. O médico passa um endoscópio através da boca do paciente até o intestino delgado, onde está localizado o esfíncter de Oddi. A seguir, ele injeta um contraste radiopaco (visível nas radiografias) nos ductos. Se as radiografias revelarem a persença de um cálculo biliar, o médico pode utilizar o endoscópio para removêlo.

Tratamento

A maioria dos indivíduos com pancreatite é hospitalizada. Um indivíduo com uma pancreatite aguda leve deve evitar a ingestão de alimentos e de água, pois isto estimula o pâncreas a produzir mais enzimas. Os líquidos e os nutrientes são administrados através da via intravenosa. Uma sonda é passada através do nariz até o estômago para remover o líquido e o ar, sobretudo quando a náusea e o vômito persistem.

Geralmente, o indivíduo com pancreatite aguda grave é internado em uma unidade de terapia intensiva, onde seus sinais vitais (pulso, pressão arterial e freqüência respiratória) são controlados. O débito urinário é mensurado freqüentemente. Além disso, são coletadas amostras de sangue para a mensuração de seus vários componentes (p.ex., hematócrito, glicemia, eletrólitos, contagem leucocitária e enzimas).

A alimentação do indivíduo é realizada através da via intravenosa e ele não recebe nada pela boca por pelo menos duas semanas, esta medida podendo ser prolongada por até seis semanas. Uma sonda é passada através da narina até o estômago com o objetivo de manter o estômago vazio e, freqüentemente, para administrar antiácidos, visando à prevenção da ocorrência de úlceras.

O volume sangüíneo é cuidadosamente mantido através da administração de líquidos intravenosos e a função cardíaca é rigorosamente controlada. O oxigênio é administrado através de uma máscara facial ou de cateteres nasais para aumentar a sua concentração na corrente sangüínea. Caso a oxigenioterapia for inadequada, o indivíduo pode necessitar de ventilação assistida com o auxílio de um respirador mecânico. A dor intensa normalmente é tratada com a meperidina.

Ocasionalmente, é necessária a realização de uma cirurgia nos primeiros dias de uma pancreatite aguda grave. Por exemplo, a cirurgia pode ser utilizada para aliviar a pancreatite decorrente de uma lesão ou para o esclarecimento de um um diagnóstico incerto. Algumas vezes, quando a condição do indivíduo deteriora após a primeira semana da doença, uma cirurgia é realizada para remover o tecido pancreático infectado e não funcionante.

A infecção de um pâncreas inflamado é um risco, sobretudo após a primeira semana da doença. Algumas vezes, o médico suspeita de uma infecção porque a condição do paciente piora e ele apresenta febre e um aumento da contagem leucocitária após os outros sintomas terem começado a desaparecer. O diagnóstico é confirmado através de hemoculturas e da realização de uma tomografia computadorizada (TC). O médico pode coletar uma amostra de material infectado do pâncreas inserindo uma agulha através da pele até o pâncreas. As infecções são tratadas com antibióticos e cirurgia.

Algumas vezes, ocorre a formação de um pseudocisto no pâncreas, cheio de enzimas pancreáticas, líquido e resíduos tissulares, o qual expande como um balão. Quando um pseudocisto aumenta de volume e causa dor ou outros sintomas, o médico deve realizar sua descompressão. A descompressão é particularmente urgente quando o pseudocisto aumenta de volume rapidamente, tornase infectado, sangra ou parece que está a ponto de romper. Dependendo de sua localização, a descompressão pode ser obtida através da passagem de um cateter através da pele e permitindo que o pseudocisto drene por várias semanas ou através da realização de um procedimento cirúrgico.

Quando a pancreatite aguda é devida a cálculos biliares, o tratamento depende de sua gravidade. Se a pancreatite for leve, a remoção da vesícula biliar normalmente pode ser postergada até o desaparecimento dos sintomas. A pancreatite grave devida a cálculos biliares é tratada endoscopicamente ou cirurgicamente. O procedimento cirúrgico consiste na remoção da vesícula biliar e na desobstrução dos ductos. Nos indivíduos idosos que apresentam outras doenças (p.ex., uma cardiopatia), o médico freqüentemente utiliza primeiramente a endos copia, mas, quando esse tratamento fracassa, a cirurgia deve ser realizada.

