sábado, 12 de setembro de 2009

PROBLEMAS GASTROINTESTINAIS MAIS COMUNS NO IDOSO



1. Xerostomia ou secura na boca

Pela menor produção de saliva, mau hábito de respirar pela boca, próteses mal ajustadas. Causas emocionais como ansiedade e medo. A deficiência de saliva não altera o paladar, mas pode ser causa de dificuldade de deglutição, acelera a deteriorização dos dentes, dificuldade na mastigação, contribuindo para a má digestão, causa também o mau hálito.

2. A estomatite angular

É comum no idoso, e suas principais causas são: falta de dentes, dentaduras mal adaptadas. Outra causa menos comum é a deficiência de ferro e riboflavina. A língua grossa (glossite) está relacionada à deficiência de vitamina B12 e infecção das papilas.

3. Divertículo

O paciente com divertículo tem um saco ou uma bolsa na parede intestinal. Assemelha-se ao apêndice. Uma pessoa pode nascer com um divertículo ou este pode desenvolver-se mais tarde. No idoso está relacionado com a constipação. Pode haver mais de um divertículo. Os divertículos ocorrem mais freqüentemente no cólon.

Sintomas:

Geralmente não há sintomas, a não ser que os divertículos se tomem infectados. Isto é conhecido como diverticulite. A inflamação é incrementada pela acumulação de fezes no saco (diverticulite). Os sintomas são de inflamação que se assemelham aos da apendicite.

Cuidados de Enfermagem

- Geralmente o tratamento é cirúrgico, para remoção do divertículo. Observação do abdome quanto à flacidez ou distensão;

- Cuidados de mudança de decúbito enquanto estiver no leito;

- Massagens de conforto;

- Observação da prescrição médica.

4. Colecistite

- É a causa mais freqüente de dor abdominal intensa entre os idosos. Consiste na inflamação de vesícula e vias biliares. A inflamação pode originar-se nas próprias vias biliares ou resultar da propagação ascendente, pelo colédoco de uma inflamação intestinal através da abertura das vias biliares no intestino. A colecistite pode ser aguda ou crônica. O excesso de colesterol pode dar origem a cristais, que, conglomerados, originam cálculos. Os pigmentos biliares podem cristalizar e originar cálculos.

- O processo inflamatório da vesícula pode surgir com e sem cálculos, são mais freqüentes na segunda hipótese.

Sintomas:

- Dor espontânea e a palpação sob o rebordo costal direito, isto é, ao nível da vesícula do fígado. Icterícia se houver obstrução hepática ou colédoco. Nas inflamações crônicas há, geralmente, um mal estar geral, acompanhado de dispepsia e escurecimento da pele.

Tratamento:

- Tratamento da colecistite aguda consiste em repouso no leito e medicamentos se houver necessidade, serão prescritos pelo médico.

Cuidados de Enfermagem:

- Observar para que o paciente ingira sucos e outros líquidos;

- Dieta hipocalórica;

- Orientar para evitar condimentos e exercícios físicos;

- Observar para que o repouso no leito seja cumprido;

- Manter boa higiene corporal e do ambiente;

- Medicação conforme prescrição médica.

5. Hemorróidas

- São veias dilatadas ou varicoses no canal anal e na parte inferior do reto. No idoso a fragilidade das paredes venosas e a constipação crônica são as causas mais comuns.

Sintomas:

- Eliminação de sangue vermelho vivo nas fezes. Sofre graus variados de desconforto durante a defecação. A dor é aumentada se a hemorróida tornar-se trombosada. Neste caso, o sangue, dentro da veia dilatada coagula-se. Outro sintoma de hemorróida é prurido em torno do ânus.

Tratamento e cuidados:

- O tratamento comum da hemorróida é sua remoção por cirurgia. Se o caso for brando, pode necessitar apenas tratamento sintomático;

- Banhos de assento para aliviar o desconforto;

- Aplicação local de uma pomada para retrair a membrana mucosa (prescrito pelo médico);

- Aumento da ingestão líquida;

- Educação do intestino para esvaziar todos os dias;

- Dieta rica em resíduos e fibras. (germens de trigo, farelos, verduras, frutas).

