segunda-feira, 28 de setembro de 2009

“ANTHRAX” OU CARBÚNCULO


DESCRIÇÃO: é uma toxiinfecção aguda que em geral ataca a pele e raramente o nasofaringe, vias respiratórias inferiores, mediastino e vias intestinais. A forma cutânea se manifesta inicialmente por prurido na pele exposta ao agente seguido do aperecimento de lesões confluentes: pápulas, pústulas, vesículas e úlceras indolores que em dois a seis dias transformam-se em escaras escuras. Os locais mais freqüentes da infecção são cabeça e mãos. Quando não tratada dissemina-se para os linfonodos regionais e para a corrente sangüínea, e conseqüentemente pode ocorrer septicemia. A letalidade da forma cutânea sem tratamento pode atingir 5 a 20%. A forma respiratória, via de regra, é letal. Os sintomas iniciais são mínimos e inespecíficos e assemelhamse a uma infecção comum das vias respiratórias superiores mas após três a cinco dias aparecem os sintomas agudos de insuficiência respiratória, sinais radiológicos de alargamento mediastínico, febre, choque e logo depois morte. A forma intestinal, adquirida por ingestão de carne contaminada, é rara e mais difícil de ser identificada, exceto quando existe vínculo epidemiológico. Caracteriza-se por mal-estar abdominal, vômitos, febre, que evolui para diarréia sanguinolenta, abdome agudo, sinais de septicemia e morte. A enfermidade primária bucofaríngea é rara, e quando ocorre, manifesta-se por lesão de mucosa na cavidade oral ou da orofaringe, acompanhada de adenopatia cervical, edema e febre.
SINONÍMIA: anthrax, carbúnculo. Na língua inglesa é conhecido como anthrax. No Brasil, a confluência de furuncúlos, que é um diagnóstico clínico diferencial da toxiinfecção causada pelo
Bacillus anthracis, tanto é denominada como cárbunculo como antraz. Na vigência desta furunculose multifocal a suspeita de infecção pelo Bacillus anthracis, deve ser levantada quando
há história epidemiológica compatível.
ETIOLOGIA: Bacillus anthracis, bacilo móvel, gram positivo, encapsulado, formador de esporos.
RESERVATÓRIO: animais herbívoros, domésticos e selvagens. Os esporos resistem viáveis em
solos contaminados e em couros secos.
MODO DE TRANSMISSÃO: contato da pele, inalação ou ingestão de esporos existentes em tecidos ou objetos contaminados - lã, couro, osso e pelo - de animais (bois, ovelhas, cabras, cavalos). Aventa-se a possibilidade de transmissão por insetos que tenham se alimentado dos ditos animais. Contato com solo contaminado. A transmissão direta de um indivíduo infectado para uma pessoa sadia é muito pouco provável de ocorrer.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO: de 24 horas a sete dias.
PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE: quando a contaminação se dá por objetos e solos contaminados por esporos, estes permanecem infectantes por décadas.
COMPLICAÇÕES: pneumonia, hemorragia gastro-intestinal, septicemia, meningites.
DIAGNÓSTICO: clínico-epidemiológico e laboratorial. Este último é feito mediante isolamento
do Bacillus anthracis no sangue, lesões, secreções, ou tecidos (histopatologia). Pode-se ainda
detectar anticorpos no sangue pela técnica de imunofluorescência.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: furunculose cutânea causada por Staphylococcus e ou Streptococcus, dermatite pustulosa contagiosa (enfermidade vírica de Orf).
TRATAMENTO: para os casos confirmados com cepas do Bacillus anthracis sensíveis à amoxicilina, esta
é a droga de escolha, sendo a dose para adultos de 500mg, VO, 3 vezes ao dia e para crianças com menos de 20kg, usar 40mg/kg/dia, VO dividida em três doses diárias. Pode-se utilizar também doxiciclina como segunda escolha. Para cepas resistentes utiliza-se a ciprofloxacina por via oral na dose de 500mg, duas vezes ao dia para adultos e em crianças menores de 20kg, 20 a 30mg/kg por dia, dividida em duas doses diárias. O esquema utilizado deve ser mantido por 60 dias. Avaliar indicação de utilização desta droga por via parenteral.
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS: o homem é um hospedeiro acidental e a incidência é muito baixa e geralmente esporádica em quase todo o mundo. É um risco ocupacional de trabalhadores que manipulam herbívoros e seus produtos. Tem casos registrados na América do Sul e Central, Ásia e África. Recentemente ocorreram casos nos Estados Unidos da América que tem sido imputados a guerra biológica.
OBJETIVOS DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: diagnóstico e tratamento precoce dos casos para evitar complicações e óbitos. Identificação da fonte de infecção para adoção de medidas de
controle e desinfecção concorrente. Não há indicação de Isolamento dos casos.
NOTIFICAÇÃO: evento inusitado de notificação compulsória imediata.
DEFINIÇÃO DE CASO
SUSPEITO: um caso compatível com a descrição clínica ou que tenha exposição a algum
material, ou animal ou produtos animais contaminados pelo B. anthracis.
CONFIRMADO: a) indivíduo com infecção pelo B. anthracis confirmada laboratorialmente; b)
indivíduo com exposição a algum material, ou animal ou produtos animais contaminados
pelo B. anthracis e quadro clínico compatível.
MEDIDAS DE CONTROLE: a vacina humana só produz imunidade após 18 meses da aplicação. Nos EUA a vacina humana é utilizada somente em grupos especiais e não está disponível no Brasil.
A quimioprofilaxia não está indicada de modo indiscriminado por ser ineficaz e poder gerar resistência medicamentosa. Administra-se só em situações específicas onde tenha ocorrido uma
seguintes situações: a) exposição com elevado grau de suspeição; b) detecção de presença deexposição de risco. É iniciada enquanto são aguardados os resultados finais confirmatórios, nas bactérias morfologicamente semelhantes ao B. anthracys. Utiliza-se: a) amoxicilina na dose de 500mg, três vezes ao dia, para adultos e 40mg/kg/dia para crianças com menos de 20kg, dividida em três doses diárias; b) ou doxociclina 100mg/2 vezes ao dia, em adultos, para crianças com menos de 20kg, 5mg/kg/dia, divididas em duas doses diárias; c) em casos de resistência aos
antibióticos anteriores a droga indicada é a ciprofloxacina por via oral na dose de 500mg, duas
vezes ao dia para adultos e em crianças menores de 20kg, 20 a 30mg/kg por dia, dividida em
duas doses diárias. O esquema utilizado deve ser mantido por 60 dias.