Causas de Pancreatite Aguda

  • Cálculos biliares
  • Alcoolismo
  • Drogas como a furosemida e a azatioprina
  • Parotidite (caxumba)
  • Níveis sangüíneos elevados de lipídeos, especialmente de triglicerídeos
  • Lesão pancreática causada por uma cirurgia ou uma endoscopia
  • Lesão pancreática causada por contusões ou feridas penetrantes
  • Câncer do pâncreas
  • Redução da irrigação sangüínea pancreática (p.ex., devido a uma pressão arterial extremamente baixa)
  • Pancreatite hereditária

Pancreatite Crônica

A pancreatite crônica é uma inflamação do pâncreas de longa duração.
Nos Estados Unidos e no Brasil, a causa mais comum da pancreatite crônica é o alcoolismo. Outras causas incluem uma predisposição hereditária e a obstrução do ducto pancreático resultante da estenose do ducto ou de um câncer pancreático. Raramente, um episódio de pancreatite aguda grave provoca uma estenose do ducto pancreático tão acentuada que acarreta a pancreatite crônica.

Em muitos casos, a causa da pancreatite é desconhecida.
Nos países tropicais (p.ex., Índia, Indonésia e Nigéria), a pancreatite crônica de causa desconhecida em crianças e adultos jovens pode dar origem ao diabetes e a depósitos de cálcio no pâncreas. Os sintomas iniciais comumente são decorrentes do diabetes.

Sintomas

Os sintomas da pancreatite crônica geralmente enquadramse em dois padrões. Em um deles, o indivíduo apresenta uma dor na região média do abdômen de intensidade variável. No outro, o indivíduo apresenta episódios intermitentes de pancreatite com sintomas semelhantes aos de uma pancreatite aguda leve a moderada. Algumas vezes, a dor é intensa e dura de muitas horas a vários dias. Em ambos os padrões, à medida que a pancreatite crônica evolui, as células que secretam enzimas digestivas são lentamente destruídas e, finalmente, a dor desaparece.

Como a quantidade de enzimas digestivas diminui, o alimento é absorvido inadequadamente e o indivíduo pode evacuar fezes volumosas e fétidas. As fezes apresentam uma coloração clara e um aspecto gorduroso, podendo inclusive conter gotículas de gordura. A má absorção também leva à perda de peso. Finalmente, as células secretoras de insulina do pâncreas podem ser destruídas, levando gradualmente ao diabetes.

Diagnóstico

O médico suspeita de pancreatite crônica baseandose nos sintomas do paciente ou nos antecedentes de episódios de pancreatite aguda. Os exames de sangue são menos úteis no diagnóstico da pancreatite crônica que no da pancreatite aguda, mas eles podem revelar níveis elevados de amilase e de lipase. Além disso, os exames de sangue podem ser utilizados para se verificar a concentração de glicose (um tipo de açúcar) no sangue, a qual pode estar elevada.

As radiografias abdominais e a ultrasonografia podem revelar a presença de cálculos no pâncreas. A pancreatografia retrógrada endoscópica (uma técnica radiográfica que mostra a estrutura do ducto pancreático) pode mostrar um ducto dilatado, uma estenose do ducto ou a presença de cálculos no mesmo. A tomografia computadorizada (TC) mostra essas anormalidades, assim como o tamanho, a forma e a textura do pâncreas. Ao contrário da pancreatografia retrógrada endoscópica, a tomografia computadorizada não exige o uso de um endoscópio.

Tratamento

Durante uma crise, a abstinência de álcool é essencial. O jejum alimentar e a administração de líquidos apenas pela via intravenosa podem prover um repouso ao pâncreas e ao intestino e pode aliviar a crise dolorosa. Freqüentemente, no entanto, é necessária a administração de analgésicos narcóticos para aliviar a dor.

Posteriormente, a ingestão de quatro ou cinco refeições por dia compostas por alimentos hipogordurosos e hipoprotéicos e ricos em carboidratos ajudará a reduzir a freqüência e a intensidade das recidivas. O paciente também deve continuar a abstinência alcoólica. Quando a dor persiste, o médico investiga a possibilidade de complicações (p.ex., uma massa inflamatória na cabeça do pâncreas ou um pseudocisto). Uma massa inflamatória pode exigir uma intervenção cirúrgica e um pseudocisto que produz dor à medida que cresce pode exigir uma descompressão.

Se o indivíduo apresentar uma dor contínua e não apresentar complicações, o médico normalmente realiza o bloqueio dos nervos que inervam o pâncreas para impedir que os estímulos dolorosos cheguem ao cérebro. Se esse procedimento não apresentar um bom resultado, a cirurgia é realizada. Por exemplo, quando o ducto pancreático encontrase dilatado, a criação de uma derivação (bypass) do pâncreas para o intestino delgado alivia a dor em cerca de 70% a 80% dos pacientes.