6. Constipação

- É o distúrbio gastrointestinal mais comum nos idosos, permanência prolongada de material fecal nos cólons, devido a um decréscimo na freqüência das evacuações e dificuldades na eliminação de fezes endurecidas.

Sintomas:

- Sensação de plenitude;

- Dor abdominal difusa;

- Anorexia;

- Pirose;

- Eructação, flatulência, mau hálito:

- Sintomas gerais de cefaléias, náuseas e vômitos. Alguns pacientes relatam tenesmo ou defecação dolorosa.

Pacientes idosos imobilizados no leito costumam apresentar constipação intestinal, inclusive com formação de fecaloma, por vezes associada à confusão mental e desidratação. É muito importante caracterizar a presença da verdadeira constipação, porque muitos idosos acreditam que, se a evacuação não for diária, o seu ritmo intestinal já está alterado. Entretanto, a freqüência da evacuação, desde três vezes ao dia até três vezes por semana é considerada normal. Urge investigar sobre como e quando o paciente começou a ter dificuldade para evacuar, se vem mantendo a presença de sangue nas fezes se usa drogas, se tem antecedentes cirúrgicos e, principalmente, se vem perdendo peso e sobre mudanças recentes de hábitos alimentares.

Inúmeras podem ser as causas, desde lesão orgânica até, mais corriqueiramente, causas primeiras ou funcionais, decorrentes de ingestão inadequada de líquidos e fibras, hipotonia da parede abdominal, alterações na musculatura do assoalho pélvico, uso de drogas, inatividade física prolongada e negligência em atender ao reflexo da evacuação. A mudança recente no hábito intestinal faz pensar em neoplasia de cólon ou distúrbio metabólico.

Cuidados de Enfermagem:

Ø Faz-se necessário uma boa anamnese para saber da história do idoso, segundo observação acima;

Ø Mudar hábitos alimentares que contemple uma dieta rica em fibras e aumento da ingestão líquida;

Ø Observação de perdas sangüíneas;

Ø Cuidado com a necrose da hemorróida;

Ø Orientação para higiene rigorosa da região perianal;

Ø Usar o vaso sanitário sempre no mesmo horário, para educação intestinal

Ø Acompanhamento médico faz-se necessário para confirmação diagnóstica.

Ø Cuidados preventivos: Se a digestão inicia pela boca, os cuidados incluem:

- visita ao dentista;

- boa higiene oral;

- Uso contínuo de escova, técnica de boa escovação, incluindo escovação da língua;

- Cuidados e higiene com próteses dentárias, se tiver o hábito de tirar ao dormir, deixar protegida com pano limpo ou recipiente próprio, para evitar poeira, moscas, baratas;

Ø Preparo correto dos alimentos, ingestão líquida suficiente;

Ø Mastigar bem os alimentos;

Ø Redução de peso se necessário;

Ø Manter bom funcionamento intestinal, com caminhadas, exercícios, horário habitual para ir ao sanitário;

Ø Evitar alimentos após jantar, a fim de reduzir a secreção ácida noturno.

Ø Alimentação contendo os quatro grupos de alimentos;

Ø Procurar ter uma vida tranqüila, com lazer, contato com a natureza. Os problemas psíquicos e nervosos têm muita interação nos problemas gastrointestinais.

18. ESTADO EMOCIONAL-AFETIVO

Características

1. A depressão pode manifestar-se pela primeira vez na idade avançada e foi relacionada com as outras alterações que ocorrem no envelhecimento:

A. A independência dos filhos.

B. A realidade da aposentadoria.

C. A perda de autoridade, renda, cônjuge, amigos, familiares, casas, animais domésticos, capacidade funcional, saúde e capacidade de participar de atividades de lazer, como a leitura.

D. Mensagens da sociedade que apóiam e incentivam valor da juventude.

2. A depressão também pode ter como causa enfermidades subjacentes, como a doença de Parkinson, e drogas como anti-hipertensivos, antiartrítico e ansiolíticos.