FONTE: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Dermatologia na Atenção Básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde.- 1ª edição. - Brasília: Ministério da Saúde, 2002.

TRANSTORNOS MENTAIS EM IDOSOS


A velhice é um período normal do ciclo vital caracterizado por algumas mudanças físicas, mentais e psicológicas. É importante fazer essa consideração pois algumas alterações nesses aspectos não caracterizam necessariamente uma doença. Em contrapartida, há alguns transtornos que são mais comuns em idosos como transtornos depressivos, transtornos cognitivos, fobias e transtornos por uso de álcool. Além disso, os idosos apresentam risco de suicídio e risco de desenvolver sintomas psiquiátricos induzidos por medicamentos. Muitos transtornos mentais em idosos podem ser evitados, aliviados ou mesmo revertidos. Conseqüentemente, uma avaliação médica se faz necessária para o esclarecimento do quadro apresentado pelo idoso.

Diversos fatores psicossociais de risco também predispõem os idosos a transtornos mentais.

Esses fatores de risco incluem:

Perda de papéis sociais
Perda da autonomia
Morte de amigos e parentes
Saúde em declínio
Isolamento social
Restrições financeiras
Redução do funcionamento cognitivo (capacidade de compreender e pensar de uma forma lógica, com prejuízo na memória).

Transtornos psiquiátricos mais comuns em idosos

Demência
Demência tipo Alzheimer
Demência vascular
Esquizofrenia
Transtornos depressivos
Transtorno bipolar (do humor)
Transtorno delirante
Transtornos de ansiedade
Transtornos somatoformes
Transtornos por uso de álcool e outras substâncias

Demência

Demência é um comprometimento cognitivo geralmente progressivo e irreversível. As funções mentais anteriormente adquiridas são gradualmente perdidas. Com o aumento da idade a demência torna-se mais freqüente. Acomete 5 a 15% das pessoas com mais de 65 anos e aumenta para 20% nas pessoas com mais de 80 anos.