Quando o ducto não apresenta dilatação, pode ser necessária a remoção de uma porção do pâncreas. Se a doença afetar sobretudo a cauda do pâncreas (a parte mais distante do duodeno), esta será removida. Se a porção afetada for a cabeça do pâncreas, esta será removida juntamente com o duodeno. Essas cirurgias aliviam a dor em 60 a 80% dos casos. Entre os alcoolistas em recuperação, a remoção parcial do pâncreas somente é realizada naqueles que conseguem controlar o diabetes que ocorrerá em conseqüência da cirurgia.

O uso de comprimidos ou cápsulas de extratos de enzimas pancreáticas junto com as refeições pode tornar as fezes menos gordurosas e pode melhorar a absorção dos alimentos, mas esses problemas raramente são eliminados. Quando necessário, um antiácido líquido ou um pode ser utilizado juntamente bloqueador H2 com as enzimas pancreáticas. Com esse tratamento, o indivíduo normalmente ganha peso, apresenta um menor número de evacuações diárias, não apresenta mais gotículas de gordura nas fezes e geralmente sentese melhor. Se essas medidas forem ineficazes, o indivíduo pode tentar reduzir a ingestão de gordura. Além disso, a suplementação de vitaminas lipossolúveis (A, D e K) pode ser necessária.

Adenocarcinoma do Pâncreas

O adenocarcinoma do pâncreas é um tumor canceroso que se origina nas células que revestem o ducto pancreático. Aproximadamente 95% dos tumores cancerosos do pâncreas são adenocarcinomas. Esses tumores afetam os homens quase duas vezes mais do que as mulheres e são discretamente mais comuns entre os indivíduos da raça negra que entre os da raça branca. O adenocarcinoma do pâncreas é duas a três vezes mais comum em tabagistas inveterados. Os indivíduos com pancreatite crônica apresentam um maior risco de apresentálo.

Existe uma variabilidade mundial de incidência de câncer de pâncreas. Os dados indicam 9 em cada 100.000 indivíduos nos Estados Unidos, enquanto que, no Brasil, os dados publicados pelo Ministério da Saúde, em 1991, registraram índices de 7.3 homens e de 4.6 mulheres em 100.000 indivíduos, no estado de São Paulo. A doença vem se tornando mais comum nos Estados Unidos com o aumento da expectativa de vida. Raramente, o adenocarcinoma do pâncreas ocorre antes dos cinqüenta anos de idade. A média de idade no momento do diagnóstico é de 55 anos. Pouco se sabe sobre a sua causa.

Sintomas

O adenocarcinoma do pâncreas comumente é assintomático até o tumor tornarse volumoso. Por essa razão, no momento do diagnóstico e em 80% dos casos, o tumor já produziu metástases extrapancreáticas, afetando linfonodos próximos, o fígado ou os pulmões.
Os sintomas iniciais característicos são a dor e a perda de peso. No momento do diagnóstico, 90% dos pacientes apresentam dor abdominal, a qual é geralmente de média intensidade e localizada na região abdominal superior com irradiação para as costas, e uma perda de peso de pelo menos 10% de seu peso ideal.

Cerca de 80% desses cânceres ocorrem na cabeça do pâncreas (a parte mais próxima do duodeno e de ducto biliar comum). Conseqüentemente, a icterícia causada pela obstrução do ducto biliar comum é um sintoma inicial característico. Nos indivíduos com icterícia, a cor amarelo afeta não somente a pele, mas também a esclera dos olhos e outros tecidos. A icterícia é acompanhada por prurido generalizado.

Os tumores do corpo e da cauda do pâncreas (a parte média e a mais distante do duodeno) podem obstruir a veia que drena o baço, resultando em um aumento de volume deste órgão e varizes (veias varicosas dilatadas, tortuosas e edemaciadas) em torno do estômago e do esôfago. No caso de ruptura de veias varicosas, pode ocorrer um sangramento grave, sobretudo quando elas forem esofágicas.

Diagnóstico

O diagnóstico precoce é difícil. Na suspeita de adenocarcinoma do pâncreas, os procedimentos diagnósticos mais comumente utilizados são a tomografia computadorizada (TC) e pancreatografia retrógrada endoscópica (técnica radiográfica que revela a estrutura do ducto pancreático). Para confirmação do diagnóstico, o médico realiza uma biópsia do pâncreas, coletando uma amostra que é submetida ao exame microscópico.