3. Com freqüência, é difícil identificar a depressão no idoso porque o quadro difere daquele visto no jovem. Obter as seguintes informações ao avaliar a depressão:

a. Queixas de insônia, perda de peso, anorexia e constipação ( sintomas vegetativos).

b. Preocupação com acontecimentos passados;

c. Diminuição de concentração, memória e capacidade de tomar decisões (síndrome da demência);

d. Outras queixas somáticas, tais como diminuição do apetite, dores musculoesqueléticas, precordialgia;

e. História de enfermidade crônica ou outros problemas de saúde;

f. Medicamentos em uso.

4. Algumas vezes o suicídio associa-se à depressão; os suicídios são especialmente numerosos em homens idosos brancos. Verificar o risco de suicídio.

Considerações sobre os Cuidados de Enfermagem /Paciente

1. A depressão dos idosos deve ser tratada com drogas, psicoterapia e, em alguns casos, terapia eletroconvulsivante.

2. Em conjunto com a equipe complementar outras medidas terapêuticas, dando oportunidades para aumentar a auto-estima da pessoa:

3. Incentivar a participação em atividades significativas.

4. Elogiar a pessoa.

5. Ajudar o indivíduo a desenvolver uma sensação de controle

6. Incentivar a lembrança de acontecimentos passados expressivos

7. Ajudar a pessoa a identificar e utilizar os apoios sociais.

19. OUTRAS ORIENTAÇÕES

1. INCENTIVAR A INTERRUPÇÃO DO TABAGISMO;

a) Cerca de 20% das pessoas entre 65 e 74 anos e 10% daquelas com mais de 75 anos ainda fumam cigarros.

b) O consumo de tabaco foi associado à cardiopatia; doença vascular periférica; doença vascular cerebral; doença pulmonar obstrutiva crônica; câncer, como o do pulmão, da bexiga e do esôfago; inúmeros outros problemas de saúde que diminuem a qualidade de vida ou determinam morte prematura.

c) Embora (muitos anos de tabagismo possam ter lesionado os pulmões e os vasos sangüíneos, os idosos ainda podem se beneficiar da interrupção, porque isto melhorará sua qualidade de vida.

2. INCENTIVAR A ATIVIDADE FÍSICA

a) Foi dito que menos de 10% daqueles com mais de 65 anos estão fisicamente ativos e que quase 50% são sedentários.

b) Recomenda-se que os idosos devem participar de atividades regulares, em especial as aeróbicas que promovem a aptidão cardiovascular, tais como caminhar, andar de bicicleta ou nadar.

c) Encaminhar ao fisioterapeuta, ao terapeuta ocupacional ou ao terapeuta de reabilitação. Deve-se fazer uma prescrição individualizada de exercícios juntamente com o médico assistente.

3. IDENTIFICAR O CONSUMO DE ÁLCOOL PELO IDOSO.

a) As conseqüências do etilismo incluem hepatopatia, hemorragia gastrintestinal (GI) e acidentes com veículos, motores.

b) Perguntar às pessoas idosas sobre o consumo de drogas ou álcool. Embora seja raro o consumo de drogas da rua (ilícitas), pude estar ocorrendo abuso de medicamentos prescritos.

c) Encaminhar o paciente para aconselhamento.

4. INVESTIGAR A SAÚDE DENTÁRIA E ACONSELHÁ-LA.

a) Problemas dentários no idoso, incluindo a perda de dentes, dentaduras mal ajustadas, doença periodôntica e dentes deteriorados.

b) Os problemas dentários geralmente determinam péssimos hábitos de alimentação, apatia e fadiga.

c) Deve-se incentivar o tratamento dentário regular para melhorar a nutrição e a qualidade de vida.

5. NUTRIÇÃO

Quando o ser humano é beneficiado por uma alimentação correta desde a vida intra-uterina até a vida adulta, tem maiores chances de envelhecer de modo sadio e feliz. A alimentação é um fator importante para a saúde do idoso. Fonte inesgotável de nutrientes como: proteínas, vitaminas, minerais, gorduras e carboidratos.

Os alimentos estão divididos em grupos:

Ø 1° Grupo - leite e derivados: fonte de proteínas, cálcio, fósforo e algumas vitaminas.

Ø 2° Grupo - batata, pão, farinha, cereais (arroz, cevada, centeio e milho), contém carboidratos e vitaminas.