Os fatores de risco conhecidos para a demência são: Idade avançada História de demência na família Sexo feminino

Os sintomas incluem alterações na memória, na linguagem, na capacidade de orientar-se. Há perturbações comportamentais como agitação, inquietação, andar a esmo, raiva, violência, gritos, desinibição sexual e social, impulsividade, alterações do sono, pensamento ilógico e alucinações. As causas de demência incluem lesões e tumores cerebrais, síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), álcool, medicamentos, infecções, doenças pulmonares crônicas e doenças inflamatórias. Na maioria das vezes as demências são causadas por doenças degenerativas primárias do sistema nervoso central (SNC) e por doença vascular. Cerca de 10 a 15% dos pacientes com sintomas de demência apresentam condições tratáveis como doenças sistêmicas (doenças cardíacas, renais, endócrinas), deficiências vitamínicas, uso de medicamentos e outras doenças psiquiátricas (depressão).

As demências são classificadas em vários tipos de acordo com o quadro clínico, entretanto as mais comuns são demência tipo Alzheimer e demência vascular.

Demência tipo Alzheimer

De todos os pacientes com demência, 50 a 60% têm demência tipo Alzheimer, o tipo mais comum de demência. É mais freqüente em mulheres que em homens. É caracterizada por um início gradual e pelo declínio progressivo das funções cognitivas. A memória é a função cognitiva mais afetada, mas a linguagem e noção de orientação do indivíduo também são afetadas. Inicialmente, a pessoa pode apresentar uma incapacidade para aprender e evocar novas informações. As alterações do comportamento envolvem depressão, obsessão (pensamento, sentimento, idéia ou sensação intrusiva e persistente) e desconfianças, surtos de raiva com risco de atos violentos. A desorientação leva a pessoa a andar sem rumo podendo ser encontrada longe de casa em uma condição de total confusão. Aparecem também alterações neurológicas como problemas na marcha, na fala, no desempenhar uma função motora e na compreensão do que lhe é falado. O diagnóstico é de exclusão, isto é, só pode ser feito quando não se encontra nenhuma outra causa. A rigor, tal diagnóstico só é realizado pós-morten, através de biópsia cerebral, na qual aparecem alguns sinais característicos e exclusivos da doença. A história do paciente e exame clínico, além das técnicas de imagem cerebral como tomografia computadorizada e ressonância magnética podem ser úteis no diagnóstico clínico.

O diagnóstico é feito com base na história do paciente e do exame clínico. As técnicas de imagem cerebral como tomografia computadorizada e ressonância magnética podem ser úteis. O tratamento é paliativo e as medicações podem ser úteis para o manejo da agitação e das perturbações comportamentais. Não há prevenção ou cura conhecidas.

Demência vascular

É o segundo tipo mais comum de demência. Apresenta as mesmas características da demência tipo Alzheimer mas com um início abrupto e um curso gradualmente deteriorante. Pode ser prevenida através da redução de fatores de risco como hipertensão, diabete, tabagismo e arritmias. O diagnóstico pode ser confirmado por técnicas de imagem cerebral e fluxo sangüíneo cerebral.

Esquizofrenia (esquizofrenia e outras psicoses)

Essa doença começa no final da adolescência ou idade adulta jovem e persiste por toda a vida. Cerca de 20% das pessoas com esquizofrenia não apresentam sintomas ativos aos 65 anos; 80% mostram graus variados de comprometimento. A doença torna-se menos acentuada à medida que o paciente envelhece. Os sintomas incluem retraimento social, comportamento excêntrico, pensamento ilógico, alucinações e afeto rígido. Os idosos com esquizofrenia respondem bem ao tratamento com drogas antipsicóticas que devem ser administradas pelo médico com cautela.