A amostra de tecido é obtida com a inserção de uma agulha através da pele, a qual é guiada pela tomografia computadorizada ou pela ultrasonografia. Também deve ser realizada uma biópsia do fígado, para verificar se ocorreu disseminação do câncer. Quando o médico tem uma forte suspeita da existência do adenocarcinoma do pâncreas e os resultados dos exames são normais, ele deve realizar a exploração cirúrgica desse órgão.

Prognóstico e Tratamento

O prognóstico é muito ruim. Menos de 2% dos indivíduos com adenocarcinoma sobrevivem até cinco anos após o diagnóstico. A única esperança de cura é a cirurgia, a qual é realizada quando não existem metástases do câncer. O cirurgião pode realizar a remoção apenas do pâncreas ou deste órgão e do duodeno. Mesmo com a cirurgia, somente 10% dos indivíduos sobrevivem mais de cinco anos, independentemente do tratamento subseqüente.

A dor leve pode ser aliviada pela aspirina ou pelo acetaminofeno. A dor intensa na região abdominal superior pode ser aliviada com a flexão do tronco para frente, com abaixamento da cabeça e elevação dos joelhos ou através da administração de codeína oral ou de morfina. Para 70% a 80% dos pacientes com dor intensa, o bloqueio de nervos para eliminar a sensação da dor pode prover alívio. A falta de enzimas digestivas pancreáticas pode ser tratada com a administação de preparações orais de enzimas. Se o indivíduo apresentar diabetes, ele pode necessitar de tratamento com insulina.

Cistadenocarcinoma

Um tipo raro de câncer pancreático, o cistadenocarcinoma apresenta um prognóstico muito melhor que o adenocarcinoma. Apenas 20% desses cânceres apresentam metástases no momento da cirurgia. Se o câncer não tiver disseminado e for realizada a ressecção total do pâncreas, o indivíduo apresenta uma chance de 65% de sobreviver por pelo menos cinco anos.

Insulinoma

O insulinoma é um tipo raro de tumor pancreático que secreta insulina, um hormônio que reduz o nível de glicose no sangue.
Apenas 10% dos insulinomas são cancerosos.

Sintomas

Os sintomas de um insulinoma são decorrentes dos baixos níveis de glicose. Eles ocorrem quando o indivíduo não permanece muitas horas sem alimentarse, mais freqüentemente pela manhã, após um período de jejum noturno. Os sintomas, os quais podem simular vários distúrbios psiquiátricos e neurológicos, incluem a cefaléia, a confusão mental, alterações da visão, fraqueza muscular, instabilidade e alterações significativas de personalidade. A baixa concentração sérica de glicose pode inclusive acarretar perda da consciência, convulsões e coma. Sintomas que são semelhantes aos da ansiedade ou do pânico incluem o desmaio, a fraqueza, os tremores, a percepção dos batimentos cardíacos (palpitações), a sudorese, a fome e o nervosismo.

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico do insulinoma pode ser difícil. O indivíduo permanece em jejum por no mínimo 24 horas (algumas vezes até 72 horas) e é rigorosamente monitorizado, freqüentemente em ambiente hospitalar. Após esse período, ele normalmente começa a apresentar sintomas e são realizados exames de sangue para mensurar a concentração de glicose e de insulina. As concentrações muito baixas de glicose e elevadas de insulina indicam a presença de um insulinoma. A seguir, o médico deve definir a localização do tumor com precisão. Exames de diagnóstico por imagem (p.ex., TC e ultrasonografia) podem ser utilizados para localizar o tumor. No entanto, em alguns casos, é necessária a realização de uma cirurgia exploradora. O tratamento para o insulinoma é a remoção cirúrgica.

Gastrinoma

O gastrinoma é um tumor pancreático que produz níveis excessivos de gastrina, um hormônio que estimula o estômago a secretar ácido e enzimas, acarretando úlceras pépticas.
A maioria dos indivíduos com essa doença apresenta vários tumores agrupados no pâncreas ou próximos a ele. Aproximadamente 50% desses tumores são cancerosos.
Algumas vezes, o gastrinoma faz parte de um distúrbio hereditário, a neoplasia endócrina múltipla , na qual tumores originamse de células de várias glândulas endócrinas (p.ex., células pancreáticas produtoras de insulina).