Ø 3° Grupo - Ovos, carne, leguminosas (vagem, feijão, lentilhas, grão de bico, ervilhas).

Ø 4° Grupo - Hortaliças, frutas: fornecem minerais, vitaminas e fibras alimentares.

Na alimentação deve estar presente um representante de cada grupo, variando sempre.

Nenhum alimento é completo, ou seja, nenhum oferece todos os elementos na quantidade e qualidade exigidas pelo corpo. A alimentação deve ser variada para evitar a monotonia e garantir o consumo de todos os nutrientes.

O consumo excessivo de certos tipos de alimentos, como por exemplo: gordura animal, que é saturada, (banha, manteiga, toucinho, creme de leite, pele de peixe e aves), podem causar danos à saúde, assim como: miúdos e vísceras (rins, fígados, miolos, coração, dobradinha, língua), gema de ovo, são ricos em colesterol, substância que favorece o aparecimento da arteriosclerose.

Preparo dos alimentos:

· Preparo tem influência sobre a saúde. Preferir carnes grelhadas, assadas, cozidas ao invés de frituras.

· Os ovos devem ser preparados cozidos, mexidos ou "pochê (cozidos em água, sem casca, ou em molhos magros).

· Não reutilizar gordura de frituras, quando reaquecidas desprendem substâncias tóxicas. Use apenas a quantidade de óleo necessário para uma fritura.

· Cozinhar os legumes no vapor da panela, para não perderem elementos nutritivos.

· Consumir com freqüência legumes crus. Lavar bem folhas em água corrente, deixar de molho em vinagre ou limão por meia hora, antes de consumi-los.

· Aumentar o consumo de frutas e legumes fornecem vitaminas, minerais e fibras, que contribuem para evitar a constipação intestinal (prisão de ventre).

· As folhas verdes escuras auxiliam a fixação de cálcio nos ossos.

Carnes

Todas se equivalem em relação ao valor nutricional, sejam de primeira, segunda ou terceira categoria (carne bovina, porco, aves e pescados). O importante é consumidor de acordo com as condições econômicas, usar alternativas alimentares, substituir leite, ovos, carne, queijo, por produtos similares (soja, farelo de arroz, pó da casca de ovo), mas cuidado, entram como complementação alimentar, não usar sempre no lugar dos alimentos supracitados. Aumentar a ingestão de peixes são ricos em substâncias que podem anular o efeito negativo do colesterol.

Consumo de alimentos.

Com a idade, a necessidade de energia tende a diminuir. O consumo excessivo dos alimentos energéticos, como gorduras e carboidratos (açúcares, doces, massas, pães, arroz e outros) favorecem o aumento de peso, causando a obesidade e elevação de triglicerídeos (um tipo de gordura no sangue).

Os regimes para emagrecimentos só devem ser realizados sob orientação médica ou nutricionista. Dieta não significa restrição, mas o conjunto de alimentos que devem fornecer todas as substâncias necessárias ao bom funcionamento do organismo. A perda excessiva e brusca de peso é prejudicial à saúde. A atividade física regular compatível com a idade constitui um meio eficiente de evitar excesso de peso.

Recomendações Gerais:

· Os dentes têm papel fundamental na alimentação.

· O consumo de sal deve ser moderado, (hipertensão) nas pessoas predispostas.

· Ingestão de líquidos (cinco a oito copos) de água, leite (dois copos por dia) ou derivados (queijo, iogurtes, coalhadas), a fim de fornecer cálcio, que é importante para o fortalecimento dos ossos.

· As bebidas alcoólicas devem ser consumidas com moderação, evitando as bebidas destiladas (cachaça, whisky).

· O número de refeições deve ser de quatro a cinco por dia, com pequeno volume cada uma, para facilitar a digestão e o aproveitamento de substâncias nutritivas.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LEOPARD, M. T. Entre a moral e a técnica: ambigüidades dos cuidados de enfermagem. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1994.
MORAES, E. N. Avanços e perspectivas em gerontologia. In: FREITAS, E. V. et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
PAPALÉO NETTO, M. Gerontologia. São Paulo: Atheneu, 1996.
POTTER, P.; PERRY, A. G. Fundamentos de enfermagem. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.
ROACH, S. Introdução à enfermagem gerontológica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
SECOLI, S. R. Interações medicamentosas: fundamentos para a prática clínica da enfermagem. R. Esc. Enferm. USP, São Paulo, v. 35, n. 1, p. 28-34, mar. 2001.
SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Brunner & Suddarth: tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2002.