Transtornos depressivos

A idade avançada não é um fator de risco para o desenvolvimento de depressão, mas ser viúvo ou viúva e ter uma doença crônica estão associados com vulnerabilidade aos transtornos depressivos. A depressão que inicia nessa faixa etária é caracterizada por vários episódios repetidos. Os sintomas incluem redução da energia e concentração, problemas com o sono especialmente despertar precoce pela manhã e múltiplos despertares, diminuição do apetite, perda de peso e queixas somáticas (como dores pelo corpo). Um aspecto importante no quadro de pessoas idosas é a ênfase aumentada sobre as queixas somáticas. Pode haver dificuldades de memória em idosos deprimidos que é chamado de síndrome demencial da depressão que pode ser confundida com a verdadeira demência. Além disso, a depressão pode estar associada com uma doença física e com uso de medicamentos.

Transtorno bipolar (transtornos do humor)

Os sintomas da mania em idosos são semelhantes àqueles de adultos mais jovens e incluem euforia, humor expansivo e irritável, necessidade de sono diminuída, fácil distração, impulsividade e, freqüentemente, consumo excessivo de álcool. Pode haver um comportamento hostil e desconfiado. Quando um primeiro episódio de comportamento maníaco ocorre após os 65 anos, deve-se alertar para uma causa orgânica associada. O tratamento deve ser feito com medicação cuidadosamente controlada pelo médico.

Transtorno delirante

A idade de início ocorre por volta da meia-idade mas pode ocorrer em idosos. Os sintomas são alterações do pensamento mais comumente de natureza persecutória (os pacientes crêem que estão sendo espionados, seguidos, envenenados ou de algum modo assediados). Podem tornar-se violentos contra seus supostos perseguidores, trancarem-se em seus aposentos e viverem em reclusão. A natureza dos pensamentos pode ser em relação ao corpo, como acreditar ter uma doença fatal (hipocondria).

Ocorre sob estresse físico ou psicológico em indivíduos vulneráveis e pode ser precipitado pela morte do cônjuge, perda do emprego, aposentadoria, isolamento social, circunstâncias financeiras adversas, doenças médicas que debilitam ou por cirurgia, comprometimento visual e surdez.

As alterações do pensamento podem acompanhar outras doenças psiquiátricas que devem ser descartadas como demência tipo Alzheimer, transtornos por uso de álcool, esquizofrenia, transtornos depressivos e transtorno bipolar. Além disso, podem ser secundárias ao uso de medicamentos ou sinais precoces de um tumor cerebral.

Transtornos de ansiedade

Incluem transtornos de pânico, fobias, TOC, ansiedade generalizada, de estresse agudo e de estresse pós-traumático. Desses, os mais comuns são as fobias.

Os transtornos de ansiedade começam no início ou no período intermediário da idade adulta, mas alguns aparecem pela primeira vez após os 60 anos.

As características são as mesmas das descritas em transtornos de ansiedade em outras faixas etárias.

Em idosos a fragilidade do sistema nervoso autônomo pode explicar o desenvolvimento de ansiedade após um estressor importante. O transtorno de estresse pós-traumático freqüentemente é mais severo nos idosos que em indivíduos mais jovens em vista da debilidade física concomitante nos idosos.

As obsessões (pensamento, sentimento, idéia ou sensação intrusiva e persistente) e compulsões (comportamento consciente e repetitivo como contar, verificar ou evitar ou um pensamento que serve para anular uma obsessão) podem aparecer pela primeira vez em idosos, embora geralmente seja possível encontrar esses sintomas em pessoas que eram mais organizadas, perfeccionistas, pontuais e parcimoniosas. Tornam-se excessivos em seu desejo por organização, rituais e necessidade excessiva de manter rotinas. Podem ter compulsões para verificar as coisas repetidamente, tornando-se geralmente inflexíveis e rígidos.

Transtornos somatoformes

São um grupo de transtornos que incluem sintomas físicos (por exemplo dores, náuseas e tonturas) para os quais não pode ser encontrada uma explicação médica adequada e que são suficientemente sérios para causarem um sofrimento emocional ou prejuízo significativo à capacidade do paciente para funcionar em papéis sociais e ocupacionais. Nesses transtornos, os fatores psicológicos são grandes contribuidores para o início, a severidade e a duração dos sintomas. Não são resultado de simulação consciente.