Sintomas e Diagnóstico

A quantidade excessiva de gastrina secretada pelo gastrinoma produz um conjunto de sintomas denominado síndrome de ZollingerEllison. Esta síndrome inclui a dor abdominal leve a intensa causada pelas úlceras pépticas gástricas, duodenais e localizadas em outras regiões do intestino. A perfuração, o sangramento e a obstrução intestinal podem ocorrer e são potencialmente letais. Entretanto, para mais de 5% dos indivíduos com um gastrinoma, os sintomas não são piores do que aqueles apresentados por indivíduos com úlceras pépticas de origem diferente. Em 35 a 40% dos pacientes, a diarréia é o primeiro sintoma.

O médico suspeita de um gastrinoma quando o paciente apresenta úlceras pépticas freqüentes ou numerosas que não respondem aos tratamentos antiulcerosos habituais. Os exames de sangue são utilizados para se detectar uma concentração de gastrina anormalmente elevada. Além disso, as amostras de suco gástrico (coletadas através de uma sonda nasogástrica) revelam uma acidez muito elevada. A localização dos tumores pode ser difícil porque quase sempre eles são pequenos e numerosos. Os médicos utilizam diversos exames diagnósticos por imagem como, por exemplo, a tomografia computadorizada (TC), a ultrasonografia e a arteriografia.

Tratamento

Aproximadamente 20% dos indivíduos com gastrinoma e que não apresentam neoplasia endócrina múltipla podem ser curados através da cirurgia. Para esses pacientes (no préoperatório) e para os demais pacientes, os medicamentos antiulcerosos usuais (p.ex., cimetidina, ranitidina e famotidina) aliviam os sintomas. No caso deles serem ineficazes, o omeprazol (que reduz a secreção ácida através de um outro mecanismo de ação) pode ser eficaz.

Quando esses tratamentos não forem bem sucedidos, pode ser necessária a realização de uma cirurgia de remoção do estômago (gastrectomia total). Essa cirurgia não remove o tumor, mas a gastrina não consegue mais afetar o estômago e, conseqüentemente, os sintomas desaparecem. Quando o estômago é removido, é necessária a realização de suplementação diá ria de vitamina B12 e de cálcio.

Quando os tumores malignos produzem metástases para outras regiões do corpo, as drogas antineoplásicas (quimioterapia) podem auxiliar na redução do número de células tumorais e da concentração sangüínea de gastrina. Contudo, a quimioterapia não cura o câncer, o qual, em última instância, é fatal.

Glucagonoma

O glucagonoma é um tumor que produz o hormônio glucagon, o qual eleva o nível de glicose no sangue e produz uma erupção cutânea característica.
Cerca de 80% desses tumores são cancerosos. Contudo, os tumores crescem lentamente e muitos indivíduos sobrevivem quinze anos ou mais após o diagnóstico. A média de idade de início os sintomas é de cinqüenta anos. Aproximadamente 80% das pessoas com glucagonoma são do sexo feminino.

Sintomas e Diagnóstico

A concentrão elevada de glucagon produz sintomas do diabetes melitus. Freqüentemente, o indivíduo apresenta perda de peso. Os exames de sangue podem revelar anemia e níveis baixos dos lipídeos no sangue. No entanto, em 90% dos indivíduos, os aspectos mais característicos são uma erupção cutânea descamativa, de cor castanho-avermelhado (eritema necrolítico migratório) que inicia na região inguinal (virilha) e dissemina para as nádegas, antebraços e pernas e a língua lisa, brilhante e de cor vermelho-alaranjado. Também podem ocorrer fissuras nos cantos da boca. O diagnóstico é estabelecido através da identificação da concentração elevada de glucagon no sangue e, em seguida, através da localização do tumor com o auxílio da angiografia ou de uma cirurgia abdominal exploradora.

Tratamento

No melhor dos casos, o tumor é removido cirurgicamente e todos os sintomas desaparecem. Entretanto, quando isto não é possível ou quando o tumor já produziu metástases, a administração de drogas antineoplásicas podem reduzir a concentração de glucagon e os sintomas. A octreotida também reduz a concentração de glucagon, pode eliminar a erupção cutânea e restaurar o apetite, facilitando o ganho de peso. Entretanto, a octreotida tende a elevar ainda a glicemia. Uma pomada de zinco pode ser utilizada para tratar a erupção cutânea. Algumas vezes, esta é tratada com a administração intravenosa de aminoácidos ou de ácidos graxos.
Fonte: Manual Merck