PROMOÇÃO DA SAÚDE




PROMOÇÃO DA SAÚDE

1. CONCEITUANDO PROMOÇÃO DA SAUDE

www.saude.gov.br

1.1 Carta de Bogotá sobre Promoção da Saúde

Declaração da Conferência Internacional de Promoção da Saúde 9 a 12 de novembro de 1992

A Conferência Internacional de Promoção da Saúde foi realizada sob o patrocínio do Ministério de Saúde da Colômbia e a Organização Pan-americana de Saúde (OPS), em Santafé de Bogotá, de 9 a 12 de novembro de 1992... Em suma, 550 representantes de 21 países (Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela) se reuniram para definir o significado da promoção da saúde na América Latina e debater princípios, estratégias e compromissos relacionados com o sucesso da saúde da população da Região.

As conclusões da Conferência respondem os problemas específicos das nações latino-americanas, e incorporam significativamente resultados de reuniões internacionais anteriores e experiências na promoção da saúde de outras nações do mundo.

A seguir a declaração elaborada e adotada pela Conferência.

Promoção da saúde na América Latina

A promoção da saúde na América Latina busca a criação de condições que garantam o bem-estar geral como propósito fundamental do desenvolvimento, assumindo a relação mutua entre saúde e desenvolvimento. A Região, desgarrada pela iniquidade que se agrava pela prolongada crise econômica e pelos programas de políticas de ajuste macroeconômico, enfrenta a deterioração das condições de vida da maioria da população, junto com um aumento de riscos para a saúde e uma redução de recursos para enfrentá-los. Por conseguinte, o desafio da promoção da saúde na América Latina consiste em transformar essas relações, conciliando os interesses econômicos e os propósitos sociais de bem-estar para todos, assim como trabalhar pela solidariedade e equidade social, condições indispensáveis para a saúde e o desenvolvimento.

Setores importantes da população não conseguiram satisfazer as necessidades básicas para garantir condições dignas de vida. Estas complexas e agoniantes desigualdades tanto de tipo econômico, ambiental, social, político e cultural, como relativas à cobertura, acesso e qualidade nos serviços de saúde, tendem a acentuar-se em razão da redução histórica do gasto social e das políticas de ajuste. Portanto, é difícil enfrentar e resolver estes problemas com perspectivas a alcançar a saúde para todos.

A situação de iniquidade da saúde nos países da América Latina reitera a necessidade de se optar por novas alternativas na ação da saúde pública, orientadas a combater o sofrimento causado pelas enfermidades do atraso e pobreza, ao que se sobrepõe o causado pelas enfermidades da urbanização e industrialização. A Região apresenta uma situação epidemiológica, caracterizada pela persistência ou ressurgimento de endemias como a malária, cólera, tuberculose e desnutrição; pelo aumento de problemas como o câncer e doenças cardiovasculares e pelo surgimento de novas enfermidades como a Aids ou as resultantes da deterioração ambiental. Dentro deste panorama, a promoção da saúde destaca a importância da participação ativa das pessoas nas mudanças das condições sanitárias e na maneira de viver, condizentes com a criação de uma cultura de saúde. Dessa forma, a entrega de informação e a promoção do conhecimento constituem valiosos instrumentos para a participação e as mudanças dos estilos de vida nas comunidades.

Também na ordem política existem barreiras que limitam o exercício da democracia e a participação da cidadania na tomada de decisões. Nestas circunstâncias, a violência - em todas as suas formas - contribui muito na deterioração dos serviços, é causa de numerosos problemas psicossociais e constitui o fundamento onde se inscrevem numerosos problemas da saúde pública.