A hipocondria é comum em pacientes com mais de 60 anos, embora o seja mais freqüente entre 40 e 50 anos. Exames físicos repetidos são úteis para garantirem aos pacientes que eles não têm uma doença fatal. A queixa é real, a dor é verdadeira e percebida como tal pelo paciente. Ao tratamento, deve-se dar um enfoque psicológico ou farmacológico.

Transtornos por uso de álcool e outras substâncias

Os pacientes idosos podem iniciar um quadro de dependência à uma droga ou um remédio, devido à automedicação. Por exemplo, um senhor que torna um hábito beber uma dose de álcool todos os dias para relaxar, ou então uma senhora que ao passar por uma situação de maior ansiedade, como a perda ou morte de algum conhecido ou familiar, inicia o uso de medicamentos sedativos a fim de não se sentir tão mal.

A dependência de álcool, geralmente, apresenta uma história de consumo excessivo que começou na idade adulta e frequentemente está associada a uma doença médica, principalmente doença hepática. Além disso, a dependência ao álcool está claramente associada a uma maior incidência de quadros demenciais. A dependência de substâncias como hipnóticos, ansiolíticos e narcóticos é comum. Os pacientes idosos podem abusar de ansiolíticos para o alívio da ansiedade crônica ou para garantirem uma noite de sono. A apresentação clínica é variada e inclui quedas, confusão mental, fraca higiene pessoal, depressão e desnutrição. Uma particularidade de tais dependências nesses pacientes é que tanto os medicamentos sedativos quanto o álcool estão relacionados com maior número de quedas e fraturas, o que reduz significativamente a expectativa de vida do idoso após o incidente.

FONTE: http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?423

TRANSTORNO BIPOLAR


O que é?
O transtorno afetivo bipolar era denominado até bem pouco tempo de psicose maníaco-depressiva. Esse nome foi abandonado principalmente porque este transtorno não apresenta necessariamente sintomas psicóticos, na verdade, na maioria das vezes esses sintomas não aparecem. Os transtornos afetivos não estão com sua classificação terminada. Provavelmente nos próximos anos surgirão novos subtipos de transtornos afetivos, melhorando a precisão dos diagnósticos. Por enquanto basta-nos compreender o que vem a ser o transtorno bipolar. Com a mudança de nome esse transtorno deixou de ser considerado uma perturbação psicótica para ser considerado uma perturbação afetiva.
A alternância de estados depressivos com maníacos é a tônica dessa patologia. Muitas vezes o diagnóstico correto só será feito depois de muitos anos. Uma pessoa que tenha uma fase depressiva, receba o diagnóstico de depressão e dez anos depois apresente um episódio maníaco tem na verdade o transtorno bipolar, mas até que a mania surgisse não era possível conhecer diagnóstico verdadeiro. O termo mania é popularmente entendido como tendência a fazer várias vezes a mesma coisa. Mania em psiquiatria significa um estado exaltado de humor que será descrito mais detalhadamente adiante.
A depressão do transtorno bipolar é igual a depressão recorrente que só se apresenta como depressão, mas uma pessoa deprimida do transtorno bipolar não recebe o mesmo tratamento do paciente bipolar.
Características
O início desse transtorno geralmente se dá em torno dos 20 a 30 anos de idade, mas pode começar mesmo após os 70 anos. O início pode ser tanto pela fase depressiva como pela fase maníaca, iniciando gradualmente ao longo de semanas, meses ou abruptamente em poucos dias, já com sintomas psicóticos o que muitas vezes confunde com síndromes psicóticas. Além dos quadros depressivos e maníacos, há também os quadros mistos (sintomas depressivos simultâneos aos maníacos) o que muitas vezes confunde os médicos retardando o diagnóstico da fase em atividade.