O que se espera da equidade consiste em eliminar diferenças desnecessárias, evitáveis e injustas que restringem as oportunidades para alcançar o direito ao bem-estar. Cada sociedade define seu bem-estar como uma opção particular de viver com dignidade. O papel que corresponde à promoção da saúde para alcançar este propósito consiste não só em identificar os fatores que favorecem a iniquidade e propor ações que diminuam seus efeitos, mas também em atuar além, como um agente de mudança que induza transformações radicais nas atitudes e condutas da população e seus dirigentes, origem destas calamidades.

O desenvolvimento integral e recíproco dos seres humanos e sociedades é a essência da estratégia de promoção da saúde no continente. Em conseqüência, esta assume as tradições culturais e os processos sociais que forjaram nossas nacionalidades possibilitando, além de tudo, enfrentar criativa e solidariamente a adversidade, os obstáculos estruturais e as crises recorrentes. Reconhecer, recuperar, estimular e difundir estas experiências é indispensável para a transformação de nossas sociedades e o impulso à cultura e saúde.

Estratégias

No âmbito internacional, o movimento de promoção da saúde gerou propostas teóricas e práticas, dentre as quais se destaca o planejamento da Carta de Ottawa, pela sua claridade em definir os elementos constitutivos da promoção da saúde e os mecanismos para colocá-la em prática. A incorporação destas propostas se torna indispensável para a estratégia de promoção da saúde na América Latina.

Impulsionar a cultura da saúde modificando valores, crenças, atitudes e relações que permitam chegar tanto à produção quanto ao usufruto de bens e oportunidades para facilitar opções saudáveis. Com eles será possível a criação de ambientes sadios e o prolongamento de uma vida plena, com o máximo desenvolvimento das capacidades pessoais e sociais.

Transformar o setor saúde colocando em relevo a estratégia de promoção da saúde, o que significa garantir o acesso universal aos serviços de atenção, modificar os fatores condicionantes que produzem morbimortalidade e levar a processos que conduzam nossos povos a criar ideais de saúde, mediante a completa tomada de consciência da importância da saúde e a determinação de realizar ações transcendentais de impacto neste campo.

Convocar, animar e mobilizar um grande compromisso social para assumir a vontade política de fazer da saúde uma prioridade. Este é um processo que tende a modificar as relações sociais de modo que sejam inaceitáveis a marginalidade, a iniquidade, a degradação ambiental e o mal estar que estas produzem.

Compromissos

O direito e o respeito à vida e à paz são os valores éticos fundamentais da cultura e da saúde. Torna-se indispensável que a promoção da saúde na América Latina assuma estes valores, cultive-os e pratique-os habitualmente.

Impulsionar o conceito de saúde condicionada por fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, de conduta e biológicos, e a promoção da saúde como estratégia para modificar estes fatores condicionantes.

Convocar as forças sociais para aplicar a estratégia de promoção da saúde, colocando os propósitos sociais à frente dos interesses econômicos, a fim de criar e manter ambientes familiares, físicos, naturais, de trabalho, sociais, econômicos e políticos que tenham a intenção de promover a vida, não degradá-la.

Incentivar políticas públicas que garantam a equidade e favoreçam a criação de ambientes e opções saudáveis.

Afinar mecanismos de concentração e negociação entre os setores sociais e institucionais para levar a cabo atividades de promoção da saúde, visando avançar até alcançar o bem estar, propiciando a transferência de recursos de investimento social às organizações da sociedade civil.

Consolidar uma ação que se comprometa a reduzir gastos improdutivos, tais como os pressupostos militares, desvio de fundos públicos gerando ganâncias privadas, profusão de burocracias excessivamente centralizadas e outras fontes de ineficiência e desperdício.

Fortalecer a capacidade da população nas tomadas de decisões que afetem sua vida e para optar por estilos de vida saudáveis.

Eliminar os efeitos diferenciais da iniquidade sobre a mulher. A participação da mulher, genitora de vida e bem estar, constitui um elo indispensável na promoção da saúde na América Latina.

Estimular o diálogo entre diferentes culturas, de modo que o processo de desenvolvimento da saúde se incorpore ao conjunto do patrimônio cultural da Região.

Fortalecer a capacidade convocatória do setor de saúde para mobilizar recursos para a produção social da saúde, estabelecendo responsabilidades de ação nos diferentes setores sociais e seus efeitos sobre a saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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