Tipos
Aceita-se a divisão do transtorno afetivo bipolar em dois tipos: o tipo I e o tipo II. O tipo I é a forma clássica em que o paciente apresenta os episódios de mania alternados com os depressivos. As fases maníacas não precisam necessariamente ser seguidas por fases depressivas, nem as depressivas por maníacas. Na prática observa-se muito mais uma tendência dos pacientes a fazerem várias crises de um tipo e poucas do outro, há pacientes bipolares que nunca fizeram fases depressivas e há deprimidos que só tiveram uma fase maníaca enquanto as depressivas foram numerosas. O tipo II caracteriza-se por não apresentar episódios de mania, mas de hipomania com depressão.
Outros tipos foram propostos por Akiskal, mas não ganharam ampla aceitação pela comunidade psiquiátrica. Akiskal enumerou seis tipos de distúrbios bipolares.
Fase maníaca
Tipicamente leva uma a duas semanas para começar e quando não tratado pode durar meses. O estado de humor está elevado podendo isso significar uma alegria contagiante ou uma irritação agressiva. Junto a essa elevação encontram-se alguns outros sintomas como elevação da auto-estima, sentimentos de grandiosidade podendo chegar a manifestação delirante de grandeza considerando-se uma pessoa especial, dotada de poderes e capacidades únicas como telepáticas por exemplo. Aumento da atividade motora apresentando grande vigor físico e apesar disso com uma diminuição da necessidade de sono. O paciente apresenta uma forte pressão para falar ininterruptamente, as idéias correm rapidamente a ponto de não concluir o que começou e ficar sempre emendando uma idéia não concluída em outra sucessivamente: a isto denominamos fuga-de-idéias.. O paciente apresenta uma elevação da percepção de estímulos externos levando-o a distrair-se constantemente com pequenos ou insignificantes acontecimentos alheios à conversa em andamento. Aumento do interesse e da atividade sexual. Perda da consciência a respeito de sua própria condição patológica, tornando-se uma pessoa socialmente inconveniente ou insuportável. Envolvimento em atividades potencialmente perigosas sem manifestar preocupação com isso. Podem surgir sintomas psicóticos típicos da esquizofrenia o que não significa uma mudança de diagnóstico, mas mostra um quadro mais grave quando isso acontece.

Fase depressiva
É de certa forma o oposto da fase maníaca, o humor está depressivo, a auto-estima em baixa com sentimentos de inferioridade, a capacidade física esta comprometida, pois a sensação de cansaço é constante. As idéias fluem com lentidão e dificuldade, a atenção é difícil de ser mantida e o interesse pelas coisas em geral é perdido bem como o prazer na realização daquilo que antes era agradável. Nessa fase o sono também está diminuído, mas ao contrário da fase maníaca, não é um sono que satisfaça ou descanse, uma vez que o paciente acorda indisposto. Quando não tratada a fase maníaca pode durar meses também.

Exemplo de como um paciente se sente
...Ele se sente bem, realmente bem..., na verdade quase invencível. Ele se sente como não tendo limites para suas capacidades e energia. Poderia até passar dias sem dormir. Ele está cheio de idéias, planos, conquistas e se sentiria muito frustrado se a incapacidade dos outros não o deixasse ir além. Ele mal consegue acabar de expressar uma idéia e já está falando de outra numa lista interminável de novos assuntos. Em alguns momentos ele se aborrece para valer, não se intimida com qualquer forma de cerceamento ou ameaça, não reconhece qualquer forma de autoridade ou posição superior a sua. Com a mesma rapidez com que se zanga, esquece o ocorrido negativo como se nunca tivesse acontecido nada. As coisas que antes não o interessava mais lhe causam agora prazer; mesmo as pessoas com quem não tinha bom relacionamento são para ele amistosas e bondosas.

Sintomas (maníacos):
Sentimento de estar no topo do mundo com um alegria e bem estar inabaláveis, nem mesmo más notícias, tragédias ou acontecimentos horríveis diretamente ligados ao paciente podem abalar o estado de humor. Nessa fase o paciente literalmente ri da própria desgraça.
Sentimento de grandeza, o indivíduo imagina que é especial ou possui habilidades especiais, é capaz de considerar-se um escolhido por Deus, uma celebridade, um líder político. Inicialmente quando os sintomas ainda não se aprofundaram o paciente sente-se como se fosse ou pudesse ser uma grande personalidade; com o aprofundamento do quadro esta idéia torna-se uma convicção delirante.
Sente-se invencível, acham que nada poderá detê-las.
Hiperatividade, os pacientes nessa fase não conseguem ficar parados, sentados por mais do que alguns minutos ou relaxar.
O senso de perigo fica comprometido, e envolve-se em atividade que apresentam tanto risco para integridade física como patrimonial.
O comportamento sexual fica excessivamente desinibido e mesmo promíscuo tendo numerosos parceiros num curto espaço de tempo.
Os pensamentos correm de forma incontrolável para o próprio paciente, para quem olha de fora a grande confusão de idéias na verdade constitui-se na interrupção de temas antes de terem sido completados para iniciar outro que por sua vez também não é terminado e assim sucessivamente numa fuga de idéias.
A maneira de falar geralmente se dá em tom de voz elevado, cantar é um gesto freqüente nesses pacientes.
A necessidade de sono nessa fase é menor, com poucas horas o paciente se restabelece e fica durante todo o dia e quase toda a noite em hiperatividade.
Mesmo estando alegre, explosões de raiva podem acontecer, geralmente provocadas por algum motivo externo, mas da mesma forma como aparece se desfaz.
A fase depressiva
Na fase depressiva ocorre o posto da fase maníaca, o paciente fica com sentimentos irrealistas de tristeza, desespero e auto-estima baixa. Não se interessa pelo que costumava gostar ou ter prazer, cansa-se à-toa, tem pouca energia para suas atividades habituais, também tem dificuldade para dormir, sente falta do sono e tende a permanecer na cama por várias horas. O começo do dia (a manhã) costuma ser a pior parte do dia para os deprimidos porque eles sabem que terão um longo dia pela frente. Apresenta dificuldade em concentra-se no que faz e os pensamentos ficam inibidos, lentificados, faltam idéias ou demoram a ser compreendidas e assimiladas. Da mesma forma a memória também fica prejudicada. Os pensamentos costumam ser negativos, sempre em torno de morte ou doença. O apetite fica inibido e pode ter perda significativa de peso.

Qual a causa da doença?
A causa propriamente dita é desconhecida, mas há fatores que influenciam ou que precipitem seu surgimento como parentes que apresentem esse problema, traumas, incidentes ou acontecimentos fortes como mudanças, troca de emprego, fim de casamento, morte de pessoa querida. Em aproximadamente 80 a 90% dos casos os pacientes apresentam algum parente na família com transtorno bipolar.

Como se trata?
O lítio é a medicação de primeira escolha, mas não é necessariamente a melhor para todos os casos. Freqüentemente é necessário acrescentar os anticonvulsivantes como o tegretol, o trileptal, o depakene, o depakote, o topamax.
Nas fases mais intensas de mania pode se usar de forma temporária os antipsicóticos. Quando há sintomas psicóticos é quase obrigatório o uso de antipsicóticos. Nas depressões resistentes pode-se usar com muita cautela antidepressivos. Há pesquisadores que condenam o uso de antidepressivo para qualquer circunstância nos pacientes bipolares em fase depressiva, por causa do risco da chamada "virada maníaca", que consiste na passagem da depressão diretamente para a exaltação num curto espaço de tempo.
O tratamento com lítio ou algum anticonvulsivante deve ser definitivo, ou seja, está recomendado o uso permanente dessas medicações mesmo quando o paciente está completamente saudável, mesmo depois de anos sem ter problemas. Esta indicação se baseia no fato de que tanto o lítio como os anticonvulsivantes podem prevenir uma fase maníaca poupando assim o paciente de maiores problemas. Infelizmente o uso contínuo não garante ao paciente que ele não terá recaídas, apenas diminui as chances disso acontecer.
Pacientes hipertensos sem boa resposta ao tratamento de primeira linha podem ainda contar com o verapamil, uma medicação muito usada na cardiologia para controle da hipertensão arterial que apresenta efeito anti-maníaco. A grande desvantagem do verapamil é ser incompatível com o uso simultâneo do lítio, além da hipotensão que induz nos pacientes normotensos.

FONTE: http://www.psicosite.com.br/tra/hum/bipolar.